Fenômeno entre o público feminino, a saga erótica – escrita
sob os olhos da ex-dona de casa E. L. James (a exemplo de J.K. Rowlding,
abrevia os seus nomes iniciais) – busca sensibilizar o gênero com o seu pornô
mais suave e nada tão escuro (exceto pela trama de fundo).
Chirstian Grey está de volta, o famoso ricaço cujo tais
poderes de sedução e história sombria só pode ser comparado ao Bruce Wayne – o
que o longa deixa cada vez mais claro, desde 50 Tons de Cinza. A magnitude de
sua fotografia permanece sendo a maior qualidade da trama, somada a direção de
arte. A sensibilidade vem do capricho visual – algo que, se levar em consideração,
nos termos mercadológicos (eu sei que isso foi um termo “antiquado”, mas foi
de propósito), é o exato ponto G para atrair a mulherada que irá defender com
unhas e dentes, independente da qualidade de desenvolvimento da história. Isso é uma bela distração, um belo truque de
mestre desde Crepúsculo.
Porém, 50 Tons Mais Escuros se mostrou superior a febre
anterior dos vampirinhos do bem, ainda que seja infantil se comparado a outros
longas do estilo quanto no quesito evolução. A relação entre os personagens
permanece morna e quando a coisa começa a buscar alguma empatia, quanto a
relação entre eles e o público, o laço é cruelmente cortado por uma outra
tomada. Fora isso, tudo acontece muito rápido, como num videoclipe ainda mal
acabado, sem contar as cenas repetitivas (nada excitantes). Falta sensibilidade; falta romantismo; falta a perversidade prometida (da sua maneira
sutil). Falta tudo.
Fica ainda a questão da importância de Ana (stacia) no longa
se o destaque fica mesmo para o enigmático personagem C. Grey ( o que não
duvido nada que venha ganhar um filme solo depois disso tudo ). Mas a presença
de um antagonista, Jack Hyde (Eric Johnson), já nos transparece aquela boa intenção de
esquentar a história, deixando o arco de Ana mais interessante e de deixarmos
curiosos como seria a reação de toda essa relação triangular entre Ana, Jack e
Grey.
Ainda que a trama seja melhor que o longa anterior, nos
trazendo um pouquinho mais profundo (mas sem tantos tons escuros assim), também
é possível presenciar os personagens interagindo em ambientes mais acinzentados, secos, e os protagonistas com
visuais mais sóbrios (característico de toda e qualquer sequência de drama ou
romance que se preze), bastou trabalhar mais nisso já que num momento onde
deveríamos sentir mais por eles – ou pela sua falta – lá vem a tomada assassina
que corta aquela vontade de amadurecer do roteiro. Apesar disso, algum suspense apimenta o
caminho (um triunfo técnico acima do anterior).
O baile de máscaras, antecipada por uma rápida e excitante expectativa, é uma das melhores cenas visuais do filme
(deixando algum clima real de tensão no ar) e é uma pena não ter sido mais
aproveitada. No quesito geral de sedução, 50 Tons Mais Escuros trata-se de um
videoclipe frio mas que busca se redimir nos momentos finais toda a intensidade que estava lhe faltando. É uma tendência preguiçosa dos produtores
de hollywood hoje em dia: sempre que se pensam num longa como franquia,
procuram se economizar ou se conter nas cenas de ação para descarregar toda a
violência no clímax. Se bem que Grey e Ana buscam a redenção da “violência”
desta vez. Se isso é uma coincidência ou não, logo em tempos do politicamente
correto, agora testemunhamos a ideia do “sadomasoquismo fofinho”.
Momento Pós-Crítica
As transas mais parecem
dignas de uma classificação 12 anos (como aquelas novelas globais ou dos filmes
de James Bond onde são tão rápidas que só vemos um improviso). Perto do que o
gênero já mostrou em hollywood, a
maioria são cenas dignas de criança. A gente até entende que se trata de uma
história romântica feita para mulheres mais sensíveis e que as coisas não
precisam ser tão escrachadas, assim como os pornôs legítimos direcionadas ao
público masculino, mas até o livro é mais intenso e mais detalhado nessas
partes, levando páginas e páginas de explicação e detalhes. É uma vergonha.
ATENÇÃO:
Fiquem durante os créditos
MEMÓRIAS DA SESSÃO
Estava com uma dor de cabeça daquelas. Dei aquela escapada na Sexta para o Nova América. Passei pela praça de eventos, imaginei os meus melhores momentos do ano mas no lugar tinha um parque para crianças e vi aquele espaço vazio recriando algumas memórias. Comprei um hambúrguer novo do Burguer King por recomendação do atendente e matei o que tava me matando: a fome. Era a hora da Sessão.
Correndo pra ver a hora da sessão - naquela torcida de chegar a tempo pra comprar - vejo que não tem fila e decido ir no primeiro posto de atendimento, chegando próximo eu vejo uma morena de pele clara e sardas com aquele olhar penetrante e sorriso charmoso com leves piscadas ao olhar para os lados e movimentos sutis, além da fina educação, retribui da mesma forma. Eu perguntei o horário da sessões, com preferencia de assistir a versão legendada. Eu fiquei na dúvida, pelo horário, e ela, com empatia: "-Termina às 11:15". Então: "-Tudo bem !" Ela disse alguma coisa pra alguma das colegas e voltou o rosto pra me entregar o ingresso "-Tenha um bom filme" com um rosto simpático. Além de profissional, eu diria que a moça era um conjunto perfeito de sedução: bonita, sensual e muito empática. Só que aí eu penso: será que ela deve ter falado para as companheiras de profissão da admiração que ela teve ao ver que eu era o único homem a assistir 50 Tons Mais Escuros sozinho que ela atendeu?
O público da sessão era diversificado. Mulheres em dupla ou em grupo - algumas de visual masculinizado e casais de várias idades. E mais lá pra frente, próximo a tela, havia um jovem soldado sozinho (corajoso, como eu) com o pé sobre o joelho, tranquilão.
Todos assistiram muito comportados. Ao lado, acompanhado de sua amiga, uma garota passou a interagir com o filme em momentos cruciais - nas cenas picantes, caia na risada, e em um momento surpresa, "-UII!", ela soltou um arrepio tão alto que uma das garotas sentadas embaixo, acompanhado de um colega, começou a rir e a outra também.
Sessão Acompanhada: Kinoplex Nova
América – 17/02/17 (Sexta-Feira) - Legendado