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sábado, 14 de março de 2015

[Sessão Crítica] Império: Último Capítulo (TV)



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SESSÃO CRÍTICA
IMPÉRIO

EXTRAS
CURIOSIDADES

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--SESSÃO  CRÍTICA--
IMPÉRIO

SORRIR PRA 
NÃO CHORAR..!
Comendador lutou bravamente para recuperar 
a popularidade das novelas globais 

Pela segunda vez no ano, o dia 13 caiu em uma sexta-feira. Mas parece que essa última sexta-feira 13 não foi uma boa sexta para a última aparição de um certo personagem querido entre os noveleiros globais do horário das 21 horas. A sacrifício em recuperar a coroa do horário nobre sobrou até para o protagonista. Com duas horas e 13 minutos de duração, o último capítulo de Império veio para mostrar a que veio. 

Com o fracasso histórico da última novela de Manoel Carlos, Em Família, a produção tratou imediatamente de escalar uma trama cheia de agitos logo em seu primeiro capítulo (com direito a romances proibidos e trilha sonora cantada - um caso raro em um começo de novela). Se Em Família, o 'Maneco' adotava a temática ao melhor estilo "histórias fechadas" (onde cada capítulo aparentemente parecia se resolver sem deixar uma brecha para o próximo), Império remete ao tradicional formato onde cada capítulo deixava um desfecho instigante para o seguinte. "Infelicidade" para os que não costumam ou não tem tempo para acompanhar novelas, por outro lado, felicidade para os noveleiros mais exigentes de plantão.

Leandra Leal e Alexandre Nero em cena

A trama que gira em torno do já icônico José Alfredo (Alexandre Nero) e marca pela guerra interna pelo poder da empresa que dá nome ao título (criada a partir do passado do "homem de preto" em suas aventuras pelo garimpo). E como vem se tornando um tradicional retrato entre as novelas globais recentes, a tragédia romana (em uma briga entre reis e príncipes) continuou a render assunto nessa produção com a autoria de Aginaldo Silva (Roque SanteiroA Indomada). Sendo uma novela global, não é novidade que essa briga tão cruel por diamantes foi "romantizada" como em um conto Disney*. Mesmo assim, Nero (Zé Alfredo) realmente veio a se tornar um imenso destaque nesse trabalho ao lado de Leandra Leal (Cristina Medeiros).

*Para os telespectadores romantizados pela trama, um aviso: Vale conferir "Diamante de Sangue" (2006) - produção hollywoodiana que traça a cruel realidade do garimpo.

O elenco da primeira fase foi um ponto fundamental para o sucesso da novela - a forma como Chay Suede (como o jovem e futuro comendador), Vanessa Giácomo (Eliane) e Marjore Estiano (a jovem Cora) carregaram com intensidade os seus personagens. Seguindo para a segunda fase, Zé Alfredo não perdeu as raízes de seu sotaque nordestino e Drica Morais (Cora) não perdeu os trejeitos da sua versão mais nova da primeira fase. Esse segmento fiel - na transição de atores - certamente foi um dos grandes acertos (ou se não o maior) da novela - não deixando falta alguma na intensidade destes mesmos personagens*.

*Vale lembrar: Na novela anterior, Em Família, Humberto Martins substituiu Nando Rodrigues na terceira fase como Virgílio (ele perde completamente o seu sotaque roceiro, característica do personagem) - refletindo aí duas interpretações drasticamente diferentes de um mesmo personagem (um dos pontos que acabaram deixando a primeira fase fazer falta).

Marcando presença nas subtramas: Paulo Vilhena (irreconhecível) como o esquizofrênico Salvador - alguns chegaram a comparar o seu papel com o personagem Tonho da Lua (Marcos Frota) de Mulheres de Areia (1992).

Como uma forma de suavizar o clima pesado da trama principal, o enfoque no humor entre os dois últimos capítulos ajudou a manter fôlego para as audiências com mais idade. Por esse lado, um ponto positivo, por outro, acaba sendo um pouco exaustivo (como a maioria das novelas) essa montanha russa de emoções - a exemplo do último capítulo, em especial - com aqueles leves jogos de edição pretensiosos e tomadas longas, até demais, para procurar explicar o que está acontecendo em cena. 

As filmagens do jovem Zé Alfredo em ação 

É até plausível todo o esforço em gastar um bom orçamento para apresentar as belas cenas filmadas no "Monte Roraima" - as filmagens mais caras de toda a novela (e muito bem caprichadas em sua nova representação no final). A verdade é que elas não foram filmadas na tríplice fronteira entre Brasil, Guaiana e Venezuela (o local de origem do Monte) mas em uma região encontrada na cidade de Carrancas (mais precisamente no sul de Minas). A mudança da região foi justificada pela própria produção de que somente escaladores experientes poderiam chegar ao local real (que possui a altitude de 2.810 metros).

Zé Alfredo em meio às notas de euro 
(parece até o Tio Patinhas)

O tema instrumental "Lágrimas e Emoções" embalada por Rodolpho Rebuzzi para as cenas do Monte Roraima e até mesmo para a cena onde Zé Alfredo recupera toda a sua fortuna se tornam emocionantes, inesquecíveis e épicas. 

No penúltimo capítulo, Othon Bastos exagerou na caricatura de seu personagem, Silviano, com frases de efeito e interpretação teatral digna de "supervilão" de desenho animado. A referência incidental não é única.  Entre o estilo sádico e o piegas, a maneira como a transformação do personagem é encarnada pelo veterano ator mostra o quanto Aguinaldo Silva (querendo ou não) tentou se aproximar da audiência moderna - a aparição do autor ao melhor estilo Stan Lee no fim da novela mais uma vez não deixa de lado essa certa inspiração ao cinema atual (e as melhores novelas adoram - de certa maneira - homenagear o cinema estrangeiro, principalmente o americano).

