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sábado, 1 de junho de 2013

[Sessão Crítica] Faroeste Caboclo (2013, Dir. René Sampaio, Brasil)

NESTA POSTAGEM
SESSÃO CRÍTICA
FAROESTE CABOCLO

EXTRAS
FAROESTE CABOCLO: A MÚSICA
FICHA TÉCNICA



SESSÃO CRÍTICA
FAROESTE CABOCLO

MAIS QUE UM VIDEOCLIPE
Inspirado numa música de Renato Russo de mesmo nome , Faroeste Caboclo é mais uma das grandes produções Brasileiras que teve um longo tempo de produção (uma de suas primeiras informações datavam de 2007 - o ano em que o primeiro Tropa de Elite foi lançado). 

Segundo o diretor, René Sampaio, a intenção era que o filme trouxesse apenas atores desconhecidos. Porém, valeu a pena ver o grande esforço de Isis Valverde render frutos ao se juntar ao elenco. Ganha pontos quem sempre apostou as fichas na atriz mineira desde a sua revelação nas novelas globais, fazendo personagens cômicas e sensuais. Isis é Maria Lucia, menina rica, filha de senador e que estuda para ser arquiteta. Uma personagem forte e que certamente se torna uma ótima bagagem para o seu currículo. Sem contar também, que o elenco não traz um elenco de atores tão desconhecidos assim, ainda tem as presenças de Antonio Calloni (Marco Aurélio) e Marcos Paulo (Ney) - em um de seus últimos papéis antes de falecer. 

Como uma adaptação, a trama é mais que um videoclipe. Trata-se de um trabalho de autoria do diretor - explorando os personagens de uma maneira um pouco distinta da música mas sem deixar de humanizar o personagem do estrante Fabrício Boliveira (João de Santo Cristo). Se fosse um videoclipe musical, os fãs da música de Renato Russo sentiriam a falta de algumas letras no decorrer dessas notas. 

Assim como a trama, a relação entre João (Boliveira) e Maria (Isis) não demora muito para pegar a intimidade e respeito do público mais afobado. Embora o ritmo seja um pouco acelerado na ficção, o amadurecimento da história e os acontecimentos fazem com que a interação dramática do casal interracial  seja interessante, até por ser um tema pouco tratado no cinema e na TV. O destaque também vai para o Felipe Abib fazendo o vilão Jeremias - para efeitos de curiosidade, um expectador na sessão que eu estava chegou a dizer que ele era mais cruel do que o Baiano (Tropa de Elite).

A fotografia leva um bom destaque enquanto, nesse entrosamento entre o fim dos anos 70 e começo de 80, a reprodução marca melhor nas músicas (remetem mais a de 80) e nas vestimentas (remetem melhor a de 70). Acaba não sobrando muito espaço ao cenário político e social  cujo o merecido aprofundamento fica apenas na essência. 

ATENÇÃO LEIGOS: É recomendável assistir ao filme e depois ouvir a música. 

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EXTRAS
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FAROESTE CABOCLO: A MÚSICA

LETRA
Não tinha medo o tal João de Santo Cristo
Era o que todos diziam quando ele se perdeu
Deixou pra trás todo o marasmo da fazenda
Só pra sentir no seu sangue o ódio que Jesus lhe deu

Quando criança só pensava em ser bandido
Ainda mais quando com um tiro de soldado o pai morreu
Era o terror da sertania onde morava
E na escola até o professor com ele aprendeu

Ia pra igreja só pra roubar o dinheiro
Que as velhinhas colocavam na caixinha do altar
Sentia mesmo que era mesmo diferente
Sentia que aquilo ali não era o seu lugar

Ele queria sair para ver o mar
E as coisas que ele via na televisão
Juntou dinheiro para poder viajar
De escolha própria, escolheu a solidão

Comia todas as menininhas da cidade
De tanto brincar de médico, aos doze era professor.
Aos quinze, foi mandado pro o reformatório
Onde aumentou seu ódio diante de tanto terror.

Não entendia como a vida funcionava
Discriminação por causa da sua classe e sua cor
Ficou cansado de tentar achar resposta
E comprou uma passagem, foi direto a Salvador.

E lá chegando foi tomar um cafezinho
E encontrou um boiadeiro com quem foi falar
E o boiadeiro tinha uma passagem e ia perder a viagem
Mas João foi lhe salvar

Dizia ele: "Estou indo pra Brasília
Neste país lugar melhor não há
Tô precisando visitar a minha filha
Eu fico aqui e você vai no meu lugar"

E João aceitou sua proposta
E num ônibus entrou no Planalto Central
Ele ficou bestificado com a cidade
Saindo da rodoviária, viu as luzes de Natal

"Meu Deus, mas que cidade linda,
No Ano-Novo eu começo a trabalhar"
Cortar madeira, aprendiz de carpinteiro
Ganhava cem mil por mês em Taguatinga

Na sexta-feira ia pra zona da cidade
Gastar todo o seu dinheiro de rapaz trabalhador
E conhecia muita gente interessante
Até um neto bastardo do seu bisavô

Um peruano que vivia na Bolívia
E muitas coisas trazia de lá
Seu nome era Pablo e ele dizia
Que um negócio ele ia começar

E o Santo Cristo até a morte trabalhava
Mas o dinheiro não dava pra ele se alimentar
E ouvia às sete horas o noticiário
Que sempre dizia que o seu ministro ia ajudar

Mas ele não queria mais conversa
E decidiu que, como Pablo, ele ia se virar
Elaborou mais uma vez seu plano santo
E sem ser crucificado, a plantação foi começar.

