Intimamente reconhecido por seus filmes com enredos complexos e cheios de criatividade, Christopher Nolan é um dos diretores mais subestimados da história. Mas isso não importa muito, uma vez que vem de uma geração que não entende nada de cinema.
É duro você dialogar sobre filmes numa geração que só quer resposta fácil e mastigadinha. Esse é certamente o problema de uma sociedade que está acostumada a ser digital demais. Logo, se torna automática - basta apertar o botão ali, para controlar a história ou pausá-la para recomeçar num outro dia.
Realmente não dá para entender essa geração que se empolga tanto em vivenciar uma vida em uma série longa e cansativa, mas não pode levar um tempo para desenvolver o seu raciocínio para trabalhar por alguns dias ou talvez alguns anos sobre uma obra fechada de alguns minutos. Geração que gosta de perder tempo mesmo - aproveitando apenas o que é passageiro a fim de continuar desprovido de intelecto.
E então, finalmente, assisto Amnésia em 2024. Conseguindo fugir dos spoilers desse filme por 24 anos. Eu entendo porque muita gente tem raiva do Nolan porque dar spoiler de seus filmes não é uma tarefa fácil. Não é só "fulano morreu no final" é algo muito mais complexo que isso.
A condição do roteiro não é nada convencional e conta com elementos que normalmente você não vê em filmes posteriores do Nolan - desde que ele alcançou o seu mais alto público mainstream. A violência está lá de uma forma expressiva - sangue e até temas bem pesados como assassinato e estupro. Para um diretor, que se iniciou no topo dentre os mais talentosos diretores do século XXI com alta faixa etária (16 anos) e que depois passou a se destacar com obras em faixas menores (ainda que tentando extrair o máximo de tensão psicológica dessas classificações), é surpreendente - testemunhar sua carreira de frente para trás (mais ou menos como este filme trabalha).
Indicado ao Oscar 2002 a Melhor Roteiro e Melhor Edição, literalmente, são os dois principais fatores técnicos que definem Amnésia a contar sua história de uma maneira que possamos estar diante do ponto de vista do protagonista: nem tudo é explicado para propositalmente nos sentirmos confusos, como o próprio Leonard (Guy Pearce), a fim de tentar descobrir quem é o assassino (o que também não podemos ignorar o próprio protagonista como suspeito ou que o mesmo esteja mentindo ou escondendo provas para incriminá-lo). E nesse meio de caos que Leonard nos guia, uma vez que acabamos por nos perder, sem entender do que o mesmo esteja fazendo, nenhuma pista é realmente segura.
Portanto, é importante, ao menos nesse filme, que se tenha aquelas falas de pensamento (as famigeradas falas em off) para poder orientar ao expectador a respeito dos sentimentos do personagem e de alguma maneira estarmos conectados na investigação (sem se perder por completo na história).
Assim como em todos os seus filmes, vale a pena ser assistido muitas e muitas vezes para apreciar as rotas cinematográficas diferenciadas os quais esse longa-metragem trabalha e debater sobre ele por muitos e muitos anos.
- Essa é só para quem assistiu: Embora o título em português seja Amnésia, o título original (Memento) faz muito mais sentido, uma vez que o protagonista sempre nega que possui amnésia. E traduzindo diretamente do original, Memento significaria Lembrança.
PERDIDO.DOC
AMNÉSIA
Gênero: Suspense/ Drama
Essa atração foi assinada por: Perdido no Tempo