A toda poderosa indústria do entretenimento e pai do Mickey
Mouse (a Disney, claro!) tem aqui o maior desafio já encontrado em refilmar uma
obra prima do clássico moderno de seus longa metragens. O longa de 1994 é
perfeito, irretocável, sem erros (em todos os seus adjetivos), emocionante,
divertido e trouxe uma linguagem inspiradora (Hakuna Matata?).
O filme se tornou não apenas um grande filme das animações
mas um verdadeiro ícone da cultura pop. É perceptível a febre – os ingressos
esgotados e o constante fluxo de pessoas (especialmente mulheres) caminhando
pra lá e pra cá com as camisas promocionais do desenho animado clássico de
longa metragem sem contar as conversas nos ambiente públicos com a expectativa
do filme e das lembranças que Simba e cia. deixaram. É como se estivéssemos voltando a 1994, de
fato. A geração da nostalgia bateu forte como nunca no cinema do século XXI.
Acontece que o frisson sobre uma obra popular cresce os
olhos da indústria – qualquer indústria do entretenimento – acontece que a
Disney está lidando agora com o seu próprio filho de sucesso. Mas, o que
aconteceu? Simplesmente amoleceu e esfriou o amor. Tempos diferentes, meus
amigos, tempos diferentes. A visão apoiada pela direção de Jon Favreau (Homemde Ferro) torna a experiência incompleta. Os conspiracionistas diriam que essa estragada seja proposital como mais uma
obra vítima dos movimentos sociais – como a história em si tem visão patriarcal
(eu diria até cristão) e é uma visão contra o ativismo moderno - mas quem pode provar? Ainda que a Disney tenha realmente demonstrado, ainda que de leve, um apoio pra esse lado político anti direita (e extremamente conservadora).
Como muito se foi comentado nas críticas especializadas, o
filme com os pés fincados na realidade é um show de paisagens da natureza, mas
sentimentalmente frio. Fotografia
impecável, mas com expressões inanimadas. Assistir ao longa metragem comparando
com o desenho de 1994 é covardia, passa uma sensação de exaustão – torcendo
para que aquilo acabe logo. Infelizmente é com grande pesar e tristeza
descrever que toda aquela emoção do passado fica apenas na memória – e só
melhora se substituir aquele jogo de imagens reais com as expressões vivas do
longa metragem original (enfim, de cair lágrimas ao lembrar cenas clássicas e
inesquecíveis daquela experiência sendo visualmente reproduzidas).
Desde a apresentação das artes dos vários personagens em
suas formas reais nos cartazes, é consideravelmente notável que sejam bem diferentes das espécies da realidade (a exceção poderia ser Timão –
o mais bem animado do longa). Toda
aquela expressividade, diferenças significativas de visual e caracterização que
define muito bem quem é quem na animação praticamente deixa a desejar neste O
Rei Leão 2019 – por isso uma aposta arriscada da Disney. Por sorte, à sombra do
longa de 1994, o novo chamou a atenção
pela sua revisitação.
Tudo o que eu temia à primeira vista no longa de 94 e me
surpreendi eu acabei testemunhando aqui. Sem toda a qualidade de interpretação,
o longa fica arrastado com tanta imagem bonita pra apreciar mas tem seus pontos interessantes como a
forma em que esta refilmagem vê a outra vida (através dos céus sem a imagem do
comunicador em espírito).
Admito que, como um fã incondicional da versão original de 94, assisti
ao longa metragem o tempo todo na posição defensiva me questionando: “-O que
vão fazer com o meu desenho?” ainda mais numa época forte de desconstruções
incompreensíveis na cultura pop. Felizmente, o filme segue fielmente o desenho
– com os mesmos diálogos e situações (levemente, algumas adaptações
consideráveis e algumas falas diferentes e outras novas – pode ter sido alteradas
nas cópias dubladas também para se aproximar das falas originais).
As canções e a trilha sonora épica de Hans Zimmer (também
responsável pela versão de 94) são afiadas mas são sentimentalmente sentidas
pela metade. “Se Preparem” (Be Prepared no original) é cortada sem mais nem
menos quando ele atinge tons orquestrados e avassaladores. A dublagem
brasileira está sensacional, impecável, que também conta com a participação da icônica cantora, febre do
momento, Iza, encarnando Nala. Porém, o novo é dez
vezes menos rei do que o homônimo de 94.
Em uma profunda comparação, a entrega do longa original é
muito mais marcante e em nenhum momento este, que está em cartaz agora, apaga
ou substitui ou nem mesmo tem essa ambição de acrescentar algo significativo ao
clássico dos clássicos das animações que não é nada mais ou nada menos do que
perfeito. A essência Shakespeariana está
lá, mas só deverá ser sentida por quem já conhece a história.
Os elementos naturais são comuns na cultura da religião
africana. Sendo todo o universo de O Rei Leão passado em uma terra selvagem,
distante dos homens, o ciclo da vida muito se assemelha ao nosso na visão
humana da Disney – que buscam nos trazer imagens positivas (e até educativa)
através desses significados e elementos regionais.
