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sexta-feira, 27 de maio de 2022

[Cinema] A História Sem Fim: Trilogia Redescoberta... Uma Viagem Pelo Tempo

 
Venha comigo embarcar nessa viagem pelos bastidores, análises, curiosidades 
e experiências da época com essa fabulosa trilogia de fantasia e ação.


Michael Ende (1929-1995), o autor original do livro, ficou decepcionado quanto aos rumos do filme original de 1984. As suas sequências seguem a mesma linha, sendo quase uma refilmagem do filme de 84 mas com emoções especiais aos fãs da história. 

A História sem Fim I eu assisti pela primeira vez em sua exibição na Sessão das Dez que acontecia todo Domingo ao fim de Topa Tudo Por Dinheiro - do antigo TVS (TV Silvio Santos e hoje, SBT). Isso era meados de 1990 (e o filme é de 84 - sem dúvida um dos anos mais especiais da cultura pop). 

Foi em 1991, quando o segundo filme chegava às locadoras, tive finalmente conhecimento de sua continuação. Meu pai então chegou de presente com uma porção de VHS. A relação entre pai e filho no filme espelhava muito bem a relação familiar que eu tive com o meu pai em casa - a afinidade e os desentendimentos. É afetuosa e carismática.

A História Sem Fim III é um filme para se assistir como uma criança assistiria. É uma visão anos 90 da história de Bastian. É uma grande surpresa do ano do Treta. Lançado em 1994 - 10 anos após o primeiro filme - o título chegou tímido nos cinemas. Mas eu me recordo muito bem de seu cartaz em preto e branco nas páginas de jornal: "A Aventura Continua" três anos após assistir A História Sem Fim I e II, aquele foi uma enorme surpresa.

Enquanto o segundo filme estreava nos cinemas, o primeiro filme era exibido e reprisado nas sessões do SBT durante as noites de Domingo. 

POLÊMICA NOS BASTIDORES: 
OS DESENTENDIMENTOS, LIVRO CONTRA ADAPTAÇÃO

O livro A História Sem Fim foi originalmente lançado na Alemanha em 1º de Setembro de 1979 (neste mesmo ano, surgia a produtora que cuidaria da versão cinematográfica). 

Cogita-se que Michael Ende (autor do livro) recebeu apenas U$$ 5 milhões para liberação de adaptar sua história para os cinemas. Embora ele tenha sido consultado para revisar o roteiro, Ende não teria ficado satisfeito com a versão gravada e exigiu que seu nome fosse retirado dos créditos iniciais do filme de 84 e o título do longa alterado. Ao ter seu pedido negado, ele teria processado a produtora alegando que Petersen (diretor do filme) teria reescrito o roteiro e alterado a importância dos personagens fantásticos. Ende, no entanto, teria perdido o processo.

Nascido em 1929, Michael Ende, nasceu na Alemanha e era filho de um pintor surrealista que foi banido pelos nazistas em 1936. Aos 16 anos, desertou ao ser chamado para a guerra em 1945. Foi ator, crítico e finalmente escritor. Ende faleceu 1 ano após o terceiro filme. 



A HISTÓRIA SEM FIM: A TRILOGIA

NESTA POSTAGEM
(use o campo busca, copie e cole a devida seção)

A HISTÓRIA SEM FIM (1984)
A TEORIA DO FILME ORIGINAL
QUANDO A FANTASIA TRANSCEDE A REALIDADE
O FIM DE TUDO QUE EXISTE

A HISTÓRIA SEM FIM II (1990)
A HISTÓRIA PRECISA CONTINUAR

A HISTÓRIA SEM FIM III (1994)
REVIVENDO FANTASIA COM MIXAGEM ANOS 90
A VERGONHA DE JACK BLACK
UM TOM MAIS FRENÉTICO

O EPÍLOGO DA TRILOGIA REDESCOBERTA
TRANSFORMAÇÕES QUE FAZEM TODO O SENTIDO

BÔNUS
CINEGRAFIA
ALÉM DOS FILMES
UMA VIAGEM PELO TEMPO

ENCERRAMENTO
TRILOGIA REDESCOBERTA



A TEORIA DO FILME ORIGINAL

A História sem Fim de 84 pode ser interpretado em duas condições: os acontecimentos podem se dividir entre fantasia e realidade ou, possivelmente, tudo uma fantasia de Bastian (Barret Oliver) ? Se Ende permitisse, teríamos uma refilmagem que poderia chegar a essa interpretação (o que seria um conceito bastante profundo), porém, o autor jamais permitiria. O longa se desenvolve até a metade do livro. O começo é aparentemente morno para audiências atuais mas prende pela trilha sonora de Limahl com arranjo do produtor Giorgio Moroder (lenda da música eletrônica). A Imperatriz é interpretada pela encantadora Tami Stronach (que tinha apenas 10 anos e teve de usar dentes postiços da frente devido a perda dos incisos).

