Durante a década de 90, o cinema passou a estar envolvido com muita ação e tecnologia em meio
a um cenário pós-globalização. Esperava – se então que um certo superespião reformulado da década de 60 trouxesse
consigo uma grande influência para o que viria a seguir.
E no ano de 1996, veio a grande surpresa. Tom
Cruise, galã marcado por Top Gun: Ases Indomáveis nos anos 80 e, durante os
anos 90, por longas de suspense e drama, como A Firma (1993) e Questão de Honra
(1992), surpreende a todos ao estrelar seu primeiro grande filme de ação aonde
teríamos um personagem viril a altura de grandes astros do gênero que iam de
Arnold Schwarzenegger a Bruce Wills.
Ao olhar pela capa do título, toda estilizada,
envolta em redes que contornavam o seu transparente rosto de perfil, a grande
crença é de que estaríamos diante de um grande rival de James Bond ou de um
longa que vai nos trazer o dobro de ação com grande estilo - a exemplo do
trabalho visto com James Cameron em True Lies, no ano de 1994 (longa que,
inclusive, fez com que a produção de 007 contra GoldenEye a mudarem os rumos de
seu roteiro pela tamanha semelhança).
Missão: Impossível se infiltra em uma fase aonde
podemos ver um lado mais vulnerável de um super agente. A injeção do drama psicológico do mestre do
suspense dos anos 80, Brian de Palma, trouxe um surpreende toque de realismo no
meio da fantasia. Porém, não era o tipo de filme que se esperava como um filme
de ação de grande sucesso.
Para um longa que é considerado como o melhor filme
da temporada daquele período, M:I deixa
a desejar no ritmo (há pelo menos umas três cenas de ação no decorrer dos seus 110 minutos) e tem roteiro confuso (provavelmente favorecido por seus inúmeros
cortes). Em vídeos e imagens de
divulgação, era possível testemunhar cenas que não estão no filme, uma delas
até divulgadas por uma edição da Revista Herói aqui no Brasil.
Interessante, apesar dessas baixas, existirem
elementos dentro deles que se tornam inspiradores para uma história que
certamente deveria ser revista e reformulada com tudo no seu devido lugar.
Provavelmente, a visão de De Palma teria ficado
confusa entre se focar num suspense psicológico ou se atentar a uma história de
ação de explodir quarteirões. Talvez a falta de experiência do diretor em lidar
com esse tipo de situação ou o próprio orçamento não auxiliar nisso – lembrando
que no ótimo Os Intocáveis (1987), cenas de ação explosivas e suspense se
acertaram perfeitamente ainda que tenha faltado uma caótica sequência aonde haveria
um desastre de trem. Em um filme de
gênero policial como esse, isso seria tão impactante quanto ele foi para a
época em que foi lançado.
Mas em Missão: Impossível, parece que Brian de Palma
não teve a mesma sorte em equilibrar ritmo como ocorreu no seu clássico policial de 87. Porém, as poucas cenas de ação são grandiosas, somada a um
tipo de quebra-cabeça, praticamente um filme de espionagem que não foge a sua
raiz ainda que desperdice o potencial grandioso que Tom Cruise poderia provar como
astro de ação.
A série que deu origem ao longa, foi exibida
entre 66-73 e outra em 88-90, ambas
estreladas por Peter Graves na pele de Jim Phelps.
Disquete e computadores: Peças da tecnologia atual que servem de cenário para
acompanhar a história é uma das características da cinessérie.
No campo trilha sonora, M:I I trouxe uma bela
releitura do tema original da série de TV com Adam Clayton & Larry Mullen do fenômeno U2. Toda a trilha com
os vários artistas é de arrasar. E tão bom quanto acaba sendo o trabalho de
Danny Elfman, acompanhando muito bem espionagem e ação com bastante entusiasmo
– trazendo um perfeito clima de perigo aos momentos de drama e algum heroísmo.
John Voigh é uma das grandes surpresas do elenco na
pele do veterano Jim Phelps. Isso mesmo, Voigh interpreta o mesmo protagonista
da série de TV. É a principal peça da controversa e intrigante trama.
E no ano de 2000, chegava Missão: Impossível II. O
astro Tom Cruise e Ving Rhames são os únicos a retornarem do filme original.
Haviam conceitos de pré-produção aonde
Oliver Stone seria o diretor. Mas
quem assumiu o posto foi o renomado chinês John Woo.
