Há 40 anos, um certo bigodudo de boné vermelho salvou a indústria de videogames. Super Mario se tornou um fenômeno de referência para a cultura pop quando o assunto é videogames. Mas isso só se solidificou anos após o sucesso do Super Nintendo - uma vez que, ainda em 1991 (mesmo com o sucesso de Super Mario World), a cara que representava o mundo dos jogos eletrônicos era o comedor amarelo (Pac-Man) e é assim até hoje para algumas referências mais comuns. Porém, Mario Bros. acabava por se tornar mesmo um ícone do público em geral depois que a ascensão da nostalgia noventista dominava os posteriores em diante.
Também levou um tempo para que as adaptações de videogame encontrasse um formato certo ou pudessem ganhar algum tipo de maturidade que não só fosse apenas produções feitas para um público juvenil o qual seus protagonistas tentam imitar caricaturalmente os personagens do videogame: seja em caras e bocas ou em situações específicas (Quem não se lembra do sanguinho que o Shang Tsung limpa da boca em Mortal Kombat: O Filme de 1995 ?). Super Mario Bros. era de um tempo em que videogames já tinha um certo enredo cinematográfico em sua prática. Havia uma trama acontecendo e o jogador só poderia notar durante a jogatina, derrotando adversários e, finalmente, chegando ao final do jogo - haviam poucas referências textuais para se basear firmemente numa imaginação de trama mais profunda. A verdade é que tudo dependia mesmo era da imaginação do jogador - diferente de hoje que a história é toda mastigadinha e detalhadamente explicado (alguns acabam sendo mais filmes em computação gráfica com menos interatividade do usuário em questão).
Como no filme de 93, e mais além, Super Mario Bros. O Filme explora a origem dos irmãos Mario como moradores do Brooklyn (algo que surgiu originalmente em folhetos do jogo Sim City e em Mario is Missing).
O filme de 1993 tinha ao todo um orçamento de U$$ 48 Milhões contra os U$$ 100 Milhões do filme de 2023. Como animação, a produção toma mais liberdade em trabalhar perfeitamente a ambientação "Alice no País das Maravilhas" de Super Mario Bros.
Por ser um desenho animado, o formato é tão assertivo quanto um filme do Sonic (ainda que a transição entre o mundo dos humanos e o mundo dos animais estejam de alguma maneira inseridas em suas origens obscuras e em jogos, o que explica melhor essas 'anomalias' em sua mitologia).
Para os que já conhecem a mitologia de Mario, o longa não oferece surpresas. Mas como adaptação, é louvável tomar liberdades para estender as origens do personagem. Ele é ainda uma carta de convite para quem não conhece ou teve uma memória afetiva tão profunda com os jogos de Super Mario Bros. ou até, de certa forma, com a Nintendo. Para os fãs veteranos, ele é uma verdadeira carta de amor.
A narrativa é previsível e humor ideal para os pequeninos (embora, de certa maneira, ofenderia a inteligência dos pequeninos de gerações mais antigas). Mas, o mais importante de tudo: apesar de toda a simplicidade, a mensagem tem coração. A relação familiar é o ponto forte dessa narrativa. Pra resumir a dupla: Mario assume o atrapalhado que vira herói e Luigi o azarado que serve de consolo mas que também se torna um ponto emocional muito importante para o desenvolvimento do personagem Mario.
Explorando as origens, Mario sempre foi o estereótipo que tira um sarro do próprio Superman (assim como tantos outros heróis). Mario é o estereótipo do anti-herói pelas características: não é bonitão, é baixinho, bigodudo e barrigudo e sem super poderes. O legal disso é que a trama explora profundamente o quão ele é um fracassado mas se esforça para salvar o dia. E em meio aos seus inúmeros fracassos, fazemos alusão ao espectador que é um jogador de Mario (ou de qualquer outro videogame) que está ali sempre tentando vencer os obstáculos e quando finalmente obter ênfase vai ter que encarar desafios ainda mais difíceis. Isso é um conceito comum da vida mas que nunca fez tanto sentido quanto num filme de videogame como Super Mario uma vez que isso é o cotidiano do gamenaníaco que nunca parou de jogar e buscar por novas aventuras e aprendizados.
E a cena dos irmãos Mario tentando resolver um encanamento simples de uma pia no filme representa muito bem essas séries de situações vistas como desafios de videogame a serem abatidos. Já o desafio das plataformas para adquirir seus poderes extras, se torna ainda mais evidente esse conceito.
