quinta-feira, 23 de março de 2017

[Sessão Crítica] A Bela e a Fera: O Clássico da Disney Repaginado


O tempo passou, como uma canção, até para A Bela e a Fera. Considerado um dos 100 melhores desenhos de todos os tempos, o longa da Disney também se tornou o pioneiro a ser a primeira animação indicada ao Oscar de Melhor Filme em 1992.

A história ainda é um tema pouco explorado pelo cinema norte americano - a relação de aparências, como O Professor Aloprado (a produção dos anos 60, com Jerry Lewis, posteriormente ganhou uma refilmagem com Eddie Murphy em 1996) e O Corcunda de Notre Dame (ganhando uma animação pela própria Disney em 1996, uma das suas adaptações mais sombrias).  

Seguindo a tendência de Mogli: O Menino Lobo, a Disney resolve trazer para a vida o seu sucesso homônimo de 91, bem fresquinho na mente de muita gente (carregando toda uma geração dessa 
2ª Era de Ouro da Disney). Como sempre, existem desafios em transportar a coerência de um desenho para a realidade. Porém, nada é impossível com um toque de profundidade. 

Em meio a uma época em que as animações 2D, voltadas para todas as idades, saíram de circuito e hoje só se vê animações em 3D voltada para as crianças, A Bela e a Fera de 2017 parece tentar encontrar uma forma de crescer com o estilo de abordagem cinematográfica do mundo atual junto ao público da animação, pirralhos nos anos 90 e hoje adultos.

A nova adaptação procura buscar isso – a ideia de que um conto infantil pode ser observado por um público mais amplo, além das crianças. Para as nossas terras ocidentais, choca menos observar todo esse desenvolvimento num longa com atores em carne e osso.

A introdução é familiar – para quem assistiu ao clássico - porém,  o longa já deixa logo claro o jeitinho de querer seguir um trajeto mais leve que o original. Apesar da intensa locução – que expressa a mesma dramatização (em figuras) do primeiro longa – as cenas se passam meio como se fosse um “faz de conta” suave, quase ironizado. Causaria mais veracidade, em uma época que já existe tecnologia e técnicas suficientes pra isso, se as falas da locução fossem deixadas de lado (ou pelo menos mantivessem apenas algumas de início) e seguisse a dramatização explorando a ação e reação do elenco.  Seria um pacote completo e recheado, até mesmo para quem ficava curioso com as cenas “ocultadas” da primeira versão.

Apesar das polêmicas, há pouca festividade no carisma. A história isolada dos protagonistas é estendida, mais explorada, porém, é perceptível a sensação de correria desse ensaio improvisado compensada por uma direção de arte impecável e algumas cenas com bom destaque pra  fotografia. 

Numa busca mais a fundo pelas origens (entre construção e análise da época), o machismo é constantemente criticado - é o grande vilão interno do longa – além das camadas políticas bem de fundo. No elenco, o destaque vai para Luke Evans (Gaston), mostrando discreta elegância,   imponência com arrogância e ao mesmo tempo tão divertido quanto o da versão animada. O mesmo caso se estende para os seus seguidores (ou antagonistas), revividos de uma forma tão divertida quanto o original.  A bela Emma Watson, um nome estelar do elenco (junto a tantas outras surpresas), já não parecia transportar a mesma intensidade visual da Bela do desenho desde os vídeos de divulgação e isso, infelizmente, se concretizou no longa. A Bela de 91 é um tipo de modelo feminina que cria uma dualidade entre menina e mulher com expressões fortes. Emma, ainda que graciosa, é pouco expressiva em algumas cenas que cobram mais dureza (sem sair do seu visual paisagem de ‘menininha’)  mas a falta dessa certa empatia é consideravelmente compensada pelo capricho dos momentos em que ela está em ação. Já Kevin Kline revive Maurice, pai de Bela, com sensibilidade e perfeito equilíbrio.

Dan Stevens tem seus bons momentos na pele de príncipe e de Fera, apesar de prejudicado pelo excesso de computação gráfica – deixando os seus movimentos bastante superficiais, ainda que bem compensadas pelas cenas envolvendo sombra (criando mistério sobre a criatura) – um problema muito parecido com outras produções, como Hulk (2003). A Fera em carne e osso se difere do lado emocional da Fera da animação e não amedronta como o original - aquela dose Logan de humanidade do Século XXI (a representação de Feras mais humanas, mais racionais já são uma tendência hollywoodiana). 

Como importância e entre altos e baixos, A Bela e a Fera une do clássico ao contemporâneo. A começar pela escalação do elenco, sem seguir a tendência de adicionar atores muito jovens (como, aparentemente, a animação de 91 demonstra), buscando representar um período mais fiel aos filmes antigos; e a mescla de misturar musical com elementos cartunescos (adicionando toques modernos de uma maneira bastante sutil).


