A cultura
pop sofreu recentemente uma invasão de vampiros. Pena que não foi algo bom, ou
fiel, melhor dizendo, pois essa invasão não foi feita pelos vampiros em
essência como os das lendas, e sim por formas alteradas com fins estritamente
econômicos. Pudemos ver isso amplamente manifestado na literatura e no cinema.
Mas e os games, onde ficam nisso? Bom, é sobre isso que pretendo abordar aqui:
a relação dos vampiros com os games.
Mas antes de
iniciarmos, um pouco de história:
Afinal, o que são como
são e de onde surgiram os vampiros?
A Wikipedia
define vampiro como seres mitológicos ou folclóricos que subsistem se
alimentando da essência de vida (geralmente em forma de sangue) de outras
criaturas independentemente de serem criaturas vivas ou mortas.
Engana-se
quem pensa que os vampiros são criação de Bram Stoker em seu [excelente] livro
“Drácula”, pois eles estavam por aí
bem antes disso. Os relatos mais antigos desse gênero vêm de contos do povo Persa,
mas há também relatos de lendas de seres que podem ser classificados como
“vampiros” nas culturas da Mesopotâmia, dos Hebreus, de Roma e até da Grécia
Antiga. Eles receberam essa denominação ”vampiro”, mas eram espíritos ou
demônios que tinham como característica primordial o consumo de carne humana e
sangue. Essas lendas viajaram e foram adaptadas cada uma segundo as tradições
de cada povo.
Muitas
culturas tentam explicar o surgimento dos vampiros. A cultura chinesa diz que
se um animal como um cão ou gato passarem por cima de um cadáver ou se um
cadáver for enterrado com machucados não tratados com água fervente, o corpo se
transformaria em vampiro.
Já algumas
outras culturas explicam os vampiros como espíritos manifestos de bruxas, magos
e suicidas. No folclore russo, vampiros além de serem considerados espíritos de
magos e bruxos, também eram considerados espíritos daqueles que se rebelaram
contra a Igreja Russa Ortodoxa.
De um ponto
de vista característico, os vampiros podem ser descritos como pessoas magras,
pálidas, de faces inchadas. Podem apresentar ou não carnes podres e marcas de sangue
em seus lábios e narinas assim como também podem apresentar feições como as de
um morcego. Costumam desenvolver garras e/ou presas.
Quanto aos
poderes, os vampiros tem poder sobre os animais menores e o clima. Podem se
transformar em pequenas criaturas e em fumaça. Tem habilidades hipnóticas e
telepáticas. Possuem super-força, super-agilidade, poder de gravitação e
imortalidade. Além de um grande poder de sedução.
Quanto às
suas fraquezas, os vampiros perdem seus poderes na luz do sol (e não são
destruídos nela, como a maioria pensa), tem repulsão a alho, rosas silvestres, água
benta, crucifixos, hóstia e outros. Só podem atravessar água corrente na maré
alta ou baixa. Apenas podem entrar em um local se for convidado e, uma vez
convidado, ganham passe livre. Só não sei se isso se aplica a todos os
vampiros, mas Drácula perde a capacidade de se regenerar se não ficar perto de
terra vinda de sua terra natal.
Há diversos
modos de se matar um vampiro. Isso porque há uma grande variação cultural
quanto ao assunto, mas os métodos mais comuns são o empalamento por estaca no
coração, decapitação seguida ou não da colocação da cabeça entre os pés do
vampiro e a inserção de alho na boca da criatura seguida por seu
desmembramento.
O modo mais popular
como os vampiros são conhecidos
A popularização mundial
dos vampiros
1.Alimentando crenças
No século
XVIII os vampiros ganharam grande evidência na Europa Oriental. Isso foi
fomentado por dois fatores: as superstições populares (que eram bem fortes nos
vilarejos) e a pela medicina bastante limitada da época.
Com a
medicina limitada pela ciência e tecnologia da época, ocorriam muitos enterros
prematuros. Pessoas vivas iam para a tumba ainda vivas por negligência médica.
Uma vez dentro dos caixões e devidamente enterradas, o indivíduo dado como
morto acordava e, no desespero pra sair, batia e arranhava a porta do caixão
para tentar escapar. Nesse frenesi, acabava por machucar a cabeça, deixando
marcas de sangue na boca e nas narinas. Quando iam desenterrar o caixão para
ver a natureza do barulho, a população se deparava com um ser morto (agora por
asfixia) e com as narinas e boca ensanguentadas. Isso tudo era interpretado na
época como sinal de vampirismo.
