segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

[Perdido.doc] Demolidor: O Homem Sem Medo (2003)

 

Em 2002, Homem-Aranha moldou o cinema de super-herói e trouxe de volta a identidade do uniforme colorido. De quebra, características que definiram o estilo Marvel de se fazer cinema: romance, bom humor, drama e até mesmo o terror, sem contar também a violência, a fotografia e o estilo de câmera utilizada estavam lá. 

Com o sucesso de Blade, X-Men e o próprio teioso de Sam Raimi, era a vez de Demolidor. Lançado em 2003, a adaptação prometia um conceito de aventura sombria seguindo o conto dos vigilantes urbanos da casa das ideias. 

Pode parecer, de cara, pretensioso, com certas técnicas que já vimos em outros filmes de super-herói de sucesso. E não é incomum lembrar que ao identificar algumas coisas já julgamos como: "- Ah, olha lá, mais um Homem-Aranha" sendo que, na verdade, não é. O longa empresta alguns elementos - como os voos em tomada única acompanhando os movimentos do personagem: saltando, pulando e atacando. Claro, são elementos que logo lembramos também de outra grande produção que não é super-herói de quadrinhos, mas que naturalmente contribuiu para essa tendência, que é o caso de Matrix - fenômeno que chegou no final dos anos 90 e definiu o cinema de ação no começo daquela década de 2000 até eles começarem a encontrar novas fórmulas com A Identidade Bourne (definia as tomadas realistas dentro de produções de suspense com temática espionagem ou policiais). 

Eu tive o prazer de assistir Demolidor no cinema e boa parte desse cinema de sucesso do começo dos anos 2000. Demolidor tem personalidade própria e se começarmos a comparar a própria produção com o que a Marvel realizou com Homem-Aranha, fracassamos miseravelmente. Em Demolidor, o uso e abuso das cenas escuras são propositais para trazer ao expectador a experiência do ponto de vista do próprio personagem - não é todo dia que vemos um super-herói que transforma uma criança em condições especiais no salvador imbatível do dia e, considerando também, favorito na lista de filmes recomendados sobre inclusão. 

Com um elenco implacável, temos Ben Affleck (o eterno amigo de Matt Damon em Gênio Indomável) mostrando aqui que pode ser um super-herói num filme do gênero. Ainda que o mesmo já tenha se envolvido anteriormente em outras propostas próximas, essa é a primeira vez que vemos Affleck atuando numa adaptação legítima de quadrinhos. 

Jennifer Garner é a revelação como Elektra, fazendo uma parceria de romance e tragédia com Matt Murdock. Ben e Garner aproveitam cada segundo em que podem estar em tela, garantindo a torcida do espectador pela vitória da dupla em cena (casal tem química). E o que dizer das caprichadas cenas em que vai desde as cenas de Elektra em treinamento coreografados ao som de Evanescence a um dos mais chocantes momentos dos quadrinhos - uma tremenda surpresa a ser incluída no desenvolvimento, o que só enriquece e nos enche de orgulho deste filme de origem que não tem vergonha de ser quadrinhos. 

Temos também o grande viral da época: Colin Farrell (Por um Fio e O Novato), ator no seu auge da popularidade, que sempre marcava em todo grande lançamento naquele período e aqui atua como o Mercenário, um antagonista cruelmente psicótico com suas nuances sádicas de sarcasmo.

Michael Clark Duncan, um talento que nos deixou de forma devastadoramente prematura, é outra imensa revelação naquele período e que caiu como uma luva na pele de Wilson Fisk ou codinome: Rei do Crime. Grandão e talentoso, só podia ser Duncan - a descoberta de À Espera de um Milagre. 

Outro ponto positivo é que além da adaptação não dispensar o tom sombrio e dramático, sendo uma aventura de super-herói, gênero que quase sempre era visto como filme para crianças, a violência e o tom mais sombrio não são poupados de sua audiência. Cenas de mutilação, por exemplo, são levados ao máximo da classificação 14 anos (12 anos nos serviços de transmissão/ streaming). E isso acaba tornando a história mais crível transpondo o quadrinho para a realidade.

