domingo, 29 de abril de 2018

[Sessão Crítica] 'Vingadores: Guerra Infinita' é o Filme Mais Ousado da MARVEL ?



Dizem que obras do cinema não foram pensadas para serem franquias. Com Star Wars, uma cinessérie que nasceu na tela grande, isso mudou. George Lucas havia planejado um longo trajeto - e até nos adiantava dos acontecimentos. Filmes de Terror não foram pensadas como uma cinessérie, dependiam do sucesso do primeiro para desencadear os outros. Jornada nas Estrelas, que hoje conhecemos pelo seu título original, Star Trek, nasceram na TV e ganharam uma saga adaptada para os cinemas.

Com os quadrinhos, cinesséries surgiram mas tiveram uma curta carreira -  no máximo, metade de uma década, até os anos 90. Durante os anos 2000, isso mudou com a cinessérie X-Men e a FOX. A MARVEL, certamente, é a marca que tem a mais longínqua e a mais bem sucedida carreira da história de adaptações em quadrinhos como longas cinesséries até então, isso não dá pra negar.

São 17 anos com X-Men na FOX e, agora, 10 anos com o UCM - Universo Cinematográfico MARVEL com a MARVEL Studios em parceria. A exemplo de Lucas e a família Skywalker, a MARVEL traça uma linhagem de filmes de seus heróis - sendo apenas os títulos e não suas histórias que teríamos conhecimento, as histórias ficariam a critério de desenvolvimento no andar da carruagem - até por que não são apenas 6 filmes planejados mas sim 22 longas até 2019.

A MARVEL Studios então demonstra exemplo em comparação a desesperada DC/ Warner que planejou às pressas o seu universo cinematográfico posteriormente a fim de cumprir algumas questões judiciais (com o Superman) e para concorrer, de alguma forma, com o sucesso da rival.

A ideia de universo cinematográfico inspirou, certamente, o cinema a fazer o mesmo e um exemplo disso é a Universal e a sua cinessérie de monstros com Godzilla, A Múmia e Kong: A Ilha da Caveira. Apesar de sua tradição com monstros desde seus primórdios no cinema, nada realmente se compara a aceitação do que a MARVEL Studios veio planejando com toda a cautela - seguindo um padrão e mantendo isso desde o acerto com a atualização de um dos seus super-heróis mais obscuros da família.

Sim, o Homem de Ferro. Eles apostaram em um personagem pouco popular em seus quadrinhos. Isso muitas vezes deu certo no cinema - criar releituras de super-heróis (ou tornando-os um) como: As Tartarugas Ninja (1990) e O Máskara (1994). A coincidência é que ambos os contos eram sóbrios, a exemplo do personagem Homem de Ferro. E adotaram então um conceito que dá muito certo - tornar  o personagem sóbrio em uma personalidade popular, mais simpática ao público.

Dizem que Robert Downey Jr. nasceu para o papel. O Homem de Ferro é o próprio Robert Downey Jr. em forma de super-herói, isso ajudou e muito. Seus escândalos do passado são histórias hoje para se contar em biografia - ele conseguiu ter a chance de mostrar um pouco disso com o seu Tony Stark super autêntico. Certamente o personagem mais querido de toda a cinessérie devido a esse incrível espelho - um choque de realidade que faz com que todos se sintam admirados com a sua humanidade em tela. Nem sempre se identifiquem mas que queiram ser como ele, que apesar dos problemas tem imensa confiança em si.

A importância imensa conquistada pelo Homem de Ferro no cinema, uma estratégia que super deu certo justamente por que a MARVEL trouxe seus heróis para o cinema com um objetivo: popularizar seus personagens além dos quadrinhos. E então, com o passar das aventuras, se estabeleceu com Os Vingadores - The Avengers, a razão pela qual existem os filmes de carreira solo dos personagens é justamente serem parte desse quebra-cabeça.