Fatores como
a composição química e temperatura do solo influenciam na decomposição de um
corpo. Os gases que se formam na decomposição do corpo (metano principalmente)
(CH4) se acumulam no torso, gerando pressão naquela área e empurrando o sangue
para as narinas e para a boca. O solo por sua vez, devido a sua composição,
ajudava o corpo a se manter com aspecto conservado. O que alimentava mais uma
vez as crendices populares, pois o corpo parecia mais conservado, saudável e ‘bem
alimentado’ de sangue.
Raiva,
porfiria e doenças de caráter contagioso como a tuberculose e a peste bubônica
tinham suas características associadas ao comportamento ‘vampiresco’. Certa vez
vi na internet a foto de um túmulo com grades, feito com o intuito de prevenir
que o vampiro saísse do túmulo. Infelizmente não a encontrei mais. Fico devendo
essa, pessoal.
Esses
movimentos tomaram tanta proporção que houve caças ao vampiro. Mutirões para
abrir caixões e estacar corpos foram organizados para ‘esterilizar’ os
vampiros. Essas caçadas só tiveram fim quando a Imperatriz Maria Teresa da
Áustria enviou seu médico particular para investigar os tais vampiros.
Concluindo a não-existência deles, a Imperatriz proibiu a abertura e profanação
de túmulos e corpos.
2. A popularização
A arte está
aí, desde sempre, registrando a vida e a imortalizando. Com os fatos narrados
acima não foi diferente. Os vampiros renderam boas pinturas, gravuras, livros e
peças teatrais. Mas foi em 1897 que eles começaram a ganhar maior evidência. Em
1897 foi lançado Drácula, de Bram
Stoker.
Para
escrevê-lo, Bram Stoker pesquisou o folclore europeu por anos. Em suas
pesquisas, descobriu a história de Vlad III, Príncipe da Valáquia.
Mas
comumente conhecido como ‘Vlad III, O Empalador’, ele foi príncipe da Valáquia
(província histórica da Romênia). Era conhecido por sua crueldade e defendeu
sua terra contra o Império Otomano com todas as forças. Certa vez, recebeu um
ataque onde acabou por perder seu pai e irmão. Todos haviam dado Vlad III como
morto (quando na verdade estava vivo).
Com sede de
vingança, Vlad III atacou ferozmente os Otomanos, matando vários. Como era
muito cruel e havia sido dado como morto, a população acha que seu retorno era
devido a algum pacto demoníaco que havia feito.
O pai de
Vlad III (Vlad II) fazia parte da Ordem do Dragão, que foi criada para defender
o reino dos ataques Otomanos. Por entrar na Ordem, recebeu o apelido de ‘Dracul’
que significa ‘dragão’ e também ‘diabo’ no romeno atual. Logo, Vlad III recebeu
o nome ‘Draculea’ (ou ainda ‘Drácula’), que significa ‘filho do dragão’ ou ‘filho
do diabo’ (a interpretação mais popularmente adotada).
Vlad III saboreando sua
refeição enquanto aprecia um empalamento
Castelo de Bram, morada de Vlad III.
Também conhecido como Castelo Drácula.
A história
de Vlad III empunha medo na população devido a fatores históricos e supersticiosos.
E com isso, Bram Stoker escrever seu romance Drácula.
O livro foi
muito bem sucedido, influenciando teatro, rádio, livros, HQs, mangás, desenhos,
televisão, e games. Isso difundiu os vampiros para os quatro cantos da Terra,
os tornando parte da cultura popular.
Nosferatu, filme alemão de 1922 é adaptação de
Drácula para os cinemas.
Os vampiros nos games
Agora que
temos bagagem o suficiente, acompanharemos a progressão dos vampiros nos games.
Nome: The Count
Ano: 1981
Plataforma(s): Apple II Plus, Commodore PET, TRS-80,Vic 20, TI 99/4a, Atari 400, Atari 800, ZX Spectrum, Commodore 64, BBC Micro, Acorn Electron, Dragon 32/64
The Count foi o primeiro game de vampiros que
se tem notícia. É uma game puzzle em
formato de texto, onde o jogador deve digitar as ações (como “Climb Tree” ou “Walk East” por exemplo),
coletar itens, desvendar enigmas, evitar perigos e o principal: derrotar o
Conde Drácula. O interessante desse jogo é que ele usa o tempo no jogo. O tempo
é posto para três dias e certos eventos ocorrem somente em certos dias e em
certos horários.
Nome: Vampire Village
Ano: 1983
Plataforma(s): ZX Spectrum
O primeiro
game de vampiros com interface gráfica. Neste game o jogador deve administrar recursos
limitados para levar os habitantes da vila para o outro lado do rio. Do outro
lado do rio há uma casa onde um vampiro está sendo mantido. Os aldeões o querem
matar.
