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sexta-feira, 1 de outubro de 2021

[Sessão Crítica] 007: Sem Tempo para Morrer (2020)

O BOND DA REDENÇÃO 

brutal e verossímil, o primeiro 007 do século XXI  
chega ao seu auge e deixa um legado difícil de superar


Não é de hoje ou de ontem. Desde sempre, a cinessérie Bond buscou se comunicar com as tendências 
de sua geração. Quando surgiu lá nos anos 60 -das adaptações dos livros de Ian Fleming- os longas buscavam levar em consideração o título dos romances com o tipo de personalidade assumida por seus intérpretes. Após Sean Connery marcar sua passagem como 007, o agente mais famoso do cinema, tivemos Roger Moore, George Lazemby, Timothy Dalton, Pierce Brosnan e, por fim, Daniel Craig. 

Cada interprete com a sua identidade. Brosnan representou com um amalgama do que havia de melhor nos anteriores, especialmente Moore e Connery. Craig surgiu como o 007 do século XXI, com mais atitude, extremamente volátil e muito visceral.  

A cada novo filme, num seguimento inédito de cronologia, o 007 de Casino Royale (2006) é desafiado 
numa missão mais difícil que a outra - sempre com ares de redenção. O excesso de violência também é notável nos filmes dessa última era - a cada cena de ação em 007: Sem Tempo Para Morrer, eu passava 
a me recordar da frase do eterno Desmond Wilkinson Llewelyn (o Q dos filmes clássicos de James Bond, desde 62 a 1999): "-Eu assisto aos filmes de Bond para relaxar". Curiosamente então, ficamos imaginando o que Desmond pensaria sobre um 007 tão autêntico e realista apresentado por Craig. 

Este 007 do século XXI quebrou todas as regras de etiqueta e cada vez mais se tornou um anti-herói palpável, crível, que nos faz ter vontade de acreditar que ele realmente existe. Essa é a magia da ficção, de fazer com que o espectador seja transportado para a história ou que mantenha aqueles momentos ou aquela cena em específico na cabeça por dias ou até mesmo pelo resto de suas vidas.  

No filme de origem, há 15 anos (parece que foi ontem), o 007 da era Craig surpreendeu o mundo do cinema ao nos trazer este Bond autêntico. E neste, de 2021, que se encerra em definitivo a passagem mais longa em um papel de James Bond, se estabeleceu todo esse conjunto que estava se montando. Agora temos uma cronologia completa nunca antes vista na série - da origem ao desfecho de um personagem que marcou história no cinema de ação - passando por todo um tratamento inédito que mescla elementos mais profundos em valorização de coadjuvantes (especialmente o elenco feminino) e gênero (incluindo suspense e drama). 

Infelizmente, Danny Boyle se recusou a participar com sua visão de história em colaboração com os produtores. Diretor de Oscar que certamente traria uma profundidade dramática histórica para o personagem (um belo acerto se lembrarmos que Boyle dirigiu alguns bons filmes de suspense, drama de ação e comédia dramática como Trainspotting 1 e 2 e Cova Rasa). Sendo os holofotes do Oscar por 127 Horas (drama o qual dirigiu, escreveu e produziu) e vencedor por Quem Quer Ser Um Milionário (2008). Sua visão sensível certamente seria algo extremamente necessário nesse o que me preocupou bastante posteriormente após sua saída e substituição por um diretor pouco conhecido. 

Porém, Cary Joji Fukunaga não faz feio e consegue atender a visão dos produtores, aos olhos de Barbara Broccoli, e nos entrega um excelente desfecho, trazendo uma chocante conclusão o qual,
ainda que em um momento delicado, deixa crer numa visão completamente palpável e humana de
um personagem que sempre marca história por suas atualizações a cada década. 

Eu sempre fui fã dos últimos filmes de cada intérprete de Bond, por colocá-los no limite de seus
desafios. Porém, aqui o longa chega a um ponto satisfatório ainda que a carga emocional, de que estamos conscientes de que é um desfecho de Craig no papel ao longo de 15 anos, nos carrega ao
longo da história - fazendo nos importar com todos os personagens em cena e nos fazendo realmente
odiar seus vilões. 