O roteiro de Mark Steven Johnson, conhecido por escrever comédias (Inimigos Para Sempre e Dois Velhos Rabugentos), tem desenvolvimento bem amarrado que envolve os personagens numa trama convincente. Embora o seu desfecho - diferente do início e desenvolvimento - já se pareça pretensioso demais. Ainda que cenas extras entretenham de certa maneira e as brechas nos traga uma mensagem tradicional sobre a sociedade. Era uma época em que o cinema de super-heróis já estava no entendimento dos seus realizadores e aquilo era o caminho do investimento certo. 

Embora exista uma narrativa envolvente, ele, no fim, reverte tudo o que assistimos só para deixar uma brecha para o próximo capítulo (que, infelizmente, nunca viríamos). Acabava sendo um risco, uma vez que não se tinha um plano certo de longo prazo com um encerramento planejado ou um grande evento cinematográfico para aquele personagem a ser premeditado futuramente. Isso se torna frustrante. Não era como, por exemplo, o plano de George Lucas em Star Wars ou o que, temos como exemplo hoje, o Universo Cinematográfico Marvel. Nada disso era muito claro naquela época, embora já conseguíamos identificar o que era um cinema de super-herói e só pela novidade já se tornava uma grande empolgação. E experiencias cinematográficas assim, nos apresentando novas identidades e possibilidades de mundos além da nossa realidade - ainda que a nossa realidade seja um personagem da história - sempre são imensamente gratificantes.  

Demolidor (2003) é certamente um dos filmes de super-heróis mais subestimados da história e merecia mais carinho. 

ATENÇÃO: FIQUEM DURANTE OS CRÉDITOS

Demolidor está disponível gratuitamente para assistir no Mercado Play. 


MOMENTO.doc

Origem
A primeira edição de Demolidor (Daredevil) nos quadrinhos surgiu em 1964 - o ano da ditadura militar no Brasil. Só veio para as terras tupiniquins em 1969 pela Editora Ebal intitulado O Demolidor.
 














Quadrinhos x Filme
Morte de Elektra: numa das mais chocantes cenas dos quadrinhos, Mercenário vence Elektra facilmente. A cena foi inspirada na histórica edição Demolidor (Daredevil) número 181 (abril de 1982). A história intitulada "Last Hand" chegou ao Brasil com o título de "Última Cartada".

Mecenário foge da prisão no encalço de Elektra a fim de se tornar novamente o assassino pessoal do Rei do Crime. Uma feroz batalha entre Elektra e Mercenário acontece resultando na morte da ninja. Na busca pelo Demolidor, o vilão não tem a mesma sorte, cai num fio elétrico e fica tetraplégico (situação muito semelhante ao que se encontra no filme de 2003). 


Filme da Elektra

Para quem sentiu falta de Garner ao final do filme aguardando por sua volta, em 14 de Janeiro de 2005, estreava Elektra. Um derivado do filme Demolidor estrelado por Jennifer Garner retornando ao papel em filme solo da personagem. Desta vez, ela assume o icônico uniforme vermelho, como nos quadrinhos. Em 2004, Ben Affleck chegou a gravar uma participação mas ela acabou cortada na versão final do filme. Provavelmente, muitas versões do filme foram escritas.










Versão do Diretor

A famosa revisita que ignora a versão final dos produtores, tem 133 minutos contra os 103 minutos do filme original. Trazendo a participação do lendário rapper Coolio em uma trama exclusiva, mais cenas para audiências maduras, um aprofundamento na origem de Matt Murdock e um afinamento mais sombrio na batalha final entre Demolidor e o Rei do Crime. Um artigo de luxo.


Versão do Diretor x Edição Especial

- A edição especial não contém a versão do diretor - 

Há uma edição especial do DVD com uma embalagem diferente em relação a Versão do Diretor. Essa Edição especial é a versão de cinema com os extras e os 4 cards exclusivos do filme.












