NA BASE DO JOYSTICK
Em cena, Joe, um super-herói brasileiro que luta com um poderoso joystick.
Nos anos 90, todo mundo queria lançar o seu mascote e o gênero de super-heróis estava fora de moda. Entrava no lugar os bad boys e os anti-heróis. O estilo grunge já se apresentava no fim dos anos 80 - e um pouco antes, nos anos 70, já tínhamos também O Justiceiro.
Tilte: uma verdadeira brincadeira com os gamemaníacos
Tilte provavelmente seja um personagem apenas conhecido para quem lia a revista Videogame em meados de 1994. Quando eu olhei aquele personagem, era extremamente curioso o quanto ele representa de forma bastante cartunesca o vício da criançada pelos videogames. Esse brilhante personagem foi criado pelo nosso eterno querido então cartunista dos quadrinhos nacionais, Glauco Villas Boas - mais conhecido pela criação de Geraldão. Uma grande perda para nós, Glauco, além de cartunista era líder religioso. A tragédia foi pesada. Em 2010, Glauco e seu filho foram alvejados por um assassino que se dizia Jesus Cristo. Posteriormente, o mesmo acabou tendo o seu fim na cadeia.
De qualquer forma, acerca de um talento inquestionável e uma das maiores memórias do nosso quadrinho nacional, é muito curioso olhar o quanto Tilte - personagem criado para satirizar os gamemaníacos em uma revista de videogame - ainda seja, para efeitos de curiosidade, uma obra que passa despercebida pela grande mídia de um verdadeiro ícone dos quadrinhos nacionais. Glauco nos deixou, mas as memórias de seu presente para a mídia impressa de jogos eletrônicos só aumenta a grandiosa mitologia da comunidade dos videogames no Brasil em meio a este curioso momento inocente e mágico da melhor década da cultura pop.
Era hilário quando tentamos descobrir de que forma Tilte pode ser parado. O garoto viciado em game respondia a mãe igual a um adulto. Na primeira história, ele parece ter se dado mal. Mas, como um representante da geração bad boy, o pequeno gamemaníaco tinha atitude e não guardava desaforo da mãe. Chegou a tal ponto de usar o próprio joystick contra ela (ao evitar uma SUPER chinelada, vale lembrar). Pois bem, é à partir desse ponto que iremos abordar em questão um herói que luta com o joystick.
JoeStick: Um Controverso Herói da Editora Escala
É Joe Stick ou JoeStick ? Bom, no título da revista , o personagem se apresentava como JoeStick e no endereço da carta (JOESTICK POINT).
Tilte era tremendamente hilário ao aumentar a personalidade obsessiva das crianças desobedientes. E, como a onda era bad boys (que tem sido moda até hoje), nos transferimos então ao avaliar a identidade de um personagem adolescente gamemaníaco verdadeiramente descolado da década de 90. Um bonezão malandrão pra trás, rabão de cavalo, brincão na ponta da orelha, casacão florido, cordão com três dentes de lobo, pulseiras e bermuda listrada; além do queixão, sorriso largo e olhos castanhos claros - até aí, traços padrão e visual bem esportivo de um jovem modelo arrasante. Depois daí, vemos também que o seu tênis de cadarços desamarrados (parecido com um all star) é literalmente padronizado - com o seu nome escrito nele e cores características: vermelho e traços brancos (de um certo ouriço "porco-espinho" azul ou uma certa coincidência ?). Fora as características cômicas do rosto, detalhezinhos simpáticos para um bad boy.
Só pelo visual estereotipado, Joe é quase um hippie tecnológico. Mas nada de paz e amor, apesar do pensamento de justiça - vencer mais um desafio contra a máquina para o seu mérito - ele adere a palavras de um tempo em que termos agressivos se tornam apelidos ou elogios carinhosos entre amigos. Aqui, encontramos uma tremenda expansão da juventude tecnológica de pensamento acelerado e atitude mais agressiva: o termo "babaca" é quase um significado de "cara". Termo o qual personagens, entre mocinho e vilão ( no caso, os oponentes do videogame ) trocam comunicações como num ambiente bem comum ao mesmo tempo que os personagens também tentam trazer o leitor para dentro desse universo de humor rebelde e ácido. Essa interação entre personagem e leitor fica logo evidente na chamada para o envio de cartas.
Mas é impressionante, em tempos mais sensíveis, como tem uma audiência que se ofende fácil com uma obra de ficção mas não condena o contato pessoal que age com o mesmo tipo de atitude. Joe seria, certamente, um escândalo certo para as crianças assustadas de hoje em dia. Dizer que se assustam até com a própria sombra, não é exagero.