O sucesso era óbvio, mas que não seria fácil se o primeiro filme solo - Homem de Ferro (2008) - não fizesse sucesso. A campanha agressiva dos publicitários da Paramount Pictures - em sempre frisar "Dos Criadores de Homem de Ferro (e o que viesse depois)" a cada novo título era importante. Depois de Homem de Ferro, veio Thor, outro desafio.

Levando um sucesso ao outro e deixando isso claramente interligado - ainda que desperte certa confusão para algumas pessoas (o que é do Universo Cinematográfico e o que não é entre adaptações dos quadrinhos Marvel) - o sucesso de outras adaptações que não fazem parte de seu universo também contribuiu, de certa forma - desde que longas como Blade e, principalmente, Homem-Aranha  (2002) surgiram.

A atmosfera de humor e ação, mesclada em Homem-Aranha de Sam Raimi - herdada de suas próprias HQs de origem - auxiliou no estudo de marketing da própria MARVEL Studios para construir o seu próprio universo à parte.

Mesmo presa a certas limitações diante dos direitos de seus próprios personagens para o cinema, um caso extremamente complicado de se resolver, ela encontrou e se acomodou a um meio de narrativa bem fácil de agradar e se manter fiel ao público gigante, pipocão, sem muito do sentimento mais político ou filosófico batido de uma maneira muito profunda nos quadrinhos - para a galera mais culta. É daí que veio o conceito de apelido pronto: "Filme Sessão da Tarde" para os filmes Marvel Studios, sendo que com alto padrão de produção.

Não dava pra acreditar, mas a MARVEL Studios conseguiu transformar diretores medianos em bons diretores e atores que costumam ter imagem comediantes como dramáticos e com senso de liderança. Hoje em dia é impossível imaginar outro Capitão América que não seja Chris Evans. Alguns até dizem que Evans é tão bom ou melhor do que o próprio super-herói dos quadrinhos.

Hoje, tanto Robert Downey jr. quanto Chris Evans ou o melhor: Homem de Ferro e Capitão América, respectivamente, são considerados os alicerces do UCM. Mas é difícil dizer quem é o líder da tropa toda. Isso certamente foi proposital graças ao sucesso de Homem de Ferro.

Então, mudou tudo e a MARVEL Studios teve maturidade suficiente para entender que cinema é bem diferente de quadrinhos a começar pelo público. Não dá para colocar um personagem como o centro das atenções enquanto existem outros para se desenvolver. Melhor que isso, a chance de trazer uma nova narrativa que contribua até para a melhora ou a atualização de seus heróis clássicos. Capitão América era considerado por muitos como o 'bandeiroso', a HQ Guerra Civil de Mark Millar foi um caso que desconstruiu isso nos quadrinhos e ele nasceu no cinema já como um personagem com a intenção de ser o herói de todas as nações - o verdadeiro soldado da liberdade.


Após 10 anos de espera por este grande evento - mais do que um filme, isso é verdade, e é uma oportunidade eventual e quase rara no cinema atualmente - os irmãos Russo possuem uma imensa responsabilidade nas costas. Maior do que Joss Wheedon quando inaugurou a primeira aventura com a equipe reunida em 2012.


Vingadores: Guerra Infinita é o grande centro de toda essa longa história e é unânime: proibido de ser ruim, regular, mediano ou simplesmente bom. Tem que ser, no mínimo, quase excelente. Foi o grande plano de restruturação que a MARVEL quis nos mostrar - finalmente levando para os cinemas uma grande linhagem de histórias como nos quadrinhos e agora levando o grande público testemunhar essa novela.


Outro que precisou ganhar responsabilidade para trazer peso à história é Thanos (Josh Brolin) que em sua primeira aparição em Os Vingadores - The Avengers surgiu como um desenho em computação gráfica. Como convencer público e crítica - a fim de manter a imagem com respeito de que super-heróis não são apenas coisa de criança - de que não se trata apenas de uma briga de uma equipe esmagadora de heróis contra um supervilão tirano e fortão ? Como fazer com que essa história seja tão boa e profunda quanto a crítica política vista em Capitão América ou então os problemas pessoais de Tony Stark em Homem de Ferro ?