Além dessa visão crível de personagem nós também temos a trama que, mais uma vez, se coincide 
acidentalmente (ou não) com o mundo o qual vivemos agora. Prometido para Abril de 2020, o longa 
foi adiado para Novembro e, finalmente, após mais alguns adiamentos e propostas milionárias de serviços de streaming pela compra do filme, o longa se arrasta com alguns custos extras e aparentes refilmagens (devido a modelos de produtos terem passado a ficar datados para promover marcas de automóveis) até que finalmente estreia nesta última Quinta (30) exclusivamente nos cinemas.

Como todo Bond que se preze, é preciso que tanto a trama ou a tecnologia apresentada precise ficar à frente do seu tempo ou (no caso da era Craig) apresentar as tendências do momento (não só dos veículos luxuosos como também a valorização do empoderamento).

Ana de Armas é o destaque, apesar da curta participação, mostra potencial para ser parte de retorno em alguma nova aventura dentro do universo Bond. No papel de Paloma, é uma das melhores Bond girls já apresentadas, com muita destreza - no melhor estilo "femme fatale" -- e divertidas tiradas que tornam a ideia de promover a onda do empoderamento feminino algo bem sutil e natural. Lashana Lynch, no papel da nova agente, Nomi, vai suavizar a mente da audiência mais fervorosa que acreditava em algo completamente radical a ponto de apagar James Bond da história da cinessérie. 


Não se trata de uma transição comum. 007: Sem Tempo Para Morrer é bastante intenso, tem muito 
do que torna James Bond tão divertido de se assistir. Ainda que seja vendido com aquela sensação de
despedida de uma cronologia montada de forma inédita, ele tem muito a oferecer aos velhos fãs de
James Bond mais conservadores e para os fãs de filmes de ação non stop. Fora o plus, o suspense, 
com a intenção de atrair um público diferente.

É interessante sempre dizer que 007 tem sido um sucesso constante em seus últimos filmes após o reboot lá em 1995 por sempre buscar se manter atualizado e não se prender às tradições. De qualquer forma, se esse tipo de fórmula não chegasse a ser adotada e James Bond se mantivesse como um Austin Powers (que, aliás, é literalmente uma paródia noventista de James Bond dos anos 60), 007 deixaria de ser crível e se tornaria apenas uma fantasia de humor batido. Não é dessa forma que o cinema se mantém ou  tampouco a música (a exemplo de Madonna, que também já foi uma breve Bond girl e cantora de um dos temas) ou tampouco a tecnologia ou tampouco as pessoas. 007 sempre retornará porque ele sempre é como uma máquina de investimento em movimento. 



MEMÓRIAS DA SESSÃO
O MAIS ESPERADO

A memória da vez é que o passeio foi longo. Aproveitei o momento de todos terem saído para 
conhecer melhor o novo trajeto que poderia fazer até o cinema. 

Nota: Deixei aquele recado de que chegaria mais tarde mas não adiantou muito. 

Eu planejei primeiramente ir num cinema mais próximo após saber que o primeiro cinema (quase que ao lado de casa) fechou. Quando então eu vi aquela propaganda de que este filme seria todo filmado em IMAX (e que seria o primeiro a ser dessa forma e não apenas algumas cenas filmadas)  pensei bem e resolvi um pouco além - torcendo para chegar a tempo. Felizmente eu consegui chegar um pouco antes de 1 hora para o começo da sessão.

Fui perguntar se tinha o pôster exclusivo no balcão mas o atendente disse que ainda não havia chegado e que isso era uma condição da distribuidora. Eu fiquei de cara: "-Putz! Avisaram que ia ter pôster e chegando lá não teve ?" 