Se não fosse por ser uma adaptação de videogame, o ritmo agitado e cartunesco de Super Mario Bros. O Filme adere muita semelhança aos filmes de animação em 3D tradicionais (geralmente para as crianças até os 6 anos). Porém, ele investe bem em personalidade (sendo o visual praticamente fiel aos jogos de origem). A supervisão muito próxima do seu produtor (e criador do jogo original), Shigeru Miyamoto certamente ajudou na construção desse cenário.
Por não aderir o tom de "vale da estranheza" (como o filme de 93), as críticas de "fã" relevam a importância das falhas da animação ao seu apelo emocional à nostalgia.
A simplicidade da trama enfraquece o tom de ameaça do vilão - que nada tem além de "dominar o mundo" e por que não ter outra trama ainda mais genial como transformar todos em "Koopas" ? No filme de 93, o vilão tinha uma imponência mais cruel (justamente por esse "plus" de não só se limitar a sequestrar a princesa). Além de certos diálogos modestos até demais para um script de superprodução, o que deixa o longa realmente mais voltado para crianças menores.
Para os marmanjos, a boa trilha sonora que transita entre os anos 80 e 90 tenta de alguma maneira ambientar o cenário do longa ao que é proposto. Embora, Super Mario Bros. O Filme não se passa nos anos 80 ou 90 e sim nos tempos atuais (a notar pelo uso de celulares que, simplesmente, são esquecidos sem mais nem menos). Embora, o uso menor de tecnologias atuais na trama ajuda muito mais a identificar a importância de uma imagem limpa e fiel ao videogame clássico.
Com tamanho apelo a nostalgia, trazer o filme todo em uma trilha sonora dos videogames seria exagero. Afinal, estaríamos diante de mais uma adaptação que quer parecer comercial de um videogame e não um longa metragem de fato. Portanto, usar a trilha sonora do videogame (sem nenhum retoque) não faria sentido e até antiquado para um formato de cinema. Embora os compositores tenham realmente mandado ver na adaptação de algumas canções famosas dos jogos.
- Super Mario Bros. O Filme tem composição assinada por Brian Tyler com Chris Pratt (Mario) e Jack Black (Koopa) nas vozes. Em demonstrações promocionais, Pratt se mostrou muito afiado à voz de Mario e Jack Black surpreende ao contar com cenas cantadas. Nas cópias dubladas, destaca-se o sotaque italiano de Mario (Raphael Rossatto) e Luigi (Manolo Rey).
- A versão em 3D, se destaca a perspectiva de objetos passando rapidamente na tela (como uma bola sendo jogada para a visão do espectador) o que realmente impressiona (os mais entretidos fecharão os olhos).
- A recepção de Super Mario Bros. O Filme obteve críticas mistas da mídia especializada. Para um filme que tem visão mais específica para as crianças pequenas, os críticos sempre esperam por longas com visão mais adulta em algum ponto (mesmo quando eles são direcionados apenas a crianças). E aí caímos no mesmo caso do filme de 93 (com um elenco bastante maduro mas com alguns elementos mais juvenis e que só não foi tão reconhecido por certos fãs de Mario por cair no "vale da estranheza"): embora, adaptações audiovisuais de videogame estejam tendo uma aceitação maior da crítica quando a história abre um formato mais convidativo ao público mais velho.
- Além de Luigi, os outros destaques vão para Toad (carisma e determinação que rouba a cena) e Princesa Peach (forte presença independente desde o início).
Apesar dos pesares, Super Mario Bros. O Filme vai fazer você viver o espírito de personagem de videogame com vontade de sair do cinema pulando em vários obstáculos por aí (só cuidado para não perder, pois você só tem 1 vida).
ATENÇÃO! Fiquem depois dos créditos
SESSÃO PÓS-CRÍTICA
XIITAS NÃO GOSTAM DE ADAPTAÇÕES
Lá em 1993 (apenas 10 anos desde o nascimento de Super Mario), o próprio bigodudo também liderou como o primeiro personagem de videogame a ganhar um filme só dele para os cinemas. Havia uma série de notícias e expectativas de como seria um filme desse tipo: chegando a ter notícias de que o longa seria um filme policial. Se tornou um misto de ficção científica (ambientado no sombrio e estiloso cyberpunk de Blade Runner) com um misto de ação e aventura para a família (com toques modernos de humor juvenil - e que assim se seguiu completamente em adaptações como Mortal Kombat: O Filme).