Atreyu (Noah Hathaway) e Bastian (Oliver) são a mesma pessoa em universos diferentes (sendo Atreyu a versão aventureira de Bastian) se levar em consideração que fantasia e realidade estão separadas na imaginação do protagonista. Por isso, é Bastian (na forma de Atreyu) é quem aparece cavalgando sobre o Dragão da Sorte no icônico cartaz. Porém, a narração oculta ao fim do filme pode quebrar essa teoria. 


QUANDO A FANTASIA TRANSCEDE A REALIDADE


O papel de Noah no filme é extremamente competente. É um elemento ultra raro no cinema: uma estrela mirim de ação. Num misto de ação e drama, Noah é um dos melhores personagens do filme defendendo o papel do grande guerreiro Atreyu.

G'mork, uma espécie de lobo e demônio, é extremamente assustador. Fora o desafio da esfinge o qual Atreyu precisa enfrentar (só de olhar aquelas estátuas, dava um frio na espinha). E em falar nisso, compartilhando uma experiência pessoal: eu lembro que, literalmente, sempre tive medo do escuro e o mesmo sempre aparecia em minhas imaginações férteis aquele lobo preto naqueles aqueles olhos vermelhos e avisando: "-Hoje à meia noite" com aquelas falas com som abafado de corredor como se ouvia nos antigos anúncios da TV Globo e aquela musiquinha de encerramento da emissora. 


O FIM DE TUDO QUE EXISTE


Bastian e a Imperatriz: o fim de tudo.

Embora A História sem Fim seja considerado uma história para crianças, o filme de 84 deixa um elemento bastante expressivo e que nunca envelhece. Reunindo inspirações da cultura oriental (o Dragão da Sorte é um belo exemplo disso), temos o apocalipse como um vilão personificado na forma do "Nada". É a destruição de tudo o que existe, e isso é muito bíblico. O protagonista é um sonhador e é a peça importante para salvar Fantasia (o mundo em que vivem as criaturas imaginárias). Em tempos de guerra e assuntos tão críticos, nos envoltamos em esperança e no belo mundo da imaginação para nos refugiarmos (não é à toa a overdose de filmes de super-heróis e o qual eles fazem tanto sucesso: o desejo otimista da humanidade). 

A História Sem Fim, definitivamente, não é história para criança dormir. Mas, sim, é disparadamente um dos melhores e mais ousados filmes do diretor alemão Wolfgang Petersen. Um cineasta que possui uma variada filmografia que envolve filmes de guerra, ação, épico, drama e aventuras em alto mar. A História Sem Fim é o seu primeiro grande filme de fantasia do catálogo. Mais tarde, dirigiria Tróia (a adaptação de 2004 da lenda grega Aquiles), logo após filmes como Força Aérea Um (o "Duro de Matar" presidencial estrelado por Harrison Ford em 1997) e Na Linha de Fogo (clássico suspense de 93 estrelado pelo rei dos filmes policiais e dramas de faroeste, Clint Eastwood, e co-estrelado pelos brilhantes John Malkovich e Rene Russo; elenco icônico de hiper estrelas). 


Outro marco na história é que seu orçamento (U$$ 60 Milhões) tornou o longa o filme mais caro já feito fora dos E.U.A. até aquele momento. Arrecadando expressivos U$$ 100 milhões, o filme se pagou e demonstrou interesse à Warner (que, até aqui, era uma distribuidora do filme) em continuar a história.


Oppenheimer, o homem por trás 
das vozes

Curiosamente, Alan Oppenheimer, a voz do Come-Pedra, o dragão Falkor e do lobo G'mork  (as principais criaturas da história) é também o narrador. Ficou também conhecido por ser a voz original do Esqueleto (He-Man), a animação quarentista Super-Mouse e o seriado clássico O Homem de Seis Milhões de Dólares (1974-1978). 

A História Sem Fim (1984) foi também o primeiro grande sucesso da Constantin Film, dos produtores Bernd Eichinger e Bernd Schafers. Criada em 1979, a produtora foi responsável por diversos títulos de sucesso e alguns vencedores do Oscar: O Nome da Rosa, A Casa dos Espíritos, O Sexto Sentido, Dança com Lobos e muitos outros.


A HISTÓRIA PRECISA CONTINUAR

Embora não estivesse cogitado que A História Sem Fim fosse divido em uma cinessérie de filmes para contar a história toda - a exemplo de O Senhor dos Anéis - em 1990, veio a sequência mas de uma forma independente: com outro diretor e um novo intérprete. 

