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sábado, 15 de fevereiro de 2020

[Sessão Crítica] Sonic: O Filme (Legendado)

UMA BOA AULA DE ADAPTAR PERSONAGEM




Adaptação traz qualidades novas para antigos personagens

Neste começo de década, e em meio ao ano de seus 29 anos de aniversário, um personagem ícone dos videogames dos anos 90 - época tão em ascensão atualmente, dá o seu maior (e mais difícil) salto da carreira desde sua criação. Dos consoles Mega Drive para Hollywood, Sonic inicia uma fase bem interessante para a marca SEGA: os cinemas. Uma publicidade agressiva e ousada tem sido promovida por toda a Paramout.

Inúmeros cartazes, propagandas e campanhas estão sendo realizadas para promover a primeira adaptação de um game da SEGA ao redor do mundo. O que demonstra grandiosa ambição da empresa, tendo Sonic como a sua primeira produção original (com introdução digna das apresentadas pelos logos da Marvel nos cinemas - praticamente um padrão concebido e levado por todos os estúdios com bagagem de personagens e histórias - a exemplo de sua rival DC).

A expectativa pelo longa metragem surgiu em 2013, quando a Sony Pictures adquiriu os direitos de filmagem e a notícia de que a SEGA e a Sony uniriam forças para colocar o ouriço azul nas telonas. A grande questão é que a SEGA que conhecemos hoje não era mais a SEGA que conhecemos do Master System, Mega e Game Gear. Hoje, a SEGA não é mais conhecida como a grande indústria que batia de frente com a Nintendo e, posteriormente, a Sony. Hoje, a SEGA lava louça trabalha para as suas rivais realizando jogos com seus personagens já conhecidos entre os fãs que já migraram para outras plataformas. O grande temor nessa adaptação é se Sonic perderia a sua identidade - já que quem está cuidando desse processo é também uma ex-rival, a Sony (quem conhece à fundo a história das grandes corporações, sabe que ninguém joga para perder nessa história).

Como toda boa história infantil americana com personagens animados em um mundo real, não perderam a oportunidade de tirar Sonic de seu habitat para se relacionar com humanos. E a sinopse já se referia a isso diretamente antes de se iniciar a produção, lá em 2014.

Apesar de Sonic ser um jogo de identidade japonesa, o grande incentivo para a criação final de sua identidade visual vem da SEGA americana. Com Sonic, a SEGA quis criar o seu Mickey japonês. Um garoto ouriço de cabelos espetados, luva nas mãos, olhos invocados e sapatos descolados era a imagem que se tinha da nova geração de jovens de um mundo globalizado. Um garoto em forma de um animal, um ouriço azul que, na teoria das cores, se refere ao consumo: o principal alicerce do Capitalismo - nosso principal movimento político atual, que move os videogames e o pensamento desse público. Um herói adolescente contra um exército de máquinas controlados por um cientista maluco. E o visual desse icônico vilão, quem diria, seria barrigudo, bigodudo, careca e algum traje vermelho (piada com o Mario?) com sorriso maquiavélico. Em outras palavras, ele seria o símbolo da antiga União Soviética (pelo seu domínio com tecnologias, até pode fazer sentido). Dr. Robotnik era então o principal inimigo e única presença humana que detém todas as armadilhas e armas amedrontadoras a serem encaradas por Sonic nas mãos dos jogadores.

Ganhamos então uma nova geração de anti-herói que rivalizava com o astro bigodudo da Nintendo, desta vez, não em uma terra de fantasia como em Alice no País das Maravilhas mas em um ambiente mais atual, mais tecnológico - a natureza contra a tecnologia em um cenário digna de um cyberpunk (febre numa era de relançamento de Blade Runner e a descoberta do longa animado japonês Akira nos cinemas daquela geração). O início dos anos 90 ajudou Sonic a surfar na onda liderando esses principais títulos com temática de ficção e ação para os games.

Apesar da comparação com esse tipo de ambiente de ficção (que daria pra comparar de Blade Runner a Matrix no campo cinematográfico), Sonic tinha a sua identidade - por se tratar de um super (anti) - herói na pele de um animal falante.

A ideia de transformar Sonic num alienígena - dentro dos padrões de nossa realidade (ou na realidade do filme) - soa convincente (afinal, a temática ficção científica sempre foi uma relação íntima com os jogos de origem). A sua boa explicação em mostrar uma origem diferente (ou adicional) ao que conhecemos em relação aos games é muito bem vinda - não afetando a característica do personagem ou de seu cenário - isso é um bom exemplo de como se adaptar uma obra.

Filmes baseados em videogames costumam ser reconhecidos como produções recheadas de piadas infames, atuações canastronas e cortes mal editados (sem contar os efeitos visuais pobres). Levou um tempo até entenderem como adaptar videogames para as telas de uma forma mais madura - perceber que não existem profundidade suficiente para o que levam para a tela. São histórias que são levadas como uma caixa vazia, sem peso, enquanto um filme (pensado como filme) tem ambição para disputar premiações e sentimos o peso dessas histórias.

