domingo, 29 de janeiro de 2023

[Sessão Crítica] Eternos: A arriscada aposta do Universo Cinematográfico Marvel


Eternos: o ambicioso projeto em superar Homem de Ferro e Vingadores: Ultimato.
Será que conseguiram ?


Lançado em um período complicado para a indústria cinematográfica e pro mundo ao todo, Eternos veio com grandes promessas do todo poderoso major da MARVEL STUDIOS: Kevin Feige, que prometia um longa-metragem digno de se destacar no Oscar 2022 nas principais categorias: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Ator, Melhor Atriz e por aí vai. 

E como o sucesso do UCM lançou a assinatura de Kevin Feige - tudo o que produtor mais lucrativo da vez falava era como o verdadeiro toque de midas. Enfim: "- Tudo o que ele fala, se cumpre". Logo, a história ficou séria e a pré-campanha da Disney ao Oscar levou Eternos ser considerado para 15 indicações: Melhor Filme, Melhor Fotografia, Roteiro Adaptado, Figurino, Som, Efeitos Especiais, Maquiagem, Trilha Sonora, Edição, Direção e Design de Produção.

A ambição era grande e o UCM já parecia cantar vitória (como os grandes eventos já consagrados da cultura pop vendendo ingressos sem anunciar atrações). Porém, depois de Vingadores: Ultimato, parece que a cinessérie se apresentou comercialmente como o verdadeiro desfecho de tudo: o cinéfilo (e nem mesmo o fã casual de cinema) não está acostumado a uma história contínua a exemplo dos espectadores de séries de TV, leitores de quadrinhos e até mesmo os ansiosos (e problemáticos) consumidores de videogame. 

Filmes costumam ter começo meio e fim definitivo - mesmo que dentro de uma cinessérie em uma saga (que tem um prazo de duração menor que a proposta de um UCM), tudo o que veio após os 10 anos de evento da Marvel Studios soava como luto ou puro desgaste (a exemplo da degradação dos efeitos visuais e as suas constantes produções para streaming - trabalho pesado para todos os colaboradores a fim de terceirizar projetos). O setor audiovisual não estava preparado (e ainda não está) para os mais de 70 décadas de Marvel nos cinemas e isso será sempre um desafio para qualquer grande narrativa de fantasia (O Senhor dos Anéis - que levou 50 anos para ganhar a sua trilogia cinematográfica definitiva - está aí pra provar).

Sem apresentar nenhuma grande surpresa ou grande participação (expectativa natural nos filmes da MARVEL STUDIOS), Eternos foi mais um arriscado investimento em personagens obscuros para o sucesso (como aconteceu com filmes anteriores como Homem de Ferro e Guardiões da Galáxia), este era ainda um grande ponto de interrogação maior que Homem de Ferro em 2008 ou até mesmo Vingadores: The Avengers em 2012 (esse que já era esperado um sucesso garantido considerando a trilha de popularidade crescente pelos filmes interligados).

A promessa gerou curiosidades mas muito mais incertezas do que segurança em superar todo o feito concluído ao longo de um grande evento dos 10 anos de UCM com a saga do Infinito. O desafio em dar continuidade e surpreender o grande público pouco intimidado pela cultura ficcional e fantástica dos quadrinhos era ainda maior do que figurada ao dos gibis e seus mais fanáticos leitores.

A produção teve alguns adiamentos, desde a pandemia em 2020, sofrendo com as limitações de segurança das salas de cinema e o serviço imediato de streaming - que buscava ser a alternativa para a salvação do mercado do entretenimento. 

Eternos era a grande aposta que inicialmente viria antes de Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis sendo adiado de 12 de Fevereiro de 2021 para 5 de Novembro de 2021. Esse cronograma também alterou outros lançamentos como Homem-Aranha Sem Volta Para Casa que viria antes de Doutor Estranho no Multiverso da Loucura (acabando por ter trechos do roteiro alterado às pressas).


