Videogames ganharam participação de personagens de
ação e histórias desenvolvidas, que emocionam e envolvem seus jogadores, graças
ao cinema. O mais curioso é que, mesmo
com um bom material em mãos, uma boa base para criar, as adaptações
cinematográficas baseadas em jogos homônimos caíram na maldição de rejeição de
crítica e público – salvo raros casos em que a adaptação consegue aceitação do
público, como Mortal Kombat e Terror em Silent Hill, e até mesmo adaptações
ruins (graças ao grande apelo comercial e de popularidade de seus jogos) como
Resident Evil (que virou cinessérie) e até mesmo Lara Croft: Tomb Raider
(ganhando dois filmes estrelados por Angelina Jolie).
Anunciado como um reinício para as aventuras de Lara
no cinema, acompanhando também o reinício da série nos jogos – depois da crise
que fez a antiga empresa inglesa Eidos (detentoras dos direitos) ser vendida
para a toda poderosa Square Soft (dos icônicos Final Fantasy, que também ganhou
adaptação americana que não fez jus à sua mágica – coincidentemente em 2001,
mesmo ano do primeiro Tomb Raider) – Tomb Raider : A Origem - subtítulo
nacional feito para que o público possa diferenciar este da cinessérie
anterior ao mesmo tempo que pode
confundir alguns que, por um momento, possa acreditar que seja um prelúdio para
as aventuras estreladas pela sua interprete anterior – conta Lara numa ótica
esteticamente diferente a qual ela foi apresentada em sua primeira fase nos
jogos – entre 1996 e 2013.
Alicia Vikander, atriz sueca e ganhadora do Oscar de
Melhor Atriz Coadjuvante por A Garota Dinamarquesa (2015), é a intérprete desse
longa prometido como um reinício mais fiel aos jogos. Se a grande preocupação
era o físico ou a forma como ela representaria Lara nas telas, para bem atentos
podem ficar despreocupados. Vikander mostra muita desenvoltura e profundidade a
personagem – tanto quanto Angelina no original. Ainda que ela não tenha o
físico volumoso da personagem de origem em sua primeira fase, a intenção era
justamente transportar a forma como a personagem está atualmente, acompanhando
também a tendência ou a postura que o padrão social descreve da mulher
intelectual e vigorosa.
Lara é mais sóbria sem perder o charme, nada de
sensualizar com mini short e mini blusas para expedição – uma reclamação que vem
criando uma comunidade forte nas redes sociais dos tempos atuais é a
objetificação das personagens femininas e a certa falta de identificação das
jogadoras sobre elas. Aqui temos uma Lara que possa atender à falta dessas
necessidades e ainda manter o agrado do público masculino, ao menos como uma
heroína de ação à altura dos heróis de ação - não mais uma mulher entre eles mas uma
personagem entre os grandes heróis. Lara está entre esses personagens. Dando,
provavelmente, um verdadeiro fim à objetificação visual de Lara.
Cabe aí uma livre interpretação, já que agora temos
duas visões diferentes de heroína feminina – a Lara de visual atlético (1996 e
2001) e a Lara durona (2013 e 2018) – quem entende que essa transformação
trouxe uma nova faceta para que a personagem seja mais aceita para os novos
viajantes, continuará seguindo trajeto sem guerras virtuais.
Vikander
estende a personalidade da personagem já apresentada com graciosidade, alguma
irreverencia e sentimentalismo – sem deixar o vigor de lado (até mesmo a
entonação da voz é bem parecida com a personagem de origem, mais evidente nos
gritos). Nada muito exagerado. É o que faz a protagonista carregar a morna
narrativa nas costas. Ainda que se tenha alguns momentos aparentemente
exagerados, Vikander desenvolve a situação com tal sutileza que, de alguma
forma, levamos como um instrumento de diversão consideravelmente aceitável,
mais pela interpretação (vamos combinar) simpática da atriz do que pela
situação montada.
