The Flash é o presente certo para quem realmente ama filmes de super-heróis DC no cinema.
Sobre The Flash é o seguinte.
A falha de abordagem do Snyderverso não veio de Batman v.s. Superman mas desde O Homem de Aço. Apesar de conceitos interessantes (o mistério de presença alienígena na Terra) o tom áspero não ajudou a identificar bem o verdadeiro significado emocional para que o expectador pudesse se envolver diretamente com a construção daquele Superman até a sua morte no filme seguinte (um Superman que ainda não se desenvolveu o suficiente e que acaba tendo só o aperitivo do grande evento dos quadrinhos reduzido a uma sequência de um grande climax).
Ainda que o universo dirigido e produzido por Zack Snyder tenha um desenvolvimento com pretensões de começo meio e fim o mesmo alega que a Warner se intrometeu demais no desenvolvimento de suas produções. O que é bem convincente uma vez que evidências sobre interferências de produção em seus longas de super-heróis venham desde Batman Eternamente.
Liga da Justiça de Zack Snyder foi o ouro perdido e que finalmente foi lançado.
Apesar das viajadas, seria ótimo observar esse universo de Zack Snyder se encerrando com chave de ouro - uma vez que o grande acerto desse Snyderverso seja a versão revista de 4 horas em 2021, um presente para os fãs e para promover a recém-lançada HBO MAX. O streaming foi uma forma que o mundo do entretenimento tentou buscar para fugir da crise que a devastadora pandemia estava causando nos setores do mundo todo e resultando no fechamento dos cinemas ao redor do globo por tempo indeterminado.
Em meio a um período (pré-pandemia) com filmes de super-heróis faturando bilhões no cinema, de repente uma crise. Se foi questionado então se esse era o futuro: um mundo completamente conectado e o fim dos entretenimentos presenciais.
Apesar de tudo, esse roteiro que celebra de alguma forma a passagem dos super-heróis DC nos cinemas (especialmente Superman e Batman) é muito melhor do que o roteiro vazado (que mais parece um episódio de uma série de TV). Quem vai ao cinema de verdade e acompanha super-herói no cinema quer assistir cinema e não um trecho de um episódio de televisão que ninguém se importa (somente duas ou oito pessoas reconheceriam entre cada 112 espectadores).
Erza Miller (que não trazia expectativa alguma no roteiro vazado) e que era praticamente um personagem chato de falastrão e desperdiçado na Liga da Justiça de 2017 mostra aqui todo o seu potencial incrível - de ator de comédia ao drama - e consegue equilibrar muito bem o seu Flash entre suas várias facetas (nos convencemos de que são personagens envoltos num "faz de conta" de que são atores completamente diferentes).
Ainda que eu prefira eternamente a Helen Slater dentre todas as Supergirl, Sasha Calle defende muito bem a sua Supermoça andrógina, trazendo uma ótica dramática e inédita à personagem.
Apesar dos pesares, o Snyderverso juntamente com as mudanças da Warner e a direção de Patty Jenkins, acertou com Mulher-Maravilha. Depois dos fracassos do Universo Estendido DC com Batman v.s. Superman e Esquadrão Suicida, às vésperas do lançamento de Aquaman, Jason Momoa disse: "-Agora eles (Warner) sabem o que estão fazendo" . E realmente, houveram acertos com Aquaman. Mas, ainda sim, Mulher-Maravilha ainda é o melhor filme da DC de Zack Snyder para os cinemas (e não é a toa que ela lidera a capa de algumas artes de divulgação dos filmes da DC como Batman .v.s. Superman e Liga da Justiça de 2017).
O fanservice do filme é incrível e focar-se na nostalgia foi uma decisão acertada em The Flash. A Warner deveria ter investido e valorizado mais um tipo de Universo Estendido que já se conectasse com o que já estava ou deu certo no passado ao invés de buscar sempre por novos intérpretes e recontar novamente as mesmas histórias com outros atores e levando a outras direções. Só para se ter um exemplo e vale frisar sempre: Superman: O Retorno remete às memórias do inesquecível Christopher Reeve e deu tão certo e foi tão bem aceito pela crítica quanto Homem de Aço.
