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quinta-feira, 30 de março de 2023

[SESSÃO CRÍTICA] John Wick 4: Baba Yaga não é cansativo mas o seu público desagrada

 

Da temática de quadrinhos à temática de (quase) uma adaptação de videogame: John Wick é o
herói da audiência fascinada por anti-heróis (sejam eles assassinos ou politicamente incorretos)

Com quase 3 horas de duração, John Wick 4: Baba Yaga é um entretenimento farto e não cansa de forma alguma. Mas tem um porém: o seu público. 

John Wick já se consagra como a cinessérie de ação de maior representação nos anos 2000 - devolvendo a marca pop perdida ao gênero que se tornou tão popular entre os anos 80 e 90 (pancadaria, muita testosterona, tiros e explosões gigantes). 

Temos outras grandes cinesséries de ação incríveis dos anos 2000 que a jovem e barulhenta crítica moderna  (e que eu refutei aqui) procura encontrar algum tipo de problema surreal em filmes de ação - como é o caso da cinessérie Bourne. A câmera trêmula em Bourne funciona perfeitamente naquela narrativa - de reconstruir a tentativa de uma tensão real em um mundo político. Mas a proposta em John Wick é diferente e o quarto filme já claramente expressa: a despretenciosidade. 

Para uma jovem crítica que nasceu e cresceu assistindo a um mundo dirigido por um Michael Bay com mais dinheiro para explodir coisas embora menos ambicioso nas narrativas quando se trata de mega produção, como a cinessérie Transformers, embora ele nem sempre tenha sido assim (pode conferir a sua fase bombástica de produções de grande porte mas com narrativas profundas como Os Bad Boys, de 1995 e A Rocha, de 1996). Bay foi um Jim Cameron que deu literalmente errado (praticamente amordaçado pela crítica embora sucesso de público ou nem sempre).  Ou então de adaptações de literatura adolescente que construíram uma febre bastante entediante como é o caso da saga Crepúsculo. Essa jovem crítica não consegue separar a importância de cinesséries como a saga Bourne ou a saga John Wick para o cinema de ação.


John Wick se passa num tipo de universo crível mas que não funciona exatamente em um mundo real (e nem procura se representar dessa forma). O que chega a parecer até mesmo uma comédia disfarçada dentro de um ambiente de ação (o que o torna ainda mais fascinante). A proposta de John Wick foi sempre entreter o público enquanto ele faz referências dos mais diversos conteúdos pop de ação - do Faroeste ao (pasme!) videogame. 

As cenas de pancadaria sem música (apenas efeitos sonoros) são angustiantes (combinadas também a outras formas de tortura). Assim como é absurdo observar a vontade de ser uma adaptação de videogame - ainda que seja só como temática - seja pelas constantes trocas de armas ou pela visão vista por cima aonde é possível ver todo o movimento detalhe por detalhe. 

Outro detalhe também é o visual soberbo. O jogo de cores favorecem a fotografia. Além da direção de arte, com ótimos cenários (especialmente os ambientados no Japão).

Por ser também uma obra de ficção voltada ao entretenimento despretensioso, John Wick também se concentra em ser um imenso videoclipe cheio de impressionantes coreografias: é fazer ação como dança ora parecido com os filmes de artes marciais da era Bruce Lee ora para se parecer com os clássicos faroestes.

E os quadrinhos também não estão longe dessa comparação ou que poderiam ter sido base para John Wick. Desde os anos 70, houve um crescimento de anti-heróis até que nos anos 80 (com a chega de O Exterminador do Futuro) os heróis ou mocinhos bonzinhos e inabaláveis acabaram banidos de vez da popularidade no cinema (e até nos quadrinhos), sendo cada vez mais humanizados e enfraquecidos com seus erros e menos poderes  (o que foi capaz de mudar o Superman nos anos 90). Pra quem não liga para revelações (ou trace esse trecho branco após assistir ao filme) - [Alerta de Spoiler]: talvez isso explique o destino de anti-heróis como Logan, 007, Homem de Ferro e até mesmo John Wick (se é que alguém reclamou da mudança do personagem até aqui: cada vez mais cansado e em visível redenção). [/Alerta de Spoiler]. 

 
Esses mesmos anti-heróis também foram representados pelo cinema independente e pop de Quentin Tarantino com Pulp Fiction: Tempo de Violência - diálogos inteligentíssimos e verborrágicos com uma icônica dupla de mafiosos anti-heróis em uma comédia de ação com violência extrema. Porém, John Wick é quase um Batman: com um terno revestido a kevlar para se proteger das balas (e aí entramos em mais uma reimaginação de personagem se ele estivesse num jogo eletrônico de luta ou de estilo briga de rua com pancadaria gratuita, por exemplo). 