Embora
toda a história sofra dos mesmos problemas de outras adaptações de jogos –
mesmo dirigido por diretores de Oscar Mike Newell de O Príncipe da Pérsia),
inclusive – aonde toda a história é criada como se fosse um jogo de bloquinhos,
aonde tudo se monta de uma forma mecânica e programada até demais chegando a
ponto de se tornar previsível em vários momentos, os diálogos estão na medida e
as cenas de ação são mais bem filmadas do que na primeira adaptação de 2001 –
dois dentre os principais problemas deste.
Fora
isso, o longa de 2001 mais parecia ter aquela vontade de ser um Indiana Jones
do Século XXI. Já Tomb Raider: A Origem,
o MacGuffin apresentado parece fazer
a história cair no mesmo problema – assim que o arco entre em cena.
A grande
preocupação de Spielberg em Indiana Jones e a Última Cruzada foi com que a
história não caísse apenas no clichê de tudo estar conectado com a busca pelo
tesouro – fazendo a trama ficar cansativa e previsível demais. Talvez pela
falta de experiência cinematográfica da produção em relação a visão de Spielberg
para longas de aventura, pesou neste Lara Croft (é uma pena que o mago de E.T.
não se interesse, mas imagine o quanto seria interessante se pegasse um diretor
que entende do assunto como Spielberg para assumir trabalhos como esse? E mesmo
que não ficasse tão fiel, poderia se tornar convincente em vários aspectos
cinematográficos.
Porém,
nem tudo está perdido, o longa custa a engrenar (apesar das reviravoltas
malucas) mas consegue se desbandar para outros elementos interessantes,
explorando o passado de Lara e a relação com o seu pai – uma pena que a questão
do passado, o treinamento da protagonista para poder se tornar a heroína que
conhecemos, é pouco explorado, mas a atriz mirim que a interpreta consegue
convencer nas poucas cenas, fazendo jus à maneira como a personagem, já adulta,
é conduzida. Certamente, um extensivo trabalho de adaptação da personagem foi
bastante focado desta vez, ainda que faltem algumas coisas.
Walton
Goggins, como Mathias Vogel, surge na história como um personagem aparentemente
aleatório, que poderia continuar assim, ter um papel menor, como um louco no
caminho de Lara – e fazer do longa uma verdadeira trama de trajeto com muitas
situações diferentes acontecendo, mas acaba sendo o centro da história – Vogel
não convence muito como antagonista, mas a trama até se esforça em adicionar
elementos bem humanos no personagem. Já Dominc West é uma peça carismática na
trama como Richard Croft e se encaixa muito bem na relação com Alicia.
A
fotografia, envolvendo luz e escuridão traz uma magnitude incrível para certos
momentos da trama. A maneira como as obras cinematográficas ganharam rumos mais
autênticos em suas histórias de fantasia – até mesmo questionando-as em um
mundo atual – e os próprios jogos novos seguindo para essa nova forma, sobre
reinventar personagens clássicos, ajudou e muito os produtores encontrarem uma
visão mais sólida para esta segunda fase de Lara Croft no cinema que se inicia.
Ainda está próximo do ambicioso, falta mais vigor, mas é certamente uma visão
muito mais de cinema do que rascunhada em relação ao que era antes.
ATENÇÃO: FIQUE ATÉ O MEIO DOS CRÉDITOS
MEMÓRIAS DA SESSÃO
Recebi um convite de cortesia bem especial de um grande
amigo cinéfilo mas temi, num primeiro momento, que o dia caísse um dia antes
das minhas preparações para o próximo torneio do Barzinga. Me perguntei do
motivo pelo qual o destino queria fazer isso comigo até que me dei contar de
que era na Quarta-Feira e dei Graças à Deus. Oportunidade que não ocorre à todo momento.
Segui um trajeto bem rápido de metrô e no local encontrei o amigo e o
organizador do evento – que estava sendo promovido também pelo FM O DIA e a
Warner. Modelos loiras bem produzidas , simpáticas, perfumadas e em um vestido
preto confirmavam o nome das pessoas na fila.
Aconteceram algumas entrevistas em frente ao pôster ao
fundo, com uma fila se formando ao lado cada vez que chegava o horário.
