Vencedor de cinco estatuetas do Oscar, incluindo Melhor Filme. Anora nos leva ao submundo do Brooklyn, onde uma jovem acompanhante se envolve com o filho inconsequente de um magnata que esbanja dinheiro sem pensar duas vezes. Vícios, festas, irresponsabilidade. Tudo parece um grande passatempo sem peso… até que o jogo vira.
O filme funciona como uma fábrica de encontros improváveis, colocando personagens em situações inusitadas dentro de um drama realista, mas recheado com aquele toque de comédia juvenil despretensiosa. O grande destaque? Mikey Madison, que brilha no papel de Ani e levou o Oscar de Melhor Atriz. Mas sua vitória gerou polêmica: Demi Moore e a brasileira Fernanda Torres também estavam na disputa, o que incendiou debates sobre merecimento e favoritismo.
Se tem algo familiar em Anora, é o jeito como o filme brinca com relações humanas e quebra estereótipos. Mas, sejamos honestos, ninguém esperava que um longa repleto de cenas picantes, nudez e momentos explícitos conquistasse o Oscar principal. Afinal, a Academia tem um histórico de torcer o nariz para filmes que celebram violência ou sexo sem rodeios. Basta lembrar como o terror sempre é deixado de lado – a não ser que tenha uma "pintura artística" para justificar sua indicação. Mas quando falamos de romance? A história é outra. E Anora, de certa forma, é sobre isso.
A jornada começa com um mergulho no mundo das trabalhadoras sexuais, capturando o realismo das ruas com uma fotografia que lembra o estilo cru de documentários como G-String Divas (2000), da HBO. O visual do filme se transforma conforme a trama avança:
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Noite: o glamour e o mistério da escuridão;
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Dia: os momentos de glória, paixão e promessas;
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Névoa: o frio, o silêncio e o peso da reviravolta.
O filme começa com um ar de conto de fadas moderno, quase um Uma Linda Mulher para a nova geração – mas vai além. Ele joga com clichês sem se prender a eles, flutuando entre romance, drama e até pitadas de suspense e policial. No fim, é um retrato cru, intenso e, acima de tudo, humano. Tudo isso sob a batuta certeira de Sean Baker, um diretor que entende como capturar a vida real na tela.
MOMENTO PÓS-CRÍTICA
Indireta à Rússia (Ou Mera Coincidência)?
Olhando em retrospecto, dá para sentir um subtexto político no filme. Existe ali uma certa alfinetada à visão machista e ao jeito traiçoeiro de "pegar o que quer e depois descartar". Se trocássemos os personagens por países, poderíamos ver um reflexo das tensões entre EUA e Rússia – uma relação de interesse que pode acabar em abandono.
Mas esse não é o único ponto de provocação. Anora chega num momento em que os EUA vivem um retorno ao conservadorismo, e o Oscar sempre foi um reflexo dos movimentos políticos e sociais da época. A Academia pode até tentar parecer neutra, mas seus prêmios contam uma história. E, desta vez, essa história tem muito mais camadas do que aparenta.
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SESSÃO CRÍTICA