Não continuar o universo clássico da DC nos cinemas e da televisão é um verdadeiro desperdício uma vez que a Warner / DC tem muito mais anos de estrada, uma das pioneiras em retratar super-heróis no cinema bem antes do que a MARVEL Studios e que deveria realmente dar a lição como dava nos quadrinhos ao invés de ter que aprender com eles agora (a DC tem que continuar sendo o verdadeiro PAI e não o FILHO agora). Todo mundo conhece o The Flash (seriado de 1990), a Linda Carter (Mulher-Maravilha dos anos 70 e 80), o Superman de Christpher Reeve e o Batman de Tim Burton. Por que não ter aproveitado todo esse universo antes ao invés de um reinício atrás do outro ? E quem discordar disso é maluco sim ou então não nasceu na época desses filmes. Considerar qualquer outra história ou atores mais novos assumindo esses trajes e tendo mais do que 30 anos, uma coisa é certa: por um acaso, aonde essas pessoas estavam nos seus últimos 25 ou 30 anos ?
Batman, constantemente divulgado como o personagem central do filme, é muito bem defendido pelo injustiçado Ben Affleck (ainda que numa breve participação) mas imortalizado pelo Michael Keaton (emocionante seu retorno ao manto do morcego). Keaton não só reprisa como também desenvolve o seu Batman/ Bruce Wayne "piadoca" - sempre com ares sóbrios de ironia mas também assumindo a ideia de um tutor meio gênio e louco (fazendo referência inclusive a uma frase clássica do filme de 89 mas de uma forma muito sutil e serena).
Keaton rouba a cena em todos os momentos (hoje um ator mais experiente e ganhador de Oscar) e que nos faz verdadeiramente ter vontade de vê-lo mais vezes conforme os planos originais de Walter Hamada (muito bem pensado ao menos aqui). A Warner nunca deveria ter ignorado o que ela fez brilhantemente com os seus super-heróis DC no passado. Keaton, como um Bat-tutor, seria perfeito nesses filmes seguintes e só ficará na vontade agora ou nos sonhos de como seria a verdadeira Crise nas Infinitas Terras ou um evento que poderia ser tão grandioso quanto foi Vingadores: Ultimato na rival Marvel Studios.
Se o Batman de Ben Affleck parecia um personagem perdido na sua chegada em Batman v.s. Superman (principalmente no meio do grande climax) o mesmo não se pode dizer sobre o Batman de Keaton em The Flash, que é colocado de maneira simbólica e muito bem aproveitado tanto nos momentos de ação, quanto nos momentos de explicação (como a sua forma precisa de esclarecer uma condição científica e a sua forma equilibrada em reagir a um evento específico, como nos momentos trágicos ou quando está em risco) - uma vez que a sua introdução na duologia de Tim Burton foi a mais icônica dentro de um universo fantástico e Keaton consegue entender e preceder isso.
E então, como seria Batgirl e a participação de Michael Keaton ? Warner foi injusta com essa lenda. E injustiça a Warner faz aos montes com os seus filhos de sucesso.
O enredo cartunizado e ritmo acelerado justifica a estilização simplificada dos efeitos especiais e a memória afetiva "faz-de-conta" tem muito sentido nesse passe. Parece um filme de mentirinha só que de verdade.
The Flash, não é ruim, só faltou uma coisa: um pouco mais de nostalgia. A ousadia desse passado citado interagir de maneira ainda mais significativa nas ações do filme (sim, eu falo de um Vingadores: Ultimato da DC e a Warner precisa disso). As constantes mudanças de roteiro, inclusive, fez de The Flash um filme perdido, infelizmente, nesse universo DC dos cinemas encerrado de forma precoce (e com muitas falhas bobas - principalmente de origem - que poderiam ter sido evitadas).
Memórias da Sessão: E, pra ser bem sincero, que final corajoso. Eu tive que aplaudir de pé.
SESSÃO CRÍTICA
Sessão Acompanhada: 18/06/2023
Slogan: "Os Mudos Colidem"