A primeira vez que tive o conhecimento de “Ghost in The
Shell” foi através de uma pequena matéria na revista Super Game Power (SGP) no
ano de 1995, no mesmo período em que o
longa de animação ganhava as telas do cinema japonês, sua terra natal. 2 anos
depois, em 1997, testemunhei a sua estreia na televisão brasileira através do
canal pago HBO em apresentação única, numa noite de Quarta – precisamente às
19:15 – exibido na cópia legendada em português.
No ano 2000, Ghost in The Shell – pela primeira vez – chegava
oficialmente em vídeo no Brasil, diretamente em DVD – a mídia mais recente
daquele momento. E ganhava o seu
primeiro subtítulo adaptado para as terras tupiniquins: “O Fantasma do
Futuro”. Agora, como uma adaptação
cinematográfica hollywoodiana, ganha a tradução “A Vigilante do Amanhã” e o
título original virou um subtítulo de referência. Se fosse traduzir ao pé da letra, Ghost in The
Shell significaria “Fantasma em um Casco” – tudo a ver com a protagonista em
questão.
Adaptações de mangá não têm sido muito felizes com grande
parte do público ou por muitos críticos – como uma linguagem moderna de difícil
compreensão para os ocidentais. - do
malsucedido Speed Racer ao
incompreendido Dragon Ball. Como sendo uma história complexa e dedicado a um público de
mangás adulto, a altura do longa Akira (1989), as ótimas divulgações esmiúçam e
simplificam a trama de Ghost in The Shell sem tirar a sua profundidade, acabando por não causar tanta
confusão assim.
A Vigilante do Amanhã traz elementos bem consagrados em
hollywood – como a ficção e o drama em um mundo futurista, como é visto em
Blade Runner e Robocop. Como um plus a
mais, elementos filosóficos - bem adotados por Matrix. Dentre os longas
americanos com temática de herói (super-heróis nascidos diretamente no cinema)
– Matrix e Robocop inserem muito bem esse espírito das produções da cultura pop
japonesa sem se parecerem japoneses.
No caso desta adaptação, A Vigilante do Amanhã não esconde
as origens de “Ghost in The Shell” – casando muito bem os dois mundos: o estilo
de contar histórias das animações japonesas e o estilo de contar histórias do
cinema americano. É lindo e fortemente emocionante
de se ver na tela um casamento tão completo e inédito, a ponto de causar
lágrimas fortes de soluçar. Prato cheio para os fãs e prato cheio para os
navegantes de primeira viagem – contemplar uma ótima história sem
necessariamente conhecer o material de origem ou um ótimo conto do original
para quem já conhece.
A exemplo de Ridley Scott com Blade Runner, os roteiristas da adaptação turbinaram com elementos ausentes do filme de
1995. Enquanto o longa de 95 se preocupa em explorar a magnitude do seu
universo – para expressar a sua própria obra de arte (um longa no melhor estilo
cult) – a adaptação de 2017 admira toda a beleza obscura e sofisticada do
desenho enquanto insere emoções mais agudas, peças do cinema pipoca para atrair o grande público que não se
liga muito em observar complexidades muito científicas, gerando então uma
conexão emocional mais humana e mais próxima do espectador.
E a trilha sonora embala de maneira satisfatória momentos simbólicos sem se empolgar demais e partir para a nostalgia - deixando o melhor para depois.
Scarlett Johansson prova, em definitivo, sua desenvoltura
multifacetada em construir heroínas de ação voláteis e diferenciadas. Numa
posição mais radical, vale esquecer tudo o que ela já realizou para o gênero.