Esta é uma imagem do
game rodando.
Nome: Ghost House
Ano: 1986
Plataforma: Master System
Ghost House é um jogo de ação side-scrolling que coloca o jogador no
papel de Mick, um caçador de vampiros. Sua missão é destruir os cinco vampiros
que vivem na mansão. O jogo lembra um pouco Alex
Kid. Ele tem uma movimentação meio dura e combates contra chefes um tanto frustrantes
devido ao sistema de colisão mal feito. Recebeu uma adaptação distribuída no
Brasil e México denominada Chapolin X
Dracula: Um Duelo Assustador. Essa versão sofria ainda com más animações.
Na esquerda temos Monster House e na direita, Chapolin
Nome: Castlevania
Ano: 1986
Plataforma(s): Nintendo
Entertainment System, Commodore 64, Commodore Amiga, PC MS-DOS, PC Microsoft Windows, Game Boy Advance, AT&T Wireless mMode
Network,Virtual Console
Foi
em 1986 que a franquia de sucesso
Castlevania começou. É um game de aventura de movimentação lateral onde o
jogador controla Simon Belmont, que tem a missão de colocar Drácula para dormir
mais uma vez. A franquia continua até os dias de hoje.
Uma diferença de meros
24 anos
Nome: Bram Stoker’s Dracula
Ano: 1993
Plataforma(s): NES, Super NES/Super Famicom, Game Boy, Sega Game Gear, Sega Master System, Sega Mega Drive/Genesis, Sega CD, Amiga, MS-DOS
Bram Stoker’s Dracula percorre o roteiro do livro Drácula sob a ótica de Johnatan Harker,
só que com uma grande “licença poética”. Quem leu o livro (como eu) pode
perceber a semelhança na ambientação e em alguns personagens. Mas para poder se
tornar um game de verdade, alterações foram feitas, como encher os locais de
monstros e chefes, transformar Johnatan Harker em um caçador voraz e abandonar
o resto do elenco. O game virou uma espécie de Castlevania e ficou super legal.
Aqui temos Johnatan
Harker na estalagem do começo do livro
Nome: Dracula 2: The Last Sanctuary
Ano: 2000
Plataforma(s): Playstation e Windows
Sequência de
Dracula: Ressurection, Dracula 2 ofende o obra de Bram Stoker,
pois além dele não conseguir criar uma boa atmosfera (Bram Stoker’s Dracula é bem melhor nisso), acaba transformando essa
série de games em uma “Mario da Transilvânia”, onde seu único objetivo é
resgatar Mina Harker. Sofrível.
Nome: Nosferatu: The Wrath of Malachi
Ano: 2003
Plataforma(s): Microsoft Windows
Este pode
não ser um game muito conhecido, mas não significa que não seja bom. Seguindo o
roteiro do livro Drácula e do filme Nosferatu, Nosferatu: The Wrath of Malachi conta a história de James, um rapaz
que descobre que sua família foi raptada por um vampiro, que por sua vez, é seu
cunhado. O jogador terá duas horas de prazo para salvar seus familiares e
evitar que o pior aconteça. O game conta com uma boa atmosfera e um castelo
que, segundo a Gamespot, deixa o castelo de Drácula no chinelo.
Nome: Van Helsing
Ano: 2004
Plataforma(s): PlayStation 2, Xbox e Game Boy
Advance
Van Helsing não é lá um jogo muito bom, mas é
fiel ao filme que, por sua vez, conta a história do Dr. Van Helsing só que com
muitas modificações. O game lembra um pouco Devil
May Cry e tem um aspecto gótico muito bom.
Nome: The Elder Scrolls IV: Oblivion
Ano: 2006
Plataforma(s): Microsoft Windows, Mobile phone, PlayStation 3, Xbox 360
Na
série The Elder Scrolls é possível se
tornar um vampiro. Em Oblivion isso
se tornou mais presente e no título seguinte, Skyrim, a “carga vampiresca” foi aumentada. Quando se torna
vampiro, se ganha bônus em habilidades físicas, mas se perde na resistência a
magias, como fogo. O jogador também se torna fraco na luz do sol.
Um
vampiro do game
Conclusão
Os
vampiros se tornaram grandes ícones da cultura pop. Se expandiram e se
instalaram em todas as mídias. Nos games não foi diferente, mas aqui eles não
são tão expressivos. Infelizmente. Há bons games do vampiro e em diferentes gêneros,
mas nem tanto. Uma pena, pois eles são criaturas presentes em diferentes
culturas e apresentam uma profundidade fascinante.