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domingo, 27 de abril de 2014

[Sessão Crítica] Boogie Nights: Prazer Sem Limites (1997) - Edição CCBB: A Era Disco no Cinema

NESTA POSTAGEM

SESSÃO CRÍTICA
BOOGIE NIGHTS: PRAZER SEM LIMITES
Premiações
Primeira Versão
Memórias da Sessão

PASSO EXTRA
MAIS FOTOS DO EVENTO
MARK WAHLBERG X JOHN HOLMES
FICHA TÉCNICA

SESSÃO CRÍTICA
BOOGIE NIGHTS: PRAZER SEM LIMITES

A DIFÍCIL ARTE DE
SOBREVIVER 
O diretor Paul Thomas Anderson se revela com um tema corajoso em seu segundo longa


E se eu te dissesse que este cultuado clássico da década de 90 na verdade só torna os embalos da era disco apenas como um pano de fundo? Muito bem. Se trata de uma incrível história traçando uma perfeita e rara transição entre os anos 70 e 80 em meio o auge e a queda do então astro ficcional Dirk Diggler. Nesse ponto, brinca com um perfeito filme dentro do filme que se torna um dos pontos altos do roteiro

O seu lançamento, em 1997, coincide com exatos 10 anos desde Os Embalos de Sábado à Noite e também Guerra Nas Estrelas. Explorando um pouco dessa febre da juventude setentista, cenas antológicas sobrevoam o quarto do jovem Eddie Adams, de apenas 17 anos. O garotão é um nobre lavador de pratos sem futuro, quando então encontra um ambicioso e visionário diretor de filmes pornôs, Jack Horner (Burt Reynolds), que lhe oferece uma proposta tentadora a fugir de casa e das explosões de uma mãe possessiva. Ele exige um nome que se encaixe dentro de suas expectativas de se tornar um Bruce Lee do mundo pornô: Dirk Diggler. Seu bem-dotado (e curioso) dom se torna garantia de sucesso entre as mulheres e um certo reconhecimento na indústria. 



Neste mundo de festas e sonhos de ser uma celebridade, você pode ser quem quiser na essência da palavra. Don Cheadle (o Máquina de Combate em Homem de Ferro 2 e 3) é uma dessas espécies de personagens "contadores de história" da trama que se mostra um especialista nato em som (em sua imaginação, até um mega produtor de som sentira inveja). Pelo carisma, é contratado por uma loja de som por ser um galanteador. Porém, sua paixão por música country e vestimentas de caubói se tornam motivo de piada. Personagens como Buck Swope não se convence de que caubóis estão fora de moda. Um companheiro seu, Reed Rothchild, então lhe diz uma diálogo sábio e de grande lição pra a sociedade: "- Vista-se da maneira que você se sentir bem".

No elenco, a presença do excelentíssimo Sr. Philip Seymour Hoffman (infelizmente o perdemos em 2013) se revelando num papel quase irreconhecível. Sem a elegância de seus outros papéis, ele é o gay Scotty J., que sente uma paixão platônica por Diggler. Além de Hoffman, está Luis Guzmán como Maurice TT Rodriguez, mais um coadjuvante de sotaque mexicano e empregado de patrão. John C. Reilly (Reed Rothchild), Alfred Molina (Rahad Jackson) e Don Cheadle (Buck Swope) também estão entre um elenco, até aquele momento, pouco reconhecido (independente de ser coadjuvante ou protagonista).  


A sensibilidade de Paul Thomas Anderson (que além de dirigir também escreveu o roteiro) valoriza os seus protagonistas nos mínimos detalhes, tanto em questões familiares e psicológicas, de impacto social, quanto em sequências de edição, justamente quando a câmera enquadra o rosto em um dos protagonistas e visualmente demonstra as expressões de pensamento (tristeza, duvida, admiração ou raiva) que eles querem passar (sem precisar de nenhuma fala em off) e tudo isso graças às ótimas performances dos atores. Em termos de roteiro, a criativa edição algumas vezes alterna em sequências gravadas em película ou em formato de gravação das qualidades de filmagem da época referida para elaborar alguma situação. 

