A adaptação cinematográfica de Aladdin em 1992
esquentou um período de hiato na tela grande desde o soviético de 1966
(Aladdin’s Magic Lamp - A Lâmpada Mágica de Aladdin). O personagem que ficou
conhecido como parte dos contos As Mil e Uma Noites, precedeu os sucessos de A
Pequena Sereia (1989) e A Bela e a Fera (1991) consagrando parte da segunda Era
de Ouro da Disney.
E para celebrar essas gloriosas adaptações animadas,
a Disney anda refilmando suas produções com atores de carne e osso desde o
esquecido Mogli: O Menino Lobo, de 1994, com direção de Stephen Sommers (A
Múmia, 1998; O Retorno da Múmia, 2001) e estrelado pelo jovem Jason Scott Lee
(o mesmo que havia se tornado Bruce Lee na clássica cinebiografia Dragão: A
História de Bruce Lee em 93). Posteriormente, 101 Dálmatas de 1996 que, como um
dos grandes sucessos do ano (e até então o primeiro maior dentre suas
adaptações com atores), recebeu uma continuação inédita em 2000: 102 Dálmatas.
Não é uma onda que vem de agora, mas como as
animações em longa metragem se tornavam o imenso destaque, em grande parte,
houve um período de hiato até chegar em 2010, com Alice no País das Maravilhas.
De lá pra cá, pela motivação com que a adaptação de Alice trouxe (se tornando o
segundo filme mais rentável da toda poderosa construtora de sonhos,
ultrapassando a marca dos U$$ 1 Bilhão), novas adaptações começaram a surgir no
caminho – sem contar a continuação inédita de Alice em 2016 (Alice no País do
Espelho).
Entre grandes vitórias históricas e algumas derrotas
de bilheteria e crítica, a Disney segue em frente com sua fórmula mágica de
reinventar suas histórias. Para os que
nasceram nos anos 80 e viveram boa parte de suas vidas apreciando as adaptações
em longas animados da Disney no cinema durante a década de 90, era então
chegada a hora do tempo bater a porta (e não demorou muito, comparado às
adaptações quarentistas).
Depois de A Bela e a Fera em 2017, era aguardado uma
versão com atores reais de Aladdin e a curiosidade: como ela seria ? E eis que
a internet veio abaixo depois da primeira aparição de Will Smith como o gênio
da lâmpada em sua forma azul. Como de costume na web, comentários infantis,
debochados e memes para todo lado.
Para os sábios, bastava aguardar pra assistir a
adaptação e esse momento veio. O trabalho do diretor Guy Ritche (Snatch: Porcos
& Diamantes) – que teve o astro de ação dos anos 2000 Jason Statham como
seu “mascote” - é característico. Como
um especialista habilidoso em lidar com cenas de ação e experiência com
videoclipes, o primor técnico é fino. Isso é apenas uma parte, pois também deve
se levar em conta o maravilhoso figurino – como os de Jasmine (Naomi Scott) –
impecável em todos os sentidos e também versátil. Além dos efeitos visuais
embasbacantes, a fotografia – incrivelmente valorizada pelo 3D (certamente um
dos melhores filmes nesse formato, aonde a perspectiva cria profundidade em
combinação com o foque e desfoque da câmera – muito bem executadas para
auxiliar a tecnologia) e o som – nesse
quesito, o formato XPLUS consegue reproduzir tecnologicamente aqui um dos seus
melhores calibres nesse formato (a trilha sonora incrivelmente reproduzida do
longa de 92 com trechos novos ou modificados nas canções, toca de verdade o coração
e praticamente levará não só os apaixonados como também os saudosos da primeira
viagem, quando assistiram ao primeiro Aladdin).
Se a grande inspiração foi o cinema indiano, Aladdin é uma celebração de
luxo a esses pequenos filmes.
O elenco é também muito carismático. O par romântico
Aladdin (Mena Massoud) e Jasmine (Scott) pode não ser o foco principal desta
vez, e também quase sem importância, mas tem seus toques mágicos. No lugar, a
importância está mesmo no empoderamento feminino – tão em foco – e que se torna
então a peça chave para a reinvenção nessa nova adaptação com atores. Não chega
a ser exagero se o filme se chamar “Jasmine” (ou uma futura sequência com
princesas da Disney assumindo o comando). Will Smith como o gênio da lâmpada é
a surpresa agradável assim como Dalia (Nasim Pedrad) – praticamente a nova
princesa da Disney dessa nova safra de filmes.
Marwan Kenzari foi também uma escolha acertada para ser o vilão Jafar –
trazendo uma atualização do personagem nada caricato, mais humano, e quase
igualmente temível ( infelizmente suavizado nas suas ações mais fatais e
transgressões sobre-humanas).
Guy Ritche e Will Smith pareciam estar convencidos
de que seria quase impossível superar o fenômeno de 1992 – praticamente
perfeito, animações impecáveis e uma das maiores comédias românticas da
história – mas tanto Ritche, Will, Massoud e Naomi, todo o elenco, doaram seu
sangue, fizeram uma adaptação divertida que merece ser sim apreciada ao
testemunhar algumas de suas boas doses de atualização.