Sim, há grandes diferenças entre os quadrinhos e a narrativa. Se, por exemplo, nos quadrinhos o lance é ainda mais pesado, no cinema as coisas sempre pegam mais leve. Não é só com adaptação de quadrinhos, livros e até casos baseados em fatos reais ocorrem isso. Tudo para poder atingir maior aprovação de público, mas nem sempre o tiro é certeiro, ocorre um grande risco de sair pela culatra.

O nível de detalhes com que Guerra Infinita precisa cuidar, chega a nos dar um grande receio de que virá um longa metragem cheio de retalhos - a exemplo do que vemos de adaptações e sagas de propostas grandiosas - você sempre sente que tem algo faltando. Inicialmente, a sensação que este evento pode passar é essa, mas no decorrer do trajeto as coisas vão se encaixando e então começamos a nos sentir convencidos e compreendendo tudo.


Intenso e glorioso em seu primeiro ato, com sobriedade na medida e humor que surge
para trazer uma experiência mais agradável - e que não atrapalha a tensão - porém, no segundo ato, o humor não favorece o tom arrastado mas que vai encontrando o seu tom no decorrer do terceiro ato
do trajeto trazendo um choque de grandes surpresas.

Na MARVEL Studios, eu confio. Antes, com o pensamento de que: "- Pode vir um bom filme! " se for sequência ou simplesmente não esperar nada por ele, quando surge a adaptação de um novo super-herói para o time. No caso de Homem de Ferro 3, aguardei por "-Mais do mesmo!" e fui surpreendido como o melhor longa da fase 2.

Guerra Infinita supre as expectativas e não traz mais do mesmo, já claramente mostrando isso desde o começo de suas revelações em materiais de divulgação e declarações dos envolvidos na produção. Ele garante o mínimo do que foi exigido, mesmo com certos vícios que podem prejudicar o próprio sucesso da cinessérie UCM no futuro, se ela não se ligar isso pode acabar provocando o seu próprio desgaste. Porém, consegue entreter - criando boas tiradas - mesmo em momentos tensos e emocionar arriscando até mesmo um suspense. Alan Silvestri desenha o tom épico dos momentos de embate entre o bem e o mal em sua trilha sonora bastante tradicional.


Focar em Thanos, como o principal personagem, foi uma cartada muito certeira. A sobriedade pode ainda assustar os pequeninos, outros até poderão entender toda a situação ou se sentirem tristes. A MARVEL Studios encontrou aqui o seu maior desafio - desafiar parte de um próprio público alternativo que conquistou em torno desses 10 anos.

Ainda que seja de classificação 12 anos, para audiências intermediárias, o estúdio insiste em se preocupar com a imagem de seus super-heróis para os pequeninos.  É por esse motivo que não encontramos muitas ousadias. Porém, Guerra Infinita ousa sim em buscar aproximação de desenvolver um sentimento mais familiar dentro de uma batalha clássica de heróis e vilões.

Brolin, por sua vez, tem o papel mais desafiante aqui, ao mostrar um monstro tão poderoso e cruel como Thanos - apenas traçado em referências nos filmes anteriores sem nos mostrar em nenhum momento as suas ações em confronto. Cabe a Josh, tentar nos convencer que além de impiedoso, ele pode ter sentimentos sem soar cinismo - ainda que isso, de certa forma, pareça soar algo bem forçado mas, de alguma maneira, convincente em nos mostrar aqui fora aonde um ser pode chegar com tamanha ambição por poder. 


3D Xplus: O formato valoriza bastante toda a sua maravilha visual. Impacta bastante o efeito de prespectiva e o que os atores, como o Don Cheadle (Máquina de Combate) disse em um vídeo, realmente vale a pena assistir na qualidade máxima para todo o aproveitamento técnico. É o primeiro longa metragem a usufruir de toda a qualidade do IMAX 3D.


