TAL PAI,
TAL FILHO
Aventura de sua vida"
Em 1981, Spielberg deu uma palestra cinematográfica sobre como apresentar o seu super-herói. Mesmo que já tenham, posteriormente, tentado trazer vigilantes mascarados com mais fidelidade no nosso mundo, é difícil de acreditar que aquele personagem existe. Indiana Jones, de certa maneira, sim.
Embora Caçadores tenha sido concebido para ser uma história em quadrinhos realista, seu material em ação sequer se parece com um de tão crível - tanto na aventura quanto na existência das ameaças e dos artefatos. A cena de introdução nesse longa de estreia chega a ser comparada - em suas tonalidades - com o impressionante Dia D de O Resgate do Soldado Ryan (1998).
E se Spielberg mostrou uma aula de como se introduzir super-herói de forma realista, aqui ele demonstra outra aula de como se explica toda a concepção que forma visualmente um super-herói, respeitando a sua nobre ideia de vida como um viciado em aventuras nato (sem perder tempo desnecessário explicando isso: ele está lá na aventura por estar).
George Lucas então chegou a Spielberg com a ideia de um novo artefato divino que desafiaria a fé do herói. Porém, Spielberg alertou: "-Já fiz isso". Mas então Lucas persistiu para que o mago desse uma chance.
Da mesma maneira que George Lucas não queria se repetir em Caçadores, Spielberg não queria se repetir por aqui. Para evitar uma básica corrida pelo artefato, Spielberg queria preencher a história numa relação emocional. E nada melhor do que trazer o pai de Indy encarnado pelo eterno 007: Sean Connery. Por sorte, ele aceitou embora tenha considerado o personagem superficial (Connery tinha 12 anos a mais de diferença em relação a Harrison Ford).
E o fio condutor dessa busca pela fé é a relação entre pai e filho. De um lado, Indiana atribui sua experiência em habilidades físicas, seu pai, Henry, atribui as habilidades em construir formas inteligentes de solucionar problemas: a junção da força e do conhecimento em família.
A história se passa 3 anos após Caçadores e de volta aos nazistas. Se Caçadores era o filme mais bem dirigido e completo, Templo da Perdição o mais divertido e sombrio, A Última Cruzada é o mais emocionante e o mais pessoal do personagem que já se tornou ícone da cultura pop.
Porém, o início engana. Há uma diferença de tons se compararmos a Caçadores - filme com 8 anos de diferença em relação A Última Cruzada. Para olhar Caçadores com um jeitão de quadrinhos, diante de uma geração em que essas histórias ganhavam uma tonalidade mais infantil para vender brinquedos, era preciso forçar a imaginação mais um pouco. Perto de A Última Cruzada, Caçadores parecia um quadrinho mais sofisticado, adulto. Nesse ponto, o herói está muito popular comercialmente.
Encaramos então A Última Cruzada como uma atualização dentro desse piloto: mais popular, mais comercial. Um ícone da cultura pop a aquela altura do fim dos anos 80. O semblante sóbrio do personagem já foi deixado de lado. Ele não tem vergonha de ser cartunizado. A Última Cruzada é expressivamente cartunizado - até o próprio Führer (Michael Sheard) em pessoa aparece para terminar a tiração de sarro.
Mas infantilizar nem sempre é ruim. Como é o caso aqui.