Elenco de peso: Emma Watson, Ewan McGregor, Kevin Kline e Ian McKellen estão no curioso cast, alguns quase irreconhecíveis pelos disfarces. Curiosamente, todos dirigidos por ninguém mas e ninguém menos que Bill Condon.

Nostalgia: Entre situações inéditas, quem assistiu ao longa original mais de 50 vezes (como eu ) vai repetir as famosas falas do filme antes delas entrarem em cena.

Experiência em  IMAX 3D : Nunca pensei que fosse dizer isso alguma vez, desde Avatar. Mas o IMAX 3D  é obrigatório – te deixa mais engajado na interação em cenas icônicas com os personagens nesta incrível fantasia (e melhora bastante o problema de CG da Fera). Bom aproveitar a Oferta da Semana com o Cartão UNIQUE da UCI, com desconto que vai um pouco além da metade (de R$ 44 por R$ 18) – faço campanha de graça mesmo.

Legendas: As canções que tocam nos créditos são todas legendas, segundo o formato avaliado.

Canções:  A Bela e a Fera revive o gênero musical das animações Disney em 2D que adaptam os velhos contos com músicas isoladas para alguns personagens, inclusive para a Fera. Se por um lado, as antigas canções foram refinadas, com novos trechos e cenas bastante inclusivas, algumas novas parecem fora de foco.


Memórias da Sessão I: A Besta do Trajeto

Infelizmente, o trajeto não foi da forma que eu esperava. A frustração de aguardar tanto pelo dia e dar tudo errado é sempre inexplicável. Decidi pegar um trajeto mais longo – com receio de chegar mais rápido (sem necessidade de ir a Mato Alto) mas depois tive consciência de que aquele trajeto de ir a Campo Grande pegar o BRT não foi uma boa ideia. Quando então eu perguntei ao despachante: “- Qual aqui vai até a Barra?”, “- Nenhum!”  - com aquela resposta seca me vi encrencado. Fora a fila quilométrica pra carregar o Bilhete Único – tanto na máquina quanto no caixa. Vivi um pesadelo cheio de maldição.

Dois BRTs (um parador e outro Expresso, em Santa Cruz) passando pela pista fora do trajeto, não tem preço. Além de encarar o trânsito. Enfim, o dia  a merda estava feita, né?

Ainda contei os minutos, fiz cálculos possíveis e constantemente via os trajetos pelo mapa - erroneamente adicionado no teto apenas se poderia também colocarem em frente ao espelho atrás do motorista – enquanto caçava pelo mapa, várias cabeças e olhares no caminho em uma BRT eternamente lotada. Porém, eu xinguei muito o transporte público do Rio de Janeiro. Senti naquela hora o quanto nada prestava mesmo. Depois que anoiteceu, ainda na pista, e no horário da sessão, praticamente deixei de olhar para o relógio e resolvi curtir tranquilo o viciante e saudoso álbum do Baltimora pelo celular evitando me estressar.

Após uma longa e f... viagem, chego com aquela cara de desespero (já com a expectativa de algum atendente dizer alguma coisa) e a realidade se concretizou: “-Tá atrasadinho!” comentou a atendente, daí citei a viagem; “-Vai lá!”, e corri até a sala.

Passando, o público foi bem educado e já reservou espaço pra eu sentar. Uma moça me olhava curioso sobre os óculos 3D, enquanto passava, e tinha uma mochila e um apoio em cima da minha cadeira – tiraram a mochila e eu tirei o apoio.

O publico interagiu, rindo, e aplaudiu ao longa no fim da sessão (eu também incluso). Ficaram apenas dois casais até o fim dos créditos – a Disney costuma deixar surpresas em seus filmes após os créditos, mas não ocorreu nenhuma surpresa dessa vez, apesar das belas cenas que acompanham o encerramento (a cena da Emma Watson dançando sozinha no salão, em meio às sombras, é a minha favorita).

Não era o meu objetivo, mas pretendo assistir novamente em IMAX 3D para verificar se ocorre alguma coisa de diferente em comparação às outras sessões - aproveitando a promoção.
A volta foi bem frustrante. Com a greve de funcionários, aquele BRT bem organizado da Zona Oeste virou um caos. Assim que sai do BRT Jardim Oceânico para Santa Cruz, veio uma leva de gente desesperada junto a mim para direto do BRT (como se aquele fosse o último).

Aguardei por um próximo, para tentar sentar, mas não deu. Logo percebi três elementos se juntando fora da fila pra depois furar e entrar. Mesmo na frente, fui segurado por uma leva de gente que me impediu de entrar e quando decidi voltar pra fila, fui empurrado pra dentro do veículo e assim voltei bem puto a viagem toda, doido pra matar todo mundo naquele BRT, como uma Ferra arrogante, diante desse bando de favelados.


