SESSÃO CRÍTICA
AMOR À VIDA
SESSÃO CRÍTICA
UM FINAL DE
POUCOS CLICHÊS
POUCOS CLICHÊS
Último capítulo acaba fazendo o que muitas outras novelas globais
não fizeram: tentar suprir algumas promessas não cumpridas da trama
Dentre tantas novelas, a Rede Globo vem caindo nos seus últimos anos - principalmente em questão de roteiro e desenvolvimento - muitas vezes as atuações estereotipadas são tornaram corriqueiras na maioria das produções (atores e atrizes atuando nos mesmos papéis e fazendo as mesmas caras e os mesmos gestos), até mesmo a simplicidade das novelas mexicanas acabavam convencendo melhor tanto no sentido de entreter com momentos de comédia quanto no drama, isso porque elas não criavam tanta embromação quanto as novelas Brasileiras da Globo - há muito mais agito em meio a situações previsíveis (mas que torcemos para ver na TV).
Inicialmente titulado como Em Nome do Pai na pré-produção, Amor à Vida, ainda que tenha falhado miseravelmente em suas promessas de campanhas sociais, acerta ao apresentar doses de realismo em volta do relacionamento familiar. Muitas críticas perduram por anos diante das novelas Globais, acusadas de promover a poligamia, o desrespeito aos pais, o racismo, a violência, entre outras coisas em volta de suas produções. Sabemos que a Rede Globo não é uma emissora santinha, suspeitamos de seus plágios, de sua manipulação e total controle sobre as escolhas da população (Além do Cidadão Kane que o diga). E eu também te pergunto: quem joga pra perder no mundo capitalista de hoje? A história central da novela gira principalmente em disputas de poder entre famílias (ou por outras pessoas) por uma certa herança.
Embora a última novela Global que eu acompanhei, ainda que razoavelmente, foi Duas Caras (2007), reconheço que Amor à Vida, dentre as suas últimas novelas, conseguiu provar um enredo superior ao de Avenida Brasil e um encerramento bem melhor do que Salve Jorge.
Para quem reclama do excesso de tragédia familiar na história, esquecem de se ligar no texto que aparece em todo fim de novela: - Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com a realidade terá sido mera coincidência. Aonde encontramos a responsabilidade de educar a sociedade aí? Walcyr Carrasco vem se mostrando um escritor de grande de grande sensibilidade ao construir trios tragicamente românticos, relacionamentos construídos por interesse e famílias destruídas pelos temas cada vez mais comuns nos dias de hoje. Novela nada mais é do que um espelho da nossa sociedade.
Embora a última novela Global que eu acompanhei, ainda que razoavelmente, foi Duas Caras (2007), reconheço que Amor à Vida, dentre as suas últimas novelas, conseguiu provar um enredo superior ao de Avenida Brasil e um encerramento bem melhor do que Salve Jorge.
Para quem reclama do excesso de tragédia familiar na história, esquecem de se ligar no texto que aparece em todo fim de novela: - Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com a realidade terá sido mera coincidência. Aonde encontramos a responsabilidade de educar a sociedade aí? Walcyr Carrasco vem se mostrando um escritor de grande de grande sensibilidade ao construir trios tragicamente românticos, relacionamentos construídos por interesse e famílias destruídas pelos temas cada vez mais comuns nos dias de hoje. Novela nada mais é do que um espelho da nossa sociedade.
Ainda que toda a reviravolta pareça exagerada para uma ficção - chegando a parecer quase um conto de fadas moderno - um ponto forte que mais me marcou na novela, é a sua relação com a palavra Amor do título. Hoje a falta de amor realmente existe, a verdade que ninguém quer ver na televisão, mas que eu achei muito importante de ser explanada em um horário nobre. Todo mundo sabe que as novelas das 21 horas são as mais populares (e que já teve os seus picos de 40 a 50 pontos de audiência - 1 ponto de audiência equivale a 80 mil telespectadores), e mostrar o pai que trai a mãe, o irmão que sente um ciúme mortal da irmã, o tio que tenta matar a sobrinha, a prima que quer causar um golpe e entre outras situações sérias que se associarmos aos noticiários - até mesmo em programas e jornais Evangélicos - e ao que ouvimos ou que de certa forma alguns de nós já vivemos, não é muito diferente de nossa realidade, onde se acontecem coisas até muito piores e sem retorno ou sem nenhum final feliz.
A competição por disputa de poder entre famílias é uma realidade que a humanidade carrega desde os primórdios e a política é o maior exemplo de nossa história (vide o império Romano). Esse ponto foi muito bem representado pelos protagonistas: Paloma (Paolla Oliveira) e Félix (Mateus Solano) - César (Antônio Fagundes) poderia ser considerado uma encarnação moderna de um rei Romano, pai desses dois filhos em guerra (quase a uma alusão bíblica de Cain & Abel).