Para a minha felicidade e milagre, os posters estavam sendo distribuídos na entrada do cinema (o atendente do balcão não sabia - o que notamos uma falta de comunicação aí entre setores do UCI). O recepcionista, com muita cortesia, entregava os posters e desejava um bom filme com um sorriso bem
receptivo no rosto. Isso eu vi ele expressar para um casal que estava na frente. Assim que passei, eu me
encarreguei de dar a boa noite e ele passou os olhos rapidamente por mim desejando um bom filme - não notei se houve diferença na reação, só sei que fiquei enormemente feliz ao receber o pôster (como um grande fã de cinema e James Bond, especialmente esse filme - que, pra mim, tem sido o mais esperado até agora). 

Faz um bom tempo que não vou a um cinema IMAX (talvez uns 6 anos, posso estar enganado) mas senti os sons muito bem calibrados e a imersão era realmente possível em sentir cada sequência - da trilha sonora ao suspense dos efeitos sonoros e cenas de ação muito bem dirigidas por Fukunaga (um filme que realmente vale a pena assistir em IMAX). 

Alguns trailers inéditos apareceram com a cópia. O que mais em surpreendeu foi ver Matrix Ressurection na lista e um trailer especial de Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa com uma introdução de Tom Holland. A gente sabe que trailers de cinema já não mais surpreendem tanto justamente por que todo mundo já deve ter assistido na internet antes. Mas foi impressionante ver Matrix 4 vindo rapidamente nas cópias. Além dos demais trailers que já tem um tempo de lançamento como: Os Eternos e Duna.

Eu estava de máscara. Do nada, um cara sem máscara (acompanhado de uma moça) veio querer tirar satisfações alegando que eu estava sentado numa poltrona  sem ter seguido as regras de isolamento -
porém, eu vi minha cadeira para conferir e era a exata cadeira que eu havia comprado - ele saiu reclamando: "- Ué! Erro deles então." e voltou a sentar na cadeira dele do outro lado (com o devido isolamento da cadeira do meio). Então, não deu pra entender nada a situação ou o mesmo se enganou. 

Ao fim da sessão, a reação da plateia estava dividida. Havia alguns sussurros. Descendo as escadas, eu notei que houve uma certa discussão em sussurro de um espectador barbudo com o seu grupo de amigos - claramente bondianos, já que leram a exata matéria que eu havia lido há algum tempo a respeito da briga entre o diretor Danny Boyle com os produtores e que permaneceu mal traduzido por aí. 

Não houveram aplausos. Isso me deixou um pouco revoltado, creio que seja um longa que realmente merece melhor atenção - bem injustiçado com a soma de pontuações do Rotten Tomatoes (que, por pouco me desencorajou de assistir ao filme - apenas 82% ?) mas, pelo contrário, me surpreendeu e muito. A moral da história é que você precisa ser o seu próprio crítico.  

Ao voltar, foi um trabalho e tanto. Percebi que numa passagem em conhecer uma nova rodoviária bem mais distante na Barra da Tijuca, tinha um ônibus que me levava - aparentemente (ou não) para a minha antiga residência (daí eu pensei: "-Se eu soubesse disso, não estaria pegando 2 conduções pra chegar aqui). Um local aonde tem ônibus para diversos municípios e sem precisar passar por aquele tumulto que eu passava no BRT. Mas.. agora (ou não) é tarde. 

Ao chegar no centro eu estava sem trocado nenhum e acabei apelando para um aplicativo de taxi. Assim que ele estava chegando, eu estava preparando ali um X-Tudo para sobreviver no dia. 

Eu estava estreando a minha camisa "No Pain, No Gain" (Sem Dor, Sem Ganho) pois eu me identifico muito com esta fase de perdas da vida - perdas em uns e ganhos em outros aspectos. 

Nessas horas de tentar me virar nos 30 de madrugada... é que me identifiquei diretamente com o Bond de Daniel Craig - um Bond que procura se virar com poucos recursos, que sangra e é humano - tem suas perdas mas segue em frente. E eu acho que é a melhor mensagem que essa fase de 007 poderia nos deixar: "não confiar em ninguém" é só um detalhe, mas também nunca nos deixar nos abalar com nada.  



 SESSÃO  CRÍTICA 

007: Sem Tempo Para Morrer

Sessão Acompanhada: UCI New York City Center - IMAX Legendado - 18:45 - 30/09/21

Sessão Crítica em vídeo em breve