Memórias da Sessão II: O Mais Velho

Espero nunca mais fazer isso outra vez.  Dei uma escapadinha em plena Segunda-Feira, na calada da noite, pra uma nova sessão - só pelos 40 minutos iniciais perdidos e buscar construir melhor detalhes comentados nesta  Análise Ex da Sessão Crítica (como o equilíbrio a respeito do meu ponto de vista sobre as atuações de Emma, da Fera e do ambiente do filme).

Corri pra pegar a linha 4 do metrô (pela segunda vez) e consegui chegar bem a tempo. Nesse tempo, eu pude então comparar a falta de educação daquela favelada do BRT da Zona Oeste (na falta de guardas) e o comportamento do metrô, com pessoas organizadas para entrar - vale lembrar que eu estava em um ambiente de classe média alta, ainda que isso não queira dizer nada (já que, em alguns casos, os papéis de má educação acabam se invertendo).

A fila de ingressos estava quilométrica (em plena Segunda) e no meio uma atendente já anunciava o fim da sessão de A Bela e a Fera 3D dublado. A tensão correu nas veias. Olhando para o painel, todas as sessões de A Bela e a Fera estavam esgotadas, exceto a sessão IMAX 3D legendada que eu queria pegar. Com risco de ter viagem perdida, optei por comprar o ingresso por lá mesmo, com a promoção UNIQUE – paguei menos do que a meia entrada.   
Eu consegui comprar o ingresso pra sessão das 21:50. A Diferente daquela situação, eu cheguei bem cedo (precisamente 10 minutos antes da abertura da sessão) e perguntei se poderia entrar – pra confirmar a regra – e a encontrei a mesma despachante que me atendeu na sessão de Sábado.

 “-Tem que aguardar mais um pouquinho, tá? “
 “-Uns 10 minutos?”
“-Isso!”

Chegando nos 15 minutos, a moça sorri: “ –A sala ainda não tá liberada!” então eu fico esperando por ali junto com algumas pessoas. Até que a moça vira a placa (Sala 4) e libera o pessoal. E eu entrego o ingresso, “-Agora sim”, ela diz sorrindo e eu sorrio de volta (enfim, antes cedo do que nunca).  Será que ela se lembrou de mim? Acho que não.
A plateia teve pouca interação com o filme e foi tímida no fim da sessão. Alguns ficaram até uma parte dos créditos e depois saíram. Ficou uma moça mexendo no celular até o fim dos créditos. Desta vez, pelo horário (00:11) eu fiquei na dúvida se ficaria até o final curtindo as canções. Fui mais pra poltrona da frente –bem  próximo a tela- pra curtir mais um pouco e depois sai. Mas admito que me arrependi, pois queria ter ficado até o fim dos créditos (mesmo não tendo nada, só pra manter a tradição). As músicas ficaram na minha cabeça, a potência do IMAX 3D estava grandiosa - uma das espectadoras, que não estava acostumada, perguntou com ironia: “-Será que dá pra baixar?

A volta foi demorada. O BRT levou um tempo pra vir e as ruas estavam desertas (eram entre 01:00 e 02:10). Ainda no BRT da Barra, um guarda durão olhou pra uma galera sentada do outro lado da rua aguardando pra furar fila, fazer algazarra e entrar de graça – mas o funcionário dispensou todo mundo e foi ameaçado por uma das bestas: “-Vou te me ter a porrada!” e ele: “-Vem aqui então!” o engraçado é que o moleque “durão” saía de cena com o grupo ameaçando mas não voltava de jeito nenhum.
Depois de ficar imprensado por um negão de roupa social de 700 toneladas, que roncava e caia pra frente – ocupando o meu espaço com as suas pernas e ombros, fui pra segunda parte do longo trajeto pelo BRT aonde chegaram um grupo de bagunceiros. Duas garotas de shorts curtíssimos entraram e um deles veio mexer com uma das duas, que ficou olhando pra ele – e eu estava atrás, achando que ela o conhecia. O moleque, com olhar de safado, ficava mexendo com ela e depois começou a mexer com a outra, “-Sai fora!” ela desviou o braço e o moleque ainda tentou tocar no short enquanto as duas saíram direto na outra estação. Daí eu já não sei se saíram pra fugir dos moleques ou se era o ponto de descida real delas.

Enquanto os moleques ficavam se batendo no meio da brincadeira, um ficava zanzando pelo BRT e então eu olhava pra tela, exibindo MOV TV – um deles tentou cruzar os olhos “-Não é não, mais velho?” ele então disse pra mim. Até curti esse termo,  ao mesmo tempo que vi respeito, senti que realmente estão percebendo que o meu tempo está passando.  



 S E S S Ã O   C R Í T I C A 
A  B E L A  E   A   F E R A

GÊNERO: FANTASIA
SESSÃO ACOMPANHADA:
UCI NYC – 19: 11 – O 22 - 18/03/2017 (Sábado)
SLOGAN: Você é o Nosso Convidado
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