Por um acaso, vi o título em cartaz, em um cinema de shopping. Chegando em casa, a Amazon Prime me recomenda. Passando por sessões de vários títulos do aplicativo, decido procurar pelo título para ver se ele está disponível e não encontro. Um grande problema da Amazon Prime é o seu aplicativo extremamente falho - trava inúmeras vezes durante o acesso, tendo que fechar e abrir. Quando, enfim, desisto de procurar, ele aparece ali num banner da plataforma e - na gambiarra - clico, esquecendo da sessão da trilogia John Wick que estava prestes a fazer.
Este título é uma surpresa pra mim, pra quem não assiste filme-catástrofe há um tempão. Eu diria que o último mais marcante foi O Impossível (2012) - título que, ainda assim, não tive a oportunidade de assistir no mesmo ano (um ano que costumavam descrever como o "fim do mundo" devido o calendário maia).
Filmes-catástrofe são o gênero de momento. Eles não surgem simplesmente do nada. Existe um tempo e um motivo para eles acontecerem. Assim como muitos temas que estão em descanso até despertarem como vozes em meio a um evento.
Voltando aos anos 90, A febre dos filmes-catástrofe retornou em 1996, com Independence Day. A história trouxe um relevante evento de proporções grandiosas. Uma história bem convincente e divertida. Roland Emmerich se definiu como o diretor do gênero, mas deu mancada com o decepcionante Godzilla (1998). Eu posso levar como referência, Titanic - que, pelo menos pra mim, é um dos melhores filmes de ação já feitos por James Cameron (que sempre se supera a cada geração e é o melhor contador de histórias sobre fim do mundo) e é o meu filme favorito da vida. Todo aquele clima de terror claustrofóbico diante de um evento real e histórico - o qual seus protagonistas se encontram diante de uma situação sem saída em meio ao caos - James Cameron contou como ninguém (fora a ficção científica em O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final, sobre como seria o fim de tudo).
Cameron sempre foi o mais ambicioso dos diretores e é por esse motivo que costumo compará-lo a qualquer outro título do gênero catástrofe que viesse a seguir. Com o inesperado (e mais do que merecido) sucesso e a vitória no Oscar, outros títulos - como Titanic e Independence Day - vieram a acontecer. Alguns ótimos e mais psicológicos, como O Inferno de Dante, e outros até convencionais mas sem se levar muito à sério, como o decepcionante Armageddon (1998) - este último, se vendia (até pelo título) como um longa definitivo sobre o fim do mundo e que prometia ser tão sensacional quanto Independence Day (1996) mas é uma pena que não foi o que se esperava, apesar de que se olhar somente pelo fator divertimento, o longa é um bom passatempo familiar e com um final surpreendente (daí eu me recordo quando o meu pai me contou que chegou a sonhar com esse final no dia seguinte de tão emocionante que foi).
Temos ainda outros ainda mais sensíveis e psicológicos, como Impacto Profundo (1998) - este já disputava com Armageddon, que eu ainda acreditava ser melhor (se destaca mais no quesito ação). O longa da diretora Mimi Leder (O Pacificador) peca no ritmo mas tem efeitos especiais impressionantemente incríveis que compõem o climax (ou a conclusão da história) que leva ao título do longa. No quesito efeitos especiais e a forma como o impacto de fim do mundo é apresentado, acaba sendo melhor que Armageddon - este que era uma promessa de um diretor de ação que estava em ascensão naquele momento: Michael Bay. Depositei todas as fichas nele, depois de Os Bad Boy (1995) e A Rocha (1996), numa grande curiosidade sobre como seria a sua visão de filme-catástrofe, a grande expectativa de ver com 100% de certeza o longa definitivo sobre o fim do mundo, mas acabou não prevalecendo.
Ainda acabo destacando Akira (1988), o longa animado das obras de Katsuhiro Otomo, como a definição de um filme sobre fim do mundo - uma aula de como Hollywood deveria aprender com aquilo. Nas obras japonesas, sempre que encontramos o fim do mundo como temática nas suas animações, o público é sempre pego de surpresa - de forma inesperada - com a maneira de como os rumos terminaria em sua linha de chegada. Qualquer um poderia morrer (na pior das hipóteses: todos). Os seus criadores são doidos, pela ousadia em nos transportar toda a loucura que poderia ser o fim do mundo. E eu gosto disso, pois estão preocupados em contar uma história convincente, sem dar soluções fáceis aos seus espectadores.
Pelo excesso de otimismo com que Hollywood costuma representar em seus filmes, sempre nos trazer a fantasia além da tragédia - nos fazer voar sobre elas e descer com a esperança - acaba que a conclusão que a audiência regular espera é a convencional, que todos se deem bem ou que sofram o menor possível. É uma característica muito comum do espectador brasileiro, sempre contar com uma visão excessivamente otimista das coisas e desaprovar qualquer mensagem negativa ou pessimista sobre tal assunto - o de tentar não buscar uma solução sobre ela ou tentar compreender por que a mensagem está ali.