Era evidente que o filme de 93 foi pouco visto justamente porque o tema não interessava a quem não era habituado com videogames, mesmo durante a geração Super Nintendo (a maioria eram crianças e adolescentes), e a crítica especializada também não era habituada com jogos eletrônicos (para eles: "- Uma aventura de comédia escura e sem cores" como se quisesse ser uma adaptação oposta de um jogo eletrônico dando a entender que era uma briga pessoal com os fãs mais fanáticos e os mais velhos estavam fora dessa rodinha, não parecia ser um tema interessante para os críticos tradicionais: a informação de uma inteligente combinação mais criativa de adaptação parecia não chegar a esses espectadores mais experientes) ou consideravam essas histórias clones de tramas já muito bem contadas no cinema anteriormente (rotulavam Mortal Kombat, por exemplo, a uma mera cópia de Star Wars - de certa forma, a maioria dos jogos eram mesmo cópias ou inspirações disfarçadas de muitas outras obras audiovisuais e até de histórias em quadrinhos) e também não ligava ou reconhecia uma obra cinematográfica adaptada de um jogo eletrônico sendo contado por referências (afinal, eram especialistas em cinema e não viciados em videogame). Hoje, o ambiente é diferente e o filme de 93 consegue até bem mais aprovação como um título visionário (só olhar pelas críticas mais recentes mapeadas pelo site Rotten Tomatoes). Filmes com temática ficção científica sempre dividiram o público com a narrativa muito própria e específica - que demoraria anos a serem compreendidos a ponto de formar uma legião de pensadores sobre a obra (como é o caso de Blade Runner e até mesmo Matrix).
Já os xiitas, não aceitam adaptações e preferem cópias e, agora, há ainda os seus adoradores: aqueles que são sustentados por esses mesmos barulhentos e resolvem se tornar a voz deles declarando guerra contra um nicho realmente pensante sobre essa visão incompreendida que é uma adaptação, sempre com a famosa frase: "-Cada um tem seu gosto". Eu que o diga: é incrível como a mente humana consegue distorcer tudo, até uma frase feita para separar pontos de vista e transformá-la em arma de guerra (afinal, pra quem já transforma símbolos religiosos ou até de super-heróis em símbolos de mortes e chacinas, o céu é o limite). O que seria do mundo se todos pensassem igual? Não haveria evolução e todos se tornariam apenas um: tão tolos quanto os lagartos de cabeça pequena transformados no filme de 93 (seres desprovidos de inteligência para que assim sejam dominados ou controlados) que, aliás, é um conceito genial, tão genial quanto o propósito do vilão neste filme de 2023 (o que o tornaria um personagem ainda maior).
Não que o filme de 2023 não tenha tido ênfase em fazer com que seus personagens fossem realmente realistas e sem ter cara de mero jogo em movimento sem joystick (apenas um jogo demonstrativo pro espectador ver) ou apenas bobo (embora sendo muito fiel ao material original como base). As amarras foram realmente muito criativas (como a cena do Mario Kart). Você realmente acredita que aquele mundo existe e quer entrar nele. Mas o filme de 93 conseguiu uma proeza única em tornar o universo de Super Mario crível com base nas passagens da própria história de nascimento do nosso mundo: conectar a evolução dos dinossauros (coincidentemente Parque dos Dinossauros estava em alta) com o desenvolvimento do homem (muito tradicional em histórias de ficção mais antigas e que se tornou muito profundo associar isso a uma adaptação mais realista de um Super Mario em carne e osso). Não tinha como pensar em outra forma, como, viver num mundo de cogumelos como se fosse uma espécie de O Mágico de OZ porque é aí que a crítica realmente o reconheceria como uma cópia sem inspiração. Se é para conta uma história assim, ela não pode ser tão distante e inalcançável de seu público (como um Superman de Zack Snyder - que sempre conta histórias deixando o espectador assistir mundos distantes mas nunca estar nele em sua maior parte do tempo). Antes de tudo, se é pra por os pés na realidade o espectador precisa acreditar que aquele mundo real e com pessoas reais em movimento pode existir (e ele pode ou já estar nele). E ainda que não tenha pessoas reais, o filme de 2023 até aprende bem essa lição (sendo uma adaptação mais fiel e mais vibrante - representando significados de forma cartunesca - porque a sua vantagem é de ser uma animação).
Sobre a visão que os críticos mais tradicionais tinham sobre os videogames serem "pouco criativos", é também verdade que jogos eletrônicos não só se inspiravam em narrativa como também em trilha sonora. Por isso, quase não se é punido por direitos autorais quando se cria conteúdos sobre videogame, por exemplo, uma vez que sempre foram consideradas artes de segunda categoria: sendo considerados reproduções amadoras ou covers de outras obras (filmes ou músicas) - e a tribo mais fanática por tecnologia sem dúvida contribui nisso quando é um consumidor ambulante que está sempre descartando seus jogos eletrônicos como uma tecnologia substituível ou descartável: vendem ou trocam o original por um remake ou uma continuação mas estão sempre reclamando de adaptações cinematográficas (vai entender).