Este é o seu trabalho de referência. Como a Major, Scarlett é sutil, a descreve
sem exageros, sem caras exageradas, e ainda traz raro tom de sarcasmo (enquanto
que nos mangás, a personagem tinha os seus momentos ingenuamente cômicos). É destemida e ao mesmo tempo de corpo frágil –
como o semblante feminino, de uma mulher corajosa, o qual o estereótipo costuma
ser estabelecido para destacar a força e a sensibilidade concreta de um corpo
humano. Em constante ameaça, sentimos o medo e o tremor junto da personagem. Juliette Binoche, como Dra. Ouelet, representa a melhor
personagem do filme ao definir essa profunda ligação em seus diálogos e emoções
– multiplicando as qualidades da Major. Diálogos que também são definidos pelo personagem de Johan Philip Asbæk (Batou).
O cuidado, não só da interpretação de Scarlett, como também
do diretor ao retratar, em cada tomada, detalhes, quadro por quadro, o
enquadramento fiel a animação de origem sem necessariamente aplicar uma xerox
de carbono e reproduzi-la de forma fria e sim de uma forma aquecida e
inteligente – assim como a trama, que busca explicar características em
silêncio (ou ocultas) no longa original. Mais uma Experiência em
IMAX 3D obrigatória para aproximar melhor a grandeza do som, da
imagem e da tridimensionalidade (principalmente nas cenas cavalares de ação).
Como se aproxima mais ao tom hollywoodiano de se criar
heróis americanos – a Major Mira é a mais nova heroína sem ignorar as suas raízes
orientais (extremamente justificadas), sendo então mais feliz em comparação ao
que pudemos ver em outros carnavais (alguém falou: Goku?). Sim, vemos Motoko
num estilo de personagem mais heroico do que uma peça de seu universo – e é o
que precisamos: de mais referências, de mais heroínas, de mais heróis da
cultura pop japonesa para representar o cinema americano. E é esse o momento, o
momento ideal em meio a ascensão da cultura geek frente a um público crescido,
mais crítico, mais exigente e mais numeroso dos games e dos quadrinhos.
Memórias da Sessão
Sábado agitado. Recebi um monte de exigências novas do
proprietário, mas consegui pegar a chave da nova casa. Eu diria que a minha
primeira casa e a definição de caminhar sozinho e livre – porém, nem tanto
assim em um país como o nosso (onde não se ganha o suficiente para ser livre).
Saí com um certo receio do imprevisível atraso se repetir,
mas agora segui direitinho o trajeto. Do Mato Alto à Barra. Consegui chegar num
horário bastante confortável (faltando 30 minutos para a sessão). Ao mesmo
tempo, vejo que na rede social, Amanda, uma amiga, estava aguardando ao filme na sessão
(esta que é uma parceira e discípula de partidas no Street Fighter V). Assistindo ao mesmo filme, porém, em cidades
diferentes.
Bateu uma fome danada, entrei na sala de cinema e aquele
carrinho de pipoca ali parado leu a minha mente. A moça pediu pra escolher e
arrisquei comprar um pacote. Perguntei se havia refrigerante (caso raro, pois
não tomo, e já sabia que não teria suco) – por algum motivo eu não comprei mas
ela me ofereceu água ou H2OH. Eu pensei, pensei e a moça riu, deixei e levei só
a pipoca – devido o valor. Fui até a cadeira. Quando já estava no trailer da
Mulher-Maravilha, eu pensei em comprar o H2OH e voltei até o carrinho. A moça
estava atendendo alguém e pediu gentilmente pra esperar. Comprei o H2OH e
voltei à cadeira de novo.
Os sons da sala IMAX 3D do UCI NYC estavam otimamente bem
calibrados – mais uma vez não recomendado para cardíacos - engraçado é sempre
ver alguém se assustando com a apresentação da sala especial.
Sim, quase não resisti (é verdade, pura verdade) às fortes
lágrimas de soluçar em cada cena que se seguia.
A galera se comportou bem, mas também não houveram aplausos no fim da
sessão. Eu estava disposto a bater palmas mas fiquei tímido. De repente, olho
pro lado, e vejo um rosto aparentemente conhecido, com uma camisa “X-Men
Alternative” com o Edward Mãos de Tesoura. Baixinho, pele clara e barba
desenhada. Quem seria? Ele estava acompanhado de dois amigos e duas amigas. Uma
delas, aparentemente estudante de cinema, descrevia o filme muito bem e em
comparação com o anime.
