É importante lembrar que, embora una a essência do filme de Colin Trevorrow e dos clássicos modernos do mago Steven Spielberg, o cineastra espanhol Juan Antonio Bayona (O Impossível) adere personalidade a sua obra. A sensação mais pesada, a melancólica é sentida, tanto na maneira de argumentar quanto na soberba fotografia - do impacto visual da chuva e da tempestade à maneira sensível de lidar com a destruição de uma espécie.
Essa sensação de silêncio e leveza da sobriedade nos prepara para uma atmosfera aplicada de uma maneira mais profunda no suspense, associada aos elementos de terror do cinema do século XXI. A clara preparação de tornar a cinessérie daqui pra frente alcançar voos inimagináveis em comparação à visão que tínhamos no grande sucesso de 1993. Ainda que tenha perdido naturalmente, em parte, a sua inocência - até por questões de autoria entre um diretor e outro ou para se adequar a um novo tipo de público - Reino Ameaçado ainda respeita a essência de Spielberg ao construir uma grande aventura que reserva um pequeno e importante espaço para ser conduzida sob os olhos de uma criança.
Uma cinessérie como Jurassic Park não teria como seguir adiante com novas formas e evoluções sem deixar de lado o sentido filosófico e científico. Ainda que pareça forçado a maneira com que homens precisam encarar animais carnívoros e extintos clonados, a justificativa encontrada em algumas de suas sequências anteriores (Jurassic Park III e até mesmo O Mundo Perdido: Jurassic Park), Reino Ameaçado tenta aproximar de uma forma maior essa relação com o espectador no decorrer do seu desenvolvimento, deixando-nos refletir no fim de sua jornada.
Apesar da violência (ousada e surpreendentemente) aumentada e o quanto isso possa comprometer a relação de afinidade da audiência com os dinossauros (sem que eles sejam vistos como monstros), os momentos dessa evolução de interação dos animais ferozes com o herói Owen Grady (Chris Pratt) - uma espécie de Steven Irwin dos répteis jurássicos - se tornam importantes para envolver o público mais atento e sentimentalmente mais envolvido com o gênero. Agora, há um sentimento e um ponto de vista humanitário na história, não favorecendo a quem está em busca de apenas um filme de ação catastrófico aonde há correria e mortes todo o tempo.
Pontos de Exploração: Elenco e Produção
- Rafe Spall é certamente o melhor vilão humano de toda a cinessérie como Eli Mills desde o antagonista de Wayne Knight (como o cínico e divertido Nedry) no primeiro e intocável longa. Não ameaça apenas como também age das maneiras mais inescrupulosas possíveis.
- BD Wong (Wu) também teve um importante crescimento na história, em comparação que no livro o seu personagem era apenas uma vítima.
- Pratt e Bryce Dallas Howard (Claire Dearing) continuam mostrando o quanto são bem vindos na cinessérie, completando um acréscimo na lista de personagens mais carismáticos da história de elencos de Jurassic Park. São personagens que já se mostram firmes no ritmo frenético dessa nova fase de filmes - até pela profissão de seus personagens, temos um domador de Velociraptores e uma ex-líder de operações - personagens com maior nível de iniciativa para a ação. Embora não sejam cientistas, possuem um sentimento implacável e viciante para fortes emoções. Isso nos convence de que eles podem estarem juntos em inúmeros filmes da cinessérie.
- Jeff Goldblum (Ian Malcom) é a maior surpresa do elenco, defendendo a geração de heróis veteranos da aventura, e, assim como em O Mundo Perdido: Jurassic Park ( longa em que seu personagem foi protagonista) o tom caótico da história nunca fez tanto sentido para as visionárias teorias de seu personagem e cada passo de desenvolvimento profundamente reflexivo é conduzido por suas palavras. Enquanto há uma definição pessimista sobre o futuro na visão de seu personagem, a natureza se desenvolve da sua maneira.