Sem dúvida alguma, as adaptações de quadrinhos - que vem de batalhas muito mais antigas - tem encontrado, aos poucos, o seu rumo para serem respeitados como obras dignas do cinema arte e não apenas filmes para crianças sobre homens mascarados em uma armadura de plástico. As adaptações de videogame não devem copiar as adaptações de quadrinhos, de maneira alguma, mas se definir em algo único e importante para o cinema, como adaptações. E os mais felizes nesse ponto, acabam sendo os filmes que, de alguma forma, pegam essa temática - o grande exemplo disso é Matrix (1999) que, com sua complexidade, ganhou inúmeros questionamentos e inspirações para autores de livros de filosofia. Adaptações de videogame deveriam fazer o mesmo, mas seus realizadores não conseguem compreender as suas linguagens e preferem apenas fazer filmes de verão para adolescentes pouco exigentes.

Sonic, na história, começa meio covarde. O roteiro não se preocupa nem um pouco em acelerar o seu desenvolvimento até nos apresentar uma mudança sutil e grandiosa. Todo o alarde da audiência das redes sociais (embora, em sua maioria, detestável) ao menos prestou em fazer algo bom dessa vez e exigiu algo que se tornou um respeito grandioso à obra original. Mantiveram as características realistas (e coerentes) e consertaram as feições do personagem. Sendo assim, Sonic se apresenta muito mais mais familiar. É de cair lágrima de fã mais velho ao ver o seu personagem nas suas expressões tão vivas quanto nos jogos em um ambiente realista, e passando a aprender a ser imponente quando a trama chega ao seu climax. Essa é uma forma muito tradicional nos filmes americanos, de um herói aprender a ser forte depois de tantas derrotas - o que não deixa de ser interessante, já que, nesse ponto, está muito mais associado às mecânicas que identificamos nos jogos (das vidas perdidas antes de ganhar o continue).


Curiosamente, no primeiro trailer, foi usada o clássico hip-hop Gangstar's Paradise do Coolio Quem estranha, nunca entendeu realmente o conceito original do personagem. Nunca assistiu ao comercial japonês de Sonic dançando break - um de seus primeiros comerciais que anunciava o lançamento de Sonic The Hedgehog em 1991. A música negra sempre esteve nas veias do mascote mais veloz dos videogames. Nas propaganda do Ingresso.com, vemos um "Sonic dançante" ao estilo das ruas, parece incontestável que a caracterização venha com base de inspiração aos primeiros materiais - um trabalho de pesquisa claramente enraizada nas origens do personagem - e o Sonic está totalmente nesse longa, parece milagre em compreender exatamente a obra como ele deveria ser. Sobre a dança, temos também um outro astro da década de 90: Jim Carrey, por sua explosiva revelação em O Máskara. E até em uma entrevista ao canal Cinepop, Sonic acaba fazendo referência ao seu conterrâneo com a frase: - Alguém me segure! 

O Sonic sempre teve esse sangue pop em suas veias - tanto é que muito se fala que a base de toda a sua caracterização foi o astro Michael Jackson (e a relação com Sonic 3 deixa isso muito claro).
Dotes de dançarino e esportivos não são estranhos para Sonic. Um herói adolescente para tempos intermediários.


Acaba a guerra-fria e a guerra agora é da tecnologia - Sonic é super-herói embora ele seja naturalmente um anti herói mas é mais bonitinho chamá-lo assim  de um ambiente natural dominado por criações humanas. Como a tecnologia e a sua rápida evolução, Sonic é veloz - exatamente como os jovens adolescentes gostam de viver a vida. Porém, o filme humaniza até demais esse ponto.

Se pensar bem, de certa forma, a história tenta nos apresentar um faz de conta: e se Sonic estivesse longe de seu habitat? Se construirmos um pensamento crítico sobre esta situação, de repente, podemos aceitar melhor essa distância. E lembrar que o conceito de Sonic em se relacionar com humanos ocorre desde sua criação (quando ele era apenas uma bola de pelo conhecido como Mr. Needlemouse - e até essa origem conceitual e obscura é, de certa maneira, reverenciada pelo longa).

Fala-se muito de haver estranheza sobre a turma de Sonic apreciar mulheres bonitas no esquecido longa animado japonês (Sonic The Movie, 1997) mas vale lembrar que, num conceito inicial, Sonic quase teve a Madonna como namorada. Portanto, ter ou interagir com humanos nunca foi lá um verdadeiro problema para Sonic. É importante lembrar também, que o universo de Sonic não criado à imagem e semelhança de uma criança mas de um adolescente. No longa metragem, isso se apresenta de uma forma devidamente sutil e interessante. Porém, quem rouba a cena, como realmente é esperado, é Jim Carrey - grande surpresa do elenco (e profundamente grata desde seu anuncio) ao incorporar Dr. Robotnik com muita competência. Jim, aproveita elementos conhecidos de seu talento aqui para afiar o seu personagem: altera sua voz do comum ao mais voraz, e isso é incrivelmente arrebatador (e, por vezes, intimidador), sem contar a desenvoltura física para criar elementos cartunescos ou teatrais como exatamente as de um desenho animado; sua transformação visual (com base no enredo) nos faz desejar ver mais do personagem.