Memória
Pós-Crítica
Agregando características políticas e sociais, o
novo Aladdin causa polêmica, cria um estranhamento para alguns, mas não deixa
de ter o toque mágico. O fato de transferir Agrabah para a Índia – enquanto a
animação tinha a Arábia como referência – é notável claramente a eterna mágoa
que Hollywood terá do 11/9 (Árabes jamais serão vistos como protagonistas em
larga audiência – jamais serão caricaturados) talvez para não ofuscar seu
público, para manter a boa e tradicional imagem comercial, a Disney tenha
evitado isso (ou a própria visão dos roteiristas ou do próprio diretor) – vamos
entender que isso seja por respeito às memórias que devem ser esquecidas e que
não mais deve se brincar com nenhum tema que envolva qualquer peça sobre. Mas vale lembrar que as reais origens de
Aladdin, dos livros, não vem dos Árabes, mas da China.
Aladim (como também é descrito no Brasil) significa,
no Árabe, “Nobreza de Fé” (علاء الدين na tradução: ʻAlāʼ ad-Dīn). Numa comparação
entre o conto e as duas adaptações da Disney, o Mágico (Feiticeiro na descrição
original) se tornou Jafar, O Gênio do Anel se transformou no Tapete Mágico e a
Princesa (Princesa Badroulbadour na descrição original) ganhou o nome de
Jasmine. Do conto pro cinema, mudam também o destino de Sultão, Jafar e a
família de Aladdin (o nome do pai é Mustapha mas o nome da mãe não é
mencionado).
O filme de 2019 também traz algumas características herdadas
do livro original – como o da princesa ter outro pretendente (no caso do livro, é o filho do vizir).
Apesar dos pesares, é compreensível a declaração de Ritchie sobre Agrabah ter
uma cultura diversa - sendo assim, a liberdade em migrar o país da Arábia –
como no desenho (homenageando a fonte da autoria) – para a Índia. O ator Mena
Massoud (Aladdin) é de origem Egípcia, naturalizado Canadense, e Tessa Tompson
(Jasmine) é Indiana.
A autoria original mais antiga de Aladdin, de acordo com os estudiosos, vem de Youhenna Diab. As origens de criação são realmente Árabes mas o cenário aonde se passa a cidade de Abrabah no livro original é na China.
A autoria original mais antiga de Aladdin, de acordo com os estudiosos, vem de Youhenna Diab. As origens de criação são realmente Árabes mas o cenário aonde se passa a cidade de Abrabah no livro original é na China.
Aladdin era uma história isolada do conto Árabe que
foi adotada por um tradutor francês, Antoine Gallad, no início do Século XVIII
e incluído na coleção de As Mil e Uma Noites (أَلْف لَيْلَة
وَلَيْلَة – na descrição: Alf layla wa-layla) – uma série de
obras que datam, segundo historiadores através dos documentos mais antigos
encontrados, entre os Séculos VIII e XIII da Idade de Ouro Isâmica (também
reconhecida como Renascimento Islâmico).
Além de Aladdin e a Lâmpada Maravilhosa (como é
descrito o título de Aladdin nos livros traduzidos), Ali Baba e os 40 Ladrões e
Simbad também foram obras isoladas e incluídas nas traduções Européias de As
Mil e Uma Noites.
Curiosamente, Ali Baba foi inclusa na mitologia Aladdin
da Disney encerrando a sua trilogia de longas de animação – e o segundo direto
pra vídeo depois da grande e grata surpresa O Retorno de Jafar (1994),
sequência, inédita no cinema, que aproveitou o lançamento do grande sucesso
Aladdin em vídeo. Aladdin e os 40 Ladrões é o cruzamento entre a história de
Aladdin e Ali Baba que inclui mais uma reviravolta inédita não presente no
conto original sobre o pai de Aladdin.
MEMÓRIAS DA SESSÃO I: A PRIMEIRA SESSÃO A GENTE NUNCA ESQUECE
Aladdin (1992) foi o meu primeiro filme que assisti no
cinema. Eu fiquei surpreso com a tamanha qualidade da animação , superando as
minhas impressões. Tudo começou quando o filme estava na sua 32ª semana (essa
informação aparecia nos jornais em 1992 ao lado das pequenas artes em preto e
branco dos posters de cada produção na seção de cinema/ filmes em cartaz).
Meu pai pegou o jornal naquele fim de semana mágico e pediu
para que eu, minha irmã e minha mãe escolhessem qual filme iriamos assistir: a
votação estava entre Parque dos Dinossauros (Jurassic Park) e Aladdin. O voto
acabou sendo unanime: Aladdin. Porém, eu não sabia o que esperar do desenho –
embora eu tenha visto um comercial do filme na TV (em uma certa tarde) aonde
aparece um trecho da Jasmine dizendo “-Eu sei que eu fugi e não pretendo voltar”. Como era desenho e eu já estava habituado, eis
o motivo da minha escolha sem arrependimento algum.