A competição por disputa de poder entre famílias é uma realidade que a humanidade carrega desde os primórdios e a política é o maior exemplo de nossa história (vide o império Romano). Esse ponto foi muito bem representado pelos protagonistas: Paloma (Paolla Oliveira) e Félix (Mateus Solano) - César (Antônio Fagundes) poderia ser considerado uma encarnação moderna de um rei Romano, pai desses dois filhos em guerra (quase a uma alusão bíblica de Cain & Abel).
Com a classificação 14 anos e o horário passado das 20 horas para as 21 horas, as novelas vem ousando em certos momentos. Como se pode ver cenas de nudez entre casais héteros - nessa novela, marcada pelo topless de Maria Casadevall (Patrícia) durante as cenas quentes. O desenrolar do encerramento provou a competência do elenco e reservou um suspense compreensível - com as suas 1 hora e 30 minutos de duração até bem distribuídas a ponto de deixar para depois das 23 horas, tempo para que os pais coloquem a última criança pra dormir, o primeiro beijo entre dois homens gays (adiado a tantas novelas) entre Niko/ Nicolas Corona (Thiago Fragoso) e Félix Khoury (Mateus Solano). Um beijo que demorou pra entrar pra história da TV, mas justificada pela grande repercussão gerada pelo personagem Félix durante toda a trama, e a serenidade do personagem Niko, se tornando destaque em relação ao seu complicado e então antigo relacionamento familiar com o ex-companheiro, Eron Lira Torgano (Marcello Antony) e Amarylis Baroni (Daielle Winits) - desmascarando a golpista neste último encontro.
O beijo entre os personagens Niko e Félix em uma trama exibida em um programa de imensa audiência e repercussão faz com que héteros, tanto homens quanto mulheres (com pelo menos algum coração e certa tolerância) comecem a repensar os seus pré-conceitos em meio a um período de alta discussão entre pensamentos cristãos e movimentos contra a discriminação. A situação foi algo que eu diria, até mais cauteloso e fraterno do que visto no filme O Segredo de Brokeback Mountain, e acredito que evita muitos atos de sátiras exageradas desvirtuando as boas intenções geradas pela trama.
Primeiro beijo Gay entre dois homens: muita coragem e cautela da TV Globo
Estendendo essa importância do beijo após 1 dia do último capítulo, muitas coisas me vem a cabeça ao me deitar na cama e acordar nessa tarde de sábado. Nos faz repensar até nos preconceitos em relação a qualquer tipo de relacionamento a qual associamos - seja ele gay ou não - para os héteros, principalmente, há muita discussão entre diferenças: qual a problema de haver uma união entre um casal seja ele de cores diferentes, idades diferentes ou até mesmo entre dois grandes amigos? Há tanta futilidade em jogo que as pessoas estão estabelecendo padrões limitadíssimos para se amarem e depois reclamam que não encontram ninguém especial ou passam o tempo se estressando com a pessoa errada.
Félix: hilário como vilão e emocionante como herói
De grande vilão do horário nobre a herói, Félix é mais um personagem onde se reflete a preferência do público por Malvados Favoritos. Diante de uma queda, Félix se rebaixou a apenas um antagonista, com a ascensão da personagem Aline. A maneira detalhada, e a atuação brilhante de Solano, como Félix deixa de ser o malvado, chega a ser interessante - nos últimos episódios, ele muitas vezes aparece vestido de branco, em comparação ao preto de sua fase anterior. Félix chegava a ponto de irritar e de divertir como vilão (tão encantador que eu o comparava a um psicopata - a Mente Perigosa definida pela psicologa Ana Beatriz Barbosa Silva).
Entre uma sucessão de casamentos e partos típicos de qualquer novela, o destaque só vai mesmo para a situação tensa passada pela personagem Paloma, e o detalhe técnico diferenciando - ainda que seja só por palavras - o parto normal e a cesariana, talvez um raro ponto educativo da trama.
A TV Globo adotou de vez os formatos de película, gerando cenas realmente grandiosas nesses capítulos decisivos (este último está cheio delas).
Capricharam em tudo, a ponto de eu arriscar a me perguntar se essa é a mesma novela que estão caçoando por aí, cujas mensagens não passam de energias negativas para a família Brasileira. Amor à Vida não se trata de um programa educativo, mas que ainda procura trazer uma mensagem sobre o que há de errado em nossas famílias (esqueça as outras campanhas sociais educativas e se foque nesta mensagem). Dificilmente eu sou de chorar em novelas, mas é impossível deixar se conter com esta relação de um pai idoso e rígido (agora debilitado) e filho gay (tentando se reerguer) - que antes chegaram a ser a ponto de rivais e agora apertam as mãos como um gesto de fraternidade - em frente ao sol - e trocam as palavras mais difíceis de se dizer: - Eu Te Amo !
