Mulher-Maravilha é tudo aquilo que O Homem de Aço sempre
quis ser mas não foi. Zack Snyder deixa aqui assinado o seu melhor trabalho da
carreira que já se envolveu – seja para a audiência ou seja para os críticos
que buscam coerências cinematograficamente tradicionais em seus filmes.
Arrisco com segurança dizer que o longa consegue unir com
perfeita sincronia os dois universos – a fantasia dos contos e a nossa bruta
realidade – de tal forma que convence sem pretensões a exemplo de algumas raras
situações de Batman: O Cavaleiro das Trevas, este que é considerado o filme
mais adulto de super-herói, um título exemplar mas muito superestimado por se
levar à sério até demais elementos simples, nem um pouco complexos, justamente,
criando um leve contraste técnico pelos excessos, apesar de raríssimas
situações – poderia ser um prato cheio para paródias do que digno de um drama
tradicional dentre as categorias principais do Oscar. Ainda que este não seja parte
do Universo Cinematográfico da DC, vale como comparativo por ser responsável
desse derivado que trouxe o tom que a Warner quis manter para os seus filmes de
super-herói desse arco.
Pode parecer que o fundo histórico – envolvendo a mitologia
grega – tenha sido um forte apoio para a história de Mulher-Maravilha funcionar
tanto quanto Batman: O Cavaleiro das Trevas em um mundo real – até porque se a
heroína usasse um elmo, poderia ficar tão coerente quanto uma máscara de
fantasia (pela seriedade do seu conceito histórico) mas, numa questionamento
mais profundo, chegamos a conclusão que o segredo de uma história com
super-heróis dar certo é a boa montagem da sua execução. Procurar envolver o
telespectador mais exigente num emaranhado de diálogos, atuações e cenas bem
filmadas dentro de uma história que procura não apressar o desenvolvimento de
todo o processo e engasgar a sua qualidade nos 30 minutos finais – cada minuto
muito bem aproveitado para descrever seja em tomadas, comportamento dos
personagens e a finalidade que justifica todas as dúvidas encontradas no
decorrer da história.
A liberdade criativa - sem deixar de lado os acontecimentos
do Universo Cinematográfico – foge do tradicional e mantém a qualidade dos
longas do gênero quando ainda não eram pensados como cinessérie mas sim como
filmes únicos e o clima se torna ainda mais crível ao observar algumas características que formam a identidade da personagem sendo
transportadas para a tela de um longa de grande circuito – o nome símbolo, por
exemplo, não é mencionado e o seu nome civil é citado de forma incidental.
O tempo que Mulher-Maravilha buscou para sair do papel
também foi importante. Um trabalho esmiuçado da Warner e dos responsáveis que
foram exigentes em cada passo. Eles não queriam apenas mais um filme de super-herói protagonizado por uma
mulher, mas praticamente o principal filme para acabar com todo o mito de que
longas do gênero – protagonizado por mulheres – não alavancam grandes
audiências. Precisavam de um longa simbólico a exemplo de Superman: O Filme (o clássico de 78 estrelado por Christopher Reeve). Era a vez da Mulher-Maravilha, a principal
heroína do universo DC e dos quadrinhos.
Para isso, era preciso uma protagonista que atendesse a
todos os rigorosos critérios. Entre tantas beldades cogitadas e descartadas (em
muitos casos, até rumores) chegavam a um momento de que era bem difícil ou
praticamente impossível encontrar alguma atriz que pudesse se encaixar no
perfil da super-heroína. Esse
considerável tempo (com mais de 10 anos) proposto foi muito maior do que a
correria para a criação do Universo Cinematográfico DC a fim de concorrer com o
Universo Cinematográfico da Marvel. Esse
tempo grato foi importante e suficientemente bem aproveitado para que nos
trouxéssemos não só o melhor filme de Zack Snyder como também a melhor
protagonista da futura Liga da Justiça: Gal Gadot – que já impressionou apenas
com a sua palhinha em Batman v.s. Superman, se tornando a destaque do filme.