Com os problemas que ocorreram desde o início do século XXI - da destruição das torres gêmeas à recente e crescente crise mundial somada ao isolamento social com o corona vírus (COVID 19) - Hollywood parece transformada. Suas mensagens nos filmes se apresentam de maneira diferente. Notavelmente vemos isso nos filmes de ação. Os seus protagonistas não são mais tão inabaláveis, tão brutamontes - ou, então, isso também é questionado - se ser tão durão não o torna um antagonista ou um potencial vilão (como podemos ver em Avatar). Parece que lidar com filmes em que há elementos catastróficos, não deve mais ser tão adequado observar num ponto de vista confortável ou mais romântico, com um casal apaixonado no centro das atenções trocando beijos no meio do caos e que acabam juntos no final. É por esse motivo que a visão mais romântica de alguns super-heróis não costumam mais ganhar crença segura na visão das produtoras - em um tempo mais melancólico, onde aquele ideal de sonho americano procura não ser apenas os E.UA. ou Nova Iorque o centro do mundo em todas as obras que falem sobre catástrofe como tema. Tirando todo o luxo e a sofisticação, agora o centro é o mundo. Tentando serem mais autênticos ou mais próximos de suas audiências ao redor do globo.
Não é de hoje que cogitam a impopularidade dessa visão inabalável que os filmes americanos tinham sobre si. Ainda nos anos 80, isso era questionado por jornais brasileiros mas agora o sentimento é real - a crise existe, o caos também e é por esse motivo que filmes-catástrofe pode ser uma nova empreitada de Hollywood, sendo ela uma visão menos fantasiosa do que se imagina ou do que ela já foi um dia. Ficção científica não estaria descartada dessa nova febre de longas de ação e fantasia.
Destruição Final tenta se aproximar da visão ideal do que mais ou menos seria a situação de um fim do mundo diante de uma devastação em massa vinda dos céus ou de algo parecido. Confirmação por código QR e divisão de pessoas por prioridade. Fora a crença de se estar vivendo seus últimos dias e largar o louco montando uma festa cheia de aglomerações em meio a uma situação crítica e sem motivo para comemorações. É a realidade o qual estamos vivendo, sem carros voadores por enquanto.
Apesar de soar irritante em alguns pontos, os protagonistas passam por situações que não seriam muito longe da realidade, diante da confusão. Soa muito natural a audiência se irritar quando acontecimentos ocorrem justamente para provocar uma série de situações que colocam os personagens vividos por Gerard Butler (John Garrity), Morena Baccarin (Allison Garrity) e Roger Dale Floyd (Nathan Garrity) em perigo. E imaginar que tudo ocorre por causa de um único e simples detalhe - fazendo o público torcer ou perder a paciência com isso. A trama entende que são uma família normal e que eles não podem ser heróis o tempo todo - na pele de Butler.
Em breves sequências de trajeto, podemos observar situações naturais - como o diálogo indireto entre os personagens de David Denman (Ralph Vento) e Hope Davis (Judy Vento). O personagem de David (Ralph) faz uma queixa inconveniente em pode ser livremente comparada a meritocracia. Naturalmente, encontramos pessoas que fazem comentários sobre situações os quais ela não conhece o processo - o que tal afirmação não deixa muito de ser verdade (porém, pode incomodar bastante alguns espectadores que torcem pelos protagonistas). E é exatamente essa cena do carro que torna esse ponto de vista do personagem interessante - por um momento, fazer com que o espectador quebre a afinidade pelos protagonistas e passe a se interessar pelo personagem coadjuvante em questão (mas a conclusão fará com que a audiência passe a ter raiva do antagonista e manter a torcida pela protagonista).
Os efeitos visuais são bons mas nada que impressione muito. O destaque fica para a fotografia, que é um diferencial à parte. A forma como o dia vai se transformando, mantém o espectador no clima. Fica imperceptível em cenas completamente escuras, mas a passagem de tempo (entre dia e noite) é muito bem utilizado para manter a tensão crescente dos eventos e o sentimento de que o tempo está se acabando.
O maior foco do filme está na interação dos personagens diante das relações familiares - seus problemas e uma certa maturidade em lidar com elas - com erros, acertos e a redenção diante das situações - essa tal construção humana é bastante centrado no protagonista John.
Situações com histórias de fim do mundo podem colocar muita gente próximo da ação de imediato. Mas se for compreensível que a história tenha as suas mensagens familiares, pode parecer menos perturbador para quem anda paranoico com esses tempos modernos.
SESSÃO CRÍTICA