O Rei Leão segue a visão do Animismo. Segundo estes cultos indígenas,
os elementos naturais são espíritos que se manifestam na Terra. No grande
clímax, observa-se uma transformação poética desses elementos - sendo o fogo a
representação teatral da fúria, posteriormente encoberto pela chuva – que rende frutos e renova as energias. Essa
visão concreta dos elementos difere da visão científica e da visão cristã.
O macaco Rafiki, nessa caracterização, representaria o Xamã – ao incentivar Simba, o herdeiro do trono, o culto aos ancestrais para se lembrar de quem é – reforça fortemente essa simbologia. E, para concluir, a crença de que seus ancestrais vivem dentro de seus herdeiros em espírito. Na prática, há a cremação do falecido aonde o pó das cinzas seriam preparadas em uma sopa e consumidas por seu descendente acreditando que o mesmo adquiriria todo o poder e sabedoria do antecessor. Se O Rei Leão fosse adaptação de um conto de fadas (assim como costuma ser as muitas adaptações Disney) esse tipo de história poderia se tornar a parte mais surpreendente da trama, mas como se trata de um conto Disney essa simbologia foi resumida apenas pelo retorno de Simba após a visão espiritual (bem mais familiar para o grande público, especialmente cristão).
O macaco Rafiki, nessa caracterização, representaria o Xamã – ao incentivar Simba, o herdeiro do trono, o culto aos ancestrais para se lembrar de quem é – reforça fortemente essa simbologia. E, para concluir, a crença de que seus ancestrais vivem dentro de seus herdeiros em espírito. Na prática, há a cremação do falecido aonde o pó das cinzas seriam preparadas em uma sopa e consumidas por seu descendente acreditando que o mesmo adquiriria todo o poder e sabedoria do antecessor. Se O Rei Leão fosse adaptação de um conto de fadas (assim como costuma ser as muitas adaptações Disney) esse tipo de história poderia se tornar a parte mais surpreendente da trama, mas como se trata de um conto Disney essa simbologia foi resumida apenas pelo retorno de Simba após a visão espiritual (bem mais familiar para o grande público, especialmente cristão).
Agradecimentos especiais ao amigo Teólogo e desenhista Marcio Correia pela consultoria.
Memórias da Sessão
Assim que cheguei ao balcão, a moça perguntou “Quer o
cartaz?” mas é claaaaro. Enfim, foi assim que felizmente consegui o brinde
especial com o cartão UCI UNIQUE.
Como há muito tempo não vejo (só em época de estreia de
filmes da MARVEL especialmente Vingadores) uma monstruosa fila que passava para
fora do estabelecimento de cinema do UCI Parkshopping para entrar na sessão.
Isso sem contar as constantes moças com camisa Hakuna Matata pelo shopping.
Isso tudo foi muito lindo de ver. Ah, sem contar o bate-papo sobre O Rei Leão e
a preparação de uma mãe, acompanhada de sua filha e a tia dela, num ponto de
ônibus estudando o horário das sessões, isso em dia de estreia. Sem cartão pra
comprar antecipado, já estava sentindo um desesperinho no ar assim que eu fosse
sair de casa, sem horário programado no fim de semana, e chegar lá e me deparar
com ingressos esgotados em todas as sessões. Quando vi que haviam fechado o
horário das 19:10 para a minha sessão, fiquei perturbado na fila e a saída foi
já pensar na sessão das 19:40 (em pleno domingo já me preparando para dormir e
acordar no dia seguinte – cheguei num horário bom depois mas acabei dormindo
mais tarde do que imaginei).
Assim que cheguei ao balcão, vi que o horário das 19:10
estava ativo (ufa! Minha esperança de assistir no formato XPLUS 3D se renovou)
mas pensando, achei que só restariam poltronas bem em frente à tela.
Felizmente, a moça me abriu o sistema e dos poucos lugares havia um no canto
(como em um ambiente de shopping a tendência de ir ao cinema é uma família inteira ou casal então eles podem
ter riscado o horário no painel para
evitar qualquer atrito). Estranhamente, ao ver minha poltrona (L 22) só havia o L 21
e foi ali que sentei mesmo. O L 22 não existia.
Felizmente, mesmo com o ligar das luzes e, repentinamente o
desligar delas bem no fim dos créditos (ligando rapidamente depois..) algumas
pessoas ficaram até o fim dos créditos graças às crianças serelepes que corriam
pra lá e pra cá e alguns familiares – mães e tias tirando fotos com seus
pequeninos em frente ao telão. O cinema no fim virou um parque de diversões –
só incomodou alguns celulares ligando no escuro e alguns atrasados com lanterna
da câmera. Felizmente, a criançada ficou comportada e toda a sessão correu
normalmente com direito a aplausos no fim (eu também aplaudi por que, a final,
é O Rei Leão).
Então eu dedico esse aguardo do fim dos créditos às
crianças. Ainda durante os créditos o mutirão de pessoas ficou na sala e era
possível ver o formigueiro de gente saindo – ainda depois da metade dos
créditos havia muita gente na sala entre os que vão sair e a maioria sentada
que esperava os mais apressados.
SESSÃO
CRÍTICA
Sessão Acompanhada: UCI Parkshopping XPLUS 3D – L22 - 19:10 – 21/07/ 2019