ATENÇÃO: FIQUEM ATÉ O FIM DOS CRÉDITOS 


Memórias da Sessão

Com receio de chegar cedo demais, fiz hora até sair de casa. Quando vi, a hora estava violentamente em cima e corri contra o tempo para chegar. Vi até um Homem-Aranha na porta do shopping, tirando fotos com os fãs, com a roupa do Homem-Aranha vista no filme, mas nem parei e entrei correndo. Já estava 2 minutos atrasado e, pra piorar, meu ingresso impresso estava com uma parte molhada, tensão dupla. Felizmente, cheguei na hora da filona - felizmente não foram pontuais demais (pontualidade em excesso chateia às vezes).

Chegar primeiro na fila com lugar marcado é só pra não perder tempo - pois o lugar está reservado. Separei os meus documentos para ficar bem claro que aquele ingresso está tudo certo. Entrei e encontrei o cinema cheio como nunca. O público se divertiu em todas as cenas de piada - quando eu vi que haviam piadas em excesso no meio, eu já me senti impaciente no aguardo do desenrolar da história enquanto os outros riam.


Assim que fui até o meu lugar, tinha um cara sentado ao lado do seu amigo, fui confirmar o meu número, mas depois nos acertamos por ser uma cadeira e por eu ficar numa posição ainda melhor do que eu já havia comprado. A coisa chata ficou na parte dos créditos - o cara do lado, virou pra mim e depois virou pro amigo dele falando sobre o quanto o filme era tenso e tudo - junto a um casal ao lado com um acompanhante deles, falando sobre os créditos. O cara do meu lado esquerdo falava de algumas revelações. Eu praticamente revirei os olhos e pensei: "-Era melhor ter assistido no NYC, não tem dessas coisas. "; " - Se tivesse dinheiro, comprava todas as cadeiras para assistir sozinho. Lidar com os outros é foda! " .

De qualquer forma, percebi que eram só teorias, mas mesmo assim, deixar revelações sobre obras que ainda não conferimos é uma doença da internet, das redes sociais, a falta de respeito com a cultura é imensa e isso, infelizmente, está virando escola. Falta cultura para muitos que consomem cultura apenas pra postar no status do Facebook.

UCI PARKSHOPPING E O HOMEM DE FERRO 
VINGADORES: GUERRA INFINITA
 

O cinema UCI Parkshopping, tradicionalmente manteve o seu comportamento para espectadores casuais (os que vão embora antes dos créditos), o que é um equívoco, ligou as luzes durante os créditos e desligava vez ou outra (como na apresentação do título - o que foi curioso a atenção) e durante a cena pós créditos. Aparentemente, só um casal foi embora depois do primeiro apagar de luzes do meio dos créditos.

É o maior filme da MARVEL Studios, com 152 Minutos de duração. E esperamos que o próximo realmente seja ainda maior e mais bem aproveitado.

Após a minha saída, uma fila quilométrica para a próxima sessão eu presenciei enquanto havia um Homem de Ferro com uma caixinha para fotos - eu tentava registrá-lo em meio a fila que fazia voltas e voltas dentro da entrada do cinema.


Momento Pós-Crítica: Assim que voltei pra casa, parou um casal em um carro branco, luxuoso até, o namorado perguntou: "-Aí, o bom, aonde fica a Mansão Maravilha ?" O perfume de ambos pairava toda a rua. Um casal de ricaços que mais pareciam ter saído de um filme de história em quadrinhos, realmente.


 SESSÃO CRÍTICA 
VINGADORES: GUERRA INFINITA
(AVENGERS: INFINITY WAR)
SESSÃO ACOMPANHADA: UCI PARKSHOPPING - 3D Xplus - 19:10 - P 12 (P 10) - 28/04/2018
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