Segundo Feige, Eternos seria a grande promessa marcando a história do cinema como o filme de super-herói vitorioso do Oscar 2022 e isso não seria exagero uma vez que nunca vimos uma verdadeira queda do grande evento que é o UCM até então. Porém, o longa acabou nem mesmo indicado a nenhuma categoria do Oscar. 

Valendo lembrar que, se levarmos em consideração, as falas de Feige convenciam uma vez que tivemos a grata surpresa em ver Pantera Negra como o primeiro filme de super-herói indicado ao Oscar de Melhor Filme em 2020. Com esse feito conquistado pela cultura pop numa premiação formal, temos então provas concretas de que um filme de super-herói na categoria principal seria possível (a manifestação de crítica social nas mensagens do filme também se tornaram relevantes para uma campanha forte acerca dessa obra). Mas, apesar de todo o esforço, Eternos estava aquém do que se propunha como cinema arte aos olhos do academia e alguma campanha inclusiva acabou sendo identicamente nula (ou simplesmente: campanhas de inclusão e super-heróis soavam repetitivas agora ?).

Com boa avaliação de público, foi o primeiro longa a receber nota vermelha da crítica especializada em toda a história do UCM - algo em torno de 47% no Rotten Tomatoes, bem abaixo de outros títulos apresentados pela cinessérie rival (Universo Estendido da DC). E então a prometida FASE 4 da grande cinessérie evento da Marvel Studios ganhava a sua primeira grande queda. Era o começo do fim.

O longa teve um faturamento modesto, atraindo consideravelmente alguns expectadores fieis do UCM, embora não tão expressivo se levar em consideração os padrões de um período incomum para a sociedade, ficando em primeiro lugar por algum tempo nas bilheterias brasileiras em sua semana de estreia. Com orçamento de U$$ 200 Milhões, conseguiu se pagar arrecadando U$$ 401 Milhões.

Embora arrastado e confuso, Eternos é um épico ambicioso para o gênero super-herói e que foge do formato tradicional dos longas da cinessérie Universo Cinematográfico da Marvel - sendo algo mais autoral de diretor (um tipo de controle criativo inédito para a história dessa série de projeções) e que parece ter sido um arriscado investimento de teste para manter longevidade. De qualquer forma, a novidade parece ter assustado a crítica especializada. Para o feito, foi escalado a diretora premiada Chloé Zhao (vencedora do Oscar 2021 por Normaland). Dar esse inédito controle criativo a uma diretora recém vencedora do Oscar foi o inesperado investimento dos produtores a fim de iniciar uma nova fase após o sucesso universal dos seus 10 anos de planejamento até Vingadores: Ultimato. E essa parceria de Zhao não se limitou a direção como ela também participou do roteiro. Ter uma diretora premiada por um filme de drama escrevendo um filme de ação com super-heróis seria algo muito interessante de testemunhar. 

Já vimos essa história antes com Bryan Singer (do premiado Os Suspeitos) a frente de X-Men no ano 2000 e se tornando um verdadeiro sucesso. Porém, a junção de cinema arte e cinema de super-herói aqui pode ter encontrado uma série de misturas estranhas a ponto de ficarem incompreensíveis.

Por anos a fio - entre 2008 e 2019 - todos os filmes conectados ao UCM seguia o padrão de diretores obedecendo todas as ideias de produtor. Quando algum deles (e até mesmo atores) não seguiam essa exata receita de bolo, eram afastados e outros nomes entravam no lugar - foi assim que vimos com Kenneth Branagh (que trazia profundidade, com cenário de fantasia vivo, brilhante e elegante envolta de um tom dramático e romântico, no melhor de Shakespeare, ao seu Thor) e Edward Norton (que buscava trazer uma importância de protagonismo maior, mais agressivo e mais inteligente ao seu Hulk). 

Era notável quando a liberdade criativa nessas histórias estavam presentes e o ambiente ficava mais robusto, mas não era a intenção da Marvel Studios deixarem esses personagens tão fortes ou tão destacados na história por algum motivo. 