Todos nós e mais alguns, ficamos até o fim dos créditos na
sala. Na dúvida, eu acabei não falando com o suspeito famoso ali e me levantei
para sair da sala. Mas daí eu parei e pensei: “-Espera, será que é ele mesmo?”
Esperei um pouco, ele deve ter ficado mais tempo na sala – daí eu lembrei que ele disse algo que escapou no meio da conversa: “-Eu sou o Ash!” Como assim, “ ele é o Ash” ?
Esperei um pouco, ele deve ter ficado mais tempo na sala – daí eu lembrei que ele disse algo que escapou no meio da conversa: “-Eu sou o Ash!” Como assim, “ ele é o Ash” ?
E então ele já estava saindo do corredor com o grupo pro salão do UCI. Me aproximei.
“ – Você é dublador ? ”
“- Sim, senhor, senhor! “ – ele respondeu ironicamente.
“- Qual é o seu nome mesmo ?” – perguntei tentando me
lembrar, espremendo a testa.
“-Charles!”
“-Charles Emmanuel! Deixa eu tirar uma foto contigo!” Nos aproximamos até o painel iluminado de “A Vigilante do Amanhã – Ghost in The Shell”. Eu perguntei: "-Eu conheço uma amiga sua, da Amazônia!" e ele: "-Carol?" e eu: "-Não!". Tentei me lembrar, mas não consegui de jeito nenhum. daí (tempos depois) me recordei de que era a Catharine, uma grande fã dele.
“-Charles!”
“-Charles Emmanuel! Deixa eu tirar uma foto contigo!” Nos aproximamos até o painel iluminado de “A Vigilante do Amanhã – Ghost in The Shell”. Eu perguntei: "-Eu conheço uma amiga sua, da Amazônia!" e ele: "-Carol?" e eu: "-Não!". Tentei me lembrar, mas não consegui de jeito nenhum. daí (tempos depois) me recordei de que era a Catharine, uma grande fã dele.
Ele se
ajeitou, e então eu disse: “- Você é mais baixo do que eu
imaginava! ”. Ele se ergueu na ponta dos
pés, de uma maneira cômica (como se estivesse imitando um personagem crescendo), e tiramos aquele autorretrato. Ficamos um tempo ali e felizmente ele disse,
“Mais uma pra garantir!” e tiramos mais uma. Felizmente, porque a primeira foto
não estava focada e a segunda ficou menos desfocada.
Aproveitando a viagem, aproveitei pra pedir uma gravação
mandando um recado pros leitores e acompanhantes do Santuário do Mestre Ryu. “-
Como é o nome do site?” Ele então perguntou mais uma vez pra frisar. O problema
é que o celular (Windows Phone doido) acusava falta de memória. Daí eu parti
pra máquina e acusou “trocar bateria” (como assim, se ela estava carregada?).
Me senti constrangido naquele momento e acabei deixando. Ele então disse:
“-Agora eu vou comer!” senti que perdi uma oportunidade única.
Felizmente eu o vi junto aos amigos um tempo no salão da
parte de cinema do NYC. E eu fiquei por ali tentando buscar uma forma de trocar
o espaço de armazenamento do celular pra ver se tinha solução (ou apagar alguma
coisa na pior das hipóteses) – o pior é que o celular tinha memória mas vive
dando esse erro (um caso que me prejudicou quando acompanhei a première de Agentes da
U.N.C.L.E. – acabei não gravando nenhum
momento decente da chegada de Henry Cavill, o Homem de Aço) . Depois de um tempo tentando,
testei e – milagrosamente- o celular parou de aparecer a demoníaca mensagem
“sem espaço...” e voltou a gravar.
