O VALOR DA GUERRA
Se você buscava um drama para começar triste e sair da sessão, mais triste ainda, essa é a sua solução de atração. No entanto, os mais reflexivos entenderão a mensagem.
A trama acompanha a trajetória de dois órfãos em meio ao caos pós-Segunda Guerra Mundial. Conduz uma espécie de sutil filme de trajeto com dramas familiares com maestria.
Em meio aos ataques do exército americano no território japonês, a escassez de recursos constrói um cenário de desespero crescente entre os carentes - é quando o laço humano entre Seita e Setsuno se torna ainda mais forte. Notando claramente a maior serenidade de Setsuno em relação à Seita, o filme testa os personagens ao limite, quando, no fim, não se tem mais o que fazer ou para qual caminho seguir. Esse é o valor da guerra, sem embelezamento algum, a não ser a inocência entre dois pequenos sobreviventes.
Autêntico e brutal, mesmo em situações silenciosas - categorizando o luto seco e frio que, de alguma forma, é daí que os personagens procuram expressar a força de suas duras raízes até seguir em frente ao ponto de não ter mais como manter o seu escudo de proteção e implorar por socorro ou se debruçar em lagrimas - seja pelo caminho que escolhe seguir (guardando o pior para si) ou quando essas visões de tragédia (ou de saudade) acabam nos retornando em sonhos.
Produção do Studio Ghibli, do lendário Hayao Miyazaki - vencedor do Oscar 2003 por A Viagem de Chihiro em premiação histórica e contemplado por um Oscar Honorário em 2014 por sua contribuição na indústria cinematográfica.
Entre o time de animadores está o talento de Yasuomi Umetsu, responsável também pelo icônico e fenomenal clássico Akira, de Katsuhiro Otomo, e o polêmico Kite (1995).
Uma das animações mais tristes da história da animação japonesa e considerada entre os críticos especialistas como uma das maiores obras-primas do clássico cult de guerra, ao lado de A Lista de Schindler (1992) e O Pianista (2002).
Momento Pós-Crítica
ORIGEM
- Inspirado no conto japonês de mesmo nome do autor Akiyuki Nosaka, lançado em outubro de 1967, que retrata suas reais experiências de guerra da mesma forma como esta história é apresentada em estilo semibiográfico. O ponto forte é que essa obra foi um pedido de desculpas de seu autor pelos maus tratos a sua irmã, Keiko.
- Aos 23 anos, o sargento da marinha, Joe O'Donnell, documentou as consequências do bombardeio atômico no Japão por sete meses. Sua fotografia é um registro exato dos sentimentos trágicos retratados pela animação. Tirada em Nagasaki, retrata um menino parado e firme frente a um poço de cremação carregando seu pequeno e falecido irmão nas costas. A história retratada na animação ganhou duas versões com atores reais, uma em 2005, filme de 2 horas para a TV, e outra em 2008 (20 anos após o lançamento do original). Além de adaptações em forma de coral para o teatro.
Direção: Isao Takahata