Considerado o mestre do cinema de ação, Woo marcou
pela sua curta passagem em Hollywood com alguns ótimos filmes de sucesso
envolvendo grandes astros do cinema americano, A Outra Face se tornou a sua
principal referência. Inicialmente cotado para ser estrelado por Arnold
Schwarzenegger e Sylvester Stallone se passando no futuro, John Travolta (em
sua segunda parceria) e Nicholas Cage assumiram os papeis em uma história
passada no presente, unindo características de ficção, ação e drama num dos
melhores filmes da década de 90.
John Woo trouxe ao segundo longa uma visão
completamente distante do sentido espionagem e colocou todo mundo explodindo no
meio da ação, transformando Ethan num homem anti-gravidade ou seja, um
Super-Homem. John Woo queria algo mais
sóbrio, mais violento – algo, imaginamos, genial como A Outra Face, de repente
– mas os produtores queriam apenas mais
um filme do verão – era o desejo da Paramount – e daí, tivemos um
Missão: Impossível II longe da visão mais adulta do longa anterior a um mero
filme de ação divertido, água com açúcar. Se Crepúsculo fosse um filme de
espionagem este seria M:I II, um filme
de espionagem para adolescentes. Ou seja, um James Bond para adolescentes.
Ação aumentada e a história mirabolante com reviravoltas mastigadinha. Parecia
perfeito, mas não era Missão: Impossível.
E ainda que o roteiro do primeiro Missão: Impossível seja confuso, ele atende perfeitamente a
essência do gênero. - curiosamente
indicado ao Troféu Framboesa de Ouro de Pior Roteiro. Mas M:I II também não
fugiu do Troféu Framboesa e das más críticas.
Se o primeiro Missão: Impossível I as críticas
estavam direcionadas a ausência de um trabalho em equipe ao redor do longa, o
segundo piorava ainda mais ao assumir o protagonista o conceito de um exército
de um homem só. Cadê a espionagem?
Mas se tem uma coisa que não dá pra reclamar é a
trilha sonora. Hans Zimmer faz bem o seu trabalho com uma música tema considerável, buscando ser mais agitado e mais moderno (seguindo a identidade que busca o longa) e se de bandeia para um trabalho versátil e mais sentimental - do ritmo frenético de guitarra, do coral alegre ao violão ainda que seguindo o ritmo deste M:I fora
de contexto. Mas a grande sacada maior aí é a trilha com os vários artistas. Ótimos
nomes como Metallica e Limp Bizkit embalam a fervorosa trilha. Take a Look Around (Limp Bizkit), I Desapear (Metallica) e Iko
Iko (Zap Mama) são os grandes e indispensáveis destaques.
Iko Iko, inclusive, toca na melhor parte do filme,
aonde a introdução mostra Ethan escalando montanhas – algo muito Missão:
Impossível e se o longa seguisse mais por esse sentido, certamente entraria nos
eixos. Porém, o grande primor do segundo foi explorar Tom Cruise de uma maneira
que nunca vimos antes – como um verdadeiro astro de ação com testosterona.
Curiosamente, Dougray Scott, que foi cotado para ser
Wolverine em X-Men: O Filme, deixou a vaga para o parceiro Hugh Jackman fazer
seu bom trabalho e continuou o seguimento nas filmagens. Foi um grato conflito
de agenda.
Troféu Framboesa: Missão Impossível II foi indicado a Pior Remake/ Sequência e Pior Atriz Coadjuvante (Thandie Newton).
Tom Cruise, que não só atua como também produziu a
trilogia ao lado de Paula Wagner, diz que sempre deseja trazer uma cara nova a
cada sequência. E com Missão: Impossível
III acertaram finalmente o rumo ao nos trazer o que faltava em um e tinha no
outro ou vice-versa. E o melhor de tudo,
J.J. Abams como diretor, melhor aquisição para a série. O renomado criador, produtor e diretor da
premiada série Lost, dirigia o seu primeiro longa cinematográfico. Num período
aonde séries se tornavam febre, Abams emprestava a devida roupagem que Missão:
Impossível precisava nos cinemas. Talvez a também grata presença de A Identidade
Bourne (2002) e A Supremacia Bourne (2004) em uma Era Bush tenha contribuído
bastante para essa transformação da cinessérie e o ajudar a realmente se
encontrar em meio ao respeito de Hollywood.