Corri atrás do Charles, e meio que tentando não atrapalhar a
conversa empolgada deles, dei um toque no ombro e então disse: “-Consegui!”,
“-Vamos lá!” Charles deixou o casaco com um amigo, uma amiga dele – de óculos –
ficou me observando (meio de olhos arregalados). E então, frente ao painel, ele
fez uma gravação completa (se apresentando e os seus trabalhos) mandando um
abraço para toda a audiência do Santuário do Mestre Ryu. Pode ser conferido
aqui. Foi o momento mais emocionante e mais produtivo de todas as Memórias da
Sessão, contar com um artista na história e fazendo um vídeo pra gente. No
final, eu pedi desculpas pelo rolo, mas ele disse que estava tudo bem.
No BRT, os seguranças voltaram a organizar a fila (gostei de
ver). Porém, ainda teve gente furando fila. No final, quase fiquei em pé
naquela longa viagem, até que vi um lugar e um jovem estava em pé, não quis
sentar por um certo detalhe: “-Molhei a minha calça, olha!” e então eu sentei
ali mesmo. “-Tá molhado, irmão!” disse um passageiro que estava na poltrona do
lado. Enfim, sentei assim mesmo – enfim, aquele molhado estava incomodando mas
fui forte com aquela certeza de “- no caminho seca!”. Meu cansaço das noites
mal dormidas falava mais alto, a cadeira molhada era só um mísero detalhe
insignificante (mas que felizmente me fez sentar naquela confusão).
Liguei o celular, coloquei na música " This Is What We Do " (trilha sonora do filme As
Tartarugas Ninjas), deitei a cabeça sobre a cadeira, um pouco inclinada pra
esquerda. Enquanto estive no ônibus,
aquelas lágrimas penduradas finalmente caíram pra todos os lados.
Quem estava sentando do meu lado, se levantou para descer, depois de um tempo. Uma moça veio a se sentar na cadeira onde eu estava – não deu tempo de avisar (embora ainda estivesse bem menos molhado) – a moça sentiu mas nem se esquentou. "-Viu?" ela foi e retirou um dos muitos casacos em sua bolsa e colocou sobre a cadeira pra secar e ficou sentada sobre ele, Aí, no trajeto, trocamos uma conversa e ela me contou sobre a rotina de sua profissão como garçonete e cozinheira no Barrashopping, falava também a respeito de seu futuro – quer seguir enfermagem. A moça tinha tamanha simplicidade, maturidade e educação. Eu tirei um dos fones e abaixei a música, abaixei, abaixei até tirar o fone no meio da conversa. Porém, quando eu fui perguntar a sua idade, uma surpresa: “- 19!”. 19? Eu nem acreditei, uma moça com aquela maturidade, com tão pouca idade (ela também não acreditou na idade que eu tinha. Graças a Deus, ela também achou que eu parecia ter bem menos). Eu daria mais de 20, pela mente dela, eu disse, ela ficou feliz. Ainda que tenha algo determinado, ela se sentia aberta a se desenvolver em outras áreas. Daí sugeri: “- Já pensou em ser atriz?” ou até mesmo modelo - ela então disse que já chegaram a sugerir seguir a carreira de modelo (disse isso na mesma hora).
Falei a respeito dos meus objetivos também e da finalidade
pela qual eu estava antes de voltar naquele trajeto. Ela achou tudo muito
interessante. Sugeri até mesmo que ela abrisse um canal no You Tube, mas ela
assumiu não ter muita habilidade com esse tipo de ferramenta. No fim, o papo
estava tão bom que por pouco ela não me levou pra Sepetiba. Ela pediu
desculpas, eu disse pra não se esquentar. E então nos despedimos. Tentei
encontra-la nas redes sociais mas não consegui. Uma das poucas coisas que sei é que ela se chamava Natália Araújo.
Foi bom enquanto durou. Um grande dia, um grande sábado.
Foi bom enquanto durou. Um grande dia, um grande sábado.
S E S S Ã O C R Í T I C A
GÊNERO: Ficção Científica
SESSÃO ACOMPANHADA: UCI NYC - 1/4/17 (Sábado) - O 14 - IMAX 3D