FIQUEM LIGADOS: Último Episódio reprisa hoje, no Sábado.
Momento Pós-Crítica
Momento Pós-Crítica
Nesse elenco de mestres, Antônio Fagundes mais uma vez surpreende, Bruna Linzmeyer se torna a revelação como a autista Linda (merecia até uma indicação ao Globo de Ouro), Mateus Solano já marca como um dos melhores personagens já vistos na TV, brilhando muito ao lado de Fagundes (não é exagero destacar mais uma vez sua performance) e Vanessa Giácomo se mostrou uma boa vilã. Até Talita Werneck Arguelhes/ Tatá Werneck (a piradinha Valdirene) merece um destaque, conseguiu me tirar algumas boas risadas além de ter sido a melhor coisa que aconteceu no Big Brother Brasil 14 (programa que já não tem mais novidade para a TV). Ninho/ Joachim Roveri (Juliano Cazaré) ainda garante bons momentos em sua transformação - a cena em que ele reencontra a filha Paulinha (Klara Castanho) que o visita ao lado de Paloma na prisão está entre elas.
Elizabeth Savalia (como a ex-chacrete Márcia, vendedora de Hot-Dogs e mãe de Valdirene) vive momentos de humor tradicional com Luis Melo (Atílio/ Gentil) e se destaca ao acolher Félix. A música Abelardo Barbosa (dos programas Cassino do Chacrinha) é referido no último episódio. Houve também certas notícias sobre uma suposta série da personagem após a novela. Em relação a esse derivado, já ocorreu notícias de continuações de novelas, como o de A Viagem (1994) - que seria O Regresso (acredito que o projeto teria sido substituído por Anjo de Mim em 1996) e Terra Nostra 2 (continuação de Terra Nostra, de 1998). Como não há novidades frequentes do projeto, pode ser que a série da personagem Márcia fique só na promessa também. Um dos poucos projetos derivados que foram pra frente, foi o filme do personagem Crô (personagem da novela Fina Estampa de 2011).
A morte no altar se tornou um dos melhores momentos, ou se não o melhor, de Nicole (Marina Ruy Barbosa) na trama.
Ricardo Tozzi foi o sonhador Thales. Passa a nutrir sentimentos por Nicole quando participa dos planos da golpista Leila (Fernanda Machado).
Sophia Abrahão é Natasha - filha de Lidia (Angela Rabello) e Rogério (Daniel Rocha) e irmã de Nicole - entra na trama como o novo amor de Thales (visualmente muito parecida com a atriz Marina Ruy Barbosa - que precocemente foi desaparecendo da trama entre muitas hipóteses - talvez isso tenha sido proposital para substituir a personagem Nicole).
Maria Casadevall viveu Patrícia, marcada como uma moça moderna e independente que é traída pelo marido Guto em plena Lua-de-Mel. Se relaciona com o médico Michel (Caio Castro), casado com Silvia (Carol Castro), uma advogada que posteriormente descobre ter câncer de mama. O relacionamento sem compromisso entre Patricia e Michel acaba se torando sério em meio a todo o triângulo - que acaba virando uma tradicional troca de casal (Guto fica com Silvia e ambos os casais descobrem o rolo). Michel e Patricia vivem uma espécie de comédia romântica, apesar de não serem o maior destaque da novela, o casal teve algumas situações marcantes: como um capítulo polêmico onde o médico surge só de almofada cobrindo as partes intimas do corpo, como uma surpresa a Patrícia (situação repetida nos capítulos finais, para efeitos de emoção, ele surge da mesma forma a homenageando com flores no lugar da almofada); e outro capítulo com cenas passadas no bairro da Liberdade em São Paulo, com a participação de Cosplayers (cenas com ótima fotografia e edição).
O casal de Evangélicos, Elias (Sidney Sampaio) e Gina (Carolina Kasting), seguem o voto de castidade da religião - outro ponto que eu diria educativo da trama.
Os veteranos, Francisco Cuoco (como o fazendeiro Rubão), Márcio Garcia (Gustavo Donato/ Guto) e José Wilker (Hebert) são as surpresas da novela, representando o elenco de participações especiais.
FICHA TÉCNICA
Título Original: Amor à Vida
Capítulos: 221
Sessão Acompanhada: 21:10 - 31/01/14 (Sexta-Feira) - SKY+
Duração: 70 Minutos / 45 Minutos (Quartas de Futebol)/ 1 hora e 30 minutos (Último Capítulo)
Autor: Walcyr Carrasco
Direção: Wolf Maya & Mauro Mendonça Filho
Gênero: Novela (Drama)