Dessa vez, a Time Warner (uma divisão interna da própria Warner Bros.) entrou na produção com um investimento menor. Na direção, sai Petersen e entra o desconhecido George Trumbull Miller, cineasta escocês que também é produtor. O nome confunde com o icônico diretor e criador de Mad Max.

A História Sem Fim II vem com 5 minutos a menos em relação ao filme original (cerca de 89 minutos, na média dos longas animados da época). Intitulado nos E.U.A. como: The Neverending History II: The Next Chapter (A História Sem Fim II: O Próximo Capítulo se fosse oficialmente traduzido com o subtítulo), adapta a segunda parte do livro com bastante liberdade criativa. 

Outra grande surpresa é a presença de John Wesley Shipp como o pai de Bastian (Jonathan Brandis). Em 1990, Wesley Sipp marcava a televisão como The Flash, o icônico seriado que trazia para a telinha a nova era da febre dos super-heróis DC desde a Batmania de Tim Burton: mais sombria e mais humana.

A trilha sonora de Robert Folk é delicadamente sensível e nos faz entrar literalmente na magia da trama - a começar pela longa introdução com letreiros se apresentando pelo espaço (algo um pouco parecido com a cinessérie Superman de 79) enquanto a visão viaja por estrelas em leve velocidade. Também trouxe uma nova canção de Giorgio Moroder: Dreams We Dreams.  Aparentemente, Michael Ende pediu para que seu nome não fosse creditado no filme de 1984 - tendo uma introdução sem citá-lo (porém, é possível ver nos créditos finais). Neste segundo capítulo, é possível ver o nome de Michael logo no início. 

Marisa Leal fez a dublagem de Bastian na versão para VHS e cinema - o que retrata a sensibilidade maior ao representar o personagem como uma criança.

A Imperatriz menina, na tradução da dublagem brasileira (que, por sinal, tem um elenco memorável e uma das melhores já produzidas), é aqui interpretada por Alexandra Johnes. A versão brasileira tem direção de Newton de Matta com gravação na De La Riva. Curiosamente, a dublagem de Jonathan Brandis é feita pela Marisa Leal (A Pequena Sereia, Família Dinossauros, Maria do Bairro) e Atreyu por Danton Mello (irmão de Selton Mello). Houve também uma segunda dublagem para a tv paga, SBT e HBO MAX com direção de Newton de Matta e dublagem de Peterson Adriano (Bastian) para os estúdios Hebert Richers.

A relação entre pai (Brandis) e filho (Shipp) é o ponto mais alto e mais marcante do filme. Eu me recordo muito bem do exato momento em que me peguei de surpresa ao chegar na sala (o nosso Estúdio Sala), avistar sobre a estande uma pilha de outros títulos, e, do lado, o meu pai gravando a fita VHS recém alugada para a nossa coleção particular. Era meados de 1993. Fiquei surpreso que havia uma continuação de A História Sem Fim e a cena estava exatamente em algum momento em que Bastian e seu pai se reencontram (logo após a cena da cachoeira). Dá uma emoção só de lembrar. 

Era um período em que recontratar um novo elenco para continuações era comum. Embora, a trilogia A História Sem Fim seja lida como uma cinessérie um pouco distinta uma da outra justamente pelo tom de cada longa e por procurar retratar os anos de vida do personagem através de gerações distintas. Portanto, isso acaba sendo compreensível - a exemplo de algumas outras cinesséries como 007 e Jack Ryan. Embora, no caso de James Bond, isso teria sido incidental até se tornar uma transformação comum com visões e formas diferentes do personagem ao longo dos anos. 

Brandis é brilhante e segue como um ótimo Bastian e tão bom quanto o original. Infelizmente, o talentoso astro mirim veio a nos deixar em 2003. 

Como confirmado pelo próprio Wesley Shipp, Brands também chegou a aparecer no episódio 7 ("Child's Play") do seriado The Flash (1990-1991) no papel do personagem Terry Cohan. Com 48 minutos de duração, o episódio foi ao ar em 15 de Novembro de 1990 - 1 mês após o lançamento de A História Sem Fim II.

O nome completo de Bastian é Bastian Balthazar Bux. Na primeira versão dublada, o nome e o ultimo sobrenome do protagonista pode ser ouvido pela primeira vez aqui. O personagem está mais presente nas cenas de ação e acaba sendo o protagonista de todas as ações do filme deixando Atreyu (Kenny Morrison) relegado a apenas um herói de ação coadjuvante dessa vez. 

O passado do protagonista e a relação familiar é um ponto alto do filme. Aqui, a mãe de Bastian (Helena Michell) é revelada pela primeira vez em lembranças.