Encontrei ainda a famosa cosplayer Thaís “Yuki” vestida como a Lara Croft do
filme. Marcelo “Vingaard”, seu marido e
também cosplayer veterano (e hoje, juntamente com Thais, possui uma empresa
para jugar concurso cosplay em eventos) entrou na entrevista logo após Thaís.
Enfim, na sala, bem disse o meu amigo, que estava ao lado:
“-Bem que diziam, FM O Dia organizando pré-estreia, ninguém merece!” Show de
pagode e música funk rolaram com o telão mostrando o título do filme bem grande
atrás.
Programado para começar às 21 horas o filme começou às 21:30
com o apresentador da FM O Dia – com aquela voz animada e conhecida dos
radialistas – se sentindo meio que sendo “expulso” com o evento de divulgação
da rádio, e dos seus próximos eventos,
sorteando brindes e promovendo campeonato de imitação. Ainda durante a apresentação, sugeriu que
toda a plateia simulasse uma onda a ser filmada. Antes disso, Alan Barcelos
(organizador do evento em nome do Nível
Épico, o qual é administrador) buscou agitar o espectadores interagindo.
A plateia riu em apenas uma cena e todos saíram da
poltrona sem aplausos. Apenas um saiu durante a cena do meio dos créditos.
Quase todos ficaram em boa parte dos créditos e o meu amigo já estava querendo
ir embora pelo horário.
Tudo foi muito divertido mas a volta é que realmente
doeu no meu horário. Felizmente não precisei gastar mais duas passagens. O
despachante foi bastante camarada, mas tive que esperar dentro da estação BRT
completamente escura por uns longos minutos até surgir o ônibus. Levaram umas 3
horas até voltar. Na rodoviária de transição, sem guardas no horário pra
controlar, não respeitaram a fila – como é de costume - e fui em pé grande
parte do tempo. Infelizmente, só na parte da Zona Oeste essa bagunça. No meio
desse trajeto uma mocinha loira com um conjunto verde e ilustrações (blusinha e
shortinho) piercing no nariz, ficou me olhando alternadamente e então
perguntou: -“Quer colocar aqui?” olhei que ela deu uns rápidos tapas na cocha
sinalizando, percebi uma tatuagem de uma frase envolvendo sua batata da perna
direita pela horizontal e um desenho na outra, pequei a minha mochila e
coloquei em cima, agradeci sonoramente, sem ajeitar muito a posição sobre ela,
quando ela foi ajeitar, seu namorado marombeiro que estava ao lado - corte
militar, pele clara, bem novinho também, e várias tatuagens e um brinco –
camisa branca sem manga e bermuda (ambos com visual bem verão), pegou a minha
mochila para facilitar e ficou abraçado com ela, a moça se encostou no ombro
dele para dormir, vi dois anjos da guarda caridosos ali.
Já na rodoviária de chegada, tudo deserto, só alguns
bares abertos no maior som e uns cachaceiros na maior animação e algumas moças
isoladas em algum canto, uma de vestido cinza me observava e observei também
por alguns segundos, mas andei pra cima e pra baixo com a minha mochila
buscando por uma última condução pra voltar.
Praticamente escrevi tudo isso aqui virado, sem
dormir. Cheguei em casa quase 4 horas da manhã, horário que era para estar
acordando. Só tomei banho, troquei de roupa, encarei uma coceira frenética que
me estragaram os planos de sair mais cedo de casa, assim que cheguei ao
destino, percorri uma tumultuada rua, corri pra bater cartão no prédio e entrar
antes do elevador completamente lotado fechar (coisa digna de Lara se fosse
Jason Bourne) e se logando no sistema após o último minuto de tolerância após o
atraso do trem, encarando mais de 8 horas de escritório pesado. Ainda me sinto
um zumbi, preciso descansar para Sexta-Feira.
Ainda estou cheio de coceiras e crise de espirros,
toda vez que eu acordo, não sei que maldição é essa. Alguém me ajuda. Aventuras
loucas da vida cinéfila e gamemaníaca, mas é Tomb Raider, é cortesia, Os Crofts
nunca desistem.
SESSÃO
CRÍTICA
SESSÃO ACOMPANHADA: 21:30 – P 05 – 14/03/ 2018