Os criadores do personagem estão cientes de todos esses virais e o quarto longa abraça gratuitamente todas essas tendências. Incrível, o mesmo elenco de produção e até o mesmo diretor (Chad Stahelski) se manterem com qualidade em quatro filmes. Mas eles não se entregaram à zona de conforto: trouxeram cada vez mais evoluções na forma de desenvolver o protagonista e o seu próprio mundo (sem ignorar a passagem de tempo para toda essa história). John Wick é quase um Poderoso Chefão se atentando às tendências da segunda década do Século XXI (com referências a gerações anteriores mas que já entram como uma ideia de nostalgia). E é assim como deve ser, a exemplo da icônica cinessérie Maquina Mortífera (que se estendeu entre os anos 80 e 90 com o mesmo elenco e a mesma equipe de produção e com cada vez mais sucesso entre quatro filmes). 


John Wick 4 é sincero na sua forma de entreter e transfere ao público a melhor experiência já vista dentre os filmes de ação dos anos 2000 até então. É uma montanha russa de emoções que faz o espectador ficar grudado na cadeira. 

Porém, como mencionado na introdução, a audiência é o seu maior problema. Claramente Baba Yaga é um título feito para o cinemão (o cinema pipoca) para lotar shoppings mas também da mais alta qualidade. O problema disso é que o público (igualmente despretensioso) é inquieto feito uma criança de 8 anos e não é acostumado a um longa de quase 3 horas de duração, terminando por atrapalhar a experiência dos demais ligando a luz do celular pra ver o horário constantemente, fazendo burburinhos sobre o filme ou sobre a duração (ou qualquer papo aleatório) ou chegando atrasado (passando com aquele 'clássico cabeção na tela') ou gravando ou atendendo mensagens de voz na cara de pau em meio a sessão (o que é um problema recorrente do Cinesystem da Shopping Via Brasil localizado no Rio de Janeiro). Talvez as cópias dubladas sejam a causa maior desse problema pela quantidade de público casual que parece estar ali no cinema apenas para passeio (pagando R$ 50,00 num combo de pipoca para tirar onda).


Próximo de completar 60 anos, Keanu Reeves é um dos cotados a futuro substituto de Tom Cruise no gênero (como um dos raros astros a levar pessoas ao cinema atualmente pelo seu nome e não pelo nome de um personagem fictício). Seu John Wick já se consagra como um dos melhores personagens de sua carreira, sem dúvida. Aqui, ele continua absurdo, indestrutível e implacável mas seu personagem tem coração e um motivo para existir. O cinema americano realmente precisa de mais heróis assim.

ATENÇÃO: Fiquem depois dos créditos (somente um casal ficou na minha sessão)


 CONHECENDO A TRILOGIA  

Confira aqui uma breve Sessão Crítica dos filmes anteriores da cinessérie John Wick.


John Wick: De Volta ao Jogo (2014)

John Wick resgata a identidade dos melhores filmes de ação dos anos 90 com a violência extrema da década de 80. Ritmo ágil, leves toques de humor negro e com uma certa cartunização. A câmera é exaustiva, pelo excesso de coreografia, mas que ganha algumas surpresas. 








John Wick: Um Novo Dia Para Matar (2017)

Começa lento mas com um ritmo de ação crescente. Tão bom quanto o primeiro. John Wick: Um Novo Dia Para Matar traz transformações profundas e impactantes para um já ousado protagonista fora dos padrões. O leve toque de humor negro é ainda mais afiado. 







John Wick 3: Parabellum (2019)

Mais lento que os anteriores, porém, mesmo com o seu ritmo exaustivo e longo em relação ao anterior, o climax e sua conclusão surpreendem. Abertamente tão caricato quanto os anteriores. Aqui, John Wick 3 se expressa muito mais como uma cinessérie livremente inspirada em um videogame como temática. É um longa refinado para a geração jovem e que se conclui valorizando bastante o elenco feminino - assassinas tão impiedosas quanto o tradicional elenco masculino e que se expressam de igual pra igual.

Curiosidades: John Wick 3 faz referências até mesmo a O Exterminador do Futuro 2.





 RANKING DA CINESSÉRIE JOHN WICK 
1º Lugar - John Wick 4: Baba Yaga (Rotten Tomatoes - 94% 'Certificado Fresco')
2º Lugar-  John Wick: Um Novo Dia Para Matar (Rotten Tomatoes -  89% 
'Certificado Fresco')
3º Lugar: John Wick 3: Parabellum (Rotten Tomatoes - 89% 'Certificado Fresco')
4º Lugar: John Wick (Rotten Tomatoes - 86% 'Certificado Fresco')


 SESSÃO CRÍTICA 

JOHN WICK 4: BABA YAGA
Sessão Acompanhada: 29/03/2023 (Quarta-Feira) - 17:30 - M 09