A beleza de Clarissa Burt petrifica ao esbanjar charme, 
carisma, vilania enquanto desfila em diversos trajes 

Como de costume nesta cinessérie, há um antagonista e um grande vilão - como vemos em Star Wars: um aprendiz e um mestre oculto na saga contra o lado negro da força (embora o livro que deu origem a toda A História Sem Fim tenha vindo bem antes). Numa nova forma de recontar as ameaças do original em favor de uma nova aventura, o "Nada" é substituído pelo "Vazio" e o existencialismo volta em questão. Em A História Sem Fim, a verdadeira ameaça não tem rosto ou forma. A ameaça antagônica que encobre o grande vilão dessa vez, sai o lobo e é personificado em Xayide, uma vilã de figurinos excêntricos na pele de Clarissa Burt - que conquista com sua imponência esbanjando charme e inteligente crueldade em meio a distribuição de olhares penetrantes, expressões pausadas e hipnotizantes - a atriz supermodelo seduz mais do que assusta. E é justamente por isso que a atuação de Burt torna Xayide uma verdadeira bruxa dos contos de fadas das mais perversas. Disparadamente uma das melhores escalações do elenco ao lado de Brandis e Wesley Shipp. Xayide, da mesma forma que G'mork, é apenas servente ao grande vilão que desencadeia toda a história ou uma serva de qualquer um que tenha um grande poder, como sempre, por troca de interesses. 


Em um estimativo custo de produção avaliado em mais de U$$ 36 milhões (aproximadamente U$$ 23 milhões a menos do que o primeiro ), A História Sem Fim II teve uma arrecadação de U$$ 17, 5 milhões contra os U$$ 100 milhões do filme original (aproximadamente, 6 vezes menos). Teve sucesso maior na Alemanha (terra de origem) arrecadando mais de U$$ 3 milhões a mais. 

Antes de se tornar atriz, Clarissa Burt foi uma supermodelo. Hoje, é empreendedora, advogada e escritora. Uma ótima adição à esta memorável cronologia cinematográfica.


REVIVENDO FANTASIA COM MIXAGEM ANOS 90


O estilão MTV do terceiro capítulo diverte alguns e assusta outros

Fantasia e Rock'n Roll. É como podemos resumir A História Sem Fim III, se compararmos ao sensível filme de 84 ou o familiar segundo capítulo de 90. O terceiro capítulo procura desenvolver uma história original, ignorando os eventos do livro e procurando trazer alguns elementos inspirados no filme de 84 - como uma celebração ou uma revisita noventista do conto cinematográfico que fez história como o primeiro filme mais lucrativo fora de Hollywood.

Tudo o que realmente parece é o de ser uma verdadeira festa - assim como costumam ser o terceiro filme de toda cinessérie: uma celebração ao filme original (ou, em partes, uma memória dele). A verdade é que este terceiro capítulo procura quebrar esse elo padrão com os anteriores.

Nos E.U.A. o filme foi intitulado The Never Ending Story III: Escape from Fantasia - A História Sem Fim III: Escapando de Fantasia, numa tradução completa -  embora o subtítulo americano não faça muito sentido com a trama. O slogan por aqui aparece com os dizeres: " A Aventura Continua", o que faria mais sentido. Numa tradução completa mais próxima ao do cartaz brasileiro: A História Sem Fim III: A Aventura Continua. É um modelo de slogan que soa nostálgico só de ler por estar presente em todas as divulgações de uma sequência durante aquela década. 

No álbum da trilha sonora do filme, há ainda o slogan: "Here Comes the Fantasians" - algo como: "Aqui Vem os Fantasianos" - um trocadilho com "Marciano" ?  Para dizer que eles não são do nosso mundo ? Fica a curiosidade. 


A VERGONHA DE JACK BLACK

Em seu primeiro papel no cinema, Jack Black é a grande surpresa do elenco. Na época, ninguém jamais imaginaria que ele seria o mesmo que explodiu no cinema de comédia dos anos 2000. Aqui, ele faz um raríssimo papel de vilão do filme. E é justamente por isso, ao assumir o tom bad boy, algo tão pesado e diferente em comparação à toda a sua cinebiografia. Da mesma forma que é mal, ele é extremamente divertido - valendo comparar aos Cobra Kai de Karatê Kid: o antagonista que persegue o herói (hoje, podemos dizer: bullying). 

Quando ainda não era uma grande estrela do cinema, Jack era um grande fã do filme original e aceitou participar deste terceiro capítulo. Infelizmente, houveram notícias pelos corredores de que o ator teria se recusado a falar sobre o filme em diversas entrevistas ao longo dos anos devido a má recepção. Por não ter ficado satisfeito com o resultado, acabou ficando envergonhado de comentar.


