No lugar do logotipo cartunesco e agressivo, um símbolo todo metálico e moderno para atender às tecnologias e a ideia de que o jogo estava fora do videogame e ganhando vida.
À medida que o diretor Steven E. de Sousa e a imprensa especializada revelavam os segredos dos bastidores aos leitores, a curiosidade ficava cada vez mais atiçada. Era um tempo em que as novidades surgiam diretamente nas revistas de videogame, colunas de jornais, revistas de cinema ou de cultura pop.
Sendo as adaptações do gênero uma novidade, quem tinha os furos de reportagem eram as mídias voltadas para o mundo dos jogos eletrônicos. Felizardos eram aqueles que tinham TV a cabo entre 1993 e 1995, já com notícias inéditas, além de material raro e legendado, dublado ou narrado em português, com Jean-Claude Van Damme e toda a produção divulgando essa Streetmania chegando aos cinemas.
A última vez que me recordo de algum material do filme na TV aberta foi uma breve cobertura de lançamento num desses telejornais de uma manhã de sexta-feira na BAND.
Eu estava passando pelo corredor da casa e indo até a saleta dos fundos, onde tínhamos uma pequena TV ligada, sobre o armário, e só consegui ver algo da matéria do Acontece, jornal televisivo da emissora.
A matéria terminava com um bombardeio, mostrando a cena de Bison (Raul Julia) explodindo o tanque de Guile (Van Damme) e os guerreiros, de refém, com foco na Chun-Li (Ming-Na Wen), colocando as mãos sobre o rosto para evitar a luz da explosão no telão do ditador de Shadaloo.
A Rede Bandeirantes, uma das emissoras mais antigas do país, estreou o Acontece com foco nas principais notícias do dia. O filme estreou em 12 de abril de 1995 no Brasil, e a matéria aconteceu naquela manhã de sexta-feira, com a repórter fechando a matéria com "-...que estreia hoje nos cinemas" (enquanto rola o clarão da explosão na cara da Chun-Li e dos demais guerreiros que se protegem da luz). Meu maior sonho é conhecer mais desse material sobre o filme aqui no Brasil, entre os períodos de 1993 a 1995 (sem brincadeira).
Eu diria que entre 1993 e 1994, todo esse período foi rodeado de mistério e expectativa sobre como seria um filme de Street Fighter. Afinal, nunca tinha assistido a uma adaptação de videogame antes. Sequer imaginaria que já existiam outras adaptações ou títulos com a mesma temática antes dele (tirando Super Mario Bros.). Eu era só uma criança de 10 anos, mas já tinha uma certa bagagem sobre o peso do cinema de ação.
Um dos meus primeiros contatos com Van Damme veio de uma imagem de perfil um pouco embaçada (de alguma cena de ação) numa Super Game Power. Pouco antes, conheci algo da sua performance em Duplo Impacto mas, de alguma forma, não associava o mesmo ator.
Somente na estreia de Soldado Universal na Tela Quente é que eu passei a realmente saber qual era o real potencial do astro belga - ali, foi a primeira vez que vi alguma atuação mais dramática do ator.
E, acompanhando algumas matérias sobre a produção do filme Street Fighter na época, eu já esperava um grande filme de ação, como os de classificação 14 anos. Mesmo que fosse numa classificação livre – eu jamais imaginaria tamanha censura na violência até mesmo na sonoplastia dos chutes vandamenescos.
Esse era um período em que os sucessos buscavam se reinventar sem tentar se manter apenas na nostalgia que um dia conquistaram. E essa foi a aposta da CAPCOM com Street Fighter II para a realização do filme nos E.UA. (algo que fosse mais James Bond, deixando de lado o estilo Operação Dragão dos videogames). Coerentemente, faria até mais sentido se Guile fosse o protagonista de Street Fighter II (já que é um ditador o grande chefe final daquele bagulho).
A CAPCOM literalmente estava construindo um perfil moderno de seu já conhecido sucesso, trocando o logo desenhado por um logo metálico, associando o título para se encaixar com o ambiente da trama, um ambiente mais militar e mais associado ao vilão do filme, de alguma forma.
Street Fighter II acabou se tornando o carro-chefe da série de jogos, e praticamente seu início partiu da grande explosão de seu sucesso no Super Nintendo em 1992. A principal história da série acabou enfatizando que Bison era a grande ameaça de todos os tempos.
Houve diversos materiais e trailers inéditos por aqui (como o de uma sombra de Bison destruindo um globo terrestre com aqueal voz imponente entregue por Raul Julia e que influenciou e muito na postura mais firme e mais durona do vilão nos jogos posteriores).
O trailer principal, com uma canção instrumental de corais épicos, praticamente me marcou. Da sonoplastia à edição, dava a perfeita ideia de um filme de ação nunca antes feito na história. Afinal, reunir protagonistas de várias regiões do mundo em um único filme de ação com pretensões altas de ser uma arrasa-quarteirão pipoca e encabeçado por um dos maiores astros de ação daquela década, além das complexidades do enredo apresentado pelo diretor em entrevistas – "- Será mais violento que Indiana Jones e Star Wars?” – ou a ideia de que, em Shadaloo, os soldados de Bison teriam um idioma local. Estávamos diante de "O filme do ano" ou um dos melhores filmes já feitos – e teria nascido ali, em 1994.
