sexta-feira, 28 de abril de 2023

[Sessão Crítica] 'Os Cavaleiros do Zodíaco: Saint Seya - O Começo' aposta em tendências e nostalgia

Adaptação americana dos defensores de Atena, tem canções clássicas e segue novas tendências se inspirando em MARVEL e DC.


Sucesso no Brasil em 1994, da eterna Rede Manchete, Os Cavaleiros do Zodíaco abriu uma nova febre na cultura pop: os desenhos japoneses. A cultura pop japonesa estava então multiplicando a sua popularidade nos territórios tupiniquins. Mas não só em territórios verde e amarelo, a febre da cultura asiática em geral tem se estendido e inspirado a cultura pop ocidental já neste século XXI.

Aqui no Brasil, o título era apresentado como Los Caballeros Del Zodiaco - o que dá uma pista de suas origens de sucesso fora do Japão. O título era em espanhol o que posteriormente ficava evidente que a sua popularidade explodiu na Espanha antes de chegar no Brasil (segundo fontes, pelo menos uns 4 anos antes - 1990 na Espanha e 1994 no Brasil). 

Antes de ter conhecimento no território americano (em meados de 2003, após o lançamento da Saga de Hades), Os Cavaleiros do Zodíaco já tinha certa fama na Europa, o que despertou a atenção do diretor polonês Tomasz “Tomek” Bagiński (The Witcher). Com produção do Stage 6 Films, uma pequena produtora subsidiária da Sony Pictures. E a mídia intitulou o então futuro longa como Knights of the Zodiac: The Begining (como assim foi chamado inicialmente). No cartaz preliminar se apresenta como Knights of the Zodiac: Saint Seiya. 

A primeira divulgação do filme data de 2016. Em 2021, numa entrevista à Forbes, Famke Janssen teria adiantado que a produção do filme teria atrasado por duas vezes devido a pandemia de 2020. E é por isso que o misterioso cartaz perdurou por muito tempo sem confirmação de nenhum ator escalado - apesar do nome de Janssen ter estado atrelado à produção do filme em algum registro (o que foi uma surpresa).

Às vésperas de lançamento, a produção ganhou diversos trailers promocionais no Japão - inclusive uma pré-estreia com os produtores, atores e com o próprio autor e criador da história original: Masami Kurumada (fazendo sua raríssima aparição em público).

O lançamento no Brasil não teve cabine de imprensa e ganhou recepção fria do público e da crítica especializada (diferente da recepção no Japão). Salas vazias ao redor do país, ainda que o aumento de salas para a pré-venda de ingressos aumentava de uma forma demorada (no Rio de Janeiro, apenas algumas salas específicas recebiam a pré-venda até as outras aparecerem disponíveis às vésperas do lançamento).

Sobre a distribuição tímida no Brasil, se cogita nos corredores um certo atrito ou falta de comunicação entre Toei e Sony. Não houveram posters distribuídos ao menos na área da UCI Cinemas do New York City Center (um dos principais cinemas do Rio de Janeiro e localizado na Barra da Tijuca). E, aparentemente, toda a divulgação no Brasil foi realmente nula.

Sobre a aventura, há fortes momentos emocionais explorando a essência da história original ainda que seja numa nova origem. Destaque para Famke Janssen (impactante), Madison Iseman (garciosa), Mackenyu (imponente), Mark Dacascos (poderoso)  e Sean Bean (paterno). Cassios sempre foi um personagem de momentos, nunca um personagem principal no desenho original : era o valentão que mostrava o quão forte Seiya poderia ser e que saia da história de forma heroica. De certa maneira, por ser um filme de origem, talvez, não seja o momento de Nick Stahl brilhar embora isso seja bastante difícil agora - com a recepção do longa (ao menos no Brasil, um dos países de grande sucesso do desenho) e o quanto o personagem foi simplificado, apesar de conter consideravelmente camadas do personagem original e ganhando algumas funções para se encaixar melhor na história que se centra.

Apesar da história rasa e levemente confusa, consegue ter mais coerência em detalhes específicos em relação ao desenho original da TV (quanto a idade e a etnia dos personagens). É interessante ver, por exemplo, uma relação inter-racial entre Seiya (Mackenyu) e Saori (Iseman) - representando a íntima conexão de afinidades entre a Ásia e o ocidente em pleno Século XXI. A dublagem também acompanha algumas tiradas divertidas na adaptação e que conseguem captar o sentimento correto para o entendimento tradicional do público brasileiro. Sim, de alguma maneira, lembra a boa dublagem clássica. 