M:I III acabou fazendo menos sucesso que os dois
anteriores, mesmo com todo o carisma de Tom Cruise e sua incrível perseverança
e presença – como uma estrela do rock – em divulgar o longa, com muita
criatividade. Talvez as arriscadas tentativas não tenham sido bem vistas e isso
acabou, em algum momento, cansando o público ou deixando incompreensível que M:I
III é o longa de M:I que se esperava há muito tempo. Fez menos sucesso mas conquistou o amor da
crítica, o que foi uma boa forma para deixar aos produtores a ideia de que
estão seguindo o caminho correto.
A câmera detalhista de Abrams destaca cada elemento
de ação sem deixar o espectador perder o
fio da meada. Da exploração das cenas de perseguição e cenas de luta de Cruise ás câmeras filmadas em tomadas tremidas em meio a um momento tenso, criando
perfeita sensação de terror.
Todos esses ensinamentos do Spielberg do século XXI
renderam sementes de inspiração para os longas que vieram depois aprimorando ou
dando seguimento a todo o rico conteúdo de Abrams, que retornaria como produtor
posteriormente.
Missão: Impossível III de alguma forma é comparado
com o grandioso trabalho de Cameron em True Lies, por ser a principal
referência em humanizar um agente de elite. Ethan agora tem um relacionamento e
o personagem possui conexões diretas com Tom no modo que ele o interpreta
emocionalmente. Pela primeira vez, vemos claramente um super agente se debruçar
em lágrimas e vê-las escorrendo. M:I III acerta no drama, no suspense, na ação
desenfreada, na espionagem em equipe e ainda reserva um momento pra água com
açúcar. A história ainda não deixa de lado o ponto espionagem, sem esquecer a
fantasia ou a mentirada do gênero que segue passos de 007 da década de 60, mas
tem seus pés mais no chão ao levar True Lies como referência – até mesmo há uma
cena da ponte filmada no mesmo local.
Philip Seymour Hoffman, um dos melhores atores do
século XXI a se despedirem tão cedo, revelação na década de 90 em Boogie Nights:
Prazer Sem Limites (1997), ganhou merecido reconhecimento ao faturar o Oscar de
Melhor Ator por Capote (2005) no Oscar 2006, felizmente coincidindo com Missão:
Impossível III, contribuindo para todos os holofotes em outra grande atuação,
como o traficante de armas Owen Davian.
AS
MUSAS DA TRILOGIA MISSÃO: IMPOSSÍVEL
Um ponto divertido que nenhuma obra de espionagem do gênero deve deixar de lado, são as incríveis musas. Como personagens inseridas na ação, elas acabam ganhando cada vez mais valor na cinessérie.
Em Missão: Impossível, a francesa Emmanuelle Béart dá vida a Claire Phelps, mulher de
Jim. Com os cortes do primeiro longa, a personagem acabou não sendo aproveitada
como deveria. Mas certamente poderia ainda criar ainda mais carga dramática se
houvesse espaço para um triângulo amoroso. Porém, tem seus momentos como
heroína de ação. Seu charmoso sotaque francês falando inglês, que está mais
para o estilo dos Ingleses do que para os Americanos, é característico.
Missão: Impossível II, tem a
Thandie Newton fazendo par romântico com Tom na pele de uma personagem de nome
curioso, Nyah Nordolf-Hall.
Porém, a magreza de Thandie foi criticada. Ainda faltava alguma Ethan Girl que
fizesse jus à bela Béart.
Em Missão: Impossível III, ainda
contamos com 3 beldades. Em terceiro, Michelle Monaghan, como Julia Maede, a
esposa de Ethan; Keri Hussel fica em
segundo, como Lindsey Farris, uma agente em campo e discípula do super agente; mas
o primeiro lugar vai para Maggie Q que mete a mão na massa na pele de Zhen –
uma heroína de suporte com a sua importância em todos os minutos que aparece.
Curiosidade: Antes de entrar para o elenco
principal de Missão: Impossível, Monaghan, inclusive, esteve anteriormente em
um longa de outro esperto espião, A Supremacia Bourne (2004).
A ESSENCIAL TRILOGIA MISSÃO: IMPOSSÍVEL
ACOMPANHE ANTES DE
MISSÃO: IMPOSSÍVEL - EFEITO FALLOUT