A Última Cruzada parece mesmo iniciar com uma certa cara de refilmagem infantilizada do filme de 81 (a faixa etária é a menor da trilogia: Para Maiores de 10 anos). Porém, o mais incrível é que para um diretor experiente, o termo infantil não é um problema (ou até mesmo infantilizar o que já foi realizado anteriormente). Da mesma maneira que ele é o mais suave da trilogia é também um verdadeiro exemplo de desfecho de uma terceira parte - superior até mesmo a trilogia Star Wars (da geração Guerra nas Estrelas de 77). Por que se trata de um ritmo crescente e que vai realmente surpreendendo na aquecida de um filme com cara de infantil para um longa metragem realmente emocionante e com cara de desfecho com chave de ouro (mais do que isso, um longa definitivo pra família do fim dos anos 80). Dificilmente você assiste a uma sequência que parece refilmagem infantilizada mas que não traz nenhuma substância que o faça ficar melhor a cada geração - o que é o caso de A Última Cruzada que, para muitos, disputa pau a pau com Caçadores. E, cá pra nós: A Última Cruzada é muito superior a Caçadores - tanto no ritmo quanto no lado emocional. É um filme feito com o coração. Na verdade, toda a trilogia é feita com muito coração e a Última Cruzada só enalteceu isso.
Dá pra ser um filme ainda superior ao já excelente filme original ? A Última Cruzada, que é a terceira parte de uma trilogia de filmes (geralmente muito condenada tradicionalmente), responde que sim e com muito louvor. E o resultado é o seu sucesso de público e crítica com U$$ 475 milhões arrecadados (a maior de toda a trilogia).
Essa relação de ambientes e personagens entre a trilogia é interessante. Revemos personagens que vimos inicialmente no grande sucesso de 81 mas os novos são ainda mais cativantes. A exemplo da Dra. Elsa, a nova protagonista é a mocinha mais intrigante de todas e o desfecho nos deixa extremamente reflexivos sobre tudo.
A dobradinha entre Harrison Ford e Sean Connery (Henry Jones), representando pai e filho, é a melhor dupla do cinema de todos os tempos.
Se em Caçadores o foco era o romance entre Indy e Marion, em O Templo da Perdição a relação cômica que existe entre Indy e Willie, em A Última Cruzada, o compositor John Williams nunca esteve tão afiado. A trilha de A Última Cruzada aproxima a relação entre pai e filho de Indy e Henry e enaltece até mesmo o sentimento de um fim de ciclo numa trilogia. Spielberg considera a trilha deste terceiro capítulo o melhor trabalho de Williams que ele já ouviu dentre os seus três filmes.
E realmente, não tem como discordar do mago Spielberg. Um dos maiores fios condutores que liga a aventura com o espectador aqui é a trilha sonora que fortalece cada emocionante cena. Resultado que lhe concedeu uma indicação ao Oscar. A Última Cruzada foi indicado a 3 Oscars 1990: Melhor Som, Melhor Trilha Sonora e Melhores Efeitos Sonoros ganhando a categoria Melhores Efeitos Sonoros.
Momento Pós-Crítica
Voltando a um caso específico de Caçadores: Harrison Ford sempre será Indiana Jones, não tem outro igual. Mas se tem uma coisa que eu posso concordar: Tom Selleck poderia ter realmente aparecido no terceiro filme como o personagem que entrega o chapéu a um jovem Indy.
Curiosidades da Trilogia
- Os produtores precisavam de uma atriz na casa dos 29 anos para interpretar Dra. Elsa. Porém, Alison Doody se sobressaiu tão bem que, mesmo com apenas 21 anos de idade, conseguiu o papel da protagonista.
- Para o som de ratos, foi usado sons de galinhas e demais sons modificados em alto volume.
-Harrison Ford possui a mesma idade de Indiana em Caçadores (37 anos, a história se passa em 1936), em O Tempo da Perdição, 39 (Indy tem 36, a história se passa em 1935) e em A Última Cruzada, 47 (Indy tem 39, a história se passa em 1938).
- River Phoenix foi escolhido a dedo por Harrison Ford para ser a sua versão jovem. Ambos já haviam atuados juntos como pai e filho em A Costa do Mosquito (1986).
SESSÃO CRÍTICA
INDIANA JONES E A ÚLTIMA CRUZADA
INDIANA JONES AND THE LAST CRUZADE
Chapéu & Chicote! A Trilogia Indiana Jones
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