A animação, depois de assistir no cinema, mal podia esperar
pra querer assistir de novo em vídeo. Quando o filme saiu, sem brincadeira,
assim que meu pai alugou e fez uma cópia, pedi para que pudesse colocar no
videocassete do quarto de novo e de novo. Assisti praticamente em loop - devo ter assistido umas 10 vezes apenas num
único dia.
Era surpreendente. Achei tão bom, mas tão bom, que eu não
conseguia enjoar daquele filme – nunca foi tão especial também o dia em que
fomos ao cinema – uma garota estava do meu lado (eu diria que ela era a
“Jasmine” perdida por ali). Todos nos divertimos com aquela animação incrível
em tela grande, foi uma experiência inesquecível. Aladdin praticamente
transformou completamente a minha forma de pensar sobre animações – a forma
como até as criaturas não humanas possuem alma, assim como as humanas, tem vida
e nada devem a um filme com atores - eu conseguia ver perfeitamente a atuação
de um ser humano e de um animal em carne e osso naquele desenho sem nada
parecer exagerado ou fora do comum ( o mundo mágico das animações Disney nos
faz acreditar nisso – e Aladdin foi praticamente o grande passo pra mim). Desde
então, não achei mais tanta graça por desenhos com roteiro mais simples e
rotineiro (como aqueles da TV) até surgir Tiny Toons.
Eu buscava então por animações com profundidade
cinematográfica – e anos depois, surgiram Os Cavaleiros do Zodíaco e a febre
dos animes. Depois da Disney, foram as animações japonesas que me abraçaram –
justamente por não contarem com um conceito infantil de se contar histórias. Eu
buscava por produções aonde animação era realmente levado a sério. Aladdin,
então, tirou esse meu preconceito de que desenhos não se podem levar histórias
a sério de uma forma divertida, envolvente e com alma.
E aí, com o longa metragem 2019 de Aladdin, senti que a
crítica especializada se viu dividida e acredito que foi consideravelmente má com a produção.
" Ela é uma bela princesa com muitos sonhos" ... "Até encontrar um jovem que poderia tornar seus sonhos em realidade" ... "A Walt Disney Pictures traz para o cinema uma aventura além da imaginação. Aladdin, dublado e legendado. Lançamento nacional 25 de Junho " ... "Um Presente gostoso de Fanta pra você "
Errata Projeto DNA: O vídeo tira muitas dúvidas e memórias que eu havia esquecido da já longinquá época. Logo lembrei que a frase de Jasmine na verdade era "Eu sei que eu fugi" e não "Eu irei fugir" como estava descrito anteriormente. Ah, saudades.
E também foi importante lembrar que, junto ao lançamento do filme, uma coleção promocional de tampinhas de refrigerante da Fanta foi lançada. Cortesia da WTG Mix Coleções
MEMÓRIAS DA SESSÃO II: RARA SESSÃO DE DOMINGO
Com mais um problema do Ingresso.com em imprimir ingresso,
fui de novo para a boca do caixa. Pedi o cartaz do UCI UNIQUE, mas naquela
noite de domingo e com o sucesso do filme já previa que não teria – só pude
receber um “- Poxa! ” de resposta da atendente (e o “Mick Jagger” que me
recepcionou apenas pra dizer que os cartazes de Vingadores: Ultimato haviam
acabado estava atrás dela).
Para a minha surpresa – que aguardava por uma sessão de
apenas casais àquelas horas da noite (de um final de Domingo ainda por cima) –
dois amigos e um outro espectador, não acompanhado, apareceram como os
primeiros espectadores a entrarem na sala de cinema. Quando entrei, já estava rolando trailers
(geralmente ocorre 15 minutos antes da sessão) o que parecia era uma aparente
pressa por ser “final de domingo”. O
público estava bem diversificado mas era perceptível alguns celulares ligados
antes da sessão (pelo menos até o comercial Flix Channel que avisa o
desligamento do celular – na parte em
que a animação avisa, uma mulher abre o celular lá na frente e com lanterna
ainda por cima).
Eu me vi rindo sozinho com o filme mas também ouvia risadas
femininas na sessão o que mostrava uma sala consideravelmente silenciosa.
Durante os créditos, as luzes continuaram apagadas enquanto
rolava algumas artes (também no formato em 3D) – uma mulher saiu nessa parte –
e quando o fundo ficou escuro só com os letreiros, as luzes se acenderam e o
público começou a sair. Como de costume, cinema de shopping – tipo o UCI
Parkshopping Campo Grande – ignorando a tradição de manter as luzes desligadas
até o fim da sessão (momento clichê).
E eu ? É óbvio que fiquei até o final. Desde algum tempo,
se creditam as vozes dubladas em português, um feito que - antes da popularização dos eventos de cultura pop - não
acontecia.
Sessão
Acompanhada
UCI Parkshopping - P 11 – 21:45 – 26/05/2019 (Domingo)
UCI Parkshopping - P 11 – 21:45 – 26/05/2019 (Domingo)