domingo, 6 de outubro de 2024

[Sessão Crítica] Coringa: Delírio a Dois

 


Primeira coisa: esqueça fanservice. Desde Coringa (2019), já era para entender que essa pegada pretende celebrar quadrinhos na forma mais fina do cinema. Sempre um tremendo desafio transportar a fantasia da máscara e do rosto pintado para o cinema raiz, mais pé no chão, ou propriamente dito. A ideia de tentar reimaginar o universo de super-herói no mundo real sempre acaba soando muito pretensioso - é o caso de Batman: O Cavaleiro das Trevas (2018). Coringa (2019) encontrou a fórmula certa que é seguir o conceito dos filmes clássicos de Martin Scorsese (originalmente cotado para dirigir o filme original). 

Foi merecidamente reconhecido como um longa a ser discutido de forma inteligente e surpreendeu a crítica intelectual, tendo uma vitória nesse meio fora da bolha de quadrinhos com indicações ao Oscar nas categorias principais, inclusive Melhor Filme, garantindo Melhor Ator para Joaquin Phoenix, talentoso irmão do eterno River Phoenix, e segundo a receber o Oscar no papel de Coringa (o primeiro foi merecido e emocionante Oscar póstumo de Melhor Ator Coadjuvante para Heath Ledger em 2009).


A dobradinha Todd Philips e Phoenix seguem o conceito do primeiro filme sobre a desconstrução e humanização do temível Coringa. Pode um monstro amar? Nunca se tratou de um psicopata, mas sim de um psicótico. Coringa sempre foi psicótico com base nos especialistas o que é muito diferente de ser psicopata. Essa discussão entra em questão dentro do filme: sobre o que é ser psicopata e ter psicose - um prato cheio para os profissionais da área de psicologia.

Dos modestos U$$ 55 milhões de orçamento do primeiro, Delírio a Dois conta com U$$ 200 milhões. Como em toda sequência que se preze, a ideia é tornar sempre maior e melhor o que já foi feito antes. Dentre grandes sucessos de público e crítica, o segundo sempre deixa a desejar uma vez que a maioria tenta ser uma refilmagem do primeiro. O que não é o caso deste aqui, que procura ser uma resposta aos eventos do anterior, trocando a violência descontrolada por uma busca pela exploração da mente confusa do protagonista, seguindo para um pretexto de arriscar no musical. 

No entanto, a parte musical é pouco fascinante, o que é uma pena - uma vez que deveria causar impacto à arrastada trama. Lady Gaga é pouco valorizada e aparece menos do que deveria. 

Não se decide se é um musical ou parcialmente um musical. Poderia, sim, ter abraçado sem medo o musical, mas com pretensão de causar impacto ou que entrasse em sintonia com a trama. Mas, a parte das cantorias, por vezes, fica levemente irritante e destoa do drama. 

Infelizmente, a falta de coragem de investir no gênero musical é o receio de ser pouco comercial. Mas se a ideia não era ser mais um caça-níquel, mal em colocar o pé na água fria mais uma vez não faz.

Deve se compreender que Coringa: Delírio a Dois é de um universo fechado. Portanto, mais um Coringa seguindo outro tipo de caminho. 


 S E S S Ã O  C R Í T I C A 

CORINGA: DELÍRIO A DOIS

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