Diferente de Star Wars, Indiana Jones nunca teve realmente uma linha cronológica de filmes preparados como "início, meio e fim". Quando era conhecido apenas como Guerra nas Estrelas, o próprio George Lucas havia mencionado que Star Wars tinha uma série de rascunhos para serem aproveitados em futuros filmes e assim Lucas anunciou o lançamento futuro (e até mesmo o ano deles) de cada filme e posição o qual a história se concentraria - sinopses, inclusive, já eram apresentadas e todo o esperado percurso da saga de Darth Vadder e os Jedis através de matérias de revistas especializadas (como as Revistas Herói 2000).
Por que citar Guerra nas Estrelas ? O eterno Han Solo, Harrison Ford, se reuniu novamente com George Lucas para um novo projeto. Grande parceiro de Lucas, Steven Spielberg, se sentou com o amigo para então lançar um novo personagem: Indiana Jones. O desejo de Spielberg sempre foi dirigir um filme do 007 e podemos então dizer que Indy é o seu James Bond que nasceu dessa ideia.
E então, Harrison Ford fazia carreira solo com a dobradinha Lucas & Spielberg nos presenteando com uma prestigiada trilogia nos anos 80 e que seria tão influente quanto Star Wars nos filmes de ação e fantasia. Enquanto Solo era um coadjuvante de falas icônicas e importantíssimo para a jornada do herói de Luke Skywalker, em Indiana Jones, Ford como protagonista, estabelece a atenção ao protagonista quanto a sua resistência ao tempo e o quanto isso é tão humano e tão próximo do espectador do que qualquer outro personagem principal que já tenha passado por um filme de ação hollywoodiano até então.
Indy tem suas falhas, medos, lesões e o peso da idade (Ford queria frisar muito bem isso assim como o próprio Spielberg concorda). É praticamente um retrato da passagem desses protagonistas de ação frente ao tempo. Numa época em que tínhamos o rebelde Rambo em ascensão e um invulnerável James Bond em decadência. Indiana Jones liderava os anos 80 como um dos melhores protagonistas de filmes de ação daquela geração emplacando três grandes filmes de sucesso e influenciando o gênero.
Indiana Jones e a Última Cruzada tinha um título certo de encerramento das aventuras do protagonista mas novas ideias fizeram nos ter saudades de mais um filme para revisitar esse personagem. Já nos anos 90, tivemos o videogame Indiana Jones and the Fate of Atlants (considerado o "Indiana Jones 4" por muito tempo). Houveram também extensões em outras mídias, como os quadrinhos e séries de TV ( O Jovem Indiana Jones ). Parecia então que a história não acabava ali - na série de TV, apresentava uma versão bem de idosa de Indy, com um misterioso tapa olho.
O seriado de 1993 não me chamava tanto a atenção para uma pessoa que curtiu tão bem a trilogia e acreditava que a série seria uma extensão sem muita atenção aos filmes. Mas eu estava realmente enganado. Além do Indy idoso houve uma icônica participação de Harrison Ford como o próprio (no auge de seus 50 anos de idade). [Alerta: Spoilers] Um incrível seguimento de cronologia estava acontecendo ali mas que, infelizmente, não ganhou a atenção que merecia nos dois filmes que aconteceram recentemente. Se Harrison Ford vai mesmo se aposentar do personagem, então Spielberg ficará eternamente na dívida conosco quanto ao motivo pelo qual o velho Indy do seriado fica caolho - mais uma vez, desmereceram a série de TV. [/Spoilers]
Ainda nos anos 90 houveram anúncios de um suposto quarto filme de Indiana Jones em produção e o herói de chapéu e chicote teria uma sobrinha. A ideia do personagem ter uma acompanhante aventureira em suas aventuras já existe desde essa década. Em Indiana Jones e a Relíquia do Destino essa ideia parece ter reencarnado no papel Phoebe Waller Bridge, assumindo o papel de Helena, a afilhada de Indiana no filme.
James Mangold fez um excelente trabalho de desfecho para Logan mas em Indiana Jones, indicando que Harrison Ford faria a sua última aventura como o herói, se cogitou a ideia de que Indiana Jones morreria. [Alerta: Spoilers] Em scripts de alguns dentre os supostos filmes de Indiana Jones para a década de 90, havia um em que Indy leva um tiro e morre. Quando então o seu corpo é levado para uma entidade que o revive. O título envolveria lendas chinesas intitulado Indiana Jones e o Rei Macaco ou Indiana Jones e o Jardim da Vida. Esse roteiro seria de Chris Columbus (Esqueceram de Mim), escrito em 2 de Outubro de 1995 (um roteiro mais antigo data de 6 de Agosto de 1985). [/Spoilers] . Pelo menos, ter essa referência no filme, significa que - pelo menos - se aproveitou muito mesmo das mitologias envolvendo a cinessérie (sem recusar alguma ideia desafiadora dos roteiros engavetados mas, de alguma maneira, o reaproveitando num timing convincente). Nesse ponto, a audiência vai se surpreender com os novos destinos que Indy 5 (e até mesmo Guardiões 3) preparou para essa nova era de filmes legado da década de 2020.