Gadot tem presença, carisma e nos envolve na humanidade de
sua personagem icônica. A representatividade está completa – podemos colocar
Mulher-Maravilha no mesmo patamar do que qualquer outro herói sem distinguir
gêneros. Desde Homem-Aranha (2002) que não se sentia uma sensação maravilhosa
de nos fazer sair do cinema querendo ser super-herói. Existe toda essa
mitologia de deuses gregos mas colocada com pés no chão – uma semi-deusa que se envolve nos problemas da
nossa atual e perdida sociedade. Um coração puro que demonstra amor por corações
impuros sem saber que eles sejam impuros – esse clima de inocência,
transpassada perfeitamente pelas cenas povoadas de civis sorridentes envolta da
heroína que se vislumbra com todo aquele mundo cinza é de realmente cair
lágrimas.
Como se não bastasse, a fotografia (principalmente nos momentos
noturnos) e a ótima direção de arte (que nos trás tonalidades bem coerentes da
armadura da Mulher-Maravilha em perfeita combinação com a visão meio manchada e
desbotada pela neblina das cenas – sem aquelas cores exageradas e vibrantes que
cegam os olhos) são os destaques técnicos junto às caprichosas e bem dosadas
sequências de montagem ou edição das cenas de luta – a câmera cria
posicionamentos perfeitos, seja de forma inclinada ou por cima, para
compreendemos cada cena na tela em meio aos exímios e rápidos movimentos na confusão da pancadaria e com algumas câmeras
lentas sutis (uma visão amadurecida dos trabalhos em que esteve Snyder na
direção, enquanto parece uma homenagem assinada por Patty Jenkins, a diretora do filme) e cenas
de ação com efeitos que criam interações em 3D que funcionam (como os rápidos
closes). Tudo tecnicamente com muito bom gosto – e a pesada trilha instrumental de Hans Zimmer & Junkie XL com o já conhecido tema (ouvido pela
primeira vez em Batman v.s. Superman e estendida aqui) compõem o clima de
heroísmo.
MEMÓRIAS DA SESSÃO
Este foi o filme que mais aguardei no mês. Minha pretensão
era assistir no sábado – depois de sofrer nas mãos das redes sociais, correndo
das revelações de quem assistiu na pré-estréia de quinta (devido a grande
ansiedade, quase assisti na sexta).
Por pouco eu não consegui assistir neste fim de semana por
um emaranhado de eventos. Além do grato convite de amigos para as partidas de
Street Fighter V, aguardei o pedreiro para uma reforma na casa ainda no sábado
– mas aparentemente ele não apareceu. Bati um papo longo com a vizinha quando
estava me preparando para sair (o áudio acabou quase toda gravada na
transmissão ao vivo das partidas). No domingo, o papo foi longo via áudio em um
segundo encontro entre amigos de partida. Eu senti no coração, porque o papo
estava bom sobre o jogo (pois adoro prestar suporte e aprender também) mas tive
que cortar se não eu iria perder a esperada promoção do filme da semana. Então,
sai na noite de domingo correndo para o cinema. Quando cheguei lá, descobri que
Mulher-Maravilha não teve desconto como filme da semana e sim Amor.com então
paguei apenas com R$ 1,00. Somando as contas, percebi o tamanho da crise do meu
bolso – e da minha saúde social. Pode ser que eu corra o risco de não mais ir
ao cinema ou de participar de outros eventos pagos (mesmo que em última hora). O
risco que estou correndo em não ter mais como continuar o blog antes do tempo
proposto é grande, sem o financiamento coletivo (que está sendo planejado) pois
o meu objetivo é viver do que eu faço. Pois gosto de fazer isso. Mas isso (bem) fica para um próximo filme
post.
O comportamento do público foi excelente mas, como sempre, o
UCI Parkshopping liga as luzes assim que os créditos sobem. Apesar de não haver
cena pós-créditos as cenas animadas durante as letras subindo são caprichosas.
Três moças e dois casais me acompanharam até o final dos créditos, exemplos de
cinéfilos fiéis e guerreiros – certamente honraram a princesa.
S E S S Ã O C R Í T I C A
Sessão Acompanhada: UCI PARKSHOPPING -
P-16 – 22:00 (Xplus 3D) – 4/06/ 17 (DOMINGO)
Gênero: Aventura
Duração: 141 Minutos