Na pele de Sonic, a voz de Ben Schwartz é bem parecida com a voz de Ryan Drummond, intérprete americano dos jogos da série Sonic Adventure. E é curioso ouvir o termo Eggman que só então se sabia nos materiais de instrução dos primeiros jogos na versão japonesa.

Em termos de interpretação de personagem, a suavização no lado rebelde de Sonic, converte, tecnicamente, esse lado mais  resistente a comprometimentos ao personagem de James Marsdsen (Tom Wachowski). Esse nerf enfraquecimento de personalidade tem como justifica uma exploração mais direta nas relações humanas - é quando Sonic tem a chance de expressar o seu lado divertido e engraçado ao tentar Tom (Marsden) em situações embaraçosas.

Esse Sonic, mais simpatizado pelo roteiro do filme, tenta criar uma interação mais próxima com o público e facilitando as arestas para nos apresentar sobre quem é esse novo Sonic em uma tentativa de faze-lo se envolver com o personagem. O lado falante, levemente explorado, expressa aí um outro elemento mais caricato em relação ao Sonic original, já querendo mostrar que o personagem é agitado em todos os sentidos. Sem contar, a esperteza de suas tiradas - o ponto mais fiel ao personagem, nessa relação (tirando o lado heroico, que é a conclusão de sua personalidade - tradicional em histórias de origem de super-herói).



Com a produção de dois grandes nomes na bagagem, Tim Miller (Deadpool) e  Neal H. Moritz (Velozes & Furiosos), parece que todo o potencial aqui investido não é para brincadeira como outras adaptações do gênero e estão realmente querendo apostar numa potencial (e coerente) cinessérie.


Mediante piadas e carisma, a interação entre Sonic e Jim Carrey (Robotnik) fica balanceada. É Jim quem realmente desperta as risadas, impacta pelas falas e atitudes que expressam um bom vilão (talvez, o melhor de sua carreira, desde o Charada em Batman: Eternamente) e Sonic o conforto emocional. É uma dualidade que realmente transporta bem o videogame na tela.

A trilha composta por  Tom "Junkie XL" Holkenborg (Liga da Justiça), desperta devidamente o clima de aventura e a trilha cantada fica por conta de Wiz Khafila e outros na música tema "Speed me Up" que compõe o álbum muito combinado a batidas ao estilo agitado e jovial dos games. Um show à parte.


Sonic: O Filme é um encontro com elementos do cinema atual com uma grata homenagem à década de 90, fiel aos games clássicos, com uma certa pegada nos atuais, e ainda traz boas surpresas. Sem dúvida, uma boa adaptação que deve ser notada e levada como exemplo.

ATENÇÃO: Fiquem durante os créditos. 



Momento Pós-Crítica
- Em uma cena, Sonic comenta: "- O The Rock já é presidente ? " vale lembrar que no filme O Demolidor (1993), há uma referência citando: "- O Scwarzenegger foi presidente ? " . A mídia costuma relacionar The Rock como o Arnold do século XXI. Porém, Arnold já entrou para o cargo político, sendo governador da Califórnia (2003-2011). 

Memórias da Sessão
ALELUIA, ASSISTI LEGENDADO
A empolgação da audiência no shopping foi bem interessante, e então pude testemunhar um garoto e algumas crianças com as camisas do Sonic. 

No dia de lançamento, eu fui o primeiro a chegar na sala - que ficou um bom tempo sem ninguém ali - antes de entrar, até fui confirmar se era aquela sala (pelo menos umas duas vezes), pois não queria perder de forma alguma nenhum momento como ocorreu com WiFi Ralph . Eu fiquei então imaginado o quanto seria ótimo ter uma sala de cinema em casa. 

Havia pelo menos umas 10 pessoas na sala e pelo menos umas quatro pessoas (um casal e duas mulheres) ficaram até o fim dos créditos.

Apesar de não haver o costume de nunca manter as luzes até o fim dos créditos, é com uma grande felicidade que eu gostaria de parabenizar o UCI Parkshopping por ser um dos poucos a ter cópias legendadas.




EXTRAS

Tornando-se Robotnik

Wiz Khalifa, Ty Dolla $ign, Lil Yachty & Sueco the Child (Speed Me Up) - Trilha Sonora de Sonic: O Filme

Propaganda Ingresso.com



SESSÃO CRÍTICA
SONIC: O FILME
Título Original: Sonic The Hedgehog
SESSÃO ACOMPANHADA: UCI: PARKSHOPPING - P 18 - 19: 55 - 13/02/2020