A FICÇÃO DENTRO DA FICÇÃO
Para começo de história, quem não conhece o trabalho devidamente autoral de Quentin Tarantino pode estranhar essa obra cinematográfica que de cine biográfico não tem nada. Muito pelo contrário, os já bem apresentados Bastardos Inglórios e Django Livre mostraram do que Tarantino não tem limites para brincar de contar histórias - ainda que isso gere burburinhos revoltantes pelos mais conservadores do gênero. Sim, a história se passa em mais um período histórico - desta vez, em uma Hollywood dos anos 60 (mais precisamente no fim de sua Era de Ouro) - com toda a caracterização da época e seus personagens famosos. A onda hippie e estrelas do cinema em um Tarantiverso ao seu gosto e carisma.
Destaca-se a fotografia que remete a década da liberdade, da inocência e do sexo livre. Como costumeiro no universo de Tarantino, o humor negro de ação se desenvolve em diálogos e situações humanas - explorando a relação entre personagens, a crise existencial e algum mistério (ainda que nem tudo esteja muito claro). Interessante ver como o tempo passou para Brad Pitt e Leonardo DiCaprio e encontrar os já talentosos atores atuando finalmente juntos e mais experientes.
DiCaprio é Rick Dalton, um veterano ator de filmes de faroeste em crise existencial. Pitt é Cliff Booth, o amigo inseparável de Rick - quase um guarda-costas - e o personagem que melhor induz o público a curiosidade em toda a trama (fica a critério nosso criar uma definição razoável de certas ações). A revelação é a mirim Julia Butters (Trudi) - a exemplo de Christopher Waltz (um ator revelação aos 53 anos) em Bastardos Inglórios, temos - curiosamente - uma atriz mirim de destaque em um filme dirigido por Tarantino (um literal caçador de novos e antigos talentos desde Pulp Fiction).
A exemplo de Os Oito Odiados,o desenrolar da história é lento - para ser mais claro, é bem mais lento que o filme anterior. O nono filme de Quentin Tarantino faz de 2 horas e 45 minutos um filme de mais de três horas de duração - é perceptível o peso, porém, é também sentido de alguma forma o envolvimento com seus personagens nesse conto de fadas que mais uma vez se aproveita de elementos (cine) biográfico a fim de contar uma história que é a sua própria história em quadrinhos no cinema - Tarantino gosta muito de brincar de escrever quadrinhos audiovisuais (como um apaixonado por filmes à moda antiga).
A história de Sharon Tate no longa, foi a parte mais aguardada para ser testemunhada, já que Tate (uma das mais conhecidas atrizes e sex symbol daquela década) teve um fim brutalmente trágico ainda jovem - o caso se tornou o principal barulho da mídia assim que o filme foi anunciado e entrava a pergunta que não quer calar: "-Como será que Tarantino vai adaptar isso?" Como bem conhecemos Tarantino - ou os seus fiéis espectadores - suspeitava-se de uma surpresa para a história (como em Bastardos Inglórios, foi provado que Tarantino é capaz de tudo numa ficção). Apesar das poucas falas, Robbie - com bronzeamento artificial e expressivas sobrancelhas - encanta pela caracterização atraente e carisma visual - as expressões e a delicadeza das falas - Tate está mais viva do que nunca em Robbie.
Para quem assiste a um filme de Tarantino levando tudo a sério, vai se decepcionar grande ou em algum ponto. A ideia de ser uma cinebiografia é uma pegadinha. Há todos aqueles elementos já citados e a trilha sonora arrojada (revitalizando a imagem da época) que também vale muito à pena uma observada. Aos apaixonados estudantes e entusiastas da ambientação e os seus bastidores: ficarão fascinados ao buscar, por conta própria, as referências apresentadas por essa divertida pseudo-biografia e descobrir a verdade da fantasia nesta década do cinema.
ATENÇÃO: FIQUEM DURANTE OS CRÉDITOS
MEMÓRIAS DA SESSÃO
E acordando a hora que quiser (no dia anterior, acordei bem à noite), resolvi tudo tarde durante o dia e na expectativa de resolver tudo cedo, acabou que virou correria para chegar no último horário do último dia da promoção UCI Unique. Foi o dia mais tarde que já saí de um cinema (acredito que há anos). A caminhada pelas ruas foi bem tranquila e levei quase uma semana para assistir (e por pouco não assisto). Houve poucas pessoas (até pelo horário e pelo dia, talvez). O cinema ligou as luzes ao subirem os créditos, ninguém ficou na sala e perderam a cena extra - só alguns funcionários ficaram para acompanhar.
SESSÃO CRÍTICA
Sessão Acompanhada: UCI Park Shopping - I 10 - 22:30 - 21/08/2019 (Quarta-Feira)