O entusiasmo de Julianne Moore, revelação como uma das musas hollywoodianas da segunda metade da década de 90, trouxe autenticidade à atriz pornô Amber Waves. A graciosa Heather "doce" Graham vive Rollergirl, uma garota que nunca foge de suas características. William H. Macy (uma das surpresas do elenco ficou conhecido pelo premiado Fargo, de 1996) - transporta pra cá o "marido amargurado" reencarnado no técnico Little Bill, casado com uma esposa ninfomaníaca que o leva a loucura - a culpa é de ninguém mais e ninguém menos do que Nina Hartley, umas das mais belas e veteranas estrelas pornos. 

Alfred Molina (pasmem!) bem magro no papel

Molina, mais conhecido pelo Dr. Octopus em Homem-Aranha 2, tem uma participação especialíssima como Rahad e garante um dos momentos mais incríveis e hilários do filme. Ele está (pasmem!) bem magro e quase irreconhecível também. Há uma reserva com nobres homenagens aos gêneros de ação e policiais americanos (transitando entre o cinema e a TV da década de 70 e 80) numa aventura pelo submundo envolvendo os protagonistas com tráfico de drogas e assaltos. 

Apesar de haver um risco ao comparar sua forma a Pulp Fiction: Tempo de Violência (1994), Boogie Nights é um retrato único entre décadas como nunca antes visto. Anderson teve o desafio de retratar a polêmica industria pornográfica sem colocar a moralidade em questão, mas apresentá-la de uma forma histórica e gente como a gente das seguintes formas: como astros em queda tentam se firmar numa sociedade, por vezes, preconceituosa; e a certa resistência de cineastas conservadores com a chegada do videocassete - a extensão dos filmes pornôs para a locadora era o primeiro passo antes da infinidade dos filmes caseiros e serviços pagos que se encontram online hoje em dia.

-Você tem um dom especial "

Mesmo o longa não entrando em discussão, fica a dúvida: se trata de uma indústria pornô ou uma indústria de prostituição? Os personagens são vistos quase como uma família, e em seu pequeno mundo de sucesso são como gênios. A realidade fora dele, tem o seu amargo preço.  

"-Bem, é isso! Fizemos um baita filme. "

Os especialistas em cultura cinematográfica entenderão. Cultuado por críticos, este é um dos grandiosos longas premiados e pouco assistidos, sem contar que também se trata de um clássico subestimado por parte do público tradicional. 

Premiações
Oscar: Boogie Nights teve 3 indicações ao Oscar: Melhor Atriz Coadjuvante (Juliane Moore), Melhor Ator Coadjuvante (Burt Reynolds) e Melhor Roteiro Original.


Punho Dourado: Recebeu o nosso selo "Conjunto da Obra" (Melhor História, Melhor Direção, Melhor Trilha Sonora e Melhor Elenco). 


Primeira Versão 
O curta "The Dirk Diggler History" de 1988 apresentava pela primeira vez o personagem Dirk Diggler, desta vez com um nome de batismo diferente: Steven Samuel Adams. Seus pais trabalhavam em construção civil e o levavam a igreja todos os domingos, eram tementes a Deus. À procura de se tornar um modelo, abandonou a escola aos 16 anos e saiu de casa - é nesse meio tempo que ele conhece Jack Horner. O destino do personagem termina em morte, após uma overdose de drogas. No curta, Dirk é interpretado por Eddie Delcore e Horner por Robert Ridgely. Paul Thomas Anderson dirigiu este curta documentário ficcional que posteriormente se tornou base para a criação do filme "Boogie Nights". 

Memórias 
da 
Sessão
 
Cheguei com atraso na sessão e aparentemente (só por que cheguei atrasado) não houve atraso na exibição e nem interrupção da película. as legendas vieram com menos atrasos do que a exibição de Os Embalos de Sábado à Noite.

