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quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

[Sessão Crítica] Mulher - Maravilha 1984

ESTÉTICAMENTE MARAVILHOSO

Antes de tudo, é importante dizer que Mulher-Maravilha 1984 é um filme de super-herói feito à moda antiga, sem medo de usar a fantasia. Se comparando a produções que, pós século XXI, deixaram cada vez mais a mágica de ser um filme de super-herói para procurar ser um filme cada vez mais realista, cinza e sem mágica. É a impressão clara que Homem de Aço deixou em 2013. 

Mulher Maravilha 1984 resgata essa sensação de que podemos acreditar na fantasia. Com a competência de Patty Jenkins na direção, retoma o carisma do filme anterior com um elenco cativante - destacando Pedro Pascal (revelação na série O Mandaloriano do serviço digital Disney +) como Maxwell Lord e Kristen Wiig (Cheetah). Se Pascal é um showman com um sentimento de ambição mais humanizado, Wiig nos envolve com a transformação bem amarrada de sua personagem. 

Gal Gadot continua sendo graciosa no papel. Sua Diana se mostra mais madura e mais consciente do nosso mundo. Mas se encontra em um desafio de fazer escolhas que abalarão a sua identidade, sua essência íntegra e incorruptível, o que realmente se torna um peso bem conhecido em sequências de filmes clássicos de super-heróis.

Em tempos de modinha retro wave, é louvável a belíssima reconstrução dos anos 80 de forma única e devidamente colorida junto a abordagem suave que auxilia nesta viagem bem agradável. Porém, essa sensação de ser ingênua até demais, inclusive nos seus diálogos de efeito e bem previsíveis, cria uma falta de impacto no climax e contrasta com a emoção crescente da história.  

Apesar do bom ritmo, Mulher-Maravilha 1984 fala mais ao coração do que a ação. Como um filme de ação, é muito bem dosado, com ótimas sequências, mas o que realmente se destaca é a sua trama relevante - algo que tem sido tão difícil estabelecer em filmes da DC pós Homem de Aço (ou consequentes do decepcionante e falido Universo Estendido da DC) -  que encontrou caminho com Mulher-Maravilha em seu primeiro longa e tem chegado ao seu exemplar ápice, com influencias do cinema arte, com Coringa

A trama escolhida e a maneira como os personagens reagem sobre ela em MM84 é profundamente tocante - falar sobre desejos e sonhos em uma época de desesperança. Situações que os espectadores poderão se identificar e achar uma ironia tocarem em assuntos como esse no momento certo. E é o momento ideal, realmente, que precisamos de um verdadeiro milagre. 

Não é a toa que é esse o motivo pelo qual os super-heróis existiram entre os momentos mais tenebrosos das décadas de 30 e 40, a Segunda Guerra e a Grande Depressão, para que seus leitores fossem resgatados do angustiante cativeiro do mundo real e se tornassem alguns daqueles personagens. E é o que MM84 consegue nos trazer bem em seus 131 minutos de filme, mesmo com suas exageradas nuances a inocência em querer se explicar demais.


Atenção: FIQUEM NOS CRÉDITOS


Momento Pós-Crítica

Uma curiosidade sobre um erro de continuidade que eu percebi - bem de cara - numa cena em que Barbara Minerva (Wiig) segura uma maleta cheia de papéis. Por várias vezes, é notável que ora eles estão saindo, ora não estão - uma colagem de cenas regravadas em situações diferentes e que, provavelmente, entrou às pressas e a edição acabou deixando passar sem querer. Essa sequencia me lembrou muito a falta de pintura no olho de Bruce Wayne ao retirar a máscara em Batman: O Retorno - o primeiro erro de continuidade que pude perceber em um longa metragem. 


Memórias da Sessão

Em um ano atípico, ficou bastante incerto a minha audiência para esse lançamento tão esperado em 2020. Deixando na estrada filmes como Tenet (do icônico Christopher Nolan) e Bill & Ted: Encare a Música (uma continuação tardia dos anos 80 de uma cinessérie estrelada por um jovem Keanu Reeves em começo de carreira). Por pouco eu não pego o meu jatinho para Nova Iorque assistir MM84 em algum cinema tradicional.

Como eu estava pra comprar algumas coisas para a casa, e aqui não tem serviço de entrega muito eficiente, fui até ao shopping à pé pra fazer compra de alguns sabonetes. No meio desse processo, passei um bom tempo conversando com a minha tia ao telefone e o pensamento de de repente arriscar uma sessão de MM84. Como o tempo foi passando: "-Ah, deixa para a próxima sessão" e deixei. Acabei deixando a sessão Xplus de lado e assisti a uma versão normal - já que a próxima ia ser bem mais tarde e, num momento de isolamento, não dá pra ficar dando muito mole na rua (muito agito, pessoas descontroladas, falando alto e cuspindo, espaçosas e acidentes inevitáveis). 

Como eu praticamente estava há 1 ano distante das salas de cinema, eu até perdi o costume. Apenas cheguei e perguntei, quase gaguejando: "-Tá aceitando desconto com o UCI Unique ?" e estava. Felizmente, consegui o desconto, já que a situação tá crítica mesmo. 

Para os cuidados da saúde no local, dependi de meu álcool e gel sempre ao lado. Apenas retirei a máscara para um lance comprado no supermercado - um suco e um biscoito recheado (meu lanche da manhã atrasado e almoço no mesmo dia). A falta de cuidado com o isolamento é altíssimo - e por esse motivo, as condições de contaminação por Covid-19 são tão altos. Muita gente com os pés na cadeira da frente, como se a situação fosse o suficiente para que outros fiquem "à vontade". Só molecagem mesmo. Não houve muito respeito de afastamento por parte de alguns, mas o cinema não estava cheio como era de se esperar de uma produção como essa em tempos de uma programação normal. Mas parece ter conseguido chegar a 4ª bilheteria mundial. 

Como sempre, luzes acessas antes de terminar os créditos - com pessoas se levantando antes da cena do meio dos créditos (nesse momento, o cinema voltou a apagar as luzes, felizmente). 


SESSÃO CRÍTICA
Mulher-Maravilha 1984

Títulos Alternativos: MM84
Sessão Acompanhada: UCI Parkshopping - 16:00 - O 18 - 20/ 12/ 2020