O jogo de edição - envolvendo a busca de João Lucas - pelo Monte Roraima tem muito das histórias em quadrinhos (quanto ao trabalho quadro a quadro - focando as emoções e as ações do personagem enquanto o clima, ambiente e as iluminações mudam constantemente como um videoclipe).

Othon Bastos saiu com os joelhos machucados e Caio Blat de olho roxo. 
Pois é, as filmagens do último capítulo não foram fáceis. 

O arco entre Zé Alfredo, Josué (Roberto Birindelli), Maurílio (Carmo Dalla Vecchia), Silviano (Othon) e José Pedro (Caio Blat) geraram um clima policial ao melhor estilo dos filmes e séries dos anos 70 e 80. Cenas de ação desse tipo são frutos de uma surpresa que realmente ficou de lado há muito tempo pelas novelas desse horário nobre. Apesar do ritmo transparecer um pouco mais leve (como uma novela das 19 horas) o clima de confrontos tensos em um galpão escuro foi digna de uma ousada homenagem aos filmes de gângster e faroeste nessa mistura (com cenas de ação até melhores do que o capítulo em que Zé Alfredo sai atirando no carro do suposto Fabrício Melgaço).

Da esquerda para a direita, as ruivas: 
Marina Ruy Barbosa e Jossiê Pessoa (que na realidade é loira).

Na trajetória da novela, vale também citar as referências que ligam Eduarda (Duda) Botticelli Medeiros de Mendonça e Albuquerque, a personagem de Jossiê Pessoa (que também é jornalista, fora do mundo das novelas), ao universo da cultura pop (filmes e videogames). A mulher 'nerd' do filho de Zé Alfredo, João Lucas Medeiros de Mendonça e Albuquerque (Daniel Rocha) assume 'essencialmente' o posto (de 'rainha ruiva no poder') que seria deixado pela personagem de Marina Ruy Barbosa (Maria Isis Ferreira da Costa).  Não obstante, temos também o blogueiro 'Téo' Pereira (Paulo Betti) integrando esse certo 'choque de gerações' camuflado em meio as tramas e subtramas com as suas devidas tradições. 

Maria Marta (Lília Cabral) segura o diamante rosa (que até brilha). Prova que Aguinaldo Silva permanece a homenagear o seu cenário fantástico. 

Mesmo com a sua fama em criar realidades fantásticas, Aguinaldo Silva parece ter mergulhado mais no autêntico - apesar do aviso que aparece no final de toda produção da TV Globo do gênero (mostrando o quanto ela pode ser descompromissada com a realidade, apesar de que 90% dos seus telespectadores não consigam compreender o seu direito a  'liberdade artística').

Particularmente existem momentos de incoerência - assim como em algumas das melhores histórias de outras marcas (seja na TV ou na tela grande) - isso pode ser levado em consideração se não ignorar a trajetória do autor.  Talvez, a única grande coisa que não foi explicada na trama foi o 'rejuvenescimento' de Cora (Drica Morais) para a versão de Marjorie Estiano.

Em 'A indomada', Maria Altiva (Eva Wilma) retornava igual a uma bruxa no fim da novela. Teoricamente, essa falta poderia ser preenchida pela mente fértil de um telespectador sagaz de que Cora teria realizado uma 'bruxaria' e não uma plástica comum (como ela mesma teria 'revelado'). E a entrega de José Alfredo aos sentimentos da 'cobra' poderia ter selado o seu destino? São teorias malucas, mas que certamente fazem sentido ao levar em consideração as suposições populares.

O último capítulo registrou aproximadamente 46 pontos de audiência, em comparação a média de estréia (32, 8 nos primeiros dados) contra os 29, 7 da novela anterior.

Os telespectadores conservadores detestaram o final, mas a Globo tentou, Aguinaldo sugeriu, e muito se acertou nessa última produção - mesmo com as sua faltas (até mesmo de continuidade),  é reconhecível o trabalho um pouco menos corrido para fechar subtramas e a lenta evolução de filmagem (sem repetir muito as tomadas lineares) entre as últimas produções da emissora no gênero.

Se Liga: O último capítulo reprisa hoje às 21 horas. 

--EXTRAS--


Curiosidade 1
A música "Preciso me encontrar" do cultuado compositor Cartola, tocada no primeiro e último capítulo da novela, também foi tema da trilha sonora de um dos mais famosos sucessos do cinema nacional (e indicado a 2 Oscars): Central do Brasil.

Curiosidade 2 
Entre as semelhanças de Império com a trama de 'A Indomada', o sobrenome "Mendonça e Albuquerque" também pertencia as personagens Maria Helena (a heroína) e Maria Altiva (a vilã) - sobrinha e tia respectivamente. Curiosamente, a sobrinha era interpretada por Leandra Leal (primeira fase). Será que elas teriam algum parentesco com Maria Marta?

A história de A Indomada se passava numa ficcional cidade de Pernambuco chamada Greenville. Outra característica interessante é que o comendador José Alfredo costuma falar alguns estrangeirismos como "my sweet child" - a exemplo da ficcional cidade de A Indomada.

Curiosidade 3
O título da novela inicialmente seria Falso Brilhante.


--FICHA  TÉCNICA--
Título Original: Império
Capítulos: 203
Sessão Acompanhada: 21:10 - 13/03/15 (Sexta-Feira) - SKY+
Duração: 70 Minutos / 45 Minutos (Quartas de Futebol)/ 140 Minutos (Último Capítulo)
Autor: Aguinaldo Silva
Direção: Rogério Gomes
Gênero: Novela (Drama)

Textos e edição de imagens: Mestre Ryu