Mackenyu é literalmente Seiya e Iseman é literalmente Saori. Ambas, ótimas representações de seus personagens originais. Há algum tipo de charme clássico em Mackenyu (como a sutileza em que ele olha para as ações de Marin e pergunta: "-Como você fez isso ?" sem cair no clichê das caras e bocas tentando parecer um desenho mas de forma natural, lembrando muito atuações dramáticas de atores de Tokusatsu). Alman Kiddo de Sean Bean, é um personagem fisicamente muito presente - é possível se simpatizar com a sua participação e se surpreender, de alguma maneira, com a virada (ainda que previsível, mas que não se torna tão obvia) - assim como Mark Dacascos - esse, literalmente, rouba a cena e arrisco dizer tão bom quanto o Mylock original. Famke Janssen, como Guraad, é uma das maiores surpresas do elenco como uma personagem original (que não havia na obra de Kurumada). Ela assusta, seu olhar intimida, tem algum interessante arco dramático e, felizmente, dá pra se dizer que muitos críticos de mente aberta queimaram a língua e se surpreenderam quanto a força de Janssen em ser uma super vilã impiedosa (mesmo que seja conduzida por um roteiro tão confuso).  Até mesmo Diego Tinoco, como Ikki de Fênix, é uma atualização maneira com o seu jeitão todo bad boy e para quem já conhece a história fica a curiosidade em como esse personagem vai caminhar. 

As ótimas atuações do elenco hollywoodiano estão bem acompanhadas pela ótima dublagem (mesmo que não seja igual ao desenho original, ela te faz acreditar que é igual). 

Também vale lembrar, mesmo com o baixo orçamento, a qualidade dos efeitos especiais surpreendem: as armaduras (que, embora tentem buscar a realidade, acabaram sendo comparadas com alegorias de samba) estão bastante vivas e realmente convencem nas impactantes e dramáticas cenas de ação em movimento. Fora isso, efeitos de câmera lenta aparentemente bem inspiradas na DC de Zack Snyder ou então o tom sóbrio e mais realista do Universo Marvel Studios quando introduziu Homem de Ferro. O que é irônico: uma vez que as armaduras com máscara eram uma afronta às atuações ou aos rostos dos astros famosos para vender o filme hoje ele se torna mais aceito justamente pela febre dos filmes de super-herói que se estabeleceu além dos nomes do elenco estelar que eles carregam. 

O roteiro confuso pode valer em consideração pelas diversas camadas que a história original cuida e, por vezes, fica a dúvida para onde o filme está apontando - há dois lados opostos em questão no longa e uma mente mais ansiosa ou desatenta logo se perde na história esperando ver quando o Seiya e a Saori voltam a serem assuntos na trama. 


A pancadaria é sentida de forma profunda em cada impacto.

As cenas de batalha não contam com a sanguinolência da obra dos anos 80 mas de alguma maneira convencem (e, o mais importante: podem ser muito sentidas). Apesar que daria pra fazer muito mais com a faixa etária 14 anos como, por exemplo, o soco do Seiya em uma pedra e a sua persistência nela - embora isso se justifique melhor mais pra frente - é uma tática da MARVEL Studios, conter certas cenas para desenvolvê-las dramaticamente depois.

Sobre Seiya no filme, no papel de Mackenyu, vale também notar a direção de arte e a maquiagem (e isso conta com a presença de Iseman como Saori). Podemos testemunhar a sua armadura sendo destruída, o personagem se machuca, se sangra e se queima nas batalhas. Embora seja só um aperitivo do que eles poderiam fazer com mais dinheiro. 

* (só para quem assistiu ou não liga pra spoilers)

- Até mesmo o visual de Saori é justificado (como a Vampira nos X-Men de 2000): suas medeixas roxas podem ter sido decorrente de alguma manifestação no passado e quando ela então se manifesta por completo ela ganha os cabelos longos e completamente roxos como os da animação.

-  Essa cena em que Seiya quase se queima em tentar salvar Saori da manifestação da Deusa Atena lembra e muito Logan e o sacrifício da Fênix em X-Men: O Confronto Final (mais uma relação de influência da Marvel nessa adaptação - Dragon Ball Evolution também não ficava atrás).

Os Cavaleiros do Zodíaco: Saint Seiya - Começo teve um orçamento de apenas U$$ 60 Milhões. Atualmente, se registra um retorno entre U$$ 5 Milhões a U$$ 10 Milhões durante os três dias. No território de lançamento, ficou entre U$$ 11 Milhões e U$$ 25 Milhões.


Um dos principais aprendizados dos longas do Universo Marvel, Cavaleiros: O Começo busca representar aqui: a história não tem pressa para desenvolver - embora fique muitas camadas de fora para se concentrar em poucos personagens. Pensando como uma cinessérie, Cavaleiros: O Começo não deixa segredos e parece se fechar - deixando pistas que não incomodam o seu desenvolvimento mas a forma como ela é executada deixa a conexão principal morna. É uma pena porque se tem um elemento muito forte em adaptações hollywoodiana de quadrinhos é o arco familiar (e acertar em cheio esse ponto aqui rende bilhão na bilheteria). 