1994 era um tempo em que criar estereótipos para o coleguinha do lado não era preconceito e nem racismo. A verdade aqui é que estamos lidando com uma caricatura disso tudo. E nesse ponto, o personagem se sobressai muito bem.
Logo na primeira (e ultra rara edição), Joe encara os Street Fighters. Sem pretensões em contar a história do videogame, a intensão é introduzir o universo parodiado e o quanto seria curioso o próprio jogador dentro do videogame encarando os personagens da CPU. Sim, em sua completa forma de algoritmos, não em carne e osso. Valendo lembrar que nenhum personagem ali está diretamente consciente daquele visto da programação regular dos jogos em seu trajeto ou tampouco os mesmos do cinema, da TV ou até mesmo ao dos quadrinhos. Era 1994 e a história de Street Fighter estava se formando no meio da mídia e em meio a evolução de seus jogos. Era o ano de Street Fighter II fora dos videogames, que já se consolidava no ano anterior. Filmes e uma série de TV já estavam em andamento.
É interessante notar nesse ambiente, que mais parece o trapaverso (o universo de super-heróis dos Trapalhões), os Street Fighters aparecem completamente cartunizados, como se tivessem saído de um desenho do Pernalonga: todos fortões com o tronco pra cima grandão e as pernas pequeninas.
Porém, a única dama do grupo é gatinha, com traços perfeitos - a perfeita descrição da alma romântica do humor pastelão da história. Você tem os valentões e tem a mocinha para dar uma suavizada e criar um contraste imprevisível e engraçado para a trama. Porém, a mocinha, não é bem mocinha assim e se torna a antagonista visualmente mais interessante da história. Sim, todos surgem de uma forma muito agradável e bem descontraída - como meros zumbis criados pelo programa de computador. Mas, partindo de uma realidade de interpretação, todos ali são meros inimigos dos jogador.
Joe então, como num filme de comédia digna da sessão da tarde, tem o seu controle de videogame sem fio que lhe dá habilidades exatamente como nós estamos fora da tela controlando um personagem. E a habilidade das bolas de fogo fica a cargo do receptor de suas antenas do controle. O joystick muito se assemelha aos controles turbo, como um Super NES Programpad com o modelo de configuração do controle de 6 botões do Mega Drive (a principal e melhor configuração para um jogo de luta) só que sem fio. Joe tem um controle de formato ultra moderno para aquela época, sendo um controle de grandes funções e ainda por cima sem fio (bem comum hoje em dia). Uma verdadeira fera do videogame e um super-herói dentro dele. É a exata ampliação dos sonhos de todo jovem jogador de videogame fã de quadrinhos.
Nerds mais exigentes se incomodarão com o estilo zoeira do quadrinho. O equilíbrio entre ação e humor é perfeito, porém, o humor se sobressai e é o esperado. Surpreende pela qualidade além do esperado se comparar à divulgação bastante pretensiosa mas modesta em não entregar detalhes exceto o personagem em meio ao fundo preto.
Essa primeira edição parecia ter sido feita no improviso o que deixa tudo ainda mais engraçado. Já o volume à seguir, parece ter sido tudo muito calculado o que acabou perdendo a graça da coisa.
O segundo volume de Joe Stick já começa num tom diferente do anterior. Aqui, como já foi apresentado o personagem, a história acaba sendo mais focado na história regular do videogame da vez: Sonic. O universo de Sonic e a sua origem é mais respeitada em comparação aos Street Fighters. Afinal, estão lidando com poucos personagens e, claramente, aproveitaram isso para contar uma história tranquilamente mais fiel aos videogames.
A história de Joe Stick nº 2, já começa no mundo de Sonic, diferente da primeira edição - focada na origem do super-herói gamemaníaco. Quando a ameaça de Robotnik chega no cenário causando a ponto de nem mesmo o herói do videogame é capaz de resolver, entra em cena então Joe. Aquele que nos representaria nesse universo eletrônico ou, simplesmente, o ícone que Neo acabou se tornando no filme Matrix. E aqui, Joe (você) é o escolhido. Joe Stick esteve à frente de seu tempo quando só tínhamos filmes como Tron (1982), O Vingador do Futuro (1990) e O Passageiro do Futuro (1993) como principais referências envolvendo realidade virtual.
Mas se for comparar realidades paralelas com desenho animado, o ambiente de Sonic em Joe Stick está bem mais associado ao de O Mundo Proibido (1992) ou Uma Cilada Para Rogger Rabbit (1988). Aqui, o personagem sugere assumir uma breve pitadinha de detetive em ambiente noir.