UM TOM MAIS FRENÉTICO

Karin Howard, roteirista do segundo, retorna neste escrevendo uma história muito mais dinâmica e muito mais agitada e divertida. Assistindo anos e anos depois, o longa se torna uma verdadeira comédia divertida com um toque de emoção familiar. E tão bom quanto em sua época, o filme envelheceu bem e continua sendo o melhor filme da trilogia: espanta a tristeza e nos traz uma bela celebração non-stop com pegadas de geração MTV. 



William Hootkins e Mac McDonald, respectivamente, heranças de Batman (Tim Burton, 1989)
estão entre as vozes das criaturas fantásticas do filme.

Peter McDonald (Rambo III) assume a direção conversando bem com o bom ritmo do roteiro numa intensa aventura de fantasia e humor. Demonstrando aqui a sua vasta experiência com o ritmo frenético dos filmes de ação da década de 80 e 90. Um de seus primeiros trabalhos notáveis foi o de co-diretor em Batman (1989). Temos pelo menos dois papeis vindo do grande sucesso de Tim Burton: William Hootkins e Mac McDonald. Hootkins assumia o papel do oficial corrupto, Eckhardt, e McDonald, Terence, chefe dos capangas do Coringa. Hootkins é a voz da Árvore da Sorte e Falkor (o mais famoso interprete, desde o lendário Alan Oppenheimer) e McDonald encarna uma personagem feminina na trama (a hilária mulher do sr. Come-Pedra ou Mrs. Rockchewer na cópia legendada). Posteriormente, o mesmo diretor teria dirigido também Van Damme em Desafio Mortal (1996).

Se o segundo se parecia um pouco com o primeiro filme, este toma um rumo completamente único. Embora, os mais conservadores prefiram o tom sério do primeiro (que continua incrível) este explora muito melhor os personagens coadjuvantes e o próprio Bastian, agora assumindo toda a ação da história (sem a presença do guerreiro Atreyu), dividindo espaço com uma nova personagem: Nicole.

Kevin McNulty e Tracey Ellis são os pais de Bastian da vez, assumindo os nomes Barney e Jane Bux respectivamente. Desta vez, o passado familiar do protagonista não é explorado justamente por ser quase uma nova origem que pouco se conecta com os filmes anteriores - apenas sabemos que ele "está de volta à Fantasia" mas a forma como a história é contada em suas sequências é quase como se ele estivesse conhecendo o livro pela primeira vez e aqui não é diferente. Embora isso tenha uma justificativa: apresentar uma nova abordagem a novas audiências. 

O papel de Bastian agora fica à mercê de Jason James Richter, o astro do sucesso Free Willy e o colírio mirim daquela temporada. Nicole é assumida por Melody Kay (Férias em Alto Astral). A ótima química da dupla traz muita doçura em tela e uma certa rivalidade entre os dois (levemente construída) reservam apaixonantes momentos de diversão intensa.

Melody (graciosa) tem até momentos de canto no filme . Nesse momento, a produção expressa descrições e detalhes visuais que ambos os irmãos estão partidos: Nicole teme um novo divórcio da mãe e Bastian tem apenas o pai (a mãe não é mencionada nesse capítulo). Diante dessas faltas, esta nova família precisa ganhar força se unindo.

Segundo Howard, haviam ideias de que Nicole (Melody) fosse realmente a antagonista da história. Bastian passaria o maior tempo em Fantasia e a sua meia irmã o atrapalharia na trajetória, porém, o ajudando em alguns momentos. Esse papel acabou ficando para os "Sórdidos" liderados por Slip (Jack Black). 

E agora, quem é o vilão mais cruel de toda a trilogia ? Com toda a confusão gerada, e o tom de comédia, o papel de Slip é mais suavizado aqui mas o tom pesado pode ser sentido com relação às decisões catastróficas que ele toma na história: causando o caos e prejudicando as relações familiares de todos. Isso é ou não é a decisão mais humana de um vilão numa trama ? 


Julie Cox: classuda 

Outro destaque também fica com Julie Cox, assumindo agora o papel da Imperatriz, com bastante atitude e atuações de maior presença. Passamos a realmente acreditar aqui que estamos diante de uma personagem com costumes reais. Uma adição de troca de papel tão boa quanto Tami Stronach, do original de 84. Cox já tinha 20 anos e na terceira parte do livro, a Imperatriz já está adulta (o que pode significar uma adaptação, em partes) e Falkor, o Dragão da Sorte, é apenas referido como O Cão - Falkor já possuía realmente características visuais de um cão (apesar de seu corpo longo semelhante a de um lagarto). 

