A ROMANTIZAÇÃO DE UMA LENDA
O Filme que acabou com o viral " Um Oscar para o Leonardo DiCaprio"
Um dos favoritos do Oscar 2016, trouxe Leonardo DiCaprio em mais um papel fantástico. Desta vez, a campanha pela corrida à estatueta deu certo e o ator conquistou a sua vitória em meio ao viral virtual dos fãs.
O Regresso é inspirado num romance de Michael Punke de 2002. Essa é uma daquelas adaptações de histórias reais bem antigas que vieram se tornar uma série de inspirações para romances de livros, dramas e até videogames (há até evidências de que o protagonista da história estaria presente no jogo de computador World of Warcraft). Através de alguns poucos documentos datados de 1823, a mídia passou a conhecer a história do lendário Hugo Glass (1783-1833).
Pouco se sabe de sua infância ou até mesmo sua juventude, contudo, o que se diz é que ele já foi pirata, jogador de algum esporte, marinheiro e - por último - um pirata que se uniu aos índios Pawnee. Este último, descreve-se com detalhes de que ele foi capturado pelos piratas sob o comando do chefe do golfo do México e obrigado trabalhar para eles por cerca de 2 anos até escapar para o Texas. Chegando lá, foi capturado mais uma vez, desta vez pela tribo Pawnee, o qual acabou se aliando a eles por mais alguns anos.
Adquirindo direito sobre os rascunhos de Punke, o produtor Akiva Goldsman logo encomendou um filme sobre Glass em 2001 com Samuel L. Jackson assumindo o protagonista. Até que em 2011 o projeto sai do papel e é chamado Alejandro González Iñárritu para assumir a direção. Por uma pura coincidência, Iñárritu adquiriu uma boa fase em 2014 com o sucesso de Birdman (vencedor do Oscar 2015) e, logo então, o lançamento de O Regresso em 2015 - favorito com 12 Indicações ao Oscar. A adaptação saiu vencedora com 3 Oscars, Diretor, Ator e Fotografia. A grande surpresa daquela edição foi a vitória de Melhor Filme para Spotlight - Segredos Revelados (tendo Michael Keaton no elenco, que havia estrelado o vencedor do ano anterior também dirigido por Iñárritu).
O Regresso é o filme mais difícil já realizado por Leonardo DiCaprio. E isso é claramente observado. Em todos os seus papeis, DiCaprio eleva suas atuações ao máximo mas aqui o ator extrapola o limite - chegando a comer carne crua, passar frios intensos e se esconder dentro de corpos de animais mortos. Tudo isso é real, até mesmo a pele de urso que o personagem usa como casaco (legalmente licenciado pelo Departamento de Parques do Canadá). Uma observação importante é que o animal teria morrido de causas naturais.
O conceito de sobrevivência é elevada ao limite no filme e o mais chocante é saber que muitas das experiências passadas no filme são reais. Os efeitos práticos, como a avalanche, por exemplo, foram provocadas pelo próprio diretor em cena.
Além da fotografia notável, é curioso observar que em comparação ao filme anterior - completamente filmado em plano-sequência - aqui as cenas são trabalhadas de forma tradicional em cortes e as passagens de tempo e em uma maneira de construir uma imersão da cena (como a de introdução) focando na luta entre indígenas e caçadores ou então para explorar a reação dos personagens em grupo na floresta ou em alguma expedição de morte, são usados o plano-sequência de uma forma eficiente.
Para buscar uma forma de romantização e fortalecer a busca por sobrevivência, é adicionado o desejo de vingança do personagem. O que, originalmente, não ocorreu. Não há dados que descrevam que Hugh Glass teve uma esposa indígena ou tampouco um filho. Mas essa adição à história procura trazer mais um equilíbrio crítico sobre a visão do cinema americano de faroeste do passado. Sendo O Regresso um longa metragem considerado do gênero "Anti-Faroeste", um Faroeste Revisionista que desconstrói a ideia de mocinho e bandido. Se realmente há essa ideia do "cowboy" homem branco contra os índios maus - um cenário moralmente questionável em um cenário bastante sombrio.
Sabe-se que o mais autêntico do conto é a batalha do caçador de recompensas contra uma mãe urso cinzenta que estava ali para proteger seus filhotes. Porém, foi deixado para morrer por seus colegas de profissão no meio da floresta selvagem. Tendo então que percorrer por milhas para sobreviver. E é aqui que vemos sem dúvida alguma uma das melhores atuações de Leonardo DiCaprio e que fez o Oscar finalmente se render aos seus pés.
Á partir daí, se tem mesmo uma história de vingança, seria o de Glass contra seus colegas que o deixaram à beira da morte. Porém, sabe-se, que ele retornou para perdoar os culpados e ainda ganhou seus benefícios em troca de poupar a vida dos mesmos. Isso poderia ainda ganhar uma outra adaptação, mais voltada para o humor negro no futuro - mas isso é piada para outra história - sugiro ainda Quentin Tarantino pensar em algo (ou até Robert Rodriguez).
De qualquer forma, O Regresso é um conto emocionante por sobrevivência e é da maneira que os ocidentais gostam de contar - um drama forte com um desfecho moralista e um personagem otimista sem caráter a se questionar (dá muito certo para o Oscar). E, particularmente, é bem agradável uma história contada dessa forma, com ótimas atuações de DiCaprio e Tom Hardy (John Fitzgerald) - vemos no personagem de Hardy o pior do ser humano, de fato e é um personagem que detestamos de tanto odiar (sinal que é um ótimo papel).
Envolvendo ainda as diferenças do filme com o da história real contada é que alguns elementos que fizeram parte de John Fitzgerald - segredos mantidos por Glass - são atribuídos ao próprio protagonista. A ideia de redenção também é vista de com uma outra visão, bem mais com o descanso após um longo sofrimento (uma visão bem mais religiosa).
O emocional é a grande força do filme.
O grande forte do filme está na luta pela sobrevivência e a vingança acaba visivelmente um elemento adicionado de uma forma convencional no filme - logo vemos que em seus momentos de grande climax já podemos prever todas as cenas, porém, a grande força está nas fantásticas atuações que acompanham as grandes e trágicas cenas de ação - com edição de som bastante seca e realista - que são inspiradores até o último suspiro na poltrona.
Memória Pós-Crítica
Há ainda um longa metragem de 1971 chamado Fúria Selvagem (Man in the Wilderness) com Richard Harris (Gladiador). Quem assistiu, diz que é igualzinho ao filme de Iñárritu. Ao menos o enredo é parecido, dá a entender que o longa de 2015 seja uma refilmagem deste que, por sinal, é tão bom quanto.
Bibliografia
A verdadeira história por trás de "O regresso" (incrivel.club)
Aventuras na História · Desbravador vingativo: Conheça a história real do filme O Regresso (uol.com.br)
Hugh Glass - Wikipedia
O Regresso (2015) - Full Cast & Crew - IMDb