- A versão do diretor difere pela embalagem -

A versão do diretor em DVD pode ser vista com duas artes de embalagens.  Uma delas com cards e outra sem. A versão sem card pode contar também com uma campanha contendo ingressos para assistir ao Quarteto Fantástico e os Surfista Prateado que estreava naquele período.   












Dia dos Namorados
Uma teoria descreve Demolidor como sendo o filme do dia dos namorados. Dá pra se considerar, em alguns detalhes que levam ao ponto esencial do desfecho da trama e do destino de seus personagens, que sim. Sem contar ainda que Ben Affleck e Jennifer Garner foram casados na vida real.

Amigo de Super-Herói

Jon Favreau (Franklin 'Foggy' Nelson), é o leal escudeiro - amigo inseparável do advogado Matt Murdock (Affleck). E pensar que sequer imaginaríamos que ele se tornaria futuramente o diretor de Homem de Ferro (2008) iniciando assim uma nova febre dos quadrinhos de super-herói. Sem contar que lá, ele também assume o papel de um amigo inseparável do bilionário filântropo. Jon é o amigo de super-herói para toda obra. 











Kevin Feige

Entre os produtores estão Kevin Feige - creditado em X-Men: O Filme (2000) - em início de carreira na sua colaboração com a Marvel Entertainment  agora como co-produtor. Futuramente, seria o principal gerente da toda poderosa Marvel Studios e que logo seria comprada pela Disney.


Demolidor 2

Ben Affleck demonstrou interesse em retornar a um novo filme como Demolidor (em Outubro de 2004)
desde que a FOX apostasse em desafios mais pesados ou histórias mais sombrias do personagem. Em uma dessas histórias, estava Demolidor: Diabo da Guarda (Guardian Devil) escrita por Kevin Smith. Mas A Queda de Murdock (Born Again) se tornou a favorita do diretor Mark Steven Johnson (Demolidor) que sugeriu Senhor Medo como vilão - um antagonista que encara o medo e se transforma no próprio terror ao inalagar um gás químico. A história de A Queda de Murdock acabou por despertar um interesse obcecado por Ben Affleck mas que, posteriormente, em 2006, devido a problemas de diferença criativa com a FOX, desistiu e prometeu nunca mais vestir um traje de super-herói por se sentir humilhado. Felizmente, a frustração acabou 10 anos depois com Batman v.s. Superman: A Origem da Justiça e em alguns retornos posteriores no papel de Bruce Wayne/ Batman para o lado da concorrente, DC/ Warner (que também começava a ter crises de criatividade e de desempenho nas bilheterias com o seu Universo Estendido da DC). 

O intressante é que o projeto de adaptação Demolidor: A Queda de Murdock não está definitivamente abandonado. Após a aquisição da Marvel pela Disney, uma série foi anunciada para a Disney Plus com previsão de chegar esse ano. Problemas na produção ocorreram e ela acabou sendo reescrita e passando por novas filmagens.




GALERIA.zip

 - OFICIAL - 

E.U.A. 




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-CENAS-





MEMORIA.doc

Fadiga dos Super-Heróis: Antigamente era Melhor


Pode ser que a Marvel (enquanto não era UCM) vacilasse muito na caracterização visual e até com histórias de origem de seus personagens. Mas a verdade que esse tal "vacilo" se tratava de fidelidade. Para o fã que não entende nada de cinema é ótimo só ver o personagem vestido e usando os poderes iguais a HQ e pronto. Porém, existe a adaptação - e, como sempre é mencionado, tem coisas que transportando para a realidade fica estranho (melhor seria num desenho).  Em todo caso, seria interessante olhar essa lista de filmes planejados nesse calendário de ativação dos próximos filmes da Marvel Entertainment (antes do surgimento da Marvel Studios).