 
Este terceiro capítulo é em tom de comédia mas que parece caber muito bem dentro dessa evolução cinematográfica, seja pela ótima escalação de elenco ou seja pela ótima dinâmica de todos os personagens e em especial as criaturas mágicas - com produção de Jim Henson (Muppets) - que estão muito mais interessantes aqui. Embora Falkor, o Dragão da Sorte, tenha perdido seu visual sereno e sábio, como um guru, e é colocado no meio de uma tremenda confusão (o que o ocupa demais para usar os seus elementos de sabedoria) e ficando um pouco espalhafatoso. Em comparação, Come-Pedra e sua família estão muito mais interessantes, arrojados e engraçadíssimos (especialmente o próprio). Isso vale também citar o casal de anões: reajustados na história, uma vez que no primeiro filme isso soava meio confuso: se eles eram anões ou eram do mesmo tamanho de Bastian.

A cinessérie A História Sem Fim teve seu relativo sucesso mas não tão expressivo a ponto de, provavelmente, manter uma grande parcela de fãs exigentes com o mesmo elenco: além de ser uma audiência infantil acompanhando, existe também a ideia de que Bastian tem suas fases da vida - da infância à juventude.  E apesar de algumas semelhanças de um filme pro outro, é sentido o tom diferente em cada capítulo - e esse aqui é radicalmente diferente: melhorando tudo para uma era pós-globalizada. É sentido também que as criaturas mágicas já agregavam costumes da sociedade moderna do nosso mundo. 

Dessa vez, o filme volta a ter duração longa, com 1 minuto a mais em relação ao filme original (95 minutos) mas o ritmo é extremamente recompensador e o tempo não é sentido. 

E o que embala todo esse ritmo ainda melhor é a trilha sonora. Sempre um capricho nos anteriores, mas aqui eles não deixaram a peteca cair, tanto na canção instrumental de abertura brilhantemente revisitada por Peter Wolf quanto na trilha sonora cantada composta por vários artistas e remixes maravilhosos e raros no repertório sonoro. Uma delas falam muito da mensagem da cinessérie que é o "-Estou em missão do amor. Salvando os sonhos da nova geração..",  Mission of Love de Nemorin e ganha o nosso PUNHO DOURADO de Melhor Canção. Toda a trilha substitui muito bem a sensação de emoção que foi Limahl em 84 em seus 10 anos de memórias e aqui se torna um show intenso de música eletrônica, hip-hop, reggae e um certo pop/ rock de primeira. Algumas canções, citando o título do filme ou não, fala-se muito de transição para a nova geração: era o ano de 94, era pós-globalização, tecnologia em alta com o Windows, computadores, realidade virtual e um mundo de Fantasia e livros no meio de tudo isso. É a História Sem Fim que veio consertar tudo.


Curiosamente, este foi o primeiro longa metragem a receber Kiss From A Rose (Seal) - tema principal de Batman: Eternamente em 95. 


Esse é o primeiro filme da cinessérie que o nome do meio do protagonista é mencionado junto ao nome completo: Bastian Balthazar Bux. 


 Nos cinemas americanos, foi o primeiro a receber classificação livre. Os dois filmes anteriores   teriam recebido a classificação 13 anos. Nos cinemas brasileiros, o filme teria recebido classificação 12 anos em alguns cinemas na primeira semana e, posteriormente, classificação livre.
 Jack Black em sua aparição no filme O Pentelho (à esquerda
e no badalado seriado Arquivo X (à direita)

Ao longo dos anos 90, Jack Black galgava uma carreira sem ninguém perceber. Uma aparição bem curiosa foi no seriado Arquivo X (The X Files, 1993-2002). Jack dá as caras na terceiro episódio da 3ª temporada intitulada O Raio da Morte (D.P.O.). Ele também contracenou com Jim Carrey em O Pentelho (1996), comédia de humor negro que teria sido dirigido por outra (pasme!) lenda da comédia: Ben Stiller. 

A História Sem Fim III teve um orçamento aproximadamente semelhante ao anterior: U$$ 17 milhões (alguns milhares de dólares a menos), sendo o mais barato da trilogia. Teve uma arrecadação de apenas U$$ 5 milhões, encerrando a saga nos cinemas.