O clima é mais sério que a edição anterior, já que a trama busca se comunicar melhor com o lado heroico do personagem e a respeitar as características dentro da história vista no videogame Sonic the Hedgehog ou a forma como pensamos em como ele seria conduzido na verdade. Isso meio que atrapalha o ritmo e deixa a descontração de lado - como era esperado na prévia da edição anterior (aquela clara referência a Pernalonga quando Joe para o dedo de Dr. Robotnik). Creio que poderiam sim ter investido numa disputa mais bem humorada entre Joe e Robotnik - sendo Joe roubando um pouco o espaço sacana de "Pernalonga" do esperto Sonic (este que ficaria como um coadjuvante interagindo com o leitor na história). De qualquer forma, continua a ser divertido e com muito bom ritmo de ação (sem dúvida alguma, sua melhor qualidade nessa história).
Há ainda uma terceira aventura em que Joe Stick entra no mundo do Super Mario Bros. para enfrentar os filhos de Bowser (Rei Koopa). Sem um motivo aparente que possa ser comentado, essa edição é raríssima e extremamente mal distribuída em sua época de lançamento.
Curiosamente, as duas primeiras edições foram contadas como número 1. Não se sabe o motivo ou se a primeira edição era experimental. Uma vez que a divulgação nas revistas da Editora Escala era de um personagem sério e nos surpreendemos com um irreverente personagem, especialmente na primeira edição.
Além da proposta de quadrinhos, como na divulgação, Joe Stick vai além de uma história em quadrinhos e reserva um espaço dando dicas de videogame nas duas primeiras edições de uma forma objetiva e eficiente. Na primeira edição, fala dos novos personagens de Super Street Fighter II e um comparativo entre Super Nintendo v.s. Mega Drive (isso nunca foi tão atual para a blogsfera retrogamer do You Tube). O interessante é ao comentar sobre Cammy e Dee Jay, revelam algumas curiosidades sobre a origem do lutador jamaicano - como o mesmo ser uma criação do lendário designer da Capcom, James Goddard (o mesmo que também teria sido responsável pelo visionário jogo de luta para os 16 Bits em 95: Weaponlord).
Já a segunda edição, começa com um breve resumo dos novos jogos da série Sonic daquela temporada, do Sonic CD, Sonic Spinball ao Sonic III (o terceiro e recém lançado jogo da série mencionado com os números romanos mesmo, com explicação de detalhes e instruções das Zonas). Nas páginas finais da revista, há um ótimo espaço reservado para o detonado de Sonic 1 no Master System - título o qual, como um grato jogador do Meguinha, só conhecia das vitrines da Casa & Vídeo em telas de tubo (com aquele Sonic sempre morrendo na Green Hill Zone no jogo demonstração) e sempre estive muito curioso em como ele seria do início ao fim e essa edição sanou muito as minhas dúvidas.
Numa avaliação geral, é uma revista muito modesta e transparente com a qualidade de suas dicas e informações sobre videogames, todas feitas na raça. Afinal, tem um detonado muito bom de Sonic do Master na segunda edição o que prova que eles não copiam de outros trabalhos já existentes.
Joe Stick, além de suas histórias em quadrinhos, poderia ter um grande potencial para se tornar uma conceituada revista Gamers. Uma pena que duraram poucas edições. Mas as diferenças de tom, seja na divulgação ou então entre o estilo de história de uma edição para outra, fora a semelhança na numeração de uma revista pra outra, além da falta de numeração após o segundo poster da edição com o Sonic, parece que havia algum conflito de produção ou a forma de como eles estariam querendo conduzir o projeto.
Ambas as edições contam com dois posters e digitalizações delas serão compartilhadas, do meu acervo pessoal e físico delas, como uma iniciativa da série A Coleção de Mestre Ryu. Logo ao fim desta publicação, tem o caminho para o vídeo não listado do nosso canal You Tube com a disponibilização desses arquivos. Joe Stick fez parte da minha infância com os videogames e valeu muito a pena relembrar.
Os artistas possuíam uma certa liberdade de criação sobre os personagens - alguns detalhes saíam diferentes do personagem original nesse redesenho. O mais legal das revistas de videogame dessa época era, sem dúvida, o improviso. Com as poucas informações que se tinha sobre os personagens, as artes acabavam recebendo essa influência diferenciada. Ou seria apenas um engano ?
Dicas da primeira edição trazia Cammy belamente redesenhada e durona. Contando com os seus característicos diálogos em português. É notável também que o seu nome é claramente desenhado na forma personalizada da revista. Percebe-se que os autores realmente gostam das personagens femininas de Street Fighter. Aliás, quem não gosta ?
Já o caso de Dee Jay, a artwork e muito do original foi mantida.
Após a página de perfil há um belo quadro de animações e instruções dos golpes para os respectivos personagens.