Esse era um tempo em que eles não tinham medo de arriscar: se o filme de super-herói tinha que ter sangue e terror, eles colocavam (a duologia Blade é um exemplo), se precisa ter drama, ser mais sombrio ou ter o aspecto de ficção científica, eles colocavam lá. O que importa é surpreender, arriscar, TER CARA DE FILME (ainda que seja de um quadrinho). Algo que realmente falta para o UCM. Ainda que ele tenha conseguido um ótimo ciclo de desfecho com os filmes finais da saga do Infinito e que realmente surpreendeu. Mas, só que agora, eles não conseguem se superar, crescer de novo por medo de se arriscarem o tempo todo e deixar tudo para o clímax e até chegar ao clímax, será que ainda vai ter público para assistir ou só meia dúzia de fanboy? E isso é preciso refletir.

Esse era um tempo em que não havia ideias de um universo compartilhado. Ainda que eu sempre tenha sonhado em ver um universo compartilhado das histórias em quadrinhos passando para o cinema e influenciando isso nos filmes em geral (buscar reunir diversas histórias e universos), sinto que estes filmes atuais acabam por se saturar justamente por seguirem uma narrativa muito parecida: seja no desenvolvimento de personagem ou de qualidade técnica - sendo eles parte de uma única linhagem, não se encontra uma novidade na forma de contar histórias e muitas vezes são limitados a fazer referências ou em destacar um personagem de forma imponente e poderosa. Como o caso de O Incrível Hulk em 2008: de alguma forma não queriam ter o personagem ganhando o destaque dramático que merecia porque, como sendo um trabalho de produção e não de diretor ou do elenco, descartaram todas as boas ideias de Edward Norton para prevalecerem outros personagens no final. É claro que fica uma disputa injusta e previsível, uma vez que o herói favorito de alguns não terá a sua importância porque tudo depende da afinidade com o caminho da produção. Não que eu não tenha gostado do destaque dado ao Homem de Ferro, sem palavras para dizer sobre Robert Downey Jr. - ambos os personagens estão bem no meu coração (somente alguns dos melhores personagens já realizados para o cinema) mas não poderia todos terem tido a mesma devida atenção? 

E então, o fã que vibrou com o Hulk lá em 2012, hoje reclama de lacração com o personagem nas produções. Mas, eu tentei avisar (na verdade, eu sempre aviso), e, como sempre, ninguém liga: O Incrível Hulk de 2008 era uma sequência direta do Hulk de 2003 da Universal (dessa fase do filme Demolidor) e é por isso que ele tem o meu respeito: aproveita o que tem para contar uma história ainda melhor e maior. 

Portanto, o que eu gostava dessa fase mais solta da Marvel era exatamente essa liberdade da narrativa em que se podiam fazer o que quisesse com os seus personagens - Homem-Aranha do Tobey Maguire, por exemplo, podia citar SHAZAM! e a Tia May dizer que ele não é igual ao Super-Homem. Mas, depois que veio a UCM parece que tudo isso se prendeu a um tipo de narrativa muito fechada: não se podia citar certas coisas por questões de contrato e licenças confusas. E é por coisas assim que os cineastas (os caras entendedores de cinema mesmo) reclamam: o cinema de super-herói vai saturar, vão virar filmes iguais aos de faroeste. O que esses nerds e sites especializados para estes fãs resolvem fazer? Na intenção de manterem os seus cliques ativos, usam toda a sua inteligência para chamar todos os sábios de um bando de velhotes babões que não tem o que fazer. Eu meio que não queria escrever nada, dizer nada e esperar só a confusão acontecer. E está aí, vocês podem comprovar o declínio dos super-heróis é real e o isolamento social só ajudou a cravar o prego no caixão.  

Eu admito que pouco me posicionei sobre a fadiga dos super-heróis mas existe uma frase que a gente carrega para vida: quem se cala, nem sempre consente. 


PERDIDO.DOC
DEMOLIDOR -
O HOMEM SEM MEDO

Pontos importantes:

Com boa narrativa, ótimo elenco, excelentes cenas de ação, efeitos visuais e trilha sonora, 

Demolidor é um grande entretenimento. "


Deixou a desejar: 

" Ben Affleck não fez A Queda de Murdock e ficamos órfãos de uma sequência. "

Essa atração foi assinada por: Perdido no Tempo 

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