E este é o seu Punho Dourado de 
Melhor Canção: Mission of Love (Nemorin)


O EPÍLOGO DA TRILOGIA REDESCOBERTA

TRANSFORMAÇÕES QUE FAZEM TODO O SENTIDO

Existe uma discussão acalorada sobre A História Sem Fim III que a gente só acaba sabendo mesmo pela internet. É aonde conhecemos o quão profundo e problemático são as tribos e comunidades de fãs de uma marca, série de filmes, bandas de música e etc (ou insira qualquer-grupo-base-com-seres-humanos-no-comando por aqui). Tudo isso por serem extremamente conservadores de uma forma absurdamente exagerada. Tudo bem que o terceiro capítulo se desprendeu dos anteriores e faz referências à cultura pop chegando a ser quase uma paródia. É um estilo de modelo controverso, que pode desagradar alguns, mas funciona muito bem aqui pois melhora e atualiza alguns personagens sem descaracterizá-los - como é o exemplo da família Come-Pedra: o que dizer do impagável " Born to Be Wild - The Stoneman " ? Ou quando o próprio Come-Pedra faz referência à famosa banda: "- Eu vou trabalhar para os Rolling Stones" enquanto o filho está assistindo desenho animado numa parede projetora (já previram as televisões de parede: visionários). Além do casal de anões - Engywook (Tony Robinson) e Urgl (Moya Brady) - que já eram briguentos e aqui estão mais neuróticos do que nunca: praticamente caricaturando aqueles casais que adoram umas d.r. (a tradicional discussão de relacionamento) feito velhos. 

Talvez o arco dos irmãos (Bastian e Nicole) seja o mais equilibrado aqui por envolver um drama sobre compreensão em se acostumar com as aproximações de uma nova família em formação (e não sofrer com avaliações repentinas - ainda que contra as suas vontades), e alguma impertinência sobre breves comunicações que destoam seus mundos,  há a invasão de privacidade (é daí que surgem as boas tiradas).  

Essas inserções de humor parecem não fazer sentido para quem não se interessa em filosofia ou em existencialismo mas é o preço quando aquele mundo mágico e puro intensifica seus conhecimentos se misturando com a loucura que é o nosso mundo real: um misto de paródias e dramas. Até a própria Imperatriz questiona seus poderes em comparação ao poder aquisitivo sobre consumir roupas - quando ela é enaltecida ao ser lembrada de seus valores por um de seus assistentes. A paródia funciona quando ela faz sentido para a narrativa, como é o caso aqui - e é o caso de filmes recentes no campo de super-heróis, como Thor Ragnarok, que só melhorou toda a trajetória do Deus do Trovão dos cinemas lá na Marvel Studios.

A influencia já existe também em nossa sociedade desde o início dos tempos: é o que moldou e formou novas culturas ou até etnias (seja através de exploração ou de uma imigração de costumes). Portanto, é o que transformou e atualizou a história da cinessérie até aqui.

Não existe um único gênero na vida de ninguém, na verdade. Por isso temos três filmes com climas muito distintos um do outro - é a democracia cinematográfica: mesmo eu não me agradando tanto com algum título de determinada cinessérie, eu nunca torço para a inexistência deste pois é preciso que a visão seja democrática e a importância das adaptações de A História Sem Fim mostraram isso. 


CINEGRAFIA
A HISTÓRIA SEM FIM
(Die Unendliche GeschichteDireção: Wolfgang Petersen, 1984, 94 minutos, Ação)


Sinopse: Quando o jovem Bastian, pegou emprestado um misterioso livro ele jamais sonhou que ao virar uma página seria levado a um mundo de fantasia onde pudesse ver um caracol de corrida, um morcego planador, um dragão da sorte, elfos, uma Imperatriz Menina, o valente guerreiro Atreyu e uma pedra ambulante chamada Come-Pedra.













A HISTÓRIA SEM FIM II 
(Die Unendliche Geschichte IIDireção: George T. Miller, 1990, 89 minutos, Ação)

Sinopse: A História Sem Fim II deliciosamente trás de volta os personagens e criaturas da obra de Michael Ende, para uma nova história na qual Bastian deve salvar Fantasia de uma terrível feiticeira e encontrar coragem que lhe falta na vida real. Velhos amigos, Atreyu o menino guerreiro, Falkor o dragão da sorte e Come-Pedra se juntam a Bastian.



A HISTÓRIA SEM FIM III 
(Die Unendliche Geschichte III: Rettung aus Phantásien
Direção: Peter MacDonald, 1994, 95 minutos, Ação)

Sinopse: Bastian (Jason James Richter) se esconde em uma biblioteca, ao fugir de uma gangue de garotos. Lá ele encontra o livro A História Sem Fim. Decidido a esquecer seus problemas, ele começa a lê-lo e novamente chega a Fantasia. Só que o líder da gangue encontra o livro caído no chão e passa a escrever nele diversas maldades e perigos, o que faz com que o reino torne-se um pesadelo. O único jeito de salvar Fantasia é com Bastian retornando ao mundo real para resgatar o livro.