Logo logo os maluco da cidade souberam da novidade:
"Tem bagulho bom ai!"
E João de Santo Cristo ficou rico
E acabou com todos os traficantes dali.

Fez amigos, frequentava a Asa Norte
E ia pra festa de rock, pra se libertar
Mas de repente
Sob uma má influência dos boyzinho da cidade
Começou a roubar.

Já no primeiro roubo ele dançou
E pro inferno ele foi pela primeira vez
Violência e estupro do seu corpo
"Vocês vão ver, eu vou pegar vocês"

Agora o Santo Cristo era bandido
Destemido e temido no Distrito Federal
Não tinha nenhum medo de polícia
Capitão ou traficante, playboy ou general

Foi quando conheceu uma menina
E de todos os seus pecados ele se arrependeu
Maria Lúcia era uma menina linda
E o coração dele pra ela o Santo Cristo prometeu

Ele dizia que queria se casar
E carpinteiro ele voltou a ser
"Maria Lúcia pra sempre vou te amar
E um filho com você eu quero ter"

O tempo passa e um dia vem na porta
Um senhor de alta classe com dinheiro na mão
E ele faz uma proposta indecorosa
E diz que espera uma resposta, uma resposta do João

"Não boto bomba em banca de jornal
Nem em colégio de criança isso eu não faço não
E não protejo general de dez estrelas
Que fica atrás da mesa com o cu na mão

E é melhor senhor sair da minha casa
Nunca brinque com um Peixes de ascendente Escorpião"
Mas antes de sair, com ódio no olhar, o velho disse:
"Você perdeu sua vida, meu irmão"

"Você perdeu a sua vida meu irmão
Você perdeu a sua vida meu irmão
Essas palavras vão entrar no coração
Eu vou sofrer as consequências como um cão"

Não é que o Santo Cristo estava certo
Seu futuro era incerto e ele não foi trabalhar
Se embebedou e no meio da bebedeira
Descobriu que tinha outro trabalhando em seu lugar

Falou com Pablo que queria um parceiro
E também tinha dinheiro e queria se armar
Pablo trazia o contrabando da Bolívia
E Santo Cristo revendia em Planaltina

Mas acontece que um tal de Jeremias,
Traficante de renome, apareceu por lá
Ficou sabendo dos planos de Santo Cristo
E decidiu que, com João ele ia acabar

Mas Pablo trouxe uma Winchester-22
E Santo Cristo já sabia atirar
E decidiu usar a arma só depois
Que Jeremias começasse a brigar

Jeremias, maconheiro sem-vergonha
Organizou a Rockonha e fez todo mundo dançar
Desvirginava mocinhas inocentes
Se dizia que era crente mas não sabia rezar

E Santo Cristo há muito não ia pra casa
E a saudade começou a apertar
"Eu vou me embora, eu vou ver Maria Lúcia
Já tá em tempo de a gente se casar"

Chegando em casa então ele chorou
E pro inferno ele foi pela segunda vez
Com Maria Lúcia Jeremias se casou
E um filho nela ele fez

Santo Cristo era só ódio por dentro
E então o Jeremias pra um duelo ele chamou
Amanhã às duas horas na Ceilândia
Em frente ao lote 14, é pra lá que eu vou

E você pode escolher as suas armas
Que eu acabo mesmo com você, seu porco traidor
E mato também Maria Lúcia
Aquela menina falsa pra quem jurei o meu amor

E o Santo Cristo não sabia o que fazer
Quando viu o repórter da televisão
Que deu notícia do duelo na TV
Dizendo a hora e o local e a razão

No sábado então, às duas horas,
Todo o povo sem demora foi lá só para assistir
Um homem que atirava pelas costas
E acertou o Santo Cristo, começou a sorrir

Sentindo o sangue na garganta,
João olhou pras bandeirinhas e pro povo a aplaudir
E olhou pro sorveteiro e pras câmeras e
A gente da TV que filmava tudo ali

E se lembrou de quando era uma criança
E de tudo o que vivera até ali
E decidiu entrar de vez naquela dança
"Se a via-crucis virou circo, estou aqui"

E nisso o sol cegou seus olhos
E então Maria Lúcia ele reconheceu
Ela trazia a Winchester-22
A arma que seu primo Pablo lhe deu

"Jeremias, eu sou homem. coisa que você não é
E não atiro pelas costas não
Olha pra cá filha-da-puta, sem-vergonha
Dá uma olhada no meu sangue e vem sentir o teu perdão"

E Santo Cristo com a Winchester-22
Deu cinco tiros no bandido traidor
Maria Lúcia se arrependeu depois
E morreu junto com João, seu protetor

E o povo declarava que João de Santo Cristo
Era santo porque sabia morrer
E a alta burguesia da cidade
Não acreditou na história que eles viram na TV

E João não conseguiu o que queria
Quando veio pra Brasília, com o diabo ter
Ele queria era falar pro presidente
Pra ajudar toda essa gente que só faz...
Sofrer...


CURIOSIDADES 
A música de 9 minutos toca durantes os créditos do filme e foi gravada em 1979, porém, acabou sendo lançada apenas em 1985 no álbum Que País É Esse?

FICHA TÉCNICA

GÊNERO: DRAMA
SESSÃO ACOMPANHADA: 20:45 - J 07 - KINOPLEX NOVA AMÉRICA - SEXTA (31/05/2013)
DURAÇÃO: 105 Minutos
CLASSIFICAÇÃO: 16 ANOS
DIREÇÃO: RENÉ SAMPAIO
LANÇAMENTO: 30 DE MAIO DE 2013 (QUINTA-FEIRA)
PAÍS: BRASIL