Para abalar os corações mais românticos por Saint Seiya (e não Os Cavaleiros do Zodíaco, se é que me entende), Pegasus Fantasy está presente e só ganha na nostalgia os adolescentes que transcenderam entre a fase Manchete e o retorno triunfal nos anos 2000 - além de dar preferência pelo som original (os puritanos da geração Otaku ou fãs de anime das comunidades da internet). Mas, pelo menos, mostra que existe um coração verdadeiro nessa história revisada que estreita laços entre Seiya e Saori.

A história não tem pressa para se desenvolver mas sentimos uma certa apressada em alguns pormenores em favor de ação. Há alguns clichês de histórias de perseguição (no melhor estilo O Senhor dos Anéis ?)  para correr com a história o que nos dá a entender realmente como a ocidentalização dessas história faz perder a essência mais profundo no drama dos personagens da obra original. Nos empolgamos com a ação distribuída, sendo que esperamos mais sensibilidade mas chega no fim com a sensação de que acabou e: " - Era só isso ? " e aí, meu amigo, minha amiga, já bate aquela vontade de voltar para uma próxima sessão só para ver Seiya e Saori de volta. E o filme é isso. 


MEMÓRIAS DA SESSÃO

UNIDOS POR UM DESTINO


Fui selecionado com grande oportunidade pelo UCI UNIQUE Sentimos a Sua Falta (paguei só R$ 5,00 aproveitando a promoção pós-pandemia), pude retornar aos cinemas UCI em grande estilo tendo ainda a presença na sessão do lendário Eduardo Miranda - Pai dos Animês do Brasil que trouxe Os Cavaleiros do Zodíaco para a Rede Manchete e que foi responsável por toda a febre. 

O eterno Diretor de divisão cinematográfica da Rede Manchete, esteve presente no segundo horário dentre as estreias do Estado carioca. Eu o encontrei sentado próximo a entrada do cinema (que ainda estava fechado) ao lado de dois amigos (que eu acreditava que iriam na sessão) conversando sobre RPGs e o filme Dungeons & Dragons: Honra entre Rebeldes. A curiosidade é que nesse mesmo dia, havia um Coringa fantasiado (na versão de Jared Leto em Esquadrão Suicida), ele parou numa loja próxima (um dos amigos era o dono) e então ele rapidamente perguntou se ele precisava de alguma ajuda. O Coringa olhou estranho (como se estivesse entrado no personagem), se desconcentrou piscando os olhos e os dois conversaram. O Edu ficou ali estranhando vendo se o Coringa poderia causar algum dano ao shopping. Não havia nenhum tipo de comemoração específica se não o lançamento do filme dos Cavaleiros (mas nenhum filme do Batman) e aí passamos a discutir os massacres dentro do cinema. Foi uma loucura.

Os dois amigos se dispensaram e então conheci a família do Edu no salão de espera do UCI entre o XPLUS e o IMAX. E então fomos todos para a sessão. 

Chegando na sala, alguns fãs apareceram e cumprimentaram O Pai dos Animes e foram se sentar aos seus devidos lugares. Ouvimos então um: " - Só os fãs vieram ". O que foi verdade. Somente 11 corajosos Cavaleiros - verdadeiros protetores de Atena - vieram salvar o filme nas bilheterias e eu tenho orgulho disso. 

A calibragem do som da sala UCI (apesar de ser uma das mais modestas) estava tão realista que era possível ouvir SEIYA do seu lado, distribuindo sustos involuntários na sessão (nessa hora, uma reação feminina de espanto foi sentida). Além disso, a sala tinha o Super Seat, que era bem confortável (eu acabei não sentando no fundo da sala e fiquei numa dessas poltronas para ficar mais próximo às reações do Pai dos Animes).

No final, para a minha surpresa, a recepção de todos os outros 10 espectadores era assustadoramente idêntica: ninguém gostou. A filha do Edu: "-Que bosta de filme" e o Edu: "-Eles tinham tudo na mão". A do Edu é uma reação clássica em suas críticas no Projeto Cinevisão e eu consegui ouvir ao vivo (muitas risadas à parte). Eu lembro que só eu reagi com choros e sorrisos no filme e senti realmente uma reação apática dos espectadores (a cena do SEIYA talvez tenha sido uma única exceção). Senti que alguém ao meu lado tinha dormido na sessão (ou talvez tenha sido só uma dedução).

No final, acabei tão distraído entre a cobertura do UCI que o Pai dos Animes me encontrou e gentilmente se despediu antes de se manter com a família por um tempo até que então nos desencontramos. Queria realmente ter visto como eles foram mas a verdade é que foi um dia muito especial para quem leva a Rede Manchete sempre no coração. 

Memória Extra: ainda voltei para o salão UCI a fim de comprar mais uma sessão (desta vez a cópia legendada) mas acabei desistindo por dois motivos: não tinha outra campanha e eu ia sair muito tarde do local (Barra da Tijuca, senhores).


SESSÃO CRÍTICA

OS CAVALEIROS DO ZODÍACO: 
O COMEÇO

Gênero: Ação, Drama, Fantasia
Slogans:
 Siga Além do Seu Destino, Pegasus Will Rise

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