PASSO EXTRA

MAIS FOTOS DO EVENTO


MARK WAHLBERG X JOHN HOLMES

O personagem e a história de Dirk Diggler foi inspirado livremente na história de um dos maiores nomes da industria pornô da história, John Holmes. Este icônico ator começou a sua carreira em 1969 e foi até 1988. Um total de 3000 filmes (excluindo coletâneas) podem ser encontrados em sua filmografia. Também foi assistente de diretor e diretor. Sua carreira no cinema teve um ligeiro declínio após o consumo de drogas, motivo pela perda quase total de sua fortuna. 

Em 2003, Boogie Nights voltou a ser lembrado pela crítica após surgiu o lançamento de "Crimes em Wonderland", com direção de Danny Boyle, James Cox e estrelado por Val Kilmer. A cinebiografia fala dos crimes cometidos por John Holmes em 1ª de junho de 1981. O vício das drogas o impedia de atuar nos filmes o que o fez se envolver no crime após aceitar participar de um roubo idealizado por um bando de traficantes conhecidos como a gangue de Wonderland. O plano era roubar  o poderoso Eddie Nash (o que inspirou o personagem de Alfred Molina), traficante e proprietário de quase todos os clubes noturnos de Los Angeles. O roubo seguiu de latrocínio, mas se tornou sem solução até 1990, após a morte de Holmes (vítima da AIDS) em 13 de Março de 1988. Sua ex-mulher, Sharon, revelou que ele havia passado em sua casa e lhe contado tudo sobre o crime. 
Desde criança, a vida de Holmes era conturbada. Ele era espancado pelo pai bêbado. Cogita-se que num certo dia, Holmes havia o empurrado escada abaixo. Pensando que ele havia matado o pobre velho, ele fugiu de casa e se alistou no exército. O nome de seu pai é Carl Estes e o nome verdadeiro de Holmes é John Curtis Estes. 

Mark Wahlberg também viveu uma vida conturbada. Mas diferente de Holmes, conseguiu dar a volta por cima e se transformou radicalmente. Uma vez chamado para fazer parte da banda New Kids On The Block, aos 13 anos, onde seu irmão gêmeo (Donnie Wahlberg) era integrante, Wahlberg se recusou por não se identificar com o visual de "bom moço" do grupo. Sua adolescência foi marcada por diversos atos de violência e vandalismo. Cogita-se que ele tenha também se envolvido em casos de racismo, com ataques e agressões verbais, ao ferir dois afro-americanos com pedras; e cegado um vietnamita, durante um assalto a uma farmácia. Wahlberg foi julgado como adulto e sentenciado por tentativa de homicídio, pegou uma pena de 2 anos e cumpriu 45 dias numa cadeia em Boston. 

Mark dá uma lição a Justin Bieber

Aos 22 anos, Mark deixou a destrutiva vida e se tornou um astro na carreira musical. Assumiu as raízes da comunidade negra como um legítimo cantor de rap e dançarino. Lançou o mega hit Good Vibrations, single do álbum "Music For The People", produzido pelo seu irmão Donnie. O resultado, Top 100 nas paradas, lhe rendeu um single de platina. 

Foi no videoclipe Good Vibrations que Mark surtou o público feminino com a sua impressionante forma física. O resultado o levou a estampar como figurinha certa em campanhas de publicidade em 1992. Nos outdoors da propaganda das cuecas Calvin Klein na Times Square em Nova York, Mark surgia exclusivamente sozinho. Enquanto em revistas e programas de televisão da época, aparecia acompanhado ou não da modelo Kate Moss (capa das revistas Vogue em mais de 30 vezes). 

 
"- Vou te dizer só mais uma vez. Onde está Ringo? "

No cinema, Mark chegou a aparecer em Diários de Adolescente (1995) estrelado por Leonardo DiCaprio. Mas foi em Boogie Nights que ele se tornava uma das maiores e gratas revelações do cinema americano.

FICHA TÉCNICA
Título Original: Boogie Nights
Duração: 154
Gênero: Drama
Direção: Paul Thomas Anderson
Pais: E.U.A.
Classificação: 18 Anos 

Sessão Acompanhada: CCBB - 18: 30 - 26/04/2014 (Sábado)