Ah, os anos noventa era muito bom, não é?
No ano de 1995, estreava o Tarde Criança – marcando o
retorno da apresentadora Mariane Ribeiro Dombrova – na Rede Record de televisão.
Entre uma atração e outra, como os fantásticos
seriados de super-heróis japoneses, eis que me deparo com o quadro de desafios
entre escolas. E para a minha maior surpresa, videogames fazem parte dos
desafios, com diversos jogos de luta. Sem a molezinha do Shoryuken.com , sem Wikis
da vida e sem You Tube, a criançada não tinha experiência com as partidas, era
tudo na raça, sem manual de instruções, sem dica de viciado de buteco e sem
revista de dicas – embora eu acreditasse que eles tinham jogado aqueles jogos.
As partidas lembravam algumas que eu havia enfrentando no torneio Super Street
Fighter II de Super Nintendo ainda no mesmo ano há alguns meses. Porém, fui derrotado
surpreendido por um jogador mais velho e mais experiente.
A criançada testava os jogos em primeira mão no
programa – aparentemente nenhum deles, ou a maioria, não sabia dos movimentos
especiais dos jogos – mas encontrava um jeito de macetar quando encontrava o
botão certo.
Em uma época aonde competições de videogame era também
conhecidas como Olimpíadas de Videogame (sim, o tio Sukita entrou nessa),
podíamos testemunhar toda a característica que as competições atuais – até
mesmo televisionadas como esportes eletrônicos (na terminologia mundial já
conhecida como eSports) – possuíam. As competições do Tarde Criança contavam
com times (escola contra escola), plateia torcendo e disputadas contadas como
melhor de três. Como a Mariane apresentava tão bem esse bloco com
especificações tão complexas para um Videogame
na TV ?
Na época eu não tinha ideia mas hoje, assistindo às
gravações, percebi que toda a participação dos jogos com o Megavision Dynacom
era bancada e patrocinada pela desconhecida Revista Players. Eu mesmo tive essa
grata surpresa, conhecer uma revista de games dos anos 90 que eu nunca vi nas
bancas (provavelmente) ainda sendo um comprador de revistas de games e
frequentador assíduo das bancas de jornais nessa época. A revista parece ter
durado apenas duas edições e ainda contava com um programa de TV com roteiro do
editor da revista, Virtual TV – exibido pela Rede Manchete durante as manhãs e
apresentado por Vini Bombini. Aham! Então eram eles quem coordenavam todas as
regras das competições de videogame no Tarde Criança. Aparentemente, matamos a
charada.
As edições digitalizadas da revista (hoje em dia não
mais publicadas) podem ser encontradas no abençoado site de doadores DataCassete (atualmente é Datassette).
Um paraíso de lugar com várias revistas antigas e raras, especialmente de
videogames e computadores dos anos 80 e 90.
É interessante que na música de abertura do programa pode ser ouvido a palavra ou
os dizeres em sussurro: “Players, Players, Players” – diretamente se referindo
à revista que durou pouco tempo. Virtual TV era uma edição para a TV da própria
revista. Isso no Brasil foi um feito raro – uma revista de games ir para a TV.
Incrível.
Um feito raro para as revistas de games brasileiras – tanto encontrar
propagandas deles na TV quanto um programa de TV, este último foi o único caso
que passamos a conhecer. Como trabalhos independentes, o que poderia ter dado
fim a tudo ? Seria a elevada demanda em lidar com duas produções ao mesmo tempo
ou o destino seria ir de vez à TV após o fim da revista ? Fica o mistério no
ar. Mas suspeitamos que o grande fim se deu aos custos – lidar com trabalhos
televisivos gerava um alto custo, é o caso que acabou dando fim ao excelente
Game TV.
Há alguns anos, um dos produtores de áudio do programa Virtual TV entrou em contato com um fã da revista e colecionador do programa, André FearClown, em seu canal no You Tube, e revelou uma tremenda curiosidade. Quem esteve por trás de toda a criação do programa era ninguém mais e ninguém menos do que o próprio Vini Bombini. Vini não era um mero ator e apresentador contratado dos autores da revista como imaginávamos, era ele quem corria atrás de tudo e fazia a mágica acontecer. Bombini era também empresário e abraçou o projeto. FearClown também alega que chegou a encontrar a revista Playeres nas bancas na época: “-Mas meu pai não pôde comprar pois era mais cara que as outras revistas de videogame na banca.” lembra.
Episódios da série de programas Virtual TV podem ser encontrados no canal do nosso parceiro, Fearclown (You Tube).
Seguem algumas gravações disponíveis que selecionamos:
Abertura
Virtual TV –
Street Fighter Zero
Virtual TV – X-Men: Children of Atom
Virtual TV – D (3DO)
Comerciais
Encerramento
A DÉCADA DO TETRA 2.5
TARDE CRIANÇA: COMPETIÇÃO
Investigando A Incrível e Curiosa História Por Trás do Bloco que Também Apresentava Competições de Videogame no Programa da Mariane da Rede Record
Agradecimentos (MUITÍSSISSISSIMO) Especiais
Cassiano Bacelar
TV Retrô
André FearClown
Sílvio Puertas
Patricia Cristina Svrcek Rodrigues dos Passos
Não deixe de conferir: próxima Sexta (22) uma entrevista com o criador do programa Virtual TV e da Revista Players: Vicente Miceli. Sim, ele mesmo, aquele que um dia ficou conhecido como Vini Bombini. Como tudo aconteceu e como ele está hoje ? Já marca para ativar o sininho para não se esquecer da exibição única ao vivo o qual você terá a oportunidade de conversar com o realizador de todo esse incrível projeto.