A ideia era que, provavelmente, Indiana Jones fosse parte de uma infinidade de filmes. Tão maior quanto Star Wars. Mas na realidade, após a trilogia, só tivemos 2 filmes até então. [Alerta: Spoilers] Não havia realmente um início, meio e fim pré-programados e por esse motivo acabaram que pontos interessantes na própria série de TV não foram aproveitados para serem parte da cronologia ou então novas aventuras envolvendo outros personagens interessantes que apareceram em O Templo da Perdição, por exemplo (como havia premeditado para acontecer em roteiros recusados para Indy 4 até meados do ano 2000). [/Spoilers]
Ainda que Indiana... e a Relíquia do Destino remeta a nostalgia de Os Caçadores da Arca Perdida, transitando levemente pelos dois filmes posteriores, ele ainda perde alguma sutileza em alguns detalhes ( o que soa que não seja um filme oficial de Indy mas que tenta reproduzir alguma coisa que Spielberg deixou lá ) como o fato de não apresentar a data e o local em que a aventura se passa nas passagens (especialmente a aventura de introdução e logo depois na transição para os tempos atuais, ou seja, em meados da década de 60). Mas é mais feliz que o filme anterior ao trazer um destino mais apropriado para coadjuvantes pouco interessantes [Alerta: Spoilers] (ainda que trágico porém simbólico para o crescimento do personagem) [/Spoilers] .
A história difere do previsto: o suposto roteiro que envolveria uma casa mal-assombrada. Na verdade, aqui, se fala sobre passagens do tempo e relíquias gregas. Nada como envolver passagens do tempo para remeter à nostalgia e, mais uma vez, nos trazer de volta aos nazistas. O conceito da história é genial e muito remete com as teorias da conspiração, por exemplo.
Há uma grande discussão sobre o personagem Indiana Jones a respeito dele ser o anti-herói destruidor de templos e o colonizador branco que salva uma outra etnia. Vale lembrar que Indiana Jones não se trata de uma cinessérie sobre história ou sobre arqueologia mas sim uma obra de ficção com fatos arqueológicos e históricos romantizados. É como você tomar aquele suquinho de lata gostoso e saber que aquilo foi quimicamente modificado (um aromatizante) para dar mais sabor. Porém, levar isso à sério - como fator nutritivo - pode ser prejudicial a sua saúde. Da mesma forma que o suquinho de lata, com aroma idêntico ao original, encare Indiana Jones como uma diversão despretensiosa e que te convida a curtir filmes de época (caso você tenha algum preconceito com isso).
A Relíquia do Destino também marca a despedida de John Williams da carreira de trilhas sonoras - o filme também remete e muito ao tema principal de Indiana Jones em diversas cenas mas com arranjos diferentes embora não tão presente como deveria.
Apesar dos pesares, Indiana Jones e a Relíquia do Destino é prato cheio para os fãs de nostalgia e que, vamos considerar, está mais ou menos próximo do nível da série de TV da década de 90 (mas sem trazer nada tão relevante como essa obra clássica): é bom, divertido mas nada de espetacular ou diferenciado que determinou a icônica trilogia.
Momento Pós-Crítica: Antes do lançamento do filme, o longa foi anunciado como Indiana Jones e o Chamado do Destino sendo o subtítulo trocado posteriormente pela Dinsey na divulgação.
Memórias da Sessão
Sessão muito boa até alguém começar a ligar celular (e até mesmo atender no meio da sessão), vi um casal incomodado que acabou por se mudar de lugar e ir sentar mais ao fundo. A sessão estava um pouco vazia, numa Quinta-Feira e ainda mais num dia de estreia de um título icônico), mas aparentemente haviam entusiastas medianos. Ninguém ficou até o fim da sessão (apenas eu, que me deparei com o logo da Lucasfilm e os créditos dos dubladores). Uma colaboradora do cinema aparecia de vez em quando nos créditos pra ver quem estava ao fundo (para ver se eu estava lá, provavelmente) e mantiveram as luzes desligadas até que eu me levantasse (perfeito).
Tirei então fotos dos cartazes, a mesma colaboradora que foi cuidar da sessão veio simpaticamente me indicando que havia um outro cartaz maior: "-Esse é melhor pra tirar foto" eu agradeci dizendo que eu já havia tirado mas fiquei de explicar que havia uma diferença entre os cartazes: o que estava na parede ao lado da porta da sessão tinha algumas descrições e detalhes como a classificação etária e o cartaz grande só estava anunciando o lançamento mesmo. Cinéfilo, colecionador e aspirante a antropólogo (posso me considerar) tem desses detalhes. Como a colaboradora testemunhava consideravelmente as minhas passagens por lá pensei da mesma participar de algum vídeo ou foto promocional mas estava sem ideia ou talvez a mesma representar uma cena do filme divulgando a Cinesystem nas redes sociais (se alguém aí tiver uma ideia, posso ver se levo pra frente nas próximas sessões).
De quebra, achei que ia demorar muito, mas consegui um convite especial pra próxima sessão (ainda estou na dúvida se será Barbie, Oppenheimer ou Missão: Impossível 7, fica a dúvida agora).
SESSÃO CRÍTICA