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quarta-feira, 4 de outubro de 2023

[Sessão Crítica] Som da Liberdade: Teoria da Conspiração ?

Enquanto A Ressureição, a aguardada sequência de A Paixão de Cristo da produção estrelada por Jim Caviezel, está sendo cuidadosamente trabalhada, Som da Liberdade é o grande presente que o cinema nos entrega em 2023.

Tema forte e que causou frisson com a campanha social da pequena notável Angel Studios, a pequena produtora que abraçou o projeto. A manifestação de todos os envolvidos da produção, criou-se uma mobilização emocional com o público: a campanha para a aquisição de ingressos gratuitos (no Brasil, os primeiros ingressos traziam um voucher avaliado em R$ 100 para que os expectadores pudessem também retirar a bebida e a pipoca assim como também escolher qualquer cinema do país - esse último ponto, em toda a campanha). 

Essa mobilização trouxe um surpreendente público para os cinemas e no lançamento original nos E.U.A., houveram queixas de que cinemas estavam desligando o ar condicionado das salas (no cinema em que eu estive, o ar condicionado também estava desligado, desconsiderando também os pagantes daquela sessão). A distribuição gratuita dos ingressos ficou a cargo da produtora e distribuidora Angel Studios e a Paris Filmes, distribuidora do filme no Brasil, admite que não tem relação com a cortesia.

A história baseada em fatos reais é muito criticada por ter um protagonista imponente (Jim "Jesus Cristo" Caviezel) em que tais ações são questionadas. O que devemos considerar é que filme sempre será uma ficção - mesmo que tenha de adaptar uma história real ela precisa ser romantizada para funcionar na tela e levar o expectador a se identificar com a história. A conscientização é de que quem realmente protagoniza a obra é uma criança. 

A trama é inspirada na trajetória de Tim Ballard, um policial cristão que, ao se revoltar com o sistema, pede demissão em direção ao resgate de crianças do tráfico escravo e exploração sexual infantil. Há uma grande conscientização sobre o tráfico e o trabalho escravo de pessoas mesmo anos após a libertação que se iniciou já no Haiti (século XVIII) mas realmente é bastante raro encontrarmos longas que tratem do tema de exploração sexual infantil. Este é alguns dos temas mais raros do cinema, embora dê pra contar nos dedos alguns ótimos títulos - principalmente o longa de ação Busca Implacável (2008) com o já veterano e oscarizado Liam Neeson - e outros nem tão raros assim mas que conta como exemplo único em todos os sentidos quando falamos de filmes de sequestro como a ótima refilmagem O Preço de Um Resgate (1996) com o próprio Mel Gibson estrelando e que até supera o original, Decisão Amarga (1956).    

Conservadores e religiosos fervorosos entraram em guerra em defesa de Som da Liberdade contra a mídia especializada, que entrava em discordância, especialmente por se identificar com a relação do protagonista ser um policial cristão e o próprio ator que o interpreta (Jim Caviezel) também ser cristão (sendo "JC" as iniciais de Jesus Cristo e o mesmo ser um dos seus intérpretes mais memoráveis do cinema). Sem contar que o próprio Mel Gibson (que é o produtor) também é cristão.

A guerra de Tim (Caviezel) contra o sistema macabro, o faz assumir extrema empatia e cria-se um sentimento de culpa, o que torna uma visão cristã calibrada e direcionada na história sendo a parte policial um preenchimento contemporâneo. 

Vale destacar também a fotografia, especialmente a estética - da luz ao tom sombrio logo no início (do prédio iluminado ao dia às ruas vazias e silenciosas  de um pai desesperado correndo para todos os cantos tentando descobrir para onde seus filhos foram levados). Por vezes, o longa lembra o trabalho realizado por Sam Mendes no filme 007: Operação Skyfall ainda que de uma forma única (como o grande climax em que tons de fogo e escuridão preenche o vazio e o silêncio das cenas). 

É um filme de ação, enraizado no drama, que funciona bem como uma aventura de suspense embora possamos considerar que algumas passagens poderiam ter mais presença da trilha sonora dramática de Javier Navarrete e em outras um foco mais bruto nas atuações essenciais - como o momento do choro de um pai que deveria ser mais enaltecida e seca num quarto escuro sem nenhuma música. 

A mensagem é pesada mas a forma como ela é apresentada, tecnicamente, poderia ser ainda mais. 

Mesmo assim, Caviezel (ótimo) e todo o elenco contam com incríveis momentos de destaque, especialmente para a revelação: Cristal Aparicio - que já se torna também um forte exemplo de protagonismo feminino no cinema. Aos expectadores que conheceram Jim Caviezel como Jesus em A Paixão de Cristo (ou então passou a considerá-lo ainda mais nele) irão se surpreender com a versatilidade o qual ele atua encarnando o Ballard desta ficção: ora sarcástico, ora multifacetado.

O desfecho otimista é apenas uma aparência quando ela se torna uma péssima e pesada visão ao refletirmos sobre todo o desenvolvimento. 

Som da Liberdade tem seus ingressos gratuitos esgotados no momento - totalizando 1 milhão de espectadores com o público pagante. Mas se tiver a oportunidade de conferir ou doar ingressos, este é um dos melhores filmes do ano e que deveria ser acompanhado por mais pessoas.  

Atenção: Fiquem durante os créditos. 


Memória Pós-Crítica: com dificuldades em seu lançamento, Som da Liberdade - originalmente de uma representante latina da 20th Century Fox (antes da aquisição da Disney) - levou cerca de 5 anos para ser distribuído.









 S E S S Ã O   C R Í T I C A

SOM DA LIBERDADE

Sessão Acompanhada: 15:20 - Quarta (04)
Agradecimentos: Angel Studios

Slogans: Lute pela Luz, Silencie a Escuridão.