Por exemplo, o filme de 2023 se torna auto explicativo demais e por isso é mais recomendado a crianças pequenas (embora o público de cinema não apenas limitado a isso). O espectador reconhece que o que está na tela naquele momento é uma bola grande, branca e redonda mas um personagem do filme definitivamente o descreve como uma: "- Bola grande, branca e redonda" exatamente como o espectador viu. O fã emocionado vai relevar isso, sem demonstrar senso crítico algum porque aquilo não o incomoda - o que ele quer ver é algo que não seja diferente do que ele já viu antes. Ele não tem exigência por um enredo mais profundo porque a sua maior experiência vem com o enredo raso dos videogames - ainda que existam as tais cenas de transição ou cut scenes como chamam para explicar a história do jogo - elas sempre são genéricas ou apenas um pretexto para motivar a interação ou jogar o personagem à ação. A ação (ou missão) nunca acaba sendo um pano de fundo em favor de algo mais profundo (o que desenvolve nessa falta aí é a imaginação do jogador mais criativo - e nesse vazio que uma boa adaptação precisa entrar e melhorar essa conexão). Nenhum produtor de jogos está focado ali em fazer cinema (embora existam raras exceções).
Talvez o único pecado da adaptação de 93 foi a falta de ter referências mais claras para quem já curtia a obra original mas xiitas jamais compreenderiam essa transição de uma mídia para outra e os seus líderes publicitários (ou criadores de conteúdo 'gamer'), para sustentar essa visão caótica de retrocesso, se tornam testemunhas em cima do muro e fingem não aceitar um grupo de pensadores que apreciam uma diferente visão criativa de uma mesma história (e que ainda assim, conseguem fazer o que toda adaptação deveria fazer: estender aqueles pormenores da trama original).
O filme de 93 trouxe a melhor visão do que seria um Mario no mundo real e cinematográfico daquela época (da era da realidade virtual e do cenário grunge e futurista em alta naquela geração). Uma adaptação que não tem cara de videogame e sim cara de filme (e isso é ótimo). Já houveram visões mais fieis aos videogames do Mario já naquele período (entre os anos 80 e começo dos anos 90) com o Show dos Irmãos Mario que transitava entre atores reais e as aventuras em desenho animado. Porém, era uma obra para a TV e aquele formato funciona melhor na televisão do que num cenário cinematográfico (que preza por uma visão panorâmica). Melhor que isso, só um longa em animação. E não deu outra: 20 anos depois, estamos aqui testemunhando uma adaptação cinematográfica em animação com o sucesso que vem desde a expectativa. Mas, assim como o filme de 93, essa adaptação de 2023 tem também os seus porém.
Infelizmente o "gamer" que se mete para opinar sobre filme de videogame se contenta com pouco e adaptação é algo que só tem sentido quando ele estende os personagens.
MEMÓRIAS DA SESSÃO
O Curioso Caso do Gigante da Pipoca
Dessa vez optei por sentar no meio da sala (para evitar celulares ligados no escuro da sessão) mas ainda assim não consegui evitar uma demanda de gente chegando atrasada no cinema e atrapalhando a minha experiência - como o caso de um homem grandão (passando por cima da minha visão, com o seu balde de pipoca) e me questionando sobre o número na cadeira (e eu vou lá saber se a sala toda já estava no escuro), fora ter que aguardar por uma lanterna na cara para averiguar o número (óbvio que ele não faria isso diante da sala cheia. Esse povo é tão folgado e covarde que só o faria se houvesse apenas uma pessoa sozinha na sessão (se não fosse maior do que ele)). Fez mais uma vez a pergunta como se fosse um policial e eu não querendo perder nenhum segundo da tela por causa de gente atrasada na sessão eu só respondi que não sabia (era o mais sensato a se dizer) quando o mesmo foi auxiliado pela mãe de alguma criança ao lado e ele agradeceu. Só acho que esse povo leva cinema como um resort sem preocupação com quem está lá para assistir ao filme e valorizar a sua experiência de verdade.
O mesmo ria descontroladamente por qualquer detalhe bobo na tela e cantava junto com o filme. Apenas um hiperativo descontrolado. Mas eu não o vi como um verdadeiro fã de Mario daqueles que resolve meter o pau nos críticos na internet, era um fã casual que estava reconhecendo as referências e que saiu antes do fim dos créditos perdendo a surpresa final.
GALERIA
SESSÃO CRÍTICA