Pôster do meio da edição nº1. Curiosamente, Ryu está de cabelos ruivos e (pasme!) luvas vermelhas, como em Street Fighter I e encarando Guile de SF II. Acidental encontro de gerações na arte ? O artista deve ter sido um grande fã de Street Fighter I e um bom conhecedor de fliperama e videogames obscuros da geração Atari e Nintendo. Bom, naquela época, anos 80, era a época dominante dos veteranos em videogame e Pac-Man era o mascote dos jogos mais famoso entre os leigos.
A divulgação encontrada nas revistas Progames, Gamers e também nos quadrinhos Street Fighter II (Malibu/ Marvel/ Disney) - foi nessa série (segunda edição, com o Ken ensanguentado na capa) que encontrei a divulgação da revista.
A curiosa (e perdida) terceira edição de Joe Stick
Na terceira (e raríssima) edição, Joe encara o vilão Koopa no universo de Super Mario Bros. Provavelmente a última edição de Joe Stick.
É curioso ver que o pôster de brinde é a Cammy na arte de Marcelo Cassaro (A Turma da Mônica). Esse pôster esteve presente em várias edições de revistas da Editora Escala. Como a Progames e numa das publicações da revista número 3 de Street Fighter II (Malibu). Como eu havia perdido a primeira cópia (que vinha a própria capa como poster: Honda v.s. Furão) por ter emprestado para um colega desleixado, eu comprei outra e ela veio com esse pôster da Cammy (Provavelmente eu tenha ao menos umas duas dela). Eu falo pra vocês, ninguém tem mais cuidado do que eu com revistas dos anos 90. É raro ver quem sabe preservar o que tem. E voltando à rara edição da revista, Aladdin e Power Rangers eram os jogos da vez nas dicas e informações.
A revista parecia resgatar o humor da primeira edição ou provavelmente leva para um tema mais infantil com uma certa fidelidade com os jogos do Super Mario encontrando aí um equilíbrio entre humor, ação e história dos jogos ?
Posters refeitos para esta publicação ( partes integrantes das edições Joe Stick nº1 e Joe Stick nº2 )
OPS!
As maiores curiosidades, deixamos para o final, para não estragar a experiência. Alguns detalhes curiosamente diferentes em relação às artworks originais ou até mesmo dos jogos que encontrei nas artes independentes das revistas.
- Ryu sem uma de suas luvas.
- Cammy com duas cicatrizes no rosto. Talvez eles tivesse traduzido como tatuagens.
- Tails com os sapatos brancos.
Falha deles ? Por que eu diria isso ? É claro que os geeks de hoje criados pelo Google que, só de ver uma vírgula fora do lugar já dá chilique, surtariam com essas artes independentes das revistas. E as mídias digitais independentes da atualidade aproveitariam pra por mais lenha na fogueira. Isso, briguem, malditos ! Briguem !!! Isso é aos 90, aonde era tudo na raça, no improviso. E essa galera toda só ficava mesmo é reclamando nas cartas - quando os VERDEDEIROS JORNALISITAS E MÍDIAS PROFISSIONAIS decidiam se publicavam ou não em algum momento.
AO PÉ DA LTRA
Título: JoeStick: O Point do Gamemaníaco
Gênero: Ação (HQ)
Gênero: Ação (HQ)
Diretor: Hercílio de Lourenzi
Editor de Arte: Henrique de Farias
Assistentes de Arte: Henrique de Farias Jr., Stephan de Farias
Argumentos: Gemoval de Souza
Desenhos: S. Mazzei e DeFarias
Redação: Edison Pimentel, DeFarias Publishing Corp. 1994
Distribuição: Dinap
Slogans: "Astuto! Diferente ! ", "Aqui Começa a Emoção "
" Aqui, o personagem Joe economiza nas caretas e a história ganha algumas leves camadas novas, nos apresentando um universo mais autêntico com os jogos originais da série a ser explorada em questão: Sonic the Hedgehog. Ainda assim, o personagem continua divertido pelo jeitão irreverente. "
Da Coleção: As Edições de Joe Stick: Foram muitas horas e dias para a montagem deste material especial sobre Joe Stick (tanto da análise quanto desse acervo direto da minha coleção pessoal). Este é o bônus secreto do nosso Ao Pé da Letra Edição Especial: Joe Stick. Clique neste aqui e você irá direto ao Canal Mestre Ryu no You Tube. Por lá, você vai poder baixar gratuitamente* as cópias digitalizadas no link da descrição do vídeo.
*Atenção leitores !!!
Caso você se interesse em ser o nosso leitor produtor, temos também o Streamlabs para doações em qualquer valor. Isso vai ajudar na manutenção e melhoria dos nossos projetos de digitalização e demais eventos. Muito obrigado por nos acompanhar.
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