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ALÉM DOS FILMES
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No ano de 1995, A História Sem Fim ganhava uma série animada. Após sua passagem pelo cinema, era a hora de ir para a TV. O desenho reunia personagens e elementos vistos nos três longas do cinema com diferenças visuais para se adaptar ao modelo de animação. Foram 26 episódios entre 1995 e 1996, com produção da Nelvana, de Malícia (filme de suspense de 1993 com elenco estelar: Nicole Kidman, Alec Baldwin e Bill Pullman) e o obscuro Guerra nas Estrelas: Especial de Natal (The Star Wars Holiday Special, 1978). Teve exibição na HBO e distribuição pela HBO Home Video no formato VHS em 2001. Aqui no Brasil, foi exibido pelo canal Nickelodeon. 

Em 1996, com distribuição da HBO Kids, ganhou um filme animado de 89 minutos intitulado A História Sem Fim: As Aventuras Animadas de Bastian Balthazar Bux (The Neverending Story: The Animated Adventures Of Bastian Balthazar Bux) que pode ser conferido aqui


Em 2001, ganhava uma nova adaptação para a televisão: Contos da História Sem Fim (Tales from The Never Ending Story). Na sinopse, a história adapta para o Século XXI a saga de Balthazar Bux, chegando a referi-lo como um consumidor habitual de televisão e um vidrado em videogames quando então encontra o livro mágico que muda a sua vida para sempre.

A sinopse da série descreve exatamente aquela previsão que se tinha a respeito de uma futura refilmagem cinematográfica citada no começo desse artigo. Confira:

Bastian Balthazar Bux, de 12 anos, tinha perdido a maravilhosa imaginação de quando era criança, entre envelhecer, assistir TV, ir à escola e brincar com seu Gameboy. Mas quando sua mãe morre de repente, a imaginação ilimitada de Bastian renasce. Bastian se depara com um livro mágico, "A História Sem Fim", em uma livraria curiosa. Inspirado no livro, Bastian cria um mundo encantado chamado Fantasia, habitado por dragões, cavaleiros das trevas, heróis e vilões variados. A aventura de uma vida começa quando Bastian projeta seu alter-ego fantasiano, Atreyu, em uma batalha contra a força sinistra de O Nada. Esta terrível força ameaça destruir Fantasia e seu governante, a Imperatriz Infantil. Apenas Atreyu, um garoto de 14 anos da floresta e herói improvável, pode salvá-la e encontrar uma cura para o Nada. As experiências de Bastian no mundo real; como seu luto, sua nova, às vezes, tumultuada vida com seu pai, seus problemas com um valentão da escola e seu terror de um novo professor substituto sádico, são espelhados pelas experiências de Atreyu em Fantasia. Junto com Atreyu, Bastian supera obstáculos, aprende importantes lições de vida e ganha conhecimentos que o ajudam a se adaptar à morte súbita de sua mãe.

É interesse citar aqui: Atreyu é descrito como a outra identidade de Bastian - algo que fica meio que sugestivo no primeiro filme e que, em teoria, previ que isso seria explorado em adaptações posteriores e parece que foi o que aconteceu na série de TV. 


Atreyu (Tyler Haynes) ao lado de uma nova personagem: Flygirl (Stéfanie Buxton). Aparentemente, a série parece adotar um estilo steampunk (estilo de ficção científica com tecnologias e piratas no deserto). É percebido um misto de cherokee (índios americanos) no visual de Atreyu - como também visto com mais evidência no segundo filme. 

Xayide (Victoria Sanchez) intimida com o seu exército sombrio. A exemplo do filme de 1990,
aqui a vilã também possui uma atração por diversificar trajes luxuosos.


G'mork parece apenas um lobo na série de TV mas assusta. 

No desenho animado: A senhora Papa-Pedras (foto menor acima) tem formas humanas 
e G'Mork é agora um lobo branco. 

A série de 2001 também foi escrita por Karin Howard (a mesma roteirista dos dois últimos filmes) e dois diretores: Giles Walker e Adam Weissman. A série canadense teve distribuição pela Muse Entertainment, de 1 de Outubro de 2001 a 1 de Janeiro de 2002. Foi exibida pela HBO apenas em 2002 e teve um total de 13 episódios.

O lançamento da série veio antes da primeira parte da trilogia O Senhor dos Anéis - que saia no fim daquele ano e revivendo uma overdose de produções do gênero fantasia ao longo do período. 


UMA VIAGEM PELO TEMPO 
Galeria dos filmes (e do desenho) em VHS



TRILOGIA REDESCOBERTA


E aí, qual a sua maior lembrança de A História Sem Fim ?
Você também gosta de sonhar ?
Criar histórias ?



ESTAMOS JUNTOS.