Filme de ação com testosterona e essência inédita de um drama de guerra misturando ficção, fantasia, artes marciais e miscigenação? Assim era a grandiosidade com que poderíamos imaginar como seria esse filme. O Street Fighter com Van Damme, prometido desde 1993, era o filme que eu gostaria de ver (com todas as páginas de roteiro descartadas pelo diretor para adiantar o fim das filmagens). Parecia haver mais cenas de luta, também cortadas do filme, mais cenas de espionagem com a Chun-li, além de algumas cenas mais agressivas com o (agora) ciclone vermelho russo que só se podia ver em vídeos promocionais - como num dos videoclipes musicais oficial do filme.
Três videoclipes musiciais oficias do filme ganharam versões em VHS distribuídas pela Revista Videogame às vésperas de lançamento do filme no Brasil e junto a esse material rico também podia obervar cenas essenciais de comédia entre os intérpretetes de Ryu, Ken e Zangief. Quem realmente conhece os jogos, sabe que a comédia, de alguma forma, está associada na personalidade de sua ambientação (seja em desfechos de personagem ou em animações em ação).
Mas, no final, o filme que eu vi nos cinemas em 1995 era realmente muito diferente do que toda a energia do que aquele grande espetáculo promocional havia apresentado. Isso tudo elevou Street Fighter ao status de filme evento de 1994. E, realmente, quando o filme chegou aos cinemas, o dia de estreia foi uma verdadeira festa – com muito barulho e sessões lotadas. Para uma geração mais acima, poderia relacionar com o sucesso internacional de Star Wars e a febre das convenções de ficção científica. Com gerações um pouco mais próxima, poderia comparar um pouco disso com o fenômeno da Batmania em 1989 culminando também com o lançamento dos primeiros filmes das Tartarugas Ninja. Para gerações mais abaixo, daria para relacionar o caso com as campanhas realizadas pela Marvel Studios ou com a breve febre Barbieheimer.
Essa Streetmania levou gente para o cinema e fez muitas personalidades da época falarem sobre o jogo e as expectativas sobre o filme. Era o BOOOM que os filmes de artes marciais estavam precisando nos anos 90. Como eu queria ver que tipo de filme seria feito com todas aquelas páginas de roteiros arrancadas às pressas pelo diretor, viu. Ah, se eu queria.
Forrest Gump: O Contador de Histórias
Ver o Super Street Fighter II em ação no Mega Drive, com seus 40 megas de memória, foi maravilhoso. Mas uma das minhas primeiras emoções ao vivo foi ver Mortal Kombat II em uma loja de arcades nas praias de Vitória - ES. Depois de ver apenas fotos da versão arcade e das versões rodando no SNES e no Mega, eu fiquei abismado ao ver aquilo ao vivo. O Scorpion, com sua pose imponente - aquela de colocar as mãos na cintura durante a vitória (feito um super-herói) – era ainda mais incrível. Eu, que sempre escolhi o rival do Sub-Zero, precisava conferir aquilo na prática.
Então, logo corri para a banca ali perto e comprei algumas edições sobre Mortal Kombat II. E aí, eu só namorava cada página, né? Olhava aquele realismo todo e conversava sobre o jogo com o Caretinha (isso, meu irmão). Daí, a conversa foi para: "- Você já jogou Streets of Rage?" Ele, que tinha experiência com o Master System, me disse que os dois jogos eram iguais. Streets of Rage 1 e 2 até parecem semelhantes, pelo menos no Mega Drive, já que SOR 2 é um remake graficamente e sonoramente melhorado em relação ao primeiro. Claro, tirando o carro da polícia e alguns caminhos, as propostas são parecidas, o que não diminui a excelência equivalente dos dois jogos na minha humilde opinião (mas ele precisava mudar em Bare Knuckle III e isso foi ótimo).
Ver Mortal Kombat II rodando nos fliperamas de rua (sem nunca ter um Super Nintendo em casa) ficava difícil saber se aquela máquina era oficial ou se era um gabinete com um Super Nintendo embutido. Até que vi a máquina original, com o gabinete oficial, rodando em um shopping por ali, mas nem senti diferença. Ela tinha tudo o que a versão arcade tinha. Eu não troco a forma como vivi os jogos nos anos 90 por nada, mas se eu também tivesse um Super Nintendo naquela época, com Mortal Kombat II, já estaria me sentindo com um arcade em casa.
De Sonic 2 para Sonic 3, tudo muda. A começar pelos gráficos, Sonic é mais expressivo - e isso soa até estranho de cara - perdeu suas características simples que o tornavam icônico visualmente (uma simples mudança - como o adicionamento de uma boca - muda tudo) mas ganhou outras impactantes - como os incríveis e surpreendentemente impactantes efeitos de onda pelas águas enquanto corre mostrando todo o poder da velocidade do ouriço azul em sua plena liberdade.
O progresso mais compreendido é certamente a trilha sonora, de tirar o fôlego - com fortes instrumentalizações que construem uma sólida evolução dos jogos anteriores.
Depois que a internet revelou que Michael Jackson trabalhou na trilha de Sonic 3, toda a comunidade virtual de jogos foi à loucura. Realmente, há um brilhantismo refletida em misteriosos sons reproduzindo vozes eletrônicas - que nem chegam a lembrar Michael Jackson devido as alterações criadas pelas limitações da placa de som do sistema mas ainda assim trouxe um diferencial enorme à história da série.
Super Metroid