- A exemplo de O Mundo Perdido: Jurassic Park que trouxe Vanessa Chester (na pele de Kelly Curtis, a filha de Ian Malcom) há sempre um jovem protagonista que deixa a desejar na sequência. Justice Smith é a decepcionante inserção de Reino Ameaçado como Franklin Webb, personagem, infelizmente, mal desenvolvido - aquele que poderia ser um carismático alívio cômico é quase uma peça irritante da obra (coma sua performance repetitiva) mas mesmo assim, pelo peso de desenvolvimento, acabamos por nos envolver em algumas de suas situações - seja em um determinado momento de terror e um outro de conclusão.
- Na pele de Ken Wheatley, Ted Levine assume o papel na lista dos caçadores valentões, só que mais atuante em decorrência do aumento de nível caótico da história.
- A pequena e estreante Isabella Sermon (Maisie Lockwood) é a melhor e a mais graciosa presença no elenco de novatos de Reino Ameaçado.
- Micahel Giacchino (Missão: Impossível III) conduz muito bem o ritmo com sua trilha sonora tribal.
- O trabalho autoral de Bayona não só adere elementos na trama como também uma identidade visual à cinessérie. O longa ainda traz uma inédita introdução com o logo oficial - mostrando que já se torna parte de um trajeto cinematográfico.
ATENÇÃO: FIQUEM ATÉ DEPOIS DOS CRÉDITOS
MEMÓRIAS DA SESSÃO
Assim como as sessões anteriores, decidi pegar a última sessão do dia. O shopping estava absurdamente um caos. Carrinho de bebê para todo o lado e pessoas bloqueando as passagens como se quisessem ser guardas de parque.
No supermercado, me surpreendi com um garoto usando uma camisa preta com o simbolo do Jurassic Park. Ele observou e eu virei pro lado com um leve sorriso e rindo por dentro - como eu estava com uma camisa do Jurassic World. Ele permaneceu olhando por rápidos segundos.
O UCI Unique reservou uma promoção bem interessante para o Reino Ameaçado. Quem adquirisse o ingresso com o cartão promocional, ganhava um broche com um pequeno folheto. Agradeci ao atendente pelo excelente atendimento (porque na sessão do Deadpool 2, a colaboradora que me atendeu não me lembrou ou deu o brinde da promoção). Perguntei se tinha poster pro filme JW mas só distribuíram apenas o broche como brinde sem o poster - ou seja, não havia promoção de poster.
Já a sala de cinema, segundo o que vi nos assentos, estava bem vazio (talvez o clima de Copa do Mundo tenha ofuscado as divulgações do filme, infelizmente). Escolhi justamente um assento que não pudesse estar colado com ninguém. Mas como sempre tem um bom brasileiro de classe C, logo que cheguei, me deparei com um Tiranossauro Rex com suas patas nas duas braçadeiras de duas cadeira - quer dizer que ele pagou 2 ingressos? Eu chego lá no fundo, na paz, e quando me sento, tenho que lidar com esse cidadão, todo folgado, com milhares de cadeiras vazias na sala, ele vai escolher uma que está do meu lado. Complicado. Mas no decorrer da carruagem, o cidadão se tocou e mudou de lugar - no meio dos trailers - para outro mais longe e me deixou bem feliz.
O UCI Parkshopping Campo Grande, como sempre, não respeita a regra de etiqueta e liga todas as luzes depois que sobem os créditos. Praticamente 98% dos apressadinhos saíram da sala. Eu fiquei meio descrente e quase sai mas andei para as poltronas da frente e decidi aguardar mais um pouco. Um colaborador estava ao fundo olhando a sala e depois saiu para nos deixar mais à vontade. Eu e mais um casal e um espectador olhando o celular à direita ao fundo.
E bem no finalzinho dos créditos (depois de creditarem as legendas eletrônicas) quando não mais acreditava que se teria uma cena extra..eis que surge um milagre. Por isso que sempre foi uma tradição pra mim ficar para aguardar a cena pós-créditos até em filmes que ninguém acredita que tenha. E então tive mais uma oportunidade única e rara no cinema.
SESSÃO CRÍTICA
Sessão Acompanhada: UCI PARKSHOPPING - 21:45 - P 17 & F 12 (?) - 16/ 06/ 2018