Há queixas sobre a trilha sonora em Eternos mas há de considerar que ela vai de acordo com o ritmo. Como um filme de origem bem mais lento do que os tradicionais longas do selo MARVEL STUDIOS (bem frenético, bem jovem e com as questionáveis freadas para o humor - que ora encaixa muito bem e em outros casos peca pelo excesso), aqui o tom tenta seguir pro aspecto de fantasia e ficção científica. E aí lembramos Kevin Feige (produtor) seguindo suas origens entre o fim dos anos 90 e início de 2000 com X-Men e Blade: filmes de super-herói com temática mais associada aos filmes tradicionais para se aproximar do grande público. 


Como a linguagem dos quadrinhos de super-herói se tornou bem sucedida com o UCM (passando diretamente pela mesma Marvel que cuida dos seus exemplares de origem), vivemos uma época do cinema em que os gêneros tradicionais se tornaram ainda mais específicos e o cinema de super-herói se confunde como o principal gênero cinematográfico. Se entre o fim dos anos 90 e começo de 2000 as produtoras forravam histórias de super-heróis disfarçando suas origens com gêneros já consagrados da tela grande desde o começo de sua história, aqui a situação muda: Eternos é o filme que não parece ser da cinessérie evento da MARVEL STUDIOS por sair da sua consagrada zona de conforto: aquele padrão muito certinho dos filmes de origem do UCM com os estereótipos de roteiro e demais caracterizações em seguimento - sempre terminando com os heróis enfrentando o seu "outro eu" do mal. Eternos se distancia do intimista e se concentra melhor na construção do seu cenário. Esse é o principal elemento que traz a ele um ambiente mais dramático e mais sério. Mas nem por isso, Eternos foge completamente dos seus irmãos do UCM - e por um bom motivo: aqueles momentos de descontração se encaixam muito bem e ajudam a aproximar melhor o espectador dos personagens. 

Tirando esse momento de descontração, o desenvolvimento emocional parece seco, com diálogos exaustivos e fica melhor enraizado com algumas tonalidades interessantes (embora modestas) de fotografia e uma direção de arte que compõe um cenário convincente (da exploração pelas eras aos tons futuristas combinadas às mitologias grega e romana). 

Assim como também não cai no clichê do alter-ego e apesar de custar a engrenar em meio às idas e vindas no tempo e na história, as peças da conclusão se encaixam de uma forma chocante e surpreendente, pegando realmente o espectador de surpresa e fazendo com que realmente nos importemos com toda a situação proposta e formada pela trama (sem dúvida um dos melhores desfechos de um filme de origem da história do UCM).

Entre altos e baixos, Eternos foi um risco necessário para trazer fôlego a novos voos ao UCM antes de um eminente desgaste natural como toda grande cinessérie de sucesso sofre após repetir fórmulas por muito tempo (ou curto tempo). É isso, Kevin Feige, não caia nessa e continue surpreendendo. 


ATENÇÃO: FIQUEM DEPOIS DOS CRÉDITOS.


"QUANDO OS DEUSES CAMINHAM PELA TERRA"



ORIGEM: Eternos foi um grupo de super-heróis criados por Jack Kirby. A primeira publicação surgiu em Julho de 1976. Nas mãos de seu criador, a série durou 19 volumes até a primeira edição anual em 77. No Brasil, ganhou algumas publicações pela Editora Abril dentro dos quadrinhos do Capitão América e parte da série Superaventuras MARVEL entre os anos 70, 80 e 90 e uma coletânea de capa dura pela Editora Panini em 2021.


Memória Pós-Crítica: Assim como nos consagrados filmes de super-heróis do cinema, Eternos segue uma fórmula histórica ao trazer um surpreendente elenco estelar encabeçado por Angelina Jolie e Salma Hayek em um mesmo pacote.

Memórias da Sessão: Dois dias de muitas trovoadas e chuvas. Fiquei quase o dia todo sem luz no Sábado e só consegui assisti a parte restante de Eternos no Domingo. Este é um dos raros filmes da Marvel Studios que não assisti no cinema devido a pandemia. 


SESSÃO CRÍTICA

ETERNOS
SESSÃO ACOMPANHADA: ESTÚDIO SALA - 15:30 - 21